03.
Hanni esfregou a testa em frustração. — Eu gostaria de poder dizer que isto não é um grande problema, Chaewon, mas não consigo. Yunjin está em algum lugar, só Deus sabe onde. Ela te enganou fazendo você pensar que ela era Uchinaga Aeri.
— Eu sei. Foi muito convincente, Hanni. Se você estivesse no meu lugar, provavelmente também a teria confundido com uma médica. Por favor, confie em mim. — Eu implorei.
Lágrimas escorreram pelas minhas bochechas sem eu perceber.
Uma paciente psicopata estava solta por causa de um erro meu.
Eu poderia perder o meu emprego, ou pior, alguém poderia ser machucado por Yunjin.
— Aeri quer que você saia desta ala. — Pham disse me dando alguns pequenos lenços.
— Eu entendo. — Exclamei, secando as lágrimas.
Beomgyu, o segurança do hospital entrou pela porta rapidamente. Parecia agitado.
— O que houve, Beomgyu? — Hanni questionou.
— Você não vai gostar nada disso, Doutora. — Ele disse rapidamente, acrescentando em seguida:
— Recebemos a notícia que um Nissan branco foi escondido na floresta a poucos quilómetros daqui. Alguém invadiu um apartamento aqui perto e encontraram um homem inconsciente no chão com...
— Marcas de mordida? — Já sabendo o que Choi ia dizer, terminou a frase.
Beomgyu engoliu seco.
Eu estava aterrorizada só de falar sobre o assunto.
— Um pedaço de carne da zona do ombro está desaparecido.
Hanni suspirou. — Yunjin...
— Meu deus! — Foi tudo o que fui capaz de dizer e tudo o que me lembro era sentir tudo girando e ouvir alguém gritando por ajuda.
Quando abri meus olhos, percebi ainda estar no consultório de Hanni. Estava deitada na cama onde os pacientes se deitam durante os check-ups.
Me sentei e consegui ver Hanni e Aeri conversando pelas finas cortinas do consultório. Meu cérebro ainda estava tentando processar tudo o que havia acontecido até ao momento.
A Aeri verdadeira, de cabelo preto e olhos grandes, estava falando com Hanni.
O seu olhar se cruzou com o meu pela cortina, carregando desdenho e sinceramente, eu não a culpo.
Se uma louca me prendesse numa cama e a enfermeira se recusasse a me reconhecer, eu também ficaria brava.
— Como se sente? — Hanni questionou. Mesmo tendo arranjado tantos problemas, ela continua sendo simpática e doce comigo. — Quer água?
Assenti. — Já passou quanto tempo?
— Praticamente uma hora. — Ela respondeu abrindo o pequeno freezer e me dando uma garrafa de água.
— O homem... ele está morto? — Perguntei, falhando em esconder o medo que sentia pela minha voz.
Pham tirou a garrafa de minhas mãos, abrindo-a. Foi aí que eu reparei o quanto as minhas mãos tremiam.
— Eles levaram ele para o hospital o mais rápido possível. — Hanni disse. — A boa notícia é que eles conseguiram pegar Yunjin.
Ao ouvir, deixei um suspiro de alívio escapar. — Isso significa que eles vão trazê-la de volta para cá?
— Sim, eles estão a caminho já. — Sorriu. — Não se preocupe. Erros acontecem, especialmente quando envolve uma mulher maluca como Yunjin. Aeri me contou que quando você achou que ela era a Yunjin, e entrou no quarto, você tirou o bocal dela, é verdade?
— Sim, eu tirei. Mas eu tirei porque eu fui dar-lhe o seu lanche, você não espera que um paciente coma com aquilo na cara, pois não? — Disse, sendo bastante direta contra Aeri que tinha um olhar entediado no rosto.
Chegando perto de mim, quase colando o seu rosto ao meu, ela me disse. — Ela fez uma pergunta, você tem de responder sim ou não, enfermeira.
— O que diabos há de errado com você, Aeri? — Questionei genuinamente.
— Acalmem-se, garotas! — Hanni exclamou. — Aeri, mude a sua atitude. Chaewon, a partir de hoje, qualquer coisa que Yunjin te disser, não mexa no bocal a menos que seja realmente necessário. Às vezes, bom, na verdade, quase sempre ela está fora de controle e é por isso que precisamos dela amarrada. Não é sempre, mas se tem um bocal, é por que há uma razão para isso. Yunjin é um animal disfarçado de humano. Ela consegue ser muito manipuladora, ela é muito inteligente e consegue usar as suas fraquezas contra você. Ela é perigosa.
— Okay, mas você está se esquecendo que se eu não tivesse tirado o bocal, Aeri ainda estaria chorando naquela cama como a merda de um gatinho. Então, tecnicamente, você deveria me agradecer, Aeri.
— Te agradecer? — Gritou. — Você...
Hanni levantou sua mão. — Enquanto isso, Chaewon, você pode tirar metade do dia de folga. Eu sei o quão estressada você tem estado desde esta manhã, vá descansar um pouco. — Disse, calmamente.
Aeri rosnou — É sério, Doutora Pham? — Não esperando pela resposta, saiu do consultório e bateu a porta com toda a força que tinha.
Bom, parece que vou ter uma melhor amiga na ala.
Notem o sarcasmo.
— Eu estou bem, Hanni.
A australiana parecia preocupada. — Eu não quero soar rude, mas todos os funcionários daqui acham que você não aguenta com Yunjin depois de tudo o que se passou hoje. Eles querem que eu arranje outro médico.
Eu sabia muito bem que "os funcionários" era na verdade Uchinaga Aeri.
Eu não conseguia nem me olhar, e sendo sincera comigo mesma, a minha autoconfiança estava desaparecendo.
O que aconteceria se Aeri estivesse certa?
O que aconteceria se eu não conseguisse aguentar Yunjin?
Eu não era o tipo de desistir de um desafio facilmente.
E é isso que Yunjin é para mim.
Um desafio.
— Você acha que consegue aguentar Yunjin sozinha? Nós teremos seguranças fora do seu quarto vinte e quatro horas por dia, mas eu não quero que pareça que estou impondo isto em você.
— Você não está fazendo isso e eu consigo lidar com Yunjin. Tenho certeza disso.
— Não tivemos outra escolha. Você é a única enfermeira com experiência que temos por aqui e não podíamos deixar que Ryunjin fosse a sua enfermeira, digo, não depois de... — E então a mais baixa se calou.
— Desculpe. Estava dizendo algo, Hanni? O que ela fez com a enfermeira Ryujin?
Hanni encolheu os ombros e disse após uma pequena pausa. — Ela estava paranóica. Yunjin consegue ser muito intimidadora e aterrorizante, ela disse que não queria continuar sendo sua enfermeira. É isso.
Eu concordei, sabendo muito bem que essa não era a verdade completa.
Hanni poderia estar escondendo algo.
[...]
Mesmo que Hanni tenha insistido em eu descansar e tirar uma folga, eu recusei.
Eu me sentia demasiado culpada com tudo para tirar um tempo de qualidade para mim.
Eu sabia que ela tinha imenso trabalho mesmo que Yunjin já estivesse supostamente presa.
O som do meu estômago indicava que eu estava esfomeada, então fui até à cafeteria do hospital para comprar um lanche quando vi três homens musculados e Beomgyu arrastando uma pessoa à força.
— Saiam da frente... toda a gente. Saiam da frente. — Eles gritavam alto enquanto andavam pelo corredor.
Me encostei na parede.
Lá estava ela. A mulher que fingiu ser a Dra. Uchinaga Aeri, a mesma mulher louca que fugiu do manicómio como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
Os olhos castanhos claros dela me encararam, e mesmo com aquela máscara tapando o seu rosto, eu podia jurar ter visto o seu sorriso, como se ela estivesse zombando de mim.
Os homens começaram a abrir a porta de seu quarto no fim do corredor.
Ouvi gritos e assobios vindos dos outros pacientes presos no quarto ao lado, como se Yunjin fosse algum tipo de heroína, como se ela tivesse ganho um troféu numa competição.
Antes de entrar em seu quarto, ela se virou na minha direção e continuou me encarando até que Beomgyu a empurrou para dentro.
Meus punhos se fecharam.
Estava furiosa, não apenas por causa dela, mas porque eu estava me perguntando como eu poderia ser tão ingênua.
Eu queria confrontá-la.
O jantar no hospital foi servido mais cedo.
Naquela noite, mesmo com o aviso de Hanni, decidi levar a comida para o quarto de Yunjin.
Desta vez, sendo mais cautelosa do que antes.
Um homem em serviço estava ao lado da porta e me informou que ela estava descansando.
Eu entrei e me certifiquei que a porta não estava bloqueada nem fechada caso precisasse correr.
Yunjin estava sentada numa cadeira de madeira perto da janela, cintos envolvendo os seus pulsos, prendendo-a.
Provavelmente ela havia me escutado quando entrei porque ela se virou para me encarar e estava sorrindo.
Era estranho vê-la daquela forma, numas roupas azuis de paciente quando ontem eu havia sido enganada e levada a pensar que ela era uma doutora.
A linda e jovem doutora que eu adoraria ter convidado para um café.
Yunjin não tinha aquele bocal horrível em seu rosto, ela sorriu para mim, como se ela tivesse reencontrado uma velha amiga depois de muito tempo.
— Enfermeira Chaewon. — Ela falou lentamente. — A que devo a honra?
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