02.
Olhei-me no espelho na manhã seguinte e percebi que parecia cansada. Não me lembro da última vez que dormi bem.
Huh Yunjin esteve em minha mente a noite toda.
Imaginei meu primeiro encontro com ela e tudo que me veio à mente foi a Agente Starling e Hannibal Lecter. Isso não me ajudou porque fiquei rolando para frente e para trás na cama a noite toda até o alarme tocar, às cinco e meia da manhã.
Olhei para as olheiras que tinha embaixo dos olhos e resolvi passar um pouco de corretivo, um pouco de blush, sombra quase imperceptível e um tom de batom nude.
A enfermeira Yizhuo, que também era uma grande amiga minha na faculdade, disse que as sombras douradas sempre combinavam comigo, mas usar muita maquiagem não era permitido nem no hospital.
Ouvi que o chuveiro do quarto do Hoon estava ligado, foi o sinal para preparar o café da manhã para ele.
Preparei ovos fritos com torradas, pois estava no topo da lista dos cafés da manhã preferidos de todos os tempos dele.
Meu irmão era um garoto que exigia pouca manutenção, se você dissesse a ele que estava muito ocupado e fazia pizzas congeladas para o jantar todos os dias, ele não reclamava.
"Saí cedo hoje. Vejo você no jantar."
Deixei o pequeno bilhete para ele ao lado do prato do café da manhã, calcei os sapatos, peguei a sacola e saí, a cidade estava fria.
Foi muito fácil encontrar o consultório da Dra. Uchinaga.
Bati uma vez e entrei no consultório e encontrei uma jovem médica encostada na mesa, de costas para mim, revisando um arquivo.
Limpei a garganta. — Doutora Uchinaga Aeri?
— Sim? — Ela voltou toda a sua atenção para mim. — Você deve ser...
— Sou a enfermeira Kim Chaewon. Acabei de ser transferida para a Ala C. Suponho que o Dra. Pham lhe contou sobre mim?
Ela sorriu. — Sim, claro, enfermeira Kim. Por favor, sente-se.
— Você pode me chamar de Chaewon. — Eu disse.
Ela me deu um sorriso que facilmente mataria qualquer mulher.
Dra. Aeri era alta, provavelmente pouco mais de um metro e setenta, com um cabelo loiro chamativo e olhos castanhos como canela, um rosto bem esculpido e uma mandíbula afiada que poderia cortar qualquer coisa.
Ela tinha o tipo de rosto que faria as pessoas que passavam pela rua pararem e olharem para trás.
Se Hanni tivesse me avisado que sua nova "aprendiz" parecia recém-saída do Olimpo, pelo menos eu teria tentado um pouco mais com minhas habilidades de maquiagem.
Porra, Hanni Pham.
— Terra para Chaewon?
Eu estava completamente perdida. — Sinto muito... sinto muito... Doutora. O que você estava dizendo?
Dra. Aeri riu e empurrou alguns papéis para mim. - Leia-os com atenção. Você não quer assinar algo para o qual não está preparada.
Eu ri. Era para ser uma piada?
Examinei os papéis. Tinha o nome da paciente com todas as outras informações e meu nome impresso abaixo para assinatura.
Dizia que a paciente estaria sob meus cuidados a partir de agora e que ela seria minha responsabilidade.
Assinei sem hesitação. Já fiz isso muitas vezes.
Uma lunática mental não me faria correr para as montanhas.
Além disso, se Uchinaga Aeri, aprendiz ou garota de recados de Hanni, iria trabalhar na mesma ala, por que não? Não via médicas bonitas por aqui todos os dias.
Hanni foi qualificada como bonita, mas Aeri estava em outro nível completamente.
Aeri olhou para seu relógio prateado, batendo com uma caneta-tinteiro na mesa de vidro entre nós. — Devo avisá-la. Yunjin não se parece em nada com os outros pacientes que podem ter problemas mentais mas que ainda são fáceis de lidar, então sugiro que você pense com sabedoria antes de assinar qualquer coisa sobre ela.
Eu sorri.
Ela estava preocupada comigo.
— Dra. Uchinaga, agradeço muito sua preocupação, mas dei minha palavra a Hanni e tenho experiência anterior de trabalho em uma instituição mental, então sei que tudo ficará bem.
— Se você o diz — Ela respondeu.
— Você não poderia me ajudar com uma apresentação rápida?
— Bem, eu adoraria... — Ela foi interrompida pelo telefone que tocou na mesa. Ela suspirou. — Isso nunca para de tocar. — Ela levou o fone ao ouvido. — Dra. Uchinaga, posso saber quem é?... Ah, não, está certo? — Ela olhou para mim com preocupação. — É uma emergência?... Está tudo bem então. Bem, acho que não tenho outra escolha, estarei lá. — Ela desligou o telefone.
— Sinto muito, Chaewon. Acho que a apresentação com a psicopata terá que esperar. Eles precisam de mim no departamento de emergência já que estão ficando sem pessoal.
Ela pegou algumas chaves. — Vou te contar uma coisa. Não é exatamente seguro ir sozinha para o quarto dela, então ou você espera algumas horas até que eu esteja livre ou podemos fazer isso amanhã.
— Você não precisa se preocupar. Eu ficarei bem, Aeri. Ah, me desculpe... — Eu ri. — Doutora Uchinaga.
— Aeri está bem. — Ela sorriu e me entregou as chaves. Ela continuou olhando para o meu cabelo. — Isso é algo roxo que eu vejo no seu cabelo?
— Sim, é uma loucura o que eu fiz na minha adolescência. Minhas amigas iam pintar o cabelo completamente, mas eu tive medo e pintei só uma mecha.
Esse fio estava na parte de trás da minha cabeça, quase nunca se destacou. Fiquei surpresa que ela percebeu isso.
— Bom, é uma cor linda. Quase como o algodão doce roxo que eu comia na feira quando era pequena. — Disse ela, sorrindo com a lembrança distante.
— Algodão doce é uma boa comparação. Uma pessoa me comparou com a ameixa outro dia.
Ela riu. — É sério?
— Estúpido, né? — Ri com ela, usando todos os meus encantos e como se tivesse um espírito ousado em mim, perguntei a ela. — Você está livre para tomar um café amanhã?
Ela ergueu uma sobrancelha e me deu um sorriso. Você gosta de mim?
Não é como se fôssemos dar as mãos ou nos beijar no banco de trás, o que eu adoraria fazer, mas Aeri parecia legal. E por causa de sua doçura genuína, quis conhecê-la melhor. Obviamente, acrescentei o fato de ela ser linda.
Poderíamos ser amigas na hora do almoço. Isso é tudo que eu esperava agora.
Escrevi meu número em um papel.
Ela olhou para o seu relógio. — Bem, infelizmente terei que interromper nossa conversa por causa das chamadas de serviço e tudo mais.
Eu ri. — Tudo bem.
Ela colocou o bilhete com meu número nos bolsos da calça jeans e deslizou os braços pelo jaleco branco, indo em direção à porta do escritório.
Ela se afastou para eu passar. — Tem certeza de que não precisa de alguém para acompanhá-lo até o quarto dela?
— Não. Vou ficar bem, Aeri. Obrigada. — Eu disse, olhando para a chave.
Quarto número 606.
Ela provavelmente percebeu que eu estava um pouco nervosa.
A expressão dela ficou séria: — Ela não está com seu melhor comportamento hoje, então dei a ela alguns medicamentos. Ela provavelmente já está dormindo. Se ela acordar e causar problemas novamente, dê-lhe anestesia. Isso irá mantê-la sob controle. Se você precisar de alguma coisa caso contrário, você pode ligar para a enfermeira Yoo. Ela é a supervisora por aqui. Alguma dúvida?
Eu balancei minha cabeça. — Obrigada pela sua ajuda.
— Não tem problema, nos vemos por aí. — Ela respondeu, andando pelo corredor.
Não demorei muito para encontrar o quarto 606, estava bem no final do corredor.
Um homem com uniforme de paciente espiava pelo pequeno espaço transparente da porta ao lado. Ele estava sorrindo para mim, mostrando todos os dentes. Ele estava dizendo algo que eu não conseguia ouvir. Por outro lado, ele poderia estar recitando uma canção de ninar, pelo que eu sabia.
Meu coração batia forte no peito quando coloquei a chave na fechadura.
Respirei fundo antes de girá-la.
Fiquei surpresa ao ver que o quarto era mais espaçoso do que os outros quartos que eu tinha visto antes.
As janelas tinham grades e uma mulher dormia sem fazer barulho na cama, vestindo o uniforme azul claro dos pacientes.
Suas mãos estavam amarradas à grade da cama com uma corda. Seu rosto tinha um bocal semelhante ao de Hannibal Lecter.
Aparentemente, deveria estar correndo em direção às colinas, mas fui invadida por uma onda de simpatia e culpa.
Já vi coisas muito piores no meu trabalho, mas cada vez que encontrava algo assim, não conseguia deixar de ficar triste.
Yunjin era praticamente da mesma altura que eu, com cabelos pretos e uma franja pouco bagunçada e bochechas grandes. Ela tinha um rosto um tanto jovem e muito bem cuidado.
A mesa em frente à cama tinha papéis espalhados por toda parte. Um diário preto estava de cabeça para baixo.
Decidi não acordar Yunjin e, em vez disso, limpei o quarto, colocando tudo de volta em seu lugar.
Fiquei tentada a dar uma olhada no diário preto, mas me abstive de fazê-lo. Eu não queria tirar a pouca privacidade que ela tinha aqui.
Se ela quisesse me mostrar, ela o faria por vontade própria.
Depois de limpar o quarto, saí silenciosamente na ponta dos pés e tranquei a porta atrás de mim.
Enquanto ela não acordava, decidi fazer outro trabalho.
Quando olhei para o relógio, uma hora depois, já era hora do almoço, então resolvi levar eu mesma a bandeja do almoço para o quarto dela.
Eu não queria começar com o pé esquerdo.
Quando entrei na sala ela já estava sentada. Seu rosto se contorceu em agonia enquanto ela tentava se livrar das cordas do pulso, tentando afrouxá-las.
Obviamente, ela não me ouviu abrir a porta e entrar.
— Yunjin? — Fui até ela o mais educadamente que pude. — Eu trouxe o seu almoço.
Ela tentou me dizer algo desesperadamente, mas sua boca não permitiu.
Pobre garota.
Ela poderia estar com fome.
Desprezei a Dr. Aeri por um minuto, embora soubesse que sentir simpatia e culpa por qualquer paciente não fazia parte da descrição adequada deste trabalho.
— Vou tirar o bocal e também afrouxar as cordas se você se comportar bem. — Eu disse. — Você me promete que vai ser legal?
Ela assentiu seriamente, seus olhos castanhos me observaram cuidadosamente enquanto eu tirava o bocal.
Assim que tirei a máscara, ela gritou. — Tire-me estas malditas cordas!
— Vamos, Yunjin. Você me prometeu que se comportaria. — Eu a lembrei.
Ela cerrou os dentes. — Eu não sou a Yunjin! Por favor, tire essas malditas cordas e eu explicarei tudo para você!
— Você acha que eu acreditaria nisso? Tente de novo, querida — Respondi.
Yunjin fechou os olhos, respirou fundo e continuou. — Eu sou a Dra. Uchinaga Aeri, a nova psiquiatra responsável pelo caso de Huh Yunjin. Quando vim fazer um check-up de rotina esta manhã, para falar com aquela psicopata... ela me nocauteou, me vestiu com as roupas dela e me amarrou nesta cama. Sério, Srta. Kim, como você pode ser tão estúpida?
Apertei meus lábios. — Eu não sou estúpida, eu conheci a Dra. Uchinaga esta manhã, você acha que pode me enganar?
— Ligue para a Dra. Pham agora mesmo e peça para ela falar comigo! — Disse ela furiosamente, com o rosto vermelho.
Coloquei o bocal em seu rosto e apertei bem.
Sem dizer uma palavra, saí e fechei a porta.
Eu podia ouvi-la gritando de pulmões cheios. Fui direta para a recepção.
A recepcionista, Kazuha, clicou em algo em seu computador, me lançando seu olhar entediado. - Posso te ajudar com alguma coisa, Chaewonnie?
— A paciente do quarto 606. Você pode descrevê-la?
Kazuha riu baixo. — Você quer dizer a maluca da Yunjin? Honestamente, se ela não fosse uma maldita psicopata, eu pensaria que ela é uma estrela de cinema.
— A Yunjin tem cabelo preto?
Kazuha olhou para mim como se eu tivesse um grande par de chifres na cabeça, claramente confusa.
Senti que todo o sangue havia saído do meu corpo.
Eu provavelmente estava branca como um lençol.
Naquele momento, eu sabia que tinha estragado tudo no primeiro dia.
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