30 alarmes
O doutor sempre amou muitas coisas, ou assim pensava. O doutor pensava muitas coisas, externava as mais brandas e o que os outros escutavam dele faziam-nos concluir sempre a mesma coisa: "ESSE CARA É DOIDO". Sim, talvez o doutor seja meio doido. Ele mesmo se achava meio doido. Se seus pensamentos mais açucarados tiravam dos outros a ideia de que era maluco, com certeza ele era porquê o que eles sabiam não chegava nem na ponta do iceberg de sua psique. E todos sabem que um iceberg é sempre muito maior do que aparenta ser.
O doutor tinha acordado já fazia um tempo. Mas tinha voltado a dormir. O doutor era um doutor, mas nada de ser bem-sucedido. Era um CLT fodido. Acordava cedo, dormia tarde e o pouco tempo livre gastava ou cozinhando ou cuidando dos estudos – pois um doutor sempre estuda.
Por ter tão pouco tempo, ele montava um esquema. 30 alarmes, um a cada 5 minutos. Uma hora, pensava ele, provavelmente antes do décimo alarme, ele levantaria. Mas nunca era assim.
E ali estava ele, deitado, encarando o teto enquanto observava as partículas de poeira se chocarem como grandes asteroides microscópicos. O soldado de outra galáxia empunhava uma adaga serrilhada e flutuava numa desses pequenos corpos de poeira, flutuava como se estivesse surfando. E ele viajava, sedento, buscando o seu oponente, o qual encontrava distraído e, sem nem pensar, o apunhalava pelas costas, acertando-lhe a nuca e descendo a lâmina com brutalidade enquanto apertava os dentes.
Sangue jorrava enquanto o soldado distraído era rasgado. O guerreiro apunhalador se fartava, erguendo os braços ensanguentados para o alto enquanto o seu pequeno alvo padecia, caindo no esquecimento.
O doutor balançou a cabeça. "Chega", ele disse. "Está na hora de acordar".
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