ᅠᅠᅠㅤㅤ ・002・ᅠ𝑼𝒏𝒊𝒗𝒆𝒓𝒔𝒆 𝒋𝒐𝒌𝒆
ੈ✩‧₊˚ 𝑷𝑰𝑨𝑫𝑨 𝑫𝑶 𝑼𝑵𝑰𝑽𝑬𝑹𝑺𝑶*ੈ✩‧₊˚
🔸✧.* Capítulo dois. 🔸✧.*
HELENA VIROU A terceira taça de champanhe na boca. O salto apertava seus pés e o vestido de seda pinicava sua pele. A festa de casamento estava acontecendo como deveria, cheia de convidados que se viravam uns para os outros para fofocarem sobre a roupa deste ou daquele convidado. Luiza estava linda e parecia feliz. Ela viu a irmã da noiva, Anita, perambular pelo local, parecendo tão deslocada como ela própria estava.
—— Eai, Helena. — uma voz a chama e os pelos de seu corpo se arrepiam.
—— Fabrício. — Ela se vira, encarando um dos motivos pelo qual resolveu ir embora de Imperatriz.
—— Fala a verdade, sua vida tá uma merda não tá? — Ele ergue a sua própria taça na direção dela. —— Tá tudo bem, a minha também está.
Fabrício então sai de perto, a deixando desnorteada para trás. Helena caminha pela casa, se sentindo mais deslocada do que nunca. Fabrício sempre seria daquele modo? Perturbador. A reunião de pessoas em torno dela era composta por rostos que ela mal reconhecia, sorrisos falsos e conversas sobre assuntos que não lhe interessavam. Ela queria sair dali, encontrar um lugar onde pudesse respirar.
Enquanto se dirigia ao jardim, Helena se esbarrou em alguém. O som do vidro quebrando ecoou pelo corredor, e ela olhou para baixo, vendo os cacos de uma taça de champanhe espalhados no chão. Seu vestido estava encharcado, uma mancha dourada se espalhando pelo tecido.
—— Meu Deus, me desculpa! — A voz feminina era cheia de preocupação e um pouco de pânico. Helena levantou o olhar e reconheceu imediatamente a pessoa à sua frente, Anita, uma das poucas pessoas com quem ela teve contato durante aqueles anos de escola. Anita estava com os olhos arregalados, segurando o que restava da taça quebrada.
—— Eu sou um desastre, sempre derrubo alguma coisa! Vem, vamos ao meu quarto, posso te ajudar a limpar isso.
Helena estava prestes a recusar, mas a insistência no olhar de Anita a fez reconsiderar.
—— Tudo bem. — disse Helena, tentando forçar um sorriso. —— Vamos lá.
As duas subiram as escadas, Anita liderando o caminho até seu antigo quarto. Quando entraram, Helena foi surpreendida por como o quarto de Anita ainda parecia o de uma adolescente, com pôsteres de filmes antigos nas paredes e um cheiro doce de perfume barato. Era como entrar em um tempo congelado, onde nada havia mudado.
—— Deixa eu pegar uma toalha. — disse Anita, vasculhando uma gaveta. —— Senta aí, vou limpar isso rapidinho.
Helena se sentou na cama, olhando ao redor. Quando Anita voltou com a toalha, Helena já estava distraída, olhando para o outro lado do quarto, onde um velho computador estava encostado em uma escrivaninha.
—— Esse é o mesmo computador que você usava no colégio? — Helena perguntou, apontando para o aparelho. Anita riu, um som leve que ecoou pelo quarto.
—— Sim, acho que minha mãe nunca conseguiu se desfazer dele.
Com um sorriso nostálgico, Anita foi até o computador e apertou o botão de ligar. O som de inicialização familiar trouxe de volta memórias de noites em claro, navegando em redes sociais e mexendo em blogs.
—— Eu tinha um Floguinho naquela época. — disse Anita, mais para si mesma do que para Helena. —— Era onde eu postava fotos idiotas.
—— Todo mundo tinha! Você lembra o username e a senha? — Helena perguntou, com um brilho no olhar. —— Podemos tentar entrar!
—— Será que ainda lembro? — Anita pensou, e enquanto Helena ia até a página de login, Anita digitou o username e a senha e surpresa, conseguiu se conectar.
Assim que a página carregou, o quarto ao redor delas pareceu girar. A tela do computador piscou, e um som agudo encheu o ar, como se o próprio tempo estivesse distorcendo. Antes que Helena pudesse reagir, ela sentiu o chão sumir sob seus pés. O quarto desapareceu, substituído por uma sensação de vertigem. Tudo ao redor delas parecia se fragmentar e, em seguida, se reconstituir em algo familiar, mas diferente.
Helena abriu os olhos lentamente, ainda sentindo o resquício da vertigem que a tinha envolvido. Ela estava deitada em uma cama, mas algo estava errado. O colchão era mais macio, o cobertor tinha um cheiro antigo de lavanda, e o quarto ao seu redor era... seu quarto de adolescente. O mesmo quarto branco e rosa, com quadros de avisos e fotografias, a estantes de livros impecavelmente limpas.
Ela se sentou rapidamente, o coração disparado no peito. Tudo estava ali, exatamente como era quando tinha 15 anos. A mesa de estudo estava cheia de cadernos e livros da escola. Helena mal teve tempo de processar o que estava acontecendo quando ouviu uma batida suave na porta. Antes que ela pudesse responder, a porta se abriu e Heitor, seu irmão mais velho, mas com a aparência muito mais nova, entrou no quarto. A deixando completamente paralisada.
—— Helena, acorda! É o primeiro dia de aula, não quer se atrasar, né? — Ele sorriu, com aquele sorriso maroto que Helena não via há anos. Ele parecia exatamente como ela se lembrava, talvez com uma energia um pouco mais leve. Helena piscou, atordoada.
—— Heitor?
Ele arqueou uma sobrancelha, confuso.
—— É, sou eu. Quem mais seria? Vamos, levanta logo! A mãe está lá embaixo fazendo o café.
Helena sentiu uma mistura de emoções tão intensas que quase a deixaram sem ar. Lágrimas começaram a se formar em seus olhos, mas ela piscou rapidamente para afastá-las.
—— Estou indo. — Ela respondeu, tentando manter a voz firme.
Heitor hesitou por um momento, olhando para ela como se percebesse algo diferente.
—— Tá tudo bem?— Ele perguntou, a preocupação em sua voz.
Helena apenas assentiu.
—— Sim, só... acordei meio desorientada.
Ele sorriu novamente, mais calmo.
—— É, você sempre fica assim quando dorme demais. Mas vai passar. Te espero lá embaixo, tá? — Ele saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.
Helena ficou sentada na cama por alguns instantes, tentando juntar os pedaços da realidade que pareciam ter se estilhaçado. Como ela estava ali, naquele corpo de 15 anos novamente? Era como se o tempo tivesse retrocedido, e tudo o que ela viveu desde então tivesse sido apagado. Parecia um sonho ou um maldito pesadelo.
Cada detalhe em seu quarto adolescente era uma lembrança do que ela queria esquecer. Tudo ali a fazia sentir claustrofobia. Ela tocou seu rosto.
—— Isso não pode estar acontecendo. — ela sussurrou, tentando desesperadamente encontrar uma lógica em tudo aquilo. Mas nada fazia sentido.
Mas então, a voz de sua mãe ecoou da cozinha, a chamando para o café da manhã. Aquele tom familiar, misturado com impaciência e desapontamento, trouxe de volta todas as memórias das expectativas esmagadoras e da tensão constante em casa. Helena sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Nada disso era fácil, e saber o que estava por vir, como as coisas se desenrolariam, tornava tudo ainda mais horrível.
Ela se forçou a levantar, a se vestir com as roupas que usava em em sua adolescência, A calça jeans comum e a blusa branca lisa, tudo aprovado por sua mãe, ela sentiu vontade de vomitar ao se olhar no espelho. Se era um sonho, ela faria tudo diferente. Ela retirou a camiseta e a tesoura do armário e a cortou deixando a barriga à mostra. Ela pegou em seu armário uma das saias pretas que iam até o joelho e assim como a blusa ela também passou pela tesoura, se tornado uma minissaia desfiada, com rasgos posicionados, que mal cobria as suas coxas. Nos pés ela pegou um dos tênis pretos de skatista, aquilo mataria a sua mãe do coração, ela tinha certeza. Helena prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto. E se agachou na frente da cama, erguendo o colchão no alto, com uma das mãos.
—— 'Tá de sacanagem. — ela pegou as maquiagens que costumava esconder da mãe na adolescência. —— Caramba subconsciente, você 'tá de parabéns.
Pegando o lápis de olho e o delineador ela terminou seu trabalho. Helena abriu a porta do quarto e desceu as escadas, cada passo ecoando no silêncio pesado da casa. O cheiro familiar de café recém-passado e pão na chapa preenchia o ar, trazendo uma onda de nostalgia que ela tentou afastar. Ao entrar na cozinha, viu seus pais sentados à mesa, com Heitor já de pé, esperando por ela. Eles pareciam exatamente como se lembrava, a mãe, com a expressão séria, controlando cada detalhe da manhã, o pai, escondido atrás do jornal, como se preferisse não enfrentar a família ao seu redor.
—— Finalmente. — disse sua mãe, ainda virada para a pia, sem a olhar. —— Achei que fosse precisar te buscar lá em cima.
Quando sua mãe se virou para a mesa, os olhos dela se arregalaram, e a xícara de café que segurava parou no ar, congelada entre a pia e a mesa.
—— Helena, o que é isso? — A voz de sua mãe saiu em um sussurro rouco. Seus olhos percorreram o visual de Helena, desde a maquiagem forte, a minissaia desfiada, que mal cobria as coxas, até a camiseta cortada que deixava a barriga à mostra, passando pelos tênis pretos de skatista. —— Você... você não pode ir à escola assim!
O pai de Helena abaixou lentamente o jornal, o cenho franzido enquanto seus olhos também analisavam a filha. Ele não disse nada, mas o silêncio dele falava mais alto do que qualquer palavra. Era um silêncio de desaprovação, de incômodo, como se preferisse fingir que aquela cena não estava acontecendo.
Heitor, que já estava de pé, observava a situação com uma mistura de surpresa e admiração. Ele sabia que Helena sempre foi a filha que tentou agradar, que seguiu as regras, mesmo que a contragosto. Ver sua irmã se rebelar dessa maneira, mesmo que fosse apenas na escolha da roupa, era algo novo. Ele deu um leve sorriso de apoio.
—— Você parece uma... uma... — A mãe de Helena não conseguiu terminar a frase, a indignação se misturando com a confusão. Ela estava acostumada a ter controle sobre a vida dos filhos, especialmente sobre Helena, e ver a filha desafiar suas expectativas de maneira tão flagrante era como uma afronta direta à sua autoridade.Helena apenas deu de ombros, decidida a não recuar. A mãe dela soltou a xícara na pia com mais força do que pretendia, o barulho ecoando pela cozinha.
—— Você vai voltar para o seu quarto agora e se trocar, Helena. Isso não é uma discussão. Eu não vou permitir que saia de casa parecendo... parecendo isso!
Helena, no entanto, permaneceu imóvel. Havia um brilho de coragem em seus olhos que sua mãe raramente via.
—— Não, mãe. Eu vou assim. Se eu estou revivendo esse pesadelo, pelo menos vou ser eu mesma dessa vez.
O pai de Helena pigarreou, claramente desconfortável com a tensão que crescia na cozinha. Mas antes que a mãe pudesse responder, Heitor interveio, dando um passo à frente.
—— Deixa ela, mãe.
A mãe de Helena o olhou como se ele tivesse acabado de falar algo totalmente absurdo.
Helena, percebendo que a discussão não levaria a nada, apenas pegou uma maçã da fruteira e deu um passo em direção à porta.
—— Não se preocupem, eu volto inteira.
E com isso, saiu da cozinha, deixando seus pais para trás, ainda chocados, enquanto Heitor a observava com uma ponta de orgulho. A segundo logo depois, pagando as duas mochilas em cima do sofá da sala. Helena precisava achar Anita, e saber se ela estava tendo o mesmo pesadelo, ou qualquer merda que ela estava vivendo, Helena precisava achar aquela maluca.
ੈ✩‧🔸₊˚ Peço perdão desde já por qualquer erro ortográfico, eu tento ao máximo revisar, mas sempre escapa um ou outro, caso achem, me avisem para que eu possa arrumar. Não se esqueçam de deixarem suas opiniões sobre o capítulo. Eu amo ler os comentários. Beijos da Thay.
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