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Capítulo Um

Miguel Martins:

Sinto alguém balançar meu ombro gentilmente; no entanto, reluto em abrir meus olhos. Meus sonhos estão sendo tão incríveis e fantásticos que seria um desperdício não aproveitar cada segundo.

Eles são tão superiores à realidade; de fato, todo sonho parece maravilhoso quando você está exausto após horas dentro de um avião, voltando para casa após um período longe. Esse afastamento, por sua vez, é muitas vezes resultado de experiências desgastantes, tanto fisicamente quanto mentalmente. A jornada de volta para casa é sempre um misto de alívio e nostalgia, marcada não apenas pelo cansaço físico, mas também pelo esgotamento mental decorrente de desafios enfrentados durante a ausência. Os sonhos proporcionam uma fuga catártica, um refúgio onde a mente pode criar mundos e cenários extraordinários, oferecendo um alívio temporário das pressões do mundo real.

Neste momento, sinto o toque insistente em meu ombro, e mesmo que a tentação de permanecer no mundo onírico seja forte, sei que devo retornar à realidade. Abro os olhos lentamente, deixando os resquícios do sonho se dissiparem enquanto me reconecto ao presente.

— Miguel, acorde. —  Ouço a voz de Alison. — Já chegamos no aeroporto; o avião já pousou, e precisamos descer agora. Sei que é bom dormir mais, mas precisamos ir.

Lentamente, abro meus olhos e me perco naquele olhar de Alison, que então se afasta e me mostra a paisagem do aeroporto pela janela do avião. A luminosidade intensa do local invade meus olhos, contrastando com a penumbra relaxante do meu sonho recente. A realidade volta a se impor, mas por um momento, fico ali, entre o sonho e a vigília, apreciando a transição. O zumbido distante dos motores e a movimentação no corredor do avião indicam que a jornada está longe de terminar, e a necessidade de encarar o mundo real se torna inevitável. Com um suspiro resignado, ponho-me de pé, pronto para enfrentar o que está por vir.

— Vamos, então —  Falei, esticando-me ao espreguiçar, e olho para o lado, avistando meu pai contemplando a paisagem lá fora. —  Pai, vamos?

Ele se vira na minha direção, e vejo um leve traço de incerteza em seu olhar, como se não soubesse ao certo o que fazer naquele instante. Essa expressão de hesitação me deixa ainda mais perdido; ele não parece recordar a vida que leva aqui, muito menos tudo o que passei nos últimos anos ao seu lado.

Levanto-me do meu assento enquanto Alison pega minha mala e a do meu pai, além da dele próprio. Caminho até meu pai e estendo a mão, que ele encara por alguns segundos antes de aceitar, ajudando-me a erguê-lo de sua poltrona. A sensação de cuidar dele, de guiá-lo através de um mundo que agora lhe é estranho, é ao mesmo tempo desafiadora e emocionalmente intensa. Juntos, formamos um pequeno grupo em meio ao movimento do desembarque, prontos para enfrentar o próximo capítulo dessa jornada que agora se desenha diante de nós.

— Pronto para ver o local onde você morou? —  Perguntei, e meu pai apenas assentiu, sem dizer mais nada.

Será um longo caminho para ajudá-lo, pois ele parece apenas querer fugir de tudo, de algo que deveria conhecer, ao mesmo tempo em que não sabe quase nada.

Pego sua mão e começo a guiá-lo para fora do corredor do avião, preparando-me para o mundo lá fora da aeronave. Cada passo é uma tentativa de reconexão com o passado, uma jornada para trazer à tona memórias esquecidas e construir pontes entre o presente e o que um dia foi familiar para ele. No entanto, sinto a resistência em sua postura, uma hesitação que revela a complexidade de sua situação. Mesmo assim, estamos juntos nessa jornada, prontos para enfrentar o desconhecido que aguarda do lado de fora.

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O aeroporto de Nápoles, eu sempre acho super lindo, mesmo não sendo muito grande, mas sua infraestrutura me agrada bastante toda vez que venho aqui, e quando falam mal dele para mim, o defendo com unhas e dentes. Até hoje, nunca entendi por que gosto tanto desse lugar.

Será que já sei o motivo? Diferente da cidade, é mais organizado. Nápoles apresenta um trânsito caótico, poluição sonora e alguns lugares mal cuidados. A região da estação central não é das mais bonitas, e alguns edifícios históricos daquela área são bem mal conservados, de fato. No entanto, nada disso tira a magia da cidade, pode acreditar em mim

— Vamos, temos que pegar um táxi ou um ônibus até em casa —  falei, e Alison e meu pai me encararam como se fosse louco. —  Não tem ninguém para nos buscar, então temos que esperar.

— Então, quem é aquele cara? —  Alison perguntou. —  Que tem um enorme cartaz com o seu nome e sobrenome em cima da cabeça? Ainda está usando umas fotos de vocês.

Me virei e não acreditei em quem veio me buscar no aeroporto. Fui em direção ao meu melhor amigo, que sorriu em nossa direção.

— Vamos, Arnold veio nos buscar —  Falei, e ambos me seguiram meio desconfiados.

Quando me aproximei do meu amigo, dei-lhe um abraço, pois estava morrendo de saudades desse idiota.

Deixe-me falar como é Arnold Costa para vocês. Ele é um cara bem divertido, apesar de ter sido renegado pela família dele por ser gay. Arnold foi trabalhar no orfanato que meu pai ajuda, e eu administro, e nos tornamos amigos desde então. Isso aconteceu há cinco anos.

— Que saudade, anjinho — Arnold falou, colocando o cartaz no chão. —  Aqui não é o mesmo sem vocês. Acaba sendo muito chato com o Mark e o Erick nunca querendo se divertir. A única que se salva é a Rosangela, que sabe como.

— Também senti, meu amigo —  falei e me afastei dele. —  Arnold, quero que conheça meu amigo, Alison. Alison, esse é meu melhor amigo Arnold, que é quase como um irmão.

— É um prazer — Alison falou, e Arnold o analisou.

— Miguel, você vai para os Estados Unidos e ainda traz um homem —  falou uma voz atrás de nós. — Meu amigo, já está agindo dessa maneira e nem conta pra gente em nenhuma ligação.

Arnold e eu nos viramos para encarar a pessoa que falou, e eu logo reconheci a voz. Vendo o namorado de Arnold, que sempre implica comigo quando tem um momento. No entanto, ele é uma pessoa legal, mesmo trabalhando para a máfia da cidade.
Thomas Barnes, o segundo filho da família Barnes. Podem parecer violentos, mas isso só acontece com quem ameaça os seus. Eles protegem a cidade mais do que o próprio prefeito, embora, em algumas ocasiões, sejam bastante rígidos, até mesmo violentos, com a polícia.

— Thomas, você não mudou nada —  eu disse, sorrindo. —  E eu estava esperando para contar a todos, mas queria fazer uma surpresa. Adivinha?

Thomas revirou os olhos, Alison me olhou um pouco estranho.

— Amor, para com isso —  Arnold falou. — Deixa o Miguel, Alison, o prazer é meu.

— Sabe que estou implicando com esse tampinha, que eu amo muito — Thomas falou divertido. — Agora, melhor me apresentar ao meu segundo pai, novamente.

Arnold se virou para meu pai e estendeu a mão.

— É um prazer te conhecer novamente, senhor Martins —  Arnold falou.

— O prazer é meu, Arnold — Meu pai respondeu, depois olhou para Thomas. — Me desculpe por esquecer de vocês.

—  Não tem problema — Thomas Disse. — Sei que você vai recuperar as memórias rapidinho e se lembrará de tudo que viveu aqui.

—  Assim eu espero —  Meu pai disse, mas reparei na melancolia em sua voz.

—  Que tal levar vocês para casa? —  Arnold disse quebrando o silêncio que surgiu. — Tem algumas pessoas que querem vê-los.

— Nem adianta perguntar quem é —  Thomas falou, lendo meus pensamentos. — É uma surpresa.

Ele se virou e chamou meu pai e Alison para segui-lo, e ambos me lançaram um olhar antes de irem. Fiquei um pouquinho com Arnold.

— Pode chorar —  falei, me aproximando do meu amigo e o abracei, e seus soluços e lágrimas começaram. — Ele vai recuperar todas as memórias, até sobre você.

— Eu sei que vai —  Arnold falou entre as lágrimas. — Mas ainda é difícil, ver o homem que cuidou de mim como um filho desde que me conheceu ter me esquecido.

— Eu sei, também é duro para mim, ver que meu próprio pai se esqueceu de mim —  falei e comecei a caminhar com meu amigo ao meu lado. —  Mas ele vai se recuperar. Não vou desistir, e sei que você também não vai se deixar abalar por isso.

— Você acabou de falar como ele —  Arnold disse. — Ele disse isso para mim quando me encontrou chorando nas ruas, após meu pai me expulsar de casa. “Você vai se recuperar disso tudo, não se deixe abalar por nada.”

— E ele estava certo —  falei, feliz ao lembrar como meu pai sempre ajuda os outros. — Nunca deve se abalar por algo que alguém maldoso disse a você.

Arnold pareceu que não ia chorar mais, então começou a me perguntar da minha família de Los Angeles. Contei um pouco de tudo para ele, desde Edu e o marido dele, o Marcos, até o restante dos Dawsons. Descrevi como foi nosso último dia com eles, repleto de lágrimas por parte dos meus sobrinhos e promessas de que eu ligaria todos os dias, que voltaria e que eles também viriam me visitar.

Realmente gostei de conhecer cada um deles. Mais tarde, quando chegarmos em casa, vou ligar para eles e avisar que chegamos bem.

— Você gostou mesmo de conhecê-los — Arnold falou. — Até sorriu quando falou deles.

— Se um dia eles vierem, vou apresentar vocês —  falei. — Você vai amar cada um deles. Tem uma moça chamada Daphne que me lembrava de você.

— Por que ela lembra eu? —  Arnold perguntou.

— Não consegui segurar a língua —  falei, e ele tentou fazer cara de revoltado, mas não colou comigo. —  Você sabe que é verdade.

Saímos do aeroporto e vi que todos estavam no carro. Alison e Papai no banco de trás, e Thomas no banco do motorista. Chegamos ao carro e entramos, comigo atrás e Arnold no banco do passageiro.

— Vamos para a residência Martins —  Arnold e eu falamos juntos. — Senhor motorista, lá vem a polícia.

Thomas não disse nada, pois sempre brincamos quando ele dirige o carro. Pois veja, ele dirige como um motorista para fugitivos.

Ligando o carro, saímos dali rumo à minha casa.

É de volta ao lar.

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Gostaram?

Nossa história se iniciou, até a próxima 😘
 

 

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