Capítulo Dois
Miguel Martins:
Ver essa cidade ainda me traz um pouquinho de tristeza. Se ela não fosse tão suja em alguns lugares, até os pontos turísticos que deveriam ser conservados não são; estão simplesmente deteriorados.
O que podemos fazer? Já que a população não cuida da própria cidade e muito menos da própria prefeitura. Pensando nisso, fico refletindo sobre a responsabilidade compartilhada que todos têm em manter a cidade limpa e bem conservada. A falta de conscientização e engajamento da população, somada à negligência das autoridades, contribui para a degradação do ambiente urbano.
— Então, Alison — ouço a voz de Arnold. — Vai trabalhar no orfanato ou na empresa?
— Como assim? — Alison pergunta. — Vou meio que ser o assistente do Miguel e quem sabe ajudar a expandir o meu negócio. Meio que sou dono de uma franquia de bebidas e estava pensando em expandir para fora.
— Esse é o problema, Miguel trabalha tanto na empresa do Eduardo e no orfanato, organizando algumas coisas e nunca para nem para descansar. Acho que isso vai ser uma mão na roda, mas sobre expandir seu negócio, vai demorar bastante — Arnold disse. — Acaba fazendo muitas coisas.
— Posso esperar um pouco para fazer isso da minha parte — Alison fala com um sorriso. — Nossa, estou surpreso que você faz tudo isso — diminui a voz. — Não, me admire que tinha dias que estava desesperado para salvar das coisas que aconteciam aqui.
Fiquei vermelho ao ouvir isso. Afinal, não ficava tão desesperado como ele falou, só que também precisava tomar conta da empresa do meu pai enquanto ele estava em coma. Além disso, me sentiria um péssimo filho se tudo fosse desfeito: os contratos da empresa, as parcerias que ajudam o orfanato, e se alguma criança adoecesse e não tivesse remédios para cuidar dela.
Acho que meu silêncio deve ter feito meu pai ficar mal, pensando que isso é culpa dele. Pois ele começou a falar.
— Me desculpa, se não tivesse me envolvido no acidente, nada disso teria acontecido — meu pai falou, deixando-me pior ao ouvir isso. — Devo ter atrapalhado sua vida com relação a tudo isso. Se eu não tivesse perdido as minhas memórias de tudo...
Agora, não sabia o que poderia dizer em relação a tudo isso. Seria mentira dizer que o peso disso não iria cair em cima de mim, e se falasse algo afirmando, meu pai iria se culpar ainda mais por tudo. Isso me faz ficar tão desesperado e sufocado que sinto como se o ar estivesse me sufocando a cada segundo, e o coração acelerando ainda mais, chegando a doer.
— A culpa não é sua — Alison falou, salvando-me de deixar um clima estranho no carro. — Você foi ajudar seu filho Edu, contra a Lisa. O acidente não teria como ninguém saber que ele iria acontecer. Você não precisa se culpar. Você salvou a vida do seu genro. Você nunca vai ser um peso na vida do Miguel. Afinal, é o melhor pai de todos, como o Miguel sempre me disse quando nos conhecemos. Você não atrapalha a vida dele. Suas memórias do passado de vocês podem voltar, mas se não, faça novas memórias e conheça seu filho novamente. E, Arnold, respondendo à sua pergunta, vou ajudar o Miguel no que ele precisar. Vou sempre querer fazer o que puder para ajudar ele.
Ninguém falou mais nada quando Alison terminou de falar. O clima no carro não ficou nada pesado; foi incrivelmente agradável. Tirei o olhar da vista do lado de fora e virei para olhar Alison, tentando dizer baixinho, por ter dito essas palavras, e ele pareceu entender, sorrindo para mim.
Quando desviei o olhar, percebi que Arnold me encarava com uma sobrancelha arqueada, e seu olhar dizia: "Você leu nas entrelinhas do que ele falou?"
Revirei os olhos mentalmente. Às vezes, esqueço como meu amigo pode ser um idiota em determinados momentos, especialmente quando pensa que tudo se desenrola como uma história de romance.
Voltei a olhar a paisagem do lado de fora. Vai demorar bastante até chegarmos em casa, afinal, ele fica um pouco longe da cidade. Meu pai quis morar bem longe da cidade, em um local limpo e ao ar livre.
Então, moramos em um sítio a minha vida toda. Ainda é um bom lugar para relaxar e quem sabe eu possa cuidar dos meus filhos até na minha velhice, com eles tendo uma vida completamente calma.
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Vinte minutos depois, chegamos na entrada do sítio Martins, e já nos deparamos com duas pessoas conhecidas por mim. Erick Araújo, um dos capatazes do sítio do papai, e ao lado dele, montando um cavalo, Luigi Greco.
— Hoje o Erick está de babá —Thomas falou, parando o carro de frente para o portão do sítio. — Esquecemos de avisar, o senhor Greco pediu para os filhos dele ficarem aqui no sítio por um tempo.
— Grecos? — Alison e o meu pai perguntaram juntos.
— Sim, são conhecidos nossos há anos — falei respondendo à pergunta deles. — Pai, você faz negócio há anos com a família Greco que mora na Toscana. Você e o Luciano são muito amigos, mesmo ele sendo um pouco temido pela aparência dele e da ex-mulher dele também, os três são bastante amigos.
— Por que ele manda os filhos pra cá? — meu pai perguntou. — Somos tão próximos nesse nível?
— Sim — Arnold respondeu. — Mesmo eles tendo doze e onze anos, o senhor Greco e a senhora Ricci confiam muito em você. Por isso, deixam os filhos nas ferias passarem algum tempo aqui.
Erick veio com o cavalo até o portão e desceu antes de falar para Luigi ir avisar o pessoal que está na casa que chegamos.
Devo admitir, Luigi sabe andar muito bem a cavalo. Afinal, o pai dele ensinou, e Erick ensina quando ele vem aqui.
Erick abriu o portão, entramos na propriedade.
— Finalmente voltaram ao lar — Erick falou sorrindo. — Vamos, minha mãe está fazendo o bolo favorito do senhor Eduardo.
Antes de fazermos algo mais, ele fechou o portão, subiu no cavalo, e foi à nossa frente até a casa. Thomas ligou o carro, e voltamos à estrada de terra, percebendo que este lugar é realmente encantador, com seus animais e plantações. O caminho de terra serpenteava suavemente pela propriedade, ladeado por árvores altas e frondosas que projetavam sombras dançantes sobre a estrada. O aroma fresco do campo preenchia o ar, misturando-se com o suave perfume das flores silvestres que se espalhavam pelas margens.
À medida que avançávamos, uma paleta de cores se desenrolava diante de nossos olhos. Campos verdejantes se estendiam até onde a vista alcançava, pontilhados por flores coloridas e salpicados por árvores frutíferas carregadas. O céu vasto e azul se estendia acima, sem nuvens, proporcionando um contraste perfeito para a exuberância da natureza ao redor.
Os animais da fazenda, curiosos com nossa chegada, levantavam a cabeça para nos saudar enquanto continuávamos nosso caminho. Cavalos pastavam serenamente, pássaros voavam de um lado para o outro, e o suave mugido de vacas ecoava ao longe. A atmosfera tranquila e serena tornava difícil acreditar que estávamos apenas a alguns quilômetros de distância da agitação da cidade.
À medida que nos aproximávamos da casa, vislumbrávamos um jardim bem cuidado, repleto de flores vibrantes e o som suave da água corrente de uma fonte. Era como se a natureza abraçasse cada pedaço da propriedade, criando um refúgio acolhedor e harmonioso. Estar ali, rodeado pela beleza do campo, era como entrar em um mundo à parte, onde o tempo seguia seu próprio ritmo, mais sereno e tranquilo.
— Aqui é lindo — Alison disse. — Você realmente tem sorte de morar em um lugar desses.
— Meu pai só quis me criar longe da poluição da cidade e comprou esse lugar, começou o sítio Martins — falei e olhei para meu pai, que tinha um olhar confuso. — O que foi, pai?
Ele me encarou e começou a sorrir.
— Eu lembro disso — Meu pai disse, e perdi o fôlego. — Foi aqui que eu e Selena trabalhamos no verão. Desculpa, não lembro de ter comprado esse lugar e ter cuidado de você nele.
Minha felicidade que surgiu sumiu na hora, mas não deixei desanimar. Só vi que ele lembra que esse sítio é importante para ele.
— Eu sei, me criar aqui foi a sua maneira de me fazer ter contato com a minha mãe — falei, lembrando. — Você sempre dizia que ela era um espírito livre e que esse lugar representou para ela os seus melhores momentos de ser feliz e a fez ser quem era.
Ficamos em silêncio e, quando vi, chegamos em frente à enorme casa, com Erick e ao lado dele, Luigi, nos esperando do lado de fora. Thomas parou o carro e, sem esperar, desci e fui até os dois.
— Luigi, que saudade — falei, abraçando o garoto ruivo que vestia roupas iguais às de Erick. — Como tem passado? Sinto muito por não ter te visto nesses meses desde que vieram passar as férias.
— Sem problema, mas como está o Eduardo? — Luigi perguntou. — Papai contou do acidente dele.
Quando ia mencionar meu pai, ele saiu do carro, um vulto pequeno saiu de dentro da casa a seu encontro e o abraçou.
Vi meu pai entrar em alerta ao ver o mais novo dos Grecos o abraçando. Eu ia em sua direção, mas fui impedido, senti duas pessoas me abraçando. Olhei para baixo e vi meus dois amores.
— Papai Miguel — gritaram Adele e Giulio. — Sentimos saudades.
Olhei para meu pai, que parecia que ia desmaiar de pânico, e realmente isso aconteceu. Antes dele cair para frente e esmagar Stefano, o mais novo dos Grecos, Alison saiu de algum lugar e o segurou. Agradeci pelo que ele fez, impedindo meu pai de cair de cara no chão.
Agora que tudo piorou, o Universo já começou com suas artimanhas.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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