Parte I
Naquele fim de tarde eu observava os raios de sol que atravessavam a fresta da janela de madeira rústica desta minha casa que em outros tempos já esteve cheia, repleta de convidados e crianças correndo para todos os cantos. Agora permanece silenciosa. Isso desde que minhas filhas cresceram e casaram-se.
Eu já fui um jovem cheio de sonhos e expectativas, pronto para conquistar o mundo, mas hoje sou um velho saudoso. Enquanto estava sentado em uma cadeira de balanço que rangia um pouco, bebericava café na xícara branca de porcelana. Meus olhos se desviaram da janela e focalizaram no retrato de minha esposa em um criado mudo. Ao mirar-lhe, uma série de lembranças logo vieram, pois carrego comigo as memórias de um cavaleiro imperial.
Fui levado para uma retrospectiva da minha própria história e que a partir de agora contarei. Ninguém sabe quando deixará de viver, então quero deixar um legado para que eu possa ser lembrado.
Nasci em uma família simples. Meus pais eram donos de uma propriedade rural e eu passei muitos anos de minha vida vivendo naquela fazenda, auxiliando-os na administração. Porém, minha mãe acabou falecendo após ter contraído uma pneumonia. Eu ainda era um adolescente.
Isso mudou o rumo que tomaria a minha vida. Decidi deixar aquele lugar e me alistar como militar. Partir para longe não foi uma tarefa fácil, mas era preciso fazer. Eu não via mais um futuro naquela fazenda.
Fui aceito no primeiro Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro em 1815. Três anos depois fui admitido na Academia de artilharia. Lá tive aulas de aritmética, álgebra, geometria, táticas, estratégias e reconhecimento de terreno. Meu desempenho impressionou meus superiores e fui promovido a tenente nos finais de 1820. Sempre fui um estudante dedicado, contudo, por ser sisudo, às vezes intimidava alguns colegas de classe. Por esse motivo me deram alcunha de casmurro.
1821. Fui convocado a participar do primeiro batalhão de fuzilamento. O Brasil estava em guerra pela independência. Meus olhos brilharam quando contemplaram Dom Pedro I foi aclamado como Imperador, que me designara para comandar uma infantaria de elite.
Ainda me lembro daquela tarde em que eu me refrescava em um riacho quando o vi se aproximar de mim. Pôs uma de suas mãos em meu ombro e eu imediatamente curvei-me em sinal de respeito. Então disse-me:
— Aluísio Lima. Bem sei o quanto és um ótimo comandante. Tens feito um excelente trabalho até então. Por este motivo eu o escolho para liderar um batalhão que criei. Confio em ti e sei que não me decepcionarás.
O imperador me olhava com tranquilidade. Isso me fez acreditar em suas palavras. Eu estava muito honrado com tamanha confiança depositada em mim.
— Vossa Majestade, muito obrigado pela confiança em meu trabalho. Estou tão honrado que não encontro palavras que possam expressar minha gratidão. Darei minha vida pela tua se for necessário.
O Imperador soltou uma gargalhada baixa e meneou a cabeça concordando.
— Sei que sim e é por isso que és um homem de grande confiança entre meus militares. Termine de se refrescar. Logo cavalgaremos de volta ao palácio.
Consentir foi tudo o que consegui fazer. Jamais imaginei vivenciar um momento como aquele. Eu me sentia eufórico.
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