HOSPITAL
— Bom dia Dr. Herculano! — Cavalcanti cumprimenta o médico entrando na sua sala.
— Bom dia! Quanta honra! A que devo tamanha visita?
Cavalcanti analisa o médico, sem saber se ele é assim mesmo, gentil, ou se está puxando o saco.
— Doutor desculpa chegar assim, de supetão, mas preciso fazer umas perguntas.
— Por favor, faça!
— O senhor estava aqui no hospital no dia do meu acidente?
— Não! Estava em casa e ligaram dizendo que o senhor havia dado entrada à beira da morte. Então vim imediato.
— Pode chamar de você! — Pede Cavalcanti.
Dr. Herculano ajeita o jaleco e pergunta:
— O que mais deseja saber?
— Não consigo lembrar de nada referente a minha vida ou ao acidente.
— Nada? — O médico surpreende-se. — Bem, já era para ter lembrado de algo.
— Digo, lembro de coisas... Mas, não coisas de "Cavalcanti" — Faz o sinal de aspas com os dedos — Entende? É como se tivesse voltado outra pessoa do coma! Como pode ser isso?
— Bem, você passou muito tempo em coma, seu acidente foi todo na cabeça. Foram três cirurgias para restaurar sua face. Logo, é normal, a mente criar subterfúgios para manter a sanidade, porém, algumas vezes, essa falsa realidade entra tanto em nosso subconsciente que se somam às tantas outras verdades, que somente o tempo vai separar, o que é real do que é fantasia!
— Mas, e quando essa normalidade vai alterando o que é falso para o que é real? Voltando o normal?
— Varia de paciente, depende do trauma... São varias atenuantes.
— E o rapaz, que eu matei, ele chegou vivo?
— Não! Morreu no local.
— Como ele morreu?
— Por que isso importa?
Cavalcanti esmurra à mesa!
— POR QUE NÃO CONSIGO SEGUIR ADIANTE! EU DEITO E SÓ VEM NA MENTE O ACIDENTE! — O médico se retrai, Cavalcanti levanta. Passa as mãos pelos cabelos. Caminha até a janela.
O médico fica inerte. Parado.
— Eu, peço desculpas. — Cavalcanti vira-se para o médico — Estou sem comer direito. Não durmo bem. Minha vida tem tudo para ser a melhor de todas, mas regredi. Parei... Não evoluiu.
Dr. Herculano relaxa o corpo colocando as mãos sobre a mesa. Um enfermeiro entra. Ele faz um sinal com a mão, mostrando que está tudo bem.
— Você, segundo sua esposa, havia bebido à tarde toda.
— E o que mais? — Olhando pela janela.
— A batida foi na lateral do carro do médico. Vocês capotaram. O carro que estavam os rapazes pegou fogo!
Cavalcanti para de olhar pela janela e gira a cabeça devagar, olhando para o Dr. Herculano.
— Haviam duas pessoas no outro carro? Foram duas mortes? — Dr. Herculano ver o terror nos olhos de Cavalcanti e se apressa em dizer:
— Não! Houve somente um óbito! — Dr. Herculano olha Cavalcanti nos olhos.
— Puta merda! E quem morreu? O médico? Qual era o nome dele?
— O médico está vivo. Dr. Elizeu de Moraes, mas, não vai mais voltar a andar. Quem morreu foi um advogado.
Cavalcanti sente o chão fugir dos seus pés!
— Não sobrou nada do corpo. — Continua o médico. — Morreu carbonizado! Nem deu para fazer o reconhecimento.
Dr. Herculano ver a cor de Cavalcanti sumir.
O Sangue lhe sumiu no rosto.
O médico entendeu, que falou demais.
— Desejaria conversar com o médico. Onde posso achá-lo? — Cavalcanti pergunta ansioso.
— Você está louco? — Agora é a vez de Dr. Herculano se levantar. — Nem peça isso! Já houve sofrimento demais!
— Eu preciso vê-lo, pedir desculpas.
— Não vai adiantar. O assunto está encerrado! Tudo o que você perguntou sobre aquela noite, você já sabe. Agora, se der licença, preciso voltar a trabalhar, ver meus pacientes.
— Claro. Muito obrigado e bom trabalho.
Dr. Herculano abre a porta, Cavalcanti sai, o nome já era o suficiente, mas, por algum motivo, ele volta atrás e o agradece de novo, com um gesto com a cabeça.
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