DIA 16 - MEU NASCIMENTO
Bom dia Escriba.
Esqueci de contar que nasci com lado esquerdo semi-morto.
Demorei a nascer.
O que lembrei, e que minha mãe contou, é que era pra eu ter nascido pela manhã porem nasci às 23h55, parto normal.
Há alguns anos atrás, o Estado só realizava o parto normal.
Acho que foi por isso.
Não vou julgar meu pai por ele só ter aparecido no meu primeiro dia, e depois só reapareceu uma semana depois para buscar-nos, embriagado.
Acredito que ele achava que o filho não era dele.
A asma, apeteceu por causa do banho com talco que já contei.
Lembro quando meu tórax travava e o peito chiava.
Faltar o ar era o maior desespero.
É uma sensação horrível, você querer puxar o ar e não conseguir.
Um terror invade nosso ser.
É sentir a morte chegando da pior forma, por que você olha todos em sua volta, e estão todos desesperados.
Você não escuta nada, nem obedece ninguém, eu queria respirar a todo custo e não conseguia.
O coração acelera no peito.
Eu lembro também que ganhei um amigo, uma bombinha azul.
Ajudava nas crises.
Para tratamento da epilepsia, tomava um comprimido diariamente:
Comital L.
Quando cheguei aos oito anos de idade, passei a tomar o Hidantal e era duas vezes por dia.
Lembrei da médica falando com a minha mãe, que não poderia andar de bike, tomar bebidas alcoólicas, tomar banho de mar sozinho.
Não verdade, não podia fazer nada sozinho.
A cada 6 meses voltava ao médico para fazer o Eletroencefalograma.
Ficava umas borrachas na cabeça, eu dizia que estava virando o Batman.
O mais difícil disso tudo era que não poderia ser contrariado.
Uma regra que meu irmão não seguia.
Só tive algum sossego quando ganhei um pastor alemão que me obedecia.
Coloquei o nome dele de Frankenstein.
Escriba, você pode estar perguntando quem em sua sã consciência, colocaria um nome tão estranho para um cachorro tão bonito?
Eu!
Aos cinco anos já era fã de revistas de terror.
Mas, o estranho era comprarem os gibis de terror pra eu ler.
Risos.
Depois que Frankenstein chegou, André nunca mais chegava perto de mim para tentar me bater, eu falava "pega Frankenstein" era neguinho subindo na árvore.
Mas, devido à situação financeira, fomos despejados e o capa-preta voltou para casa do major da aeronáutica que nos deu o cachorro.
Foi uma dor grande tem que me despedir dele.
Era meu único amigo.
Embora, como irmãos, tivéssemos nossas diferenças, eu era muito respeitado na rua que morava, quem era doido de soltar uma gracinha comigo?
Meu irmão descia a porrada.
E quando digo porrada, poderia ser uma pedrada, um pedaço da orelha arrancada.
Não me colocavam nem apelido.
Se quisesse me vingar de alguém, era só chegar chorando pro meu irmão e dizer que o menino me deu língua.
Se qualquer outra pessoa de qualquer tamanho idade, perturbasse, mesmo sendo maior que ele, as cadeiras da escola voavam.
Acho que ele nutria um sentimento:
Só quem podia bater em mim era ele é mais ninguém!
E foi dele que escutei algumas coisas duras que mudaram minha vida.
Prometi que nunca aconteceria comigo.
Certa vez, ele me disse que tinha fé em Deus que me veria na Rua das Guias (famosa rua de prostituição em Recife), pedindo esmola e que nunca seria ninguém porque era um doente.
Talvez, minha mãe tenha mudado com ele depois que eu nasci.
A verdade é que minha mãe sempre disse que ele não era filho de meu pai, e que foi dado à ela, aos oito dias de nascido.
Escriba,
Chega por hoje.
Meu punho cansou de escrever tanto.
Agora, vou viajar para Buenos Aires, com uma morena linda... Pode ser loira também.
Posso terminar meus pensamentos?
Obrigado.
Voltando... Eu me vejo num restaurante em Buenos Aires, acompanhado com uma mulher linda, com um garçom pedindo licença e servindo duas taças de vinhos.
ML
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro