ACORDANDO...
Acordei tentando ver alguma coisa, mas não consigo ver é nada.
Sinto o lugar úmido.
Frio.
Estou de roupa...
Não sei qual roupa estou usando.
Percorro minhas mãos pelo meu corpo e estou com uma calça que acredito ser jeans, e uma camisa com colarinho e botões. Não estou calçado.
Passo minhas mãos repetidas vezes na frente dos meus olhos e vejo, ou acho que vi, vestígios delas.
E uma pergunta surge:
"Como vim parar aqui?"
"O que fiz para acordar aqui?"
ou
"Quem me trouxe?"
São muitas perguntas que não tenho as respostas. Pelo menos não no momento.
Tento me levantar... O corpo dói. Sinto dores fortíssimas na cabeça. Estou Tonto. Coloco minhas costas na parede e ao toca-la sinto que é muito lisa.
Não sei de que é feita. Rapidamente me abaixo e toco no chão... É igualmente liso.
"preciso ter mais cuidado ao me levantar"
Aguardo um pouco porque a tontura ainda não me deixou e os pontos para apoio são lisos.
Levanto com cuidado.
Vou andando com cuidado.
Tento não pensar nas perguntas que me afligem... Pelo menos ainda não. Primeiro procuro analisar, ou tentar ter uma noção do ambiente.
Vou com muito cuidado... Estou descalço e qualquer coisa pode ferir ou me cortar.
Tenho cuidado também para não bater minha cabeça, pois, não sei qual é altura ou até mesmo, qual é a minha altura.
Estico os braços com cuidado, e não toco em nada, mas, pode ser que haja um declive no teto ou uma baixa na parede.
Então sinto meu suor descer pelas costas e percebo que não tenho como contar ou mensurar o tamanho do local, porque nunca vou saber se cheguei no lugar que sair.
Uma onda de desespero me inunda!
GRITO!
O som sai forte e termina em 2 segundos.
Fico mais aliviado porque o som não se propaga.
Caio de joelhos, choro e vou fazendo novamente as perguntas que não queria.
"porque eu?"
"Porque estou aqui?"
"Aonde estava antes de vir para cá?"
"Como vim parar aqui?"
Continuo sem respostas!
Não me lembro de nada!
Tem alguém me esperando?
Tenho filhos?
Qual a minha idade?
MEU DEUS!
As aflições rapidamente me consomem.
Choro por algum tempo... As lágrimas e o muco nasal tornam-se uma só mistura. Limpo, ou eu acho que limpei meu rosto, mas um momento!
"Como sou?"
"O que fazia?"
"Qual era o meu trabalho ou profissão?"
Procuro inutilmente não me desesperar. Sou um tolo!Caio no chão aos prantos.
Não sei quanto tempo fiquei no chão... Acordo com uma batida em algum lugar.
Parece uma tranca se abrindo ao longe. Uma porta? Fico imóvel. Apenas escuto o som que julgo serem de risadas.
Estou atento, tentando entender o que está ocorrendo.
Passos, tranca, ranhura, tranca de novo e novos passos.
Silêncio.
Não escuto mais as vozes ou outros sons. Silêncio é a melhor coisa a fazer. A expectativa vai dando lugar ao sono... O cansaço do nada vai chegando.
Não sinto fome... O sono vai aumentando, e não vou mais escutando lamentos ou qualquer outro som.
Apago!
Acordo saltando para trás e bato com a cabeça no que julgo ser uma parede. Uma portinha é aberta e com a entrada da luz, parece que tem um sol no local.
Minha vista dói. Uma dor aguda e cortante! Meus olhos enchem d'água. Não tem como ficar sem chorar... A dor é muita.
Demoro a acostumar com escuridão... Tenho medo de sair do local que estou, porque não sei o que entrou.
Porém o olfato me diz que é um cheiro bastante peculiar: comida! Escuto minha barriga falando comigo pela primeira vez.
Com muito cuidado vou engatinhando.
O cheiro vai ficando mais forte e minha saliva vai aumentando na boca. Engulo, sem brincadeira, o equivalente a um copo com saliva.
Minha mão direita bate levemente num recipiente, pego com as duas mãos o recipiente oval e sinto cheiro:
"CANJA!"
Imediatamente sorvo todo líquido. Limpo minha boca com a mão e quando vou me afastando toco em outra coisa.
Meu coração acelera e o corpo gela... Não sei o que é. Espero uma mordida ou um ataque e nada acontece.
Estou imóvel.
Sinto as axilas molharem meu corpo.
"Pulo?"
"Fico parado?"
"Caiu em cima matando?"
Prefiro continuar parado.
Começo analisando a situação, tentando me convencer que sou um expert em sobrevivência, haja vista, se fosse algum animal já teria atacado.
Conjecturo.
Talvez esteja com medo também... Aguardando apenas meu movimento para contra-atacar.
Com bastante cuidado e bem devagar toco no perigo.
Algo corre para longe do meu dedo mindinho fugindo... Vou analisando e me pego acariciando um...
Caderno?
Abraço o caderno como se fosse uma boia, uma corda ou um salva-vidas... A caneta cai no meu colo, descendo até meu pé esquerdo.
Mas escrever no escuro? E o que escrever? O fato de colocar minhas lembranças no papel, pode trazer minhas memórias.
Recordo que nunca gostei de falar sobre minha vida... Acreditava que me deixaria fraco e a mercê das pessoas, então vendia uma imagem que não era minha. Gostava de escutar e aconselhar as pessoas.
Paro...
Meu coração acelera.
Estou feliz porque estou começando a me lembrar de como eu sou ou era... Ainda não sei se essas lembranças são minhas, mas estou feliz porque pela primeira vez desde que acordei, vou começando a me lembrar de alguma coisa.
A cabeça esteja latejando, parece que tem um gongo dentro dela.
Agora, se vou começar um diário, como marcar o tempo?
ISSO!
Vou marcar pela minúscula porta da comida... Vamos ver quantas vezes abre-se.
É inútil ficar esperando, haja demora. Nada acontece. Os olhos começam a pesar. A dor de cabeça está passando.
Acordo com a luminosidade invadido o local, levo rapidamente as mãos no rosto. como se pudesse evitar a luz passar.
Pobre Ilusão.
Sinto o cheiro novamente e avanço rapidamente para saciar minha fome. Para minha surpresa bato em algo esguio e redondo que ao cair acendendo uma fraca luz.
Não sei como se chama. Não lembro! Mas nunca imaginaria que ficaria feliz em ver minhas mãos e o que eu estou vestindo. Mesmo que seja uma calça de brim branca com uma bata social azul, tipo "Hospital", de colarinhos também brancos.
Passo a mão no rosto sinto a barba.
Lágrimas caem pelo meu rosto.
Choro muito pensando novamente que pode ter alguém me esperando lá fora. E se tenho alguém porque nunca me procurou? Ou será que me procurou e não me achou?
O choro trava minha voz.
Sinto a garganta ardendo.
Meu tórax se contrai e meu coração pulsa numa velocidade desesperadora. Não sei o que fazer. Sinto-me um inútil, preso a grilhões que não entendo.
Durmo com a cabeça virada para o teto... Tenho agora a noção do local que eu estou:
É um cubo?
Literalmente estou dentro de um cubo.
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