A PROMESSA!
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Cavalcanti entra no carro e já vai escutando tudo que Tadeu diz da empresa. Observa-o com o indicador direito coçando o queixo. Suspira.
— O senhor quer que pare? — Pergunta Tadeu.
— Não por favor... Continue... — Responde Cavalcanti mostrando uma leve insatisfação.
Parece não demorar muito o trajeto, talvez, por que estivesse escutando os relatórios. O portão abre, o segurança comprimenta-os e o carro segue para a vaga que está reservada à Presidencia.
Tadeu e Cavalcanti descem do carro. Tadeu com um terno preto impecável, blusa de linho branca e gravata vermelha. Cavalcanti com uma calça jeans, Lacoste, azul escura e uma Polo da mesma marca, verde claro e um sapato tênis sem cadaço.
Eles dão uma volta pela empresa, observa todo o processo, eles estão na Americolog, maior empresa de Logistica do Nordeste.
Eles voltam, sobem uma escada com aço escovado. Cavalcanti olha a construção e os detalhes do prédio.
Não reconhece nada! Era realmente megalomaniaco. Sorri dele mesmo.
"Sou Louco!"
Chegando no primeiro piso. Há uma sala imensa com varios escritórios. Um Callcenter. Uma loucura organizada. Ele continua subindo até o quarto andar, onde estão as duas salas de reuniões.
A primeira sala, a dos sócios, é toda em madeira de massaranduba, e a segunda, menor, porém não menos bonita, em aço escovado.
Cavalcanti e Tadeu entram na segunda sala exatamente as 11 horas. Já estão os Gerentes de Marketing, logística e Vendas.
Todos olham para Cavalvanti como um defunto ressuscitado. Ele, se dirige para sentar na ponta da mesa, ainda meio que se apoiando na bengala, puxa a cadeira e senta-se.
Tadeu senta ao lado dele, porem mais afastado.
— Bom dia a todos — Começa Cavalcanti, quebrando o gelo. — A reunião de hoje, como todos sabem, é para marcar minha volta às empresas. E desejaria saber como andamos nesses meses com minha ausencia.
— Bom dia Cavalcanti — Respondem todos, quase no mesmo momento.
A reunião se estende por várias horas. Precisamente quatro horas. Depois todos os diretores saem com metas e de cabeca baixa.
As pessoas do andar não ouviram gritos nem urros ou qualquer outro barulho, mas o que se escutou é que se a empresa não reagisse, iriam todos trabalhar na concorrencia.
Cavalcanti vai descendo as escadas e sendo cumprimentado pelos funcionários e ele respondia de volta.
Passou por Antônia, uma jovem senhora que é dos Serviços Gerais e perguntou:
— Como está seu esposo? A família?
Antônia pára. Fica sem jeito. Fazia meses que havia pedido ao Capital Humano uma ajuda para comprar medicações e apoio psiquiatrico e a resposta que recebera da presidencia é que a empresa não era subsidiária do Governo Federal.
— Ele morreu.
— Meus sentimentos. Há quanto tempo?
— Três meses Dr. Cavalcanti.
— Como aconteceu?
Antônia começa a chorar e olha para o chão, pede desculpas e sai sentido oposto.
— Tadeu o que podemos fazer por ela?
— Agora, sinceramente não sei.
— Mas, preciso de uma solução para ela. Essa situação não vai sair da minha cabeça.
Cavalcanti chega em casa. Sobe a escada, liga a tv e escuta a Globo News dando detalhes sobre mais um atentado, agora na Alemanha, dezenas de mortes. Ele se senta na ponta da cama e começa a se despir. Margarida entra no quarto.
— Boa tarde garanhão!
Ele sorrir com o canto da boca e abaixa a cabeça
—O que está incomodando você?
— Está tão na cara assim?
— Seus olhos estão sendo sua janela!
— Tem uma funcionária chamada Antônia que pediu ajuda para um tratamento do marido, e ele morreu. Poderíamos ter ajudado, feito alguma coisa, temos tanto dinheiro para investir em melhorias, mas, fui horrível. Não liberei a ajuda.
— Calma meu amor! — Margarida o abraça e Cavalcanti a envolve pela cintura.
— Tenho uma ideia, o que você acha de jantarmos fora hoje? Somente nos dois? Num restaurante mesmo. Pegamos nosso avião e vamos para Santiago do Chile, jantamos no seu predileto o Peumayen Ancetral Food e voltamos.
— Meu amor, vamos ficar por aqui mesmo, que tal o Restaurante Leite?—Sugere Margarida.
O casal chega por volta das 21 horas no Restaurante Leite. Deixa o carro que é levado pelo manobrista. A porta abre elegantemente por uma jovem morena de nome "Liz".
— Tenho uma reserva no nome de Américo Cavalcanti. Dois lugares.
— Sr. Cavalcanti, por favor, por aqui.
O casal está numa noite maravilhosa. Bem juntinhos. Tomando vinho e rindo.
— Sei que já perguntei isso, mas, como estou?
— Ainda acho que estou num sonho.-Responde Margarida — Parece que tudo que não vivemos, estamos fazendo agora, até a forma de amar é diferente, com mais energia e intensidade. Espero que nunca acabe e se tiver uma data de validade,que possamos aproveitar o máximo.
— Profundo e lindo meu amor. — Fala Cavalcanti — Mas ainda bem que não me lembro desse período ou de como eu era. Sei que é estranho, mas é como se sempre que escuto falarem de mim, é de uma outra pessoa.
Silêncio entre goles de vinho.
— Como fui parar na UTI?
— O médico pediu para deixar você se lembrar.
— Mas, e, senão lembrar?
Margarida toma outro gole.
— Por favor meu amor. — Suplica Cavalcanti.
— Foi um acidente de carro.
Cavalcanti, para de beber, e olha para Margarida.
— Preciso te contar uma coisa, haja vista, estamos tendo essa conversa.
Cavalcanti serve mais vinho à Margarida.
— Eu também tenho algo para perguntar. — Fala Cavalcanti.
— Pergunte então. — Margarida se ajeita na cadeira.
— Eu não acho que eu seja eu. Não sei se estou sendo claro?
— Está sim.
— Eu, lembro, de um passado que não aparece nas fotos. Lembro de pessoas que não fazem parte do meu dia a dia. Não recordo das história que vocês contam! Lembro das histórias de Marcos. Eu tenho os código, as leis, gravados na minha mente.
— Mas isso não quer dizer nada, até por que, tenhamos advogados, você é que fazia as defesas. Eles apenas seguiam sua orientação.
— Como foi o acidente?
— Nós brigamos feio. Cheguei na sua empresa de transportes, e fui direto à sua sala. Quando abrir, você estava com sua amante.
Cavalcanti para de beber.
— No inicio você não me viu, mas quando percebeu que estava ali, teve o descaramento de me chamar para se juntar a vocês dois. A primeira coisa que encontrei joguei e pegou em você.
— E o que foi que fiz?
— Levantou parecendo que estava com o diabo no corpo, correu atras de mim, levou de volta para sua sala, tirou seu cinturão e bateu em mim. Conto isso com medo, mas, espero de coração que você não mude e meu inferno volte.
— E depois?
— Disse que te mataria! Jurei para mim mesma, de todo coração, que iria te destruir, porém, pensei em voz alta. Levei outra surra. Consegui levantar e corri em direção ao estacionamento, peguei um dos carros e sair a toda velocidade.
— Logicamente fui atras.
— Sim! Mas, você colidiu com outro carro. Achei você no mato, jogado pela colisão, passou pelo para-brisa. Ainda tentei ajudar o outro motorista, mas, estava com o corpo muito queimado e não sobreviveu.
— Qual era o nome do motorista?
— Não sei.
— Meu amor, quantas coisas horríveis fiz a você e a outros. Como você pode ainda me perdoar?
— Não sei. O pior que ainda sinto culpa pelo teu acidente. — Fala Margarida.
Cavalcanti pede outro vinho.
— Você não existe. Eu te amo.
Margarida derruba a taça sobre a mesa com a declaração de amor.
— Vamos mudar de assunto. Basta de Cavalcanti hoje. — Bebe uma taça com água.
— Você falou como se estivéssemos falando de uma terceira pessoa. — Margarida fala sorrindo.
— Eu espero que aquele homem que fui, nunca mais volte.
O garçom serve vinho aos dois.
Eles ficam namorando e conversando na mesa.
— Boa noite! — Chega uma mulher morena clara. Cabelo curto. Rosto serio e com olhos sem expressão.
— Boa noite! — Responde os dois quase simultâneos.
— Espero que esteja gostando do jantar.
— Sim! — Responde Cavalcanti — Estamos gostando muito!
Margarida segura na mão direita de Cavalcanti, que está sobre sua perna, e aperta uma vez. Como um sinal. Ele percebe, que o aperto sinaliza "cuidado."
— Em que posso ajuda-la?
— É bom ver que não morreu, que está vivo, só assim posso olhar na sua cara, quando você for declarado culpado pela morte do meu marido.
— Senhora... — Cavalcanti se levanta e acha a aparência da mulher, em pé ao seu lado, familiar. — Desculpas, mas, não sei do que estamos falando. Nos conhecemos?
— Você, estava alcoolizado, quando colidiu no carro do meu marido o matando.
Cavalcanti sente o estomago embrulhar.
— O que você quer? Foi um acidente!— Fala Margarida, segurando com mais força a mão do esposo.
— Sim! Foi mesmo, onde somente meu marido morreu. Mas, não vou mais atrapalhar seu jantar. Quero apenas que olhe para meu rosto e saiba que vou te perseguir até no inferno. Você vai pagar!
Cavalcanti não diz nada, apenas continua olhando para o rosto da mulher.
— Não sei o que dizer.
— Espere para contar no tribunal! Vou está lá para você me dizer! Passe bem.
A mulher dar as costas e se retira, sai do restaurante acompanhada por um homem. Cavalcanti olha para Margarida e depois percebe, que por mais, que a mulher tenha sido discreta, as pessoas nas outras mesas, estão olhando para eles. Eles pagam a conta e vão embora.
Já em casa, no quarto, Cavalcanti esta olhando para o teto.
— Ainda pensando naquela mulher? Assim fico com ciúmes!
— Eu matei o marido dela! — Cavalcanti bebe o comprimido dado por Margarida e devolve o copo, que ela coloca sobre o criado mudo.
Depois, Margarida puxa Cavalcanti para o colo dela e não diz nada. Não sabe o que dizer.
— Ela perdeu o marido por minha culpa. Porra. Que horrível! E o pior é que... parece que a conheço... Eu era amigo deles?
— Não meu amor. Nunca o vimos. Você passou por muita coisa enquanto estava em coma. Você aprendeu, mudou, naquele Calabouço que foram os seis meses. Sim, ela perdeu o marido, é verdade, mas todos perdemos naquele dia. Uns mais outro menos. Mas todos nós deixamos um morto ali.
Cavalcanti se vira, ainda com sua cabeça no colo de Margarida, cruza os braços, olha através da janela e pega no sono.
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