Capítulo 5 - Amiga
Moreira entendeu. Não eram necessárias as palavras. O Mestre o convidou para continuar o passeio pela linha temporal. A próxima parada foi em uma casa vizinha àquela onde viveu sua infância. A jovem garota que nela residia, Nathália, brincava e ria com uma criança de seis anos. O Samuel. Alegre, rodopiando e rolando pela grama, correndo de Nathália. Moreira, recuperado da cena anterior, abriu um sorriso com seus dentes amarelados do cigarro.
— Lembra dela, não é mesmo, Moreira?
— Claro! Foram com ela os melhores momentos da minha infância! Eu a adorava! Ela me chamava quase todos os dias depois da aula. A gente pulava corda, brincava de casinha, de navio-pirata... ela era muito criativa, ótima em criar brincadeiras... eu achava ela tão grande... percebo agora o quanto era jovem!
— Lembra somente das brincadeiras, Moreira? Quem era essa pessoa que brincava com você com tanta alegria?
— Hum... depois de um tempo, ela sumiu... eu não lembro, acho que ela se mudou. Eu ainda era criança...
— Sim, Moreira... ela se mudou. Ela morava com os pais nessa casa, certo?
— Sim. Eu lembro disso.
— Ela tinha uma amiga muito especial. Será que você lembra dela?
— É... sim, tinha uma outra menina que também brincava comigo, elas estavam sempre juntas. Mas eu não lembro tão bem dela. Elas pareciam muito amigas...
— Elas eram muito amigas, Moreira. Elas eram mais que amigas. Mas o pai de sua amiga Nathalia não aprovava aquele tipo de relacionamento. Ela acabou sendo expulsa de casa. Por isso ela nunca se despediu de você. Como eram suas noites após a partida dela, Moreira? Será que você lembra?
— Agora eu lembro... eu chorava na minha cama à noite... pedia pra Deus trazê-la de volta... foi muito doloroso... então... ela foi expulsa da própria casa?
— Moreira, ela mereceu a expulsão? Você sabe o que ela fez?
— Ela era lésbica? É difícil acreditar nisso... ela era tão feliz, tão... tão boa comigo!
— Ela te fazia muito bem, Moreira. Ela fazia o bem. Uma pessoa boa. Muito amável. Você sabe disso, não é? E então? Ela mereceu?
— Não! Isso jamais poderia ter acontecido! Só porque...
— Percebe, Moreira?
— Agora... mas... não é possível, ela era uma exceção... gays são promíscuos, o pai dela tinha razão!
— Por que o pai dela tinha razão, Moreira? O que ela fez de errado? Amar? Amar é errado? Ela te amou, Moreira. Ela amou aquela garota, também. De formas diferentes, apenas isso. Você realmente acha que o pai dela fez a coisa certa? Tem ideia, Moreira, do que aconteceu depois disso? Sabe o que ocorreu na vida dela?
— Não... eu nunca mais soube dela.
— Nem a família dela, Moreira. Ela saiu de casa, e o pai nunca mais a viu. A mãe chorou anos e anos, até morrer. A família acabou. E poderia ter sido diferente. Mas a atitude do pai foi a de tirá-la de casa e esquecer que um dia teve uma filha.
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