A ambulância abre passagem na avenida movimentada naquela tarde quente e seca. Passando voraz entre os carros atônitos ("onde foi o acidente?"), com um motorista de olhar vidrado, concentrado como se pilotasse um monoposto, ela estaciona bruscamente à frente de um velho sobrado de cor amarelo-descascada, com janelas de madeira de duas folhas. À frente da porta do sobrado, um senhor avermelhado e quase careca grita roucamente para os enfermeiros:

— Subam, subam, ele está lá em cima!

No andar superior, ao lado de uma mesa de madeira escura e rabiscada de caneta e lápis em vários pontos, jazia estatelado o Moreira, funcionário do escritório de contabilidade havia mais de dez anos. Os dois enfermeiros agiram rapidamente, colocando-o na maca e o levando a uma ambulância cercada de transeuntes sedentos por sangue. O apressado motorista sai cantando pneus rumo ao hospital mais próximo.