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Stal Gorid

 Stal Gorid se esforçava para manter sua atenção somente em Mayla e no sofrimento dela, mas, a medida que o tempo passava, isso estava ficando muito difícil para ela. Deitada ao seu lado no leito, no lugar onde há pouco esteve Asan, a menina não parava de tremer, enquanto o mundo todo parecia convulsionar no mesmo ritmo do corpinho da pequena Mayla.

Na verdade, para Stal era como se o mundo estremecesse como se estivesse à beira do colapso. E com tantas explosões sendo ouvidas a todo momento, o medo de que algo de ruim acontecesse a seu amado aumentava.

Os olhos de Mayla, esbugalhados, já não tinham lágrimas para derramar, mas sua vozinha entrecortada sussurrava:

‒ Stal, eu quero minha mãe! Por favor, Stal... ‒ Ela suplicava sondando o coração da mulher com olhar aflito.

‒ Tenha só um pouquinho de paciência, querida! ‒ Pediu a mulher mais de um vez, sempre como o mesmo argumento. ‒ Vamos aguardar Asan voltar, aí estará tudo bem para eu levá-la até sua mãe. Está bem?

‒ Não, Stal. Eu quero ver minha mãe agora. Eu não quero que ela morra como meu pai, Stal. Por favor... ‒ argumentou Mayla.

E Stal pensou e pensou e pensou...

‒ Muito bem! Aguarde um instante que eu vou dar uma espiada em como as coisas estão lá fora. Fique aqui até eu voltar.

A mulher então saltou da cama e foi até a janela do casebre onde morava. Dali não era possível ver a praça central de Tarus. Como dissera à menina, sua intenção era apenas a de verificar se as coisas estavam tranquilas nos entornos. Se estivessem, ela pretendia percorrer os becos em direção à casa do conselheiro Davos, que ficava nas imediações da praça central.

Não que ela achasse seguro fazer isso, mas a compaixão com a dor de Mayla que perdera o pai e agora necessitava do afeto da mãe, misturada a sua ansiedade em saber que Asan estava enfrentando soldados imperiais naquele momento, não permitia que ela avaliasse de forma lúcida o risco que corria ao sair de casa nessa empreitada.

Voltando para o quarto, vestiu um manto sobre seu vestido azul-celeste e, a seguir, colocou um gibão de couro na menina, como se essas peças de roupa pudessem protegê-las de quaisquer ameaças que houvesse no lado de fora.

Então saíram do casebre, encolhendo-se toda vez que aquelas estranhas explosões aconteciam. Elas correram tão rápido quanto puderam até a entrada da viela no outro lado da rua e se embrenharam através dele pela rede de becos que cortava o casario de Tarus.

E à medida que avançavam, as pernas de Stal começaram a vacilar. Foi quando percebeu que não comera nada desde a hora que acordara e pela posição do sol, concluiu que já estivesse perto do meio-dia.

No entanto, não podia parar para comer alguma coisa, pelo medo de serem surpreendidas pelos imperiais, mas também não podia deixar que Mayla percebesse sua fraqueza.

Quanto à garota, naquele momento, parecia já estar mais consolada em relação ao assassinato brutal de seu pai, do qual lastimavelmente fora testemunha. E reparando na forma como ela estava determinada a encontrar a mãe, Stal ficou muito surpresa em relação à capacidade de recuperação que aquela criança demonstrava em maio a uma crise sem precedentes em sua vida.

De fato, a menina se provava mais forte do que aparentava, enquanto a própria Stal se sentia fraca e covarde perante ela. Se não fosse por Mayla, ela mesma estaria em prantos como uma garotinha.

No entanto, a execução de um pai diante dos olhos de um filho seria um fato desolador para qualquer um. Por isso, Stal tentava concentrar seus pensamentos em encontrar a mãe da menina e se certificar de que estava viva.

E apesar disso, mesmo com sua tola insegurança, era possível dizer que lhe servia de consolo a certeza de que seu amado estava vivo. As malditas explosões, como se fossem uma sinfonia de trovões numa tempestade, e que não cessava em nenhum momento desde Asan se encaminhara para praça de Tarus, eram a prova de que ele estava vivo e lutando...

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