Ludgard Sharz
Foi nestes dias que Seon viveu sua verdadeira ruína, indo ao encontro do que lhe fora negado por toda sua existência, indo ao encontro das paixões que obscurecem a razão dos mortais...
Dizem assim que Varko, Aquele-Que-Renasceu, nestes dias se movia com habilidade pelos campos de batalha. E que ele possuía então uma aura de nobreza que em sua vida precedente jamais havia sido notada.
Louvores eram ouvidos por todos os lados em honra ao poder do Imperador, aquele roubava os homens da morte e os fazia melhores do que eram antes. Quão esperançoso se tornou o mundo! E quantos homens não nutriram em seu coração o desejo de voltarem ao mundo pelo poder do Imperador, voltarem já não como os seres falhos que eram, mas fortes e valorosos como era o Grão-leitor Varko.
Diziam que sua espada agora golpeava os oponentes com cortes consciente e precisos, que na maioria das vezes os deixava incapazes de continuar lutando, mas que depois de alguns dias a maioria era capaz de voltar as suas vidas normais.
No passado, entretanto, Varko havia sido o mais sanguinário dos homens. Aquela mesma espada longa e pesada que ele trazia consigo havia esmagado crânios e moído ossos com a ferocidade de uma besta.
O novo Varko raramente matava seus inimigos e se eventualmente não houvesse alternativa, por suas mãos a morte sobrevinha aos adversários como um ato de benevolência, sem dor, sem agonia, sem humilhação...
Havia guerreiros que aceitavam sua benevolência, morrendo de forma gentil, mas para aqueles que não viam sentido na morte havia a possibilidade do perdão, sendo abraçados por uma nova vida sob a égide de Kolen Varko. Essa foi a lenda que se espalhou pelos povos de Aldoren e nestes dias houve no horizonte um sol refulgente para os homens de todas as raças, inclusive para aqueles que eram oprimidos pelo poder de Ludgard e Rilfren.
Desta maneira, em meio aquela grande convulsão do mundo antigo, Seon, aquele que assumira o nome de Kolen Varko por determinação do Imperador, encontrou-se um dia com o poder ameaçador de Ludgard e quando isso aconteceu não fazia para ele qualquer sentido continuar se contendo, nem muito menos demonstrar benevolência...
Nesse sentido, a vontade de Seon e do Imperador estavam alinhadas.
De fato, Ludgard não era um guerreiro, nem sequer um soldado, mas um mago e como tal se escondia atrás de seus encantamentos. Os golpes de espada desferidos por Seon não o alcançavam, nada parecia atingi-lo. Essa era a feição que o poder de Ethron ganhara sob o domínio de Ludgard o Mago, chamado o Quinto Etéreo.
Kolen Varko talvez fosse mais forte do que Seon, embora não passasse de uma máquina de guerra, por isso mesmo Ludgard era um adversário perigoso.
A batalha entre eles se revelara um jogo de xadrez, pois ainda que o mago soubesse se defender muito bem dos ataques de Seon, não possuía força de combate suficiente para derrotar seu inimigo renascido. E embora Seon fosse certamente capaz de derrotá-lo num combate direto, a magia do inimigo era altamente eficiente para protegê-lo, inclusive diziam que fora deste modo que ganhara tempo na primeira vez que enfrentara Varko...
‒ Que tolice! Eu o derrotei uma vez, não foi? ‒ O próprio Ludgard quebrou o silêncio do campo de batalha, após os primeiros lances do duelo às portas de Glóris.
E Seon, como era de seu feitio, não se dignou a respondê-lo...
‒ Eu só não entendo a razão dessa farsa, garoto... Por acaso você acha que pode me vencer com o manto da derrota sobre seu corpo? Tenho certeza que você não é páreo para mim, assim como aquele tolo que destruí uma vez
‒ Não vim até aqui para dialogar com meus inimigos, nem muito menos para justificar o que faço ou deixo de fazer...
‒ Nem eu imaginei que faria isso, mas minha curiosidade não é sem razão, misterioso portador do poder de Ethron... Eu não o conheço, mas não sou ingênuo ao ponto de acreditar que você seja o estúpido do Varko renascido de algum modo. Se uma coisa é certa neste mundo é que a morte não pode ser enganada. E digo ainda que, embora não me pareça que você seja mais forte do que Varko, confesso que o julgo bem mais perigoso, tanto porque não o conheço, como também porque, pelo pouco que vi, o achei bastante sagaz. E assusta-me o fato de que eu desconheça o quão grande é essa sua sagacidade...
‒ Eu sou um guerreiro e não um mago, essa conversa toda me cansa. Se quer saber a extensão de minhas habilidades, então o demonstrarei lutando.
Os golpes de Seon, no entanto, pareciam inúteis diante da magia de Ludgard e ele percebeu que não convinha continuar desperdiçando sua energia e se cansando inutilmente. Era preciso aniquilá-lo o quanto antes ou teria que recuar e retomar a luta em algum outro momento. Se isso acontecesse seria desastroso, os custos de uma nova empreitada como aquela seriam incontáveis, tanto do ponto de vista militar quanto do ponto de vista humano, além disso, poderia muito bem uma segunda oportunidade.
Além disso não era prudente pensar que Ludgard era incapaz de fazer uma leitura da situação, como ele mesmo fazia. Afinal possuía o poder de Ethron muito antes do próprio Seon e numa batalha como aquela experiência contava tanto quanto poder. Se levasse em consideração o fato de que Ludgard havia derrotado o verdadeiro Varko, ficava evidente que o mago tinha total capacidade de vencê-lo.
No entanto, algo parecia não se encaixar nesta estória. Se por um lado sua capacidade como guerreiro permitia que não dependesse tanto do poder de Ethron para o combate em si, o que o permita adotar uma estratégia que se concentrava em ataques com técnicas básicas, utilizando o poder misterioso que possuía apenas para manter seu corpo "descansado", de modo que poderia estender bastante o tempo de luta. Por outro, no caso de seu adversário, isso não parecia fazer sentido.
Pelo que Seon pode observar, Ludgard usava magia para criar defesa, o que permitia refletir seus golpes até certo ponto, mas não permitia que ele reproduzisse ataques mais poderosos do que o de um espadachim experiente com Seon. Além do quê, esse esforço certamente consumia quantidades absurdas de poder. E o poder de Ethron, por mais que fosse descomunal, ainda assim não era infinito.
‒ Já sei como vencê-lo... ‒ Anunciou Seon, baixando sua espada, para espanto de Ludgard que não conseguia atinar qual estratégia seu adversário pensava em usar contra ele.
‒ Deixe de lado as bravatas, garoto! ‒ neste momento, o mago gargalhou supondo que seu adversário estava apenas blefando. Para ele, a história estava se repetindo e, como todo guerreiro, aquele rapaz, autointitulado Kolen Varko, seria derrotado pela própria arrogância.
"É agora que eu o derrotarei, garoto! Nem sequer será necessário que eu use a carta que tenho guardada na manga!" Pensava o velho mago.
Seon, no entanto, não perdeu o foco, após fincar sua espada no solo, como se se tratasse do mastro de uma bandeira, com o punho em garra desferiu um golpe contra o chão.
Ludgard sorriu, crendo que o rapaz apenas estivesse exausto e que tentava ganhar tempo com aquele gesto inútil. Contudo, mal havia formulado esse pensamento, rochas gigantescas e pontudas saíram do chão ao seu redor, cercando-o por todos os lados e, quando quis escapar voando pela parte de cima da jaula improvisada, Seon o surpreendeu quando saltou para a abertura, fechando a única rota de fuga do mago.
E assim, acuado pelo ataque inusitado, o quinto etéreo desferiu um raio de energia desproporcionalmente poderoso, ainda que sem a devida precisão.
Caso Seon tivesse sido atingido por aquela rajada, o dano poderia ter sido irreparável, mas a circunstância o favorecia mais do que ao adversário, pois este não passara deu um ataque improvisado.
O sétimo etéreo o conteve em grande parte com a espada, mas conhecedor que era das artes do combate, não se limitou a simplesmente descartar aquela imensa quantidade de energia, mas a refletiu contra seu adversário acrescentando uma boa quantidade de seu próprio poder.
De fato, Ludgard era exímio na defesa, mas, ao ter que se concentrar no ataque, sua defesa se enfraquecera temporariamente e Seon venho a seguir como uma ave de rapina saltando sobre a presa.
O corpo do mago se chocou violentamente contra o chão. Com braços e pernas abertos, parecendo mais um inseto que havia sido esmagado por uma pisada, seu sangue que formou um tapete grotesco no entorno de onde seu corpo jazia.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro