16 | o início do fim
HÁ CERTOS MOMENTOS na vida que você não sabe como se sentir. Na maioria das vezes um buraco se abre sobre seus pés e você é sugado para dentro do poço, caindo entre suas próprias emoções e acabando sem saída.
Havia algum tempo desde que Zoro estava naquela vida de caçador de recompensa, um tempo muito bom para se colocar no papel. Tempo esse tão longo que já tinha o feito passar por muitas coisas, era incontável o tanto de vezes que quase morrera ou os momentos em que ficou perdido.
Para Roronoa Zoro desafios não eram novidades e muito menos dificuldade. Ele sabia que era o melhor no que fazia (não melhor que Mihawk, mas isso fica para outro dia) —, Zoro sabia dos próprios limites e além disso, sabia os ultrapassar. Definitivamente era um bom caçador, não era atoa que havia pessoas que tremiam ao ouvir seu nome. Zoro era espetacular, por assim dizer.
Mas, então por que as palavras de Akira Donquixote o fizeram se sentir apenas uma criança buscando aprovação dos pais?
A forma comos os olhos dela se fixavam sobre os seus, o fez desmoronar. Não existia palavras no universo que fossem capazes de explicar o que o grande caçador de piratas estava sentindo naquele instante. Era uma emoção nova, daquelas que você percebe exatamente o instante em que ela se inicia, na maioria das vezes são emoções novas boas, mas aquela que Roronoa estava sentindo agora era tudo menos algo bom.
Alguma coisa dentro de si começou a doer. Seu estômago embrulhou, o ar a sua volta começou a ficar rarefeito e suas mãos começaram a suar. Zoro não sabia que seu coração podia bater tão rápido quanto estava batendo agora, mas ao sentir a forma como seu sangue se esquentava, apenas podia jurar que tudo aquilo era real.
Ela não disse mais nada. Apesar de manter os olhos sobre o espadachim, Akira parecia estar perdida em algum lugar da própria mente. Como se estivesse sem saída dentro de si mesma.
Com o rosto ainda erguido, ela desviou de Zoro e começou a andar para mais longe. Até teria conseguido escapar daquela situação, se o esverdeado não tivesse segurado em seu pulso em um reflexo.
— Ei, — sua voz saiu completamente audível — entendi errado. Kiki, você...
Akira suspirou, puxando o próprio braço mais uma vez.
— Você entendeu certo.
Os lábios do espadachim se abriram em um O, sendo derrubado pela avalanche de todas aquelas emoções novas. A Donquixote saiu totalmente do ambiente, o deixando para trás.
Se havia algo que Zoro jamais havia treinado, essa coisa era ter seu coração dilacerado.
{...}
Quando deixou o espadachim para trás, Akira finalmente parou de prender o ar. As lágrimas rolaram pelas suas bochechas, a fazendo sentir um aperto ridiculamente horrível dentro de si mesma.
Em toda sua vida nunca havia parado para pensar no fato de que vidas passadas realmente poderiam ser reais, não era alguma coisa que já havia passado pela sua cabeça antes nem nada do tipo. Então, o banque havia sido forte.
Akira se encontrava entre o limbo da realidade e do que já havia sido.
É claro que o Zoro que conhecia atualmente não tinha nenhuma culpa sobre o que seu antepassado tinha feito, mas então por quê ela não conseguia desvincular a imagem de ambos? Simplismente por quê eram a mesma pessoa.
Nem percebeu quando chegou a hora de irem até Arlong. As chamas do fogo faziam o clima ficar quente e sufocante, conforme atacavam a vila. Akira mal teve tempo de ajeitar as flechas em seu arco, ao se deparar com os capangas de Arlong.
— Homens, se preparem para repelir os ataques. — gritou um dos homens com cara de peixe.
Luffy era quem estava no meio do grupo e pela primeira vez Akira notou a presença de Nami, com certeza havia perdido alguma coisa meio a seus desvaneios de horas atrás. Eram Sanji, Luffy, Usopp, Nami, Akira e Zoro — contra todos os capangas de Arlong. Eles se prepararam da maneira que puderam.
— Cadê o Arlong? — perguntou Luffy em um tom de voz baixo, apenas para que seus companheiros o ouvissem.
— Deve estar na sala do mapa.
A ruiva foi quem respondeu, sem sequer desviar os olhos dos inimigos a frente.
— Então, eu tô indo lá. — afirmou o Capitão daquele bando, olhando brevemente para os olhos apreensivos de Akira antes de sair.
Nami o acompanhou, para mostrar certamente onde ficava o lugar. Então, Akira ficou para trás com os outros três homens, mas nem conseguia raciocinar direito o que estava acontecendo, apenas acertava qualquer pessoa com cara de peixe a sua frente. Sua mente estava a mil.
Então, a batalha final começou.
O bando de Arlong partiu para cima dos quatro, fazendo com que eles se dissipassem para os lados.
Sanji derrubava os brutamontes sem nenhum esforço abundante, os chutando no meio do peito e acertando suas caras, até os derrubar. Usopp usava o estilingue para acertar os capangas no rosto com uma de suas bocas invenções. Akira estava usando o arco e flecha com precisão, seus cabelos presos em um rabo de cavalo dançavam ao redor de seu rosto, seus dedos eram tão ágeis que nem prestando atenção, alguém conseguiria contar os segundos que ela estava levando para matá-los. E por fim, Zoro usava sua única espada sobrevivente para fazer a chacina que tanto estava aguardando.
Era como ser impulsionado por um tipo de ódio diferente, ele estava sedento por sangue.
Foi quando o espadachim pulou sobre uma das pedras centrais do laguinho que Akira colocou seus olhos sobre os dele pela primeira vez desde mais cedo, Zoro estava com os fios esverdeados tampados novamente pelo pano escuro, — ao pular sobre a pedra, se agachou com destreza, levando a mão esquerda até o meio de seu peito no automático.
Da posição em que estava, Akira sabia o que estava acontecendo. Ele tinha sido ferido brutalmente a menos de dois dias atrás e não podia fazer esforços daquela maneira, muito menos com tamanho ódio como se encontrava.
Por ter perdido alguns segundos focado na dor em seu peito, Zoro foi pego desprevenido por um dos homens de Arlong.
— Cê parece cansado. — balbuciou Sanji para o espadachim — Por quê não vai tirar um cochilo?
Da posição em que estava, terminando de acertar um dos homens com uma flecha no meio do peito, Akira viu Zoro conseguir se livrar do capanga, mas se apoiar novamente nos joelhos e levar mais uma vez a mão no meio do peito, como se arfasse por ar.
— Talvez eu devesse fazer um bolo!
O esverdeado rosnou, matando mais um dos inimigos.
— Para de graça, Zoro. — a voz de Akira o atordoou — Os pontos vão se arrebentar, se continuar assim.
Ela se aproximou de Sanji e do caçador de piratas, os fios de cabelo molhados de suor e a boca entre aberta em um O, a procura de ar.
Se estivesse em um momento melhor, ele teria apoiado as duas mãos na cintura e jogado sua pior frase para a mais nova, porém, Zoro não estava pensando direito e olhar para Akira o estava afetando mais ainda, seu peito ardia.
— E desde quando isso é da sua conta, Princesa?
Ele poderia ter pensado em algo melhor, mas foi o máximo que conseguiu naquele instante. Apenas a maneira como a expressão tomou conta do rosto da garota foi o suficiente para ele se sentir um pouco vitorioso.
— Você...
Porém, Akira não terminou a frase. Um dos caras de peixe pulou contra os dois, quase os derrubando na água. Ela se equilibrou com dificuldade, conseguindo puxar a alça do arco e flecha e acertar bem no meio de seu peito.
— Só porque está magoado não significa que tem que lutar até perder a consciência. — Akira cuspiu as palavras — Não sabe o quão complicado foi fazer esses curativos.
Mais um dos homens pulou perto deles, com destreza e apenas um movimento Zoro cortou o pescoço dele.
— É. Já que você estava tão presente assim, me diz então o quão complicado foi? — grunhiu de volta, sentindo a katana dançar entre seus dedos antes de acertar mais um dos capangas — Ah é, eu me esqueci, Donquixote. Você estava ocupada demais com seu adorável futuro marido.
Aquilo a acertou de uma maneira que nem conseguiu derrotar o último capanga de Arlong, quem o matou foi Sanji bem no instante em que ele avançou contra ela.
Akira abaixou o arco e flecha, as batidas do coração descompensadas. Os olhos frivolos e escuros de Zoro a olhando com desdém e raiva, de uma maneira que ela já deveria estar acostumada, porém, era diferente. Os flashs do passado vinham a tona como um estalar de dedos, o rosto dele próximo ao seu segurando a faca enfiada em sua barriga... A sentindo morrer em seus braços.
— Zoro...
A voz dela saiu embargada, pois a vontade de chorar a acarretou novamente... Não aguentava olhá-lo, ainda mais quando a olhava de volta com tanto desprezo... Igual ao passado.
— Eu, o quê? — Roronoa cuspiu as palavras, sem expressar feição nenhuma.
Então, antes que Akira tivesse a oportunidade de falar alguma coisa ou de tentar explicar que não saiu do lado dele ou que estava muito confusa naquele momento, confundindo a vida passada com a realidade —, Zoro caiu de uma vez na água, desacordado.
— Até que ele durou bastante com um machucado daqueles.
Comentou Sanji para Akira, enquanto ela olhava para o espadachim com os olhos arregalados.
Definitivamente, era o início do fim.
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