12 | o dia especial
QUANDO VOCÊ É criança ninguém chega em você, te senta embaixo de uma árvore e explica toda a trajetória que irá percorrer ao longo de sua vida. Isso vai de altos e baixos, até entre as piores coisas e tudo que vai conquistar conforme envelhece. Esse tipo de coisa não acontece, então a maioria dos adultos não estão preparados para quase nada do que vai lidar quando mais velhos.
Akira estava nessa lista. Ninguém a havia preparado para nada, muito menos para ver alguém que gostava morrer diante aos seus próprios olhos. Ela não estava pronta para isso.
O corte feito no meio do peito de Zoro sangrava incansavelmente, cada segundo que se prolongava era um segundo a mais de dor que ele poderia estar sentindo.
Não havia nenhum médico no Baratie, ninguém que poderia os ajudar. Então, o corpo desacordado de Zoro foi levado para o Going Merry e quem se propôs a ajudar foi o chefe do restaurante, Zeff.
Roronoa nunca estava tão pálido como agora, as cores em suas bochechas foram perdidas e seus lábios começavam a ficar esbranquiçados.
— Ele vai ficar bem?
A menina indagou, tentando controlar a vontade de chorar. Todos começaram a fazer um círculo ao redor do corpo de Zoro, enquanto Zeff começava o próprio processo.
— Ki, vai dar certo. O Zoro é o mais forte. — Luffy assegurou, convicto daquilo — Ele consegue.
Apesar da maneira que o Chapéu de Palha falou com tanta certeza, alguma pequena parte dentro de Akira ainda não conseguia acreditar naquilo fielmente.
— Zoro? Ei, tá me ouvindo? — Luffy o chamou, mas não recebeu nenhuma resposta.
Zeff costurou a ferida do caçador, colocando a pele de peixe acima do machucado após finalizar. Era um velho truque de pescador que tinha aprendido a muito tempo, a pele de peixe ajudava a fechar e curar as feridas mais rápido.
— Ele vai ficar bem?
Akira perguntou mais uma vez, o desespero ainda sufocava seu peito, mas pelo menos tinha começado a conseguir controlar as lágrimas.
— Não vou mentir para vocês. — Zeff olhou para a tripulação — Ele perdeu muito sangue, talvez seja tarde.
— Ou talvez não.
— Tem um pé em cada mundo agora, — prosseguiu o mais velho — preso entre a vida e a morte. Tem que encontrar uma maneira de mantê-lo preso ao nosso mundo. Falem com ele. Contém histórias, cantem canções do mar para ele. Ele não vai responder, mas vai saber que a tripulação está com ele.
Assim, eles fizeram. Toda a tripulação colocou Zoro de repouso no melhor quarto do Going Merry, na cama mais confortável que coincidentemente era a de Akira. As feridas estavam costuradas e a pele de peixe fazia efeito. Porém, o esverdeado ainda não tinha dado nenhum sinal de vida. Isso era o suficiente para deixar Akira balançada.
Enquanto Sanji tomou conta da cozinha do Going Merry, preparou uma boa refeição para todos aqueles que estavam cansados. Luffy começou a passar um pano brilhante nas katanas de Zoro, de uma maneira super obsessiva.
Nami foi a primeira a ficar no quarto com o caçador, lendo um de seus livros pessoais, dessa vez era o de Noland e suas aventuras. Assim como Akira, ela fez de tudo para ele não aceitar aquele duelo — sabia que o resultado seria daquela forma. O fracasso.
Ussop também estava na cozinha, rondando o fogão onde o cozinheiro estava. A única que não estava ali dentro era Akira, pois estava sentada no convés observando a maneira que as horas se passavam lentamente. Os olhos doíam de tanto que havia chorado, os lábios estavam machucados pela forma como tinha mordido em compensação ao seu nervosismo, o sangue de Zoro ainda estava impregnado em si mesma. Embaixo de suas unhas, na jaqueta que estava usando quando o abraçou e também havia respingos no seu próprio tênis. Ela simplesmente não teve forças o suficiente para se levantar e tomar um banho.
Por estar do outro lado, Akira tinha as costas coladas na parede abaixo da janela do quarto onde Zoro estava. Então, por isso conseguiu ouvir a discussão entre Nami e Luffy. Ela estava chateada por ele não ter impedido o duelo, completamente puta da vida. E pior do que toda essa situação, era que Akira compreendia perfeitamente os sentimentos da garota.
— Vai ficar aí sentada sozinha até quando?
Uma voz calma assustou a garota. Apesar dos olhos doerem como o inferno, Akira conseguiu ver com perfeição sobre quem se tratava. Ele apoiou um cigarro entre os lábios, acendendo com o próprio esqueiro.
— Oi Sanji. — forçou um sorriso, falhando miseravelmente.
— Aqui, senhorita. — esticou o objeto prateado em sua direção — É chá de camomila. Vai ajudar.
Não relutou em pegar o copo das mãos do cozinheiro, bebendo o líquido quente logo em seguida. Sanji se escorou ao seu lado, tragando o cigarro.
— Se você é a Akira Donquixote que tanto falam, então hoje é seu aniversário. Não?
Isso a pegou completamente desprevenida, Akira ergueu os olhos para Sanji —, encontrando a imensidão azulada em resposta. Ele estava sério, suas palavras eram calmas e de alguma forma aquilo a deixou um pouco menos pior.
— Eu nem me lembrava disso... — balbuciou, fechando os olhos por alguns segundos — Com tudo que aconteceu.
Sanji tragou o cigarro mais uma vez, apoiando-o entre seus dedos da mão direita, olhando novamente para a garota ao seu lado.
— Feliz aniversário, senhorita Akira. — a parabenizou — Gostaria que fosse em circunstâncias melhores.
Pela primeira vez desde que o dia amanheceu a garota conseguiu esbolçar um pequeno sorriso de verdade.
— Obrigada, Sanji.
Se levantou do chão, notando o quão realmente se encontrava imunda. Não havia nada pior do que lavar uma roupa com sangue seco, aquilo não sairia nem com reza braba.
{...}
Conforme o dia passava, todos passavam um pequeno tempo com Zoro. Mas, ainda assim, não tiveram nenhuma ação em resposta. Todos foram, menos Akira. Ela não conseguia encarar o corpo machucado do homem estendido sobre sua cama, era demais para si.
Tomou banho no banheiro dos meninos, já que o das meninas estava inalcançável —, pois precisava atravessar a frente do próprio quarto para o alcançar. Então, preferiu não arriscar. Levou cerca de uma hora para conseguir tirar todos os vestígios de sangue de seu corpo, sem contar nas sujeiras embaixo das unhas. Uma parte dela não queria acabar aquela situação, pois sabia do que a esperava do lado de fora.
Por isso, quando resolveu por fim sair, notou que não tinha mais ninguém no Going Merry. Estava vazio, não havia nenhuma alma sequer fazendo companhia para Zoro. Então, Akira foi até lá. Relutou três minutos antes de entrar totalmente no próprio quarto e a imagem dele desmaiado em sua cama daquele jeito, não foi a primeira impressão que ela gostaria de ter tido com ele naquele quarto.
— Oi Percy Jackson.
Balbuciou baixinho se aproximando da cama. Tinham passado esparadrapo por cima do ferimento, então não estava mais exposto o ferimento quanto antes. Ela se sentou na cadeira ao lado da cama, observando a maneira que o peito dele subia e descia lentamente.
— Bancou o grande herói lá fora, hein? — deu uma risada fraca.
Uma pequena parte de Akira estava nervosa, afinal, nunca havia estado em uma situação como aquela antes. Então, não sabia o que fazer. Ele não podia ouvir mesmo, não é?
— Você me deixou preocupada, Zoro. — suspirou, se sentando mais perto da beirada da cadeira, ficando mais próxima dele — Belo presente de aniversário que me deu, hein? Típico de você.
Soltou outra pequena risada fraca, demonstrando seu total desconforto. Então, levou sua mão direita até a mão esquerda dele que estava repousada ao lado de seu corpo — e a segurou.
— Eu acho que eu te amo, Zoro.
Nem acreditou quando tais palavras saíssem de sua boca. Sentiu o aperto tomar conta de si novamente, um desespero a qual ela não conseguia evitar.
— E eu não quero me casar com ninguém... — continuo — A não ser que seja com você, idiota.
Uma pequena parte de Akira gritava para que ele tivesse escutado suas palavras, para que ele soubesse o quão ela gostava dele. O quão importante ele era... Mas, no final, sabia que Zoro nunca saberia e aquilo morreria com ele para sempre.
Um barulho do lado de fora do navio chamou a atenção da garota, a fazendo soltar a mão fria do caçador e correr para o lado de fora. A confusão que se alastrava, da posição em que estava, ela conseguiu ver o chapéu de palha de Luffy.
— Merda. — praguejou, começando a descer o Going Merry.
{...}
— Eu tô com o mapa. Eu peguei pra você como disse que faria.
Conforme tentava chegar o mais rápido possível lá embaixo, Akira ouviu com perfeição a voz de Nami se aproximando de Luffy que estava sendo segurado pelo colarinho da camisa por Arlong.
Que merda essa porra desse peixe tá fazendo aqui?
Era a única coisa que passava pela cabeça da garota, enquanto descia.
Demorou apenas um minuto, mas foi o suficiente para Nami ir embora acompanhada com Arlong —, enquanto o corpo de Luffy foi arremessado no mar. Ela não pensou duas vezes, tão pouco se importou se não sabia nada direito. Akira pulou atrás de Luffy, sentindo a água entrar em seus olhos e arder cada parte ali. Prendeu a respiração, se forçando a mergulhar mais fundo, parecia que o corpo dele estava sendo sugado para baixo.
Foi a coisa mais difícil que já fez em dias e lutar com os marinheiros estava em sua lista.
Akira conseguiu agarrar o pulso de Luffy, o puxando contra si, envolvendo em seus braços de uma maneira desajeitada que a água permitia. Quando conseguiu chegar na superfície, sentiu dois braços pesados a puxando, junto com seu Capitão.
O corpo de Luffy caiu na madeira, arfando por ar da mesma maneira que Akira.
— Vocês estão bem?
Demorou alguns segundos para a morena mover seus olhos para o lado, encontrando Sanji preocupado. Tinha sido ele quem tinha os puxado para cima. Ambos balançaram a cabeça em concordância, arfando por ar.
{...}
Eles não te falam como é a sensação de se estar dopado, pelo menos não especificamente. Ninguém diz que seu cérebro entra em transe, sobre o que é real ou não.
Quando Zoro abriu os olhos totalmente, acordando, demorou alguns segundos para perceber onde estava. Nunca tinha estado naquele cômodo antes, então só poderia ser de uma das meninas. Mas, o cheiro do shampoo que Akira usava, entregava que aquele era seu quarto.
Era a primeira vez que conseguia abrir os olhos por completo, pois nas outras vezes apenas ouvia as coisas à sua volta —, então não conseguia definir se era realidade ou não.
— Vai continuar falando ou vai me deixar dormir?
Conseguiu ouvir sua própria voz sair fraca, mas sabia que quem estava ali era Luffy, só ele para tagarelar tanto.
— Zoro! Zoro, você não morreu.
No segundo seguinte ele estava sendo montado pelo próprio Capitão, que mostrava o quão feliz estava por ter seu imediato de volta.
— Eu tive um sonho muito estranho... — balbuciou o mais velho, fechando os olhos novamente — Onde está a Akira?
— Ela foi se encontrar com o Mihawk.
Isso fez Zoro tornar a abrir os olhos novamente, estupefato.
— Zoro, ei, pega le...
Luffy tentou segurar o companheiro, ao ver a maneira como ele se sentou na cama de uma vez, balançando a cabeça em negação.
— Eu vou trazê-la de volta! — entoou, se levantando da cama.
As pontadas atingiram seu peito de uma vez, mas ele se forçou a ignorar as dores. Pela maneira que andava pelo Merry, parecia que tinha perdido quase toda sua força apenas naquele duelo. Mas, não era verdade. Zoro não era fraco.
Quando colocou os pés para fora do navio, viu que já havia escurecido. A lua estava acima da cabeça de todos e a volta do Baratie só tinha escuridão. Foi a primeira vez em toda sua vida que Zoro não levou suas katanas consigo, pois as tinha esquecido ao sair tão rápido.
Quando virou à esquerda do convés, sentiu a dor piorar.
— Desgraça. — desdenhou a si mesmo — Porra de dor do capeta.
Então, seus pés travaram no lugar. Demorou alguns segundos para seus olhos enxergarem a coisa à sua frente, não conseguindo conter a maneira que o ar faltou em seu peito.
Zoro desejava que tudo o que ouviu não tivesse sido um sonho. Mas, se ela tinha ido com os Mihawk, então tinha sido tudo uma mentira.
Mas, agora as coisas estavam caindo por terra.
Os olhares de ambos se cruzaram, ninguém estava esperando ver o outro. Principalmente Zoro, que não esperava ver Akira voltando pelo mesmo caminho para o Merry, enquanto ele saia.
Da posição em que estava a maneira que a feição de Akira estava, mostrava para Zoro o quão abatida e chateada suas emoções se encontravam. Havia olheiras profundas abaixo de seus olhos, sem contar nos fios de cabelos despenteados. Foi ela quem começou a dar passos em sua direção, tão atônita quanto ele. Afinal, Zoro se encontrava petrificado com as batidas do coração aceleradas.
Quando ela parou a sua frente, percebeu que estava segurando o ar todo esse tempo, até tê-la tão perto daquela forma. Os olhos azulados transitavam entre o rosto, os lábios, o corpo e o ferimento de Zoro. Como se não pudesse acreditar que ele estava bem e não morto.
Apenas pensar nessa possibilidade fez com que as lágrimas ameaçassem descer novamente por seu rosto. Akira não acreditava em Deus, mas naquele momento agradeceu a ele por ter dado aquilo como seu presente de aniversário.
— Eu achei que você...
As palavras saíram embaralhadas dos lábios da mais nova, porém Roronoa não a deixou continuar. Deu um passo para a frente, se curvando e a puxando totalmente contra seu peito, em um abraço. Foi o suficiente para ela perder o controle das lágrimas e deixá-las sair. Afinal, era a primeira vez que o abraçava de verdade —, e apesar de ter quase morrido, Zoro ainda tinha seu cheiro marcante. Não foi preciso nenhum deles dizer nenhuma palavra, ambos sabiam o que sentiam e não havia nada no mundo que mudaria aquilo, nem a morte.
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