08 | o poço
QUANDO ZORO COMEÇOU a sua vida de caçador de piratas, havia muitas coisas que ele não sabia fazer. Muitas delas envolviam outras pessoas, nunca foi muito bom em lidar com os seres humanos —, mais por conta da forma como havia sido criado.
Em uma das suas primeiras caçadas, não se lembra muito bem do pirata que foi. Afinal, havia se passado muitos anos e ele havia caçado bilhares depois daquele. Mas, um acontecimento em específico sempre ficou em sua cabeça.
Havia tido muitos pequenos acontecimentos inoportunos naquele dia, era uma quarta feira e estava ao norte, em uma das pequenas ilhas da região. Zoro estava cansado, não havia comido direito em três dias e seus pensamentos já estavam começando a se embaralhar. Por isso, ele não percebeu quando já estava envolvido em um tumulto de pessoas. Um garoto passou correndo na sua frente e tropeçou em seus pés, deixando cair um pequeno saco marrom.
O fugitivo não se deu conta disso, pois continuo correndo com medo de que alguém o visse. Zoro que estava ali no meio da zona, se abaixou e pegou o saquinho em mãos. Notando que o conteúdo que havia ali dentro era parecido com uma esmeralda, porém, brilhava mais do que o necessário para qualquer olho humano.
— Isso me pertence, jovem rapaz.
Uma voz arrastada e fraca atraiu a atenção do caçador. Assim que olhou em sua direção, percebeu que era uma cigana. Os olhos fundos, a pele enrugada e extremamente magra.
— Não pretendia ficar com ela. — foi sincero, quebrando o espaço que os separava — Aqui está.
A mais velha achou suspeita a atitude de Roronoa, porém aceitou seu objeto de volta. Levou alguns segundos para decidir que confiava em Zoro e que estava agradecida por tal ato.
— Qual o seu nome, jovem rapaz? — perguntou.
Da posição em que estava, vários centímetros acima dela —, Zoro viu com perfeição a cor de seus olhos, perfeitamente azulados.
— Eu sou Roronoa Zoro, o caçador de piratas.
Se apresentou, sério. Porém, a velha sorriu com suas palavras. Como estava no início, ninguém nunca havia ouvido falar dele. Era um desconhecido, com um sonho encubado dentro de si desde criança.
A cigana o puxou pelos braços, o forçando a acompanhá-la.
— Venha, venha, Roronoa Zoro. — o fez se sentar embaixo de uma árvore, onde a sombra pendia calmamente — Me deixe agradecer por sua ajuda.
Os olhos do jovem caçador se tornaram confusos, pois até então não havia se dado conta do que de fato estava ocorrendo.
— O que...
— Me deixe ler sua mão.
A cigana puxou sua mão direita, virando a palma para cima. Ignorando os pequenos protestos que o jovem emitia por seus lábios.
— O seu destino está ligado a coroa perdida. — passava os dedos lentamente sobre sua palma.
— O que isso significa?
O jovem Zoro indagou, ainda nada contente em estar naquela posição. A cigana sorriu, mostrando os poucos dentes que continha.
— Você, meu jovem rapaz, vai se apaixonar por uma princesa.
O caçador revirou os olhos com tamanho desdém ao ouvir tantas bobagens, puxando a própria mão contra o próprio colo.
— Não tenho tempo para asneiras. — resmungou, irritando se levantando.
A mais velha se sentiu completamente ofendida com a atitude do mais novo.
— Como ousa desdenhar de minha ajuda? — também se levantou.
— Eu não pedi sua ajuda para nada. Você é maluca.
— Já que é assim... — seus olhos se tornaram diferentes — Meu jovem rapaz, vai demorar mais tempo do que o necessário para descobrir quem é essa pessoa. E vai precisar de sua ajuda no instante em que a ver.
— Velha maluca.
Zoro saiu pisando firme para longe daquela aldeia, resmungando consigo mesmo palavras desconexas de tão irritado que havia ficado. Tinha apenas quatorze anos na época, mas sua paciência já era curta desde então. Esse assunto sempre havia o irritado, coisas envolvendo palácios, reinos etc. Sempre se recusava a passar perto, evitar ambientes cheios de prepotência. Ele não gostava de nada disso. Mas, vez ou outra o pensamento do que aquela velha disse lhe vinha na cabeça. Mas, também —, ele nunca tinha falado com nenhuma princesa pelos próximos anos. Então, chegou na conclusão que era uma cigana enganadora.
{...}
Ninguém te conta qual é a sensação de acabar de acordar, após ingerir quantidades absurdas de álcool. Principalmente, quando é a sua primeira vez. A maneira que seus pensamentos e as lembranças ficam embaralhadas, é horrível.
Mas, Akira conseguiu lidar com isso muito bem. Pelo menos, era o que pensou até estar naquele tipo de situação com a cabeça girando de dor. Ao ver o corpo daquele homem morto no chão, algo pareceu acertar a boca de seu estômago.
Sem contar que quando os dedos quentes e ásperos de Zoro se entrelaçaram nos seus, a primeira coisa que veio em seu consciente foi aqueles dedos se entrelaçando no seu cabelo. A maneira que o toque dele era quente, marcava qualquer coisa. Isso a fez começar a se auto questionar se tudo tinha sido de verdade, pois parecia tão real a lembrança...
— Esse é o Merry? Ele... ele...
A voz de Usopp soou atrás dos dois, chocando com a cena diante a seus olhos. O mais velho soltou a mão da garota, se agachando frente ao corpo.
— Cinco lâminas. — apontou os ferimentos no peito — Acho que eu já vi isso.
Da posição em que estava Akira conseguia ver com perfeição a forma como ele estava agachado, em uma pose legal.
— Ora, ora, ora.
Os três tiveram a atenção tomada pela nova presença do cômodo. Os olhos de Zoro se correram até os da única garota presente e ela não esperou duas vezes até estar ao seu lado novamente. Apesar de estar com vestígios de álcool em seu corpo e a cabeça girando, Akira ainda tinha consciência.
— Está parecendo que temos alguns ratos em nosso porão. — ele cuspiu as palavras, apontando a mão para os três.
Zoro se levantou do chão, calmo, mantendo a postura. Porém, um pé sempre a frente do de Akira, deixando que metade de seu tronco a tampasse.
— Essas lâminas... — balbuciou — Sabia que já tinha visto seu rosto. Num cartaz de procurado.
O caçador de piratas soava totalmente calmo, como se aquilo não o afetasse. Mas, na verdade Zoro estava extremamente preocupado e sua mente estava trabalhando na maneira de toda sua tripulação sair dali com vida e rápido. Porém, todos estavam espalhados pela mansão.
— Você é Kuro. — continuo — O capitão dos piratas do Gato Preto.
Ele se lembrou perfeitamente que aquela cabeça estava valendo 16 milhões de berries. Zoro tinha muitos defeitos, mas conseguia se lembrar quase totalmente de coisinhas simples como aquela. Por isso desde o exato momento em que pisou os pés naquela casa, sentiu um incômodo impassivo.
— Como é que é o Klahador é um pirata? — a voz de Usopp saiu falha.
— Que morreu. — completou Zoro — Falaram que foi morto pelo Morgan.
— Um ardi inteligente. — balbuciou — Aquele cujo ego imbecil me ajudou a perpetuar. E como você logo aprenderá, ninguém interfere nos meus planos.
Roronoa soltou uma das espadas, pronto para a usar, mantendo o tronco frente a garota. Ele puxou a katana, mantendo a pose de desdém sobre Klahador.
— É hoje que eu pego uma recompensa. — seus lábios se formaram em um pequeno sorriso forçado.
Então, ele partiu para cima dele.
Com três golpes Klahador sumiu no ar, aparecendo atrás de Usopp. Zoro se virou em sua direção, pronto para o atacar novamente —, quando a empregada quebrou uma garrafa de vinho em sua cabeça, o derrubando no chão.
— Ô rapariga. — Akira se sentiu extremamente ofendida — Quem você acha que é pra encostar...
Mas, antes que ela conseguisse terminar sua frase. Talvez por estar tonta ou alguma outra coisa, seu pulso foi puxado por Usopp em uma velocidade considerada quase impossível. Os dois escaparam pelo pequeno vão da parede, onde ele já estava acostumado a passar.
Eles correram por três minutos, até Akira parar arfando por ar e apoiando as mãos nos joelhos, vomitando todo o resto do álcool em seguida.
— Eca.
A expressão no rosto dele fora impagável e se estivessem em outra situação, ela poderia ter rido.
— O que vamos fazer, o que vamos fazer? — indagou Usopp, nervoso — A Kaya ela...
Akira ajeitou a postura, puxando a liguinha do pulso e amarrando o cabelo em um rabo de cavalo.
— Beleza, é o seguinte. — limpou a boca com a costa da mão direita — Você vai trás de ajuda, eu vou ajudar o Zoro e tentar encontrar o Luffy e a Nami.
— Mas, Akira eles...
— Eu vou ajudar o Zoro! — repetiu as próprias palavras — Vai ficar tudo bem Usopp, nós damos conta.
Era a primeira vez que se sentia daquela forma, como se todos fossem realmente sua tripulação e precisasse de sua ajuda... tipo, de verdade.
— Onde eles se livram dos corpos aqui?
Os olhos do garoto se prenderam nos dela por alguns segundos, antes de balançar a cabeça e apontar para o fundo do lote.
{...}
Akira demorou mais do que o esperado para recuperar seu arco e flecha de uma maneira sorrateira. Afinal, não era nada sem aquilo. Não sabia se defender muito bem no soco e tinha quase certeza que perderia facilmente em uma luta corpo a corpo.
Por isso, ela torcia a Deus para que Zoro ainda estivesse respirando quando o encontrasse.
Se Luffy estivesse consigo, as coisas seriam mais fáceis. Mas, ela não fazia ideia de onde o amigo estava, apenas torcia para que estivesse bem.
Seus tênis se afundavam na lama molhada do quintal de Kaya, conforme seguia até o poço. O vento frio da noite acertava seu rosto, como um soco. Tudo em seu corpo doía, os olhos, a nuca, seus braços e principalmente sua cabeça. Era como se tivesse perdido uma luta feia, mas a batalha mal começou.
— Zoro. Zoro.
Apoiou as duas mãos nas pedras frias do poço, se inclinando um pouco para a frente, sussurrando seu nome. Tinha medo de estar sendo vigiada.
— Zoro, você tá aí?
Demorou alguns segundos para conseguir ver o rosto do mais velho com precisão, afinal, a lua estava começando a ficar sobre eles.
— Sim, idiota, eu tô aqui. — rosnou, irritado.
Tinha tentado subir as paredes rochosas dez vezes seguidas. As pontas de seus dedos ardiam, ele jurava que estava sangrando em algum lugar. No local onde foi acertado, também doía.
— Você me deixou preocupada, cabeça de algas.
Akira mal conseguiu conter o pequeno sorriso no rosto, que estampou suas covinhas.
— Vou arrumar um jeito de te tirar daí. — falou para ele — Só aguenta um pouquinho...
Zoro revirou os olhos, exausto. Não botava fé na mais nova, se ele mesmo não tinha conseguido sair dali, não era ela quem iria conseguir o tirar. Um segundo depois percebeu que a frase de Akira tinha sido cortada e um barulho de baque acompanhou o final.
— Akira? — a chamou, apoiando as duas mãos nas paredes.
Mais barulho. Dessa vez de algo sendo atingido com força, como um corpo. Caindo nas folhagens, sendo acertado com precisão.
— Akira?
Dessa vez Zoro gritou alto e claro. Sem obter respostas.
— Akira? Porra, — passou as espadas para trás novamente, apoiando as duas mãos nas rochas, usando o impulso do próprio corpo para escalar — idiota, irresponsável.
Por conta da chuva da noite passada e também por estar de noite, as rochas tendiam a ficar mais escorregadias e perigosas de serem escaladas. Era por isso que Roronoa não tinha conseguido subir mais cedo em nenhuma das suas dez tentativas anteriores.
— Desgraça de garota irresponsável.
Suas palavras eram cuspidas de sua boca, com raiva e ódio. Conforme colocava todo o peso em suas mãos para se jogar para cima, rochinha por rochinha. Sua cabeça doía como o inferno, as pontas de seus dedos ardiam, o poço parecia não ter fim.
— Eu juro que eu... argh... — sua mão esquerda vacilou, quase o derrubando novamente no chão — desgraça.
O barulho lá em cima se tornava mais alto. Até que em questão de dois segundos, tudo se silenciou. Isso fez com que Zoro se forçasse a subir mais, usando toda a força possível em seu corpo. Precisava sair... mas, talvez já era tarde e a garota estivesse morta.
Quando esse pensamento atingiu seu consciente, ele chegou ao topo. A lua agora está perfeitamente em cima de sua cabeça, iluminando tudo à sua volta. Zoro levou alguns segundos para entender os acontecimentos ao seu redor, ao ver dois corpos caídos no chão. O da esquerda continua uma flecha enfiada no peito, usava o uniforme da marinha. E o da direita havia acabado de ser jogado para o lado, também trajando um uniforme.
Não percebeu a maneira que respirou aliviado ao ver a mais nova saindo debaixo do cadáver, batendo as mãos nas próprias pernas.
Demorou um pouco para que Akira notasse a presença do caçador escalando o poço, terminando de se jogar para fora em segurança. Ela levou alguns segundos para raciocinar isso, sem fôlego, por quase ter pedido a briga. Estava certa quando achou que estivesse sendo vigiada.
— Zoro...
Ele nunca ia esquecer a maneira como seu nome havia soado naquela noite. Não foi de uma maneira repreendedora ou preocupada, não, foi mais um sussurro acompanhado de alívio. Akira não pensou duas vezes antes de largar o arco e flecha no chão e correr até o mais velho, chocando seu peito contra o dele — em um abraço desajeitado, mas caloroso.
Novamente, alguma parte do cérebro do caçador parou de funcionar ao ter sua privacidade invadida daquela forma. Porém, levou a mão esquerda até o meio das costas da garota — retribuindo o abraço. Mas, se Akira não estivesse tão afobada, teria percebido que fora abraça de volta.
— Ainda bem que você está bem. — foi sincera, as covinhas dançando em suas bochechas, quebrando o abraço — Precisamos ir, encontrar os outros e sair daqui. Ou matar aquele cara, lunático.
Roronoa permaneceu intacto no lugar, engolindo em seco. Observando a maneira que ela começará a falar desesperadamente, indicando que estava nervosa. Notou a maneira como ela conseguiu acabar com os dois homens da marinha facilmente.
— Vamos.
Akira balanço a cabeça na direção da casa, começando a sair de perto dele. Porém, com a mão direita (os dedos sangrando) — Zoro segurou em seu pulso, trazendo ela de volta para frente de si.
— Você está bem?
Seus olhos eram negros, sérios e totalmente sinceros. Ele queria saber aquela resposta, para ele estava acima de ir correndo atrás de seus companheiros naquele instante. Ele precisava saber a resposta.
Então, como um lapso de lembrança. A sensação de ter os lábios dele pressionados contra o seu, veio novamente na consciência de Akira. Como se fosse perfeitamente vivido.
— Uhum. — murmurou a resposta, desviando o olhar. Seu peito doía. Seus batimentos estavam acelerados.
{...}
Não demorou muito para finalmente encontrarem o Luffy no caminho de volta a casa. Os Três demoraram alguns minutos para conseguirem estar totalmente dentro da mansão de Kaya, pois Zoro e Luffy precisaram abrir os portões se segurança e isso exigiu muito esforço da parte deles.
— Vão na frente.
Murmurou o caçador, amarrando a bandana preta na testa. Indicando com a cabeça a direção a seguir. Iria lidar com os capangas de Klahador primeiro, matar cada um.
A garota então seguiu Luffy por entre os corredores frivolos, até chegarem no porão novamente. Bem a tempo de impedir que ele machucasse Nami e Kaya. Akira acertou uma flecha no ombro de Klahador, impedindo sua ação.
— Eles são meus companheiros. — rosnou Luffy, bravo.
A expressão em seu rosto era indecifrável, o tipo de coisa que ninguém desejaria ver.
Klahador arranco a flecha do próprio ombro, a jogando no chão se virando totalmente para os dois que estavam na entrada.
— Demorei um pouco para me lembrar...
Seu tom de voz era nojento e asqueroso. Isso deixava Luffy muito mais irritado que deveria.
— Mas com essa mira tão boa... — Klahador balbuciou, os olhos negros e presos na porta de entrada — O que está fazendo com piratas, Akira Donquixote. Do reino de Dressrosa.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro