03 | o circo
AKIRA NUNCA TINHA namorado na vida. Isso não significava que nunca tinha ficado com alguém, não. Então, certos tipos de coisas não deveriam ser vergonhosas para si —, tais como ficar tão próxima de um homem daquela forma como ficou com Zoro.
Por isso, mesmo quando começou a recobrar a consciência e viu que ainda estava com o rosto encostado no corpo do caçador, foi impossível não sentir o enjôo acertar sua barriga. Da mesma maneira que se sentia quando ficava nervosa.
— Ei, ou Zoro.
A voz de Luffy fez com que a menina abrisse os olhos por completo, da mesma maneira que Roronoa também abriu, assustado por ter sido chamado daquela forma. Mas, principalmente por ver que a garota ainda estava muito próxima a si.
Zoro empurrou Akira para longe, a fazendo bater com as costas na madeira.
— Levaram minhas espadas. — murmurou.
— E a minha mochila.
Os quatro perceberam o ambiente onde se encontravam. Era uma caixa quadrada, o suficiente para caber eles.
— Droga, a gente perdeu o mapa. — clamou Nami.
— Não!
Luffy negou, se levantando de uma vez e batendo a cabeça no teto.
— Não. Não perdemos. — olhou para o rosto de todos os presentes — Ele está num lugar seguro.
O moreno levou a mão direita até a barriga, recebendo um olhar de nojo de Nami e Akira em resposta. No segundo seguinte Zoro começou a socar a madeira, causando um barulho estridente pelas lacunas ocas.
— Para, para com isso.
Pediu Akira, levantando as mãos em um sinal de rendição para o mais velho. Pois, tinha receio do que os aguardava do lado de fora e não gostava quando tinha pessoas imprudentes ao seu lado daquela forma.
— Por que? Quero encontrar uma saída. — refutou o espadachim, ignorando seu pedido.
— A gente foi capturado, bocó. Precisamos sentar e bolar um plano.
Akira gesticulava, nervosa. Seu consciente tentava chegar em algum consenso sobre qual atitude tomar.
— Não preciso de um plano. — rosnou Zoro — Só quero esfolar cada marinheiro que aparecer.
— Gente, — Luffy leva as duas mãos até à própria cintura — mas alguém tá sentindo essa torta de climão?
Akira ergue as sobrancelhas, recebendo uma olhada séria do caçador —, ao mesmo tempo em que um riso baixo de Nami escapava pelo pequeno cativeiro.
— Relaxa, — o moreno apoiou a mão sobre o ombro de Akira — a gente está bem.
Ela balançou a cabeça em negação, lembrando da maneira como a marinha lidava com fugitivos daquela forma.
— Não estamos.
— Ela tem razão, não estamos. — concordou Nami — Se tivermos sorte, eles vão jogar a gente na prisão.
— E se não tivermos sorte, eles vão nos executar.
Akira completou a frase da companheira.
— Eles não são da marinha. — por fim Luffy disse — Antes da gente desmaiar, eu vi uma Jolly Roger.
— Ele tem razão. Os marinheiros têm treinamentos.
Zoro parou de socar a madeira, se virando para os outros três.
— Piratas são mais fáceis de matar. — completou.
— Diga por você, caçador.
A maneira que a última palavra soou da boca da mais nova, atraiu os olhos do espadachim. Era como ser puxado para as dúvidas que pairavam sobre ela, como se algo o fizesse tentar adivinhar seus pensamentos. E isso o irritava bastante, pois odiava ironia... e pelo o que já tinha conhecido de Akira, isso era o que mais ela fazia.
— Não era você a melhor arqueira do East Blue?
Os lábios de Zoro trabalharam mais rápido que seu consciente. Conseguindo deixar sem palavras e receber um olhar de fuzilamento em troca.
— O Shanks falava que nem toda situação deve ser resolvida com violência. — Luffy falou.
— Quem é esse tal de Shanks?
Roronoa perguntou, apoiando uma das mãos na parede.
— Ninguém tem que lutar. Eu vou falar com eles de pirata para pi...
A frase do chapéu de palha não foi finalizada. As paredes do pequeno cativeiro onde os quatros estavam sendo mantidos, veio abaixo. Luzes fortes acertaram o rosto deles, o que os fez fechar os olhos por alguns segundos antes de raciocinarem direito.
Dois trapezistas pularam lá de cima, vestindo roupas espalhafatosas demais.
Uma música extremamente estridente, começou a soar a toda a volta. Até Akira perceber o que estava acontecendo, vou que se tratava de um circo.
Havia dezenas de pessoas fazendo números de shows à frente deles. Tinha uma plateia, cheia. As palmas preenchia o salão com destreza, uma atrás da outra.
— Não, não, não, não, não. Pode parar.
A voz negativa atraiu a atenção dos quatro companheiros, que olharam naquela direção.
— Chega de aplausos. Tá tudo errado. — gritou, gesticulando.
Era um palhaço.
Akira deu um passo para trás, no automático. Odiava fantasias, ainda mais de palhaço. Tinha pavor daquilo, não sabia de onde vinha tal negligência. Mas, só havia ido ao circo uma vez, para nunca mais.
— A luz demorou muito. E você errou a minha entrada. — gesticulou — E onde, onde está o leão... que dança?
Ele se aproximou do garoto fantasiado, em um tom rude e bruto.
— Aí. — Luffy apontou — Eu conheço você.
Akira nunca ia se acostumar com a maneira que o garoto ao seu lado falasse, sempre no bom tom e nunca de mau humor. Ele parecia estar gostando daquilo.
— Eu vi o cartaz de procurado na Cidade das Conchas. Você é o cara de palhaços. Hum... é... Boga, não é?
A ruiva viu a maneira que a feição do Palhaço se tornou diferente, quase como se tivesse se sentido insultado.
— Buggy. — corrigiu Luffy — Buggy, o Palhaço.
Ele desceu do pedestal, gesticulando, se aproximando do quarteto. Akira deu um passo para trás, ficando sem perceber atrás do espadachim.
— Aposto que todo mundo de East Blue sabe que você é um pirata raiz.
A plateia inteira vez uou.
A feição no rosto do Palhaço mudou.
— O que você disse?
Ele grunhiu, dando mais um passo para perto deles. Akira deu outro passo para trás, agora com metade do tronco de Zoro tampando sua visão. Como se de alguma forma o corpo humano dele fosse capaz de impedir alguma coisa, quando sabemos que não é.
— A melhor arqueira de East Blue tem medo de palhaços? — Zoro sussurrou, virando o corpo apenas um pouco para o lado, o suficiente para a garota ouvir.
Ela revirou os olhos, forçando um sorriso amarelo.
— Ha-ha.
Retrucou de volta em um murmuro, empurrando o corpo dele para a frente com um soco falso e fraco.
— Que todo mundo sabe que você é pirata raiz. — repetiu Luffy.
— Nariz?
Buggy finalmente quebrou toda a distância entre eles, apertando as bochechas do garoto.
— Tá tirando sarro do meu nariz?
— É... eu não estava. — balbuciou o moreno — Mas, agora que você falou... — levou a mão até o rosto dele — isso aí é de verdade?
O barulho do tapa que o Palhaço deu na mão de Luffy ecoou pelo circo, assustando a plateia e deixando Nami e Akira aflitas.
— A real é que estou tramando a meses roubar aquele mapa do mão de machado. — empurrou Luffy para trás — Apenas para descobrir...
Ele se aproximou de Luffy mais uma vez, passando para Zoro. Os olhos claros, perfeitamente azulados de Buggy pousaram em Akira. E quando o espadachim viu isso, deu um passo para a esquerda no automático, se pondo a frente.
— {...} que fui passado para trás por quatro Zé ruelas. Que roubaram o mapa bem debaixo do meu nar... Não, agora ficou na minha cabeça. Não! Argh.
Ele balançou o corpo, irritado.
— Aí, eu não sou um Zé ruela. — reclamou Luffy — Meu nome é Monkey D. Luffy. E eu vou ser o rei dos piratas.
— Ha-ha. Isso sim é engraçado.
Levantaram a placa de risos, fazendo a plateia rir mais uma vez.
Começou uma pequena discussão entre Luffy e Buggy, sobre quem seria o rei dos piratas. A plateia aflita, rindo vez ou outra, Nami e Akira preocupadas onde aquela situação estava indo.
— Escutem aqui. — gritou o espadachim, ganhando a atenção de todos — Eu sou Roronoa Zoro. Joguem fora suas armas e talvez eu permita que vocês vivem.
Akira viu a forma como a expressão de alguns dos capangas de Buggy mudou ao ouvir a apresentação do homem ao seu lado, não percebeu o pequeno sorriso que se instalou em seus próprios lábios. Como se ela se sentisse um pouco sortuda por ele estar do lado deles e não do inimigo. Afinal, ele era o melhor, não?
Ele parou frente a frente Buggy. A posição impecável, coluna ereta e olhos fixos no palhaço.
— Senhoras e Senhores. — riu — Parece que temos uma celebridade entre a gente.
Zoro não se moveu. Os olhos fixos nele.
— Pena que eu odeio dividir os holofotes. Agora, vamos pular para o final com toda a pompa. Meus homens ensaiaram dedicaram bastante tempo ensaiando essa abdução. E se eu não puder recompensar eles... com aquele mapa. Eu acho que vou ter que oferecer meio quilo de carne em troca.
Os acontecimentos a seguir foram muitos rápidos para Akira conseguir processar com eficiência. Primeiro que Nami tentou sair correndo, porém foi pega pelos capangas de Buggy. Isso pelo visto o deixou irritado, pois descobriu que Luffy se esticava. Após trazerem Nami de volta, Zoro e Akira junto a ruiva foram puxados para a sala verde. Uma nova versão do cativeiro onde estavam anteriormente.
{...}
Não se sabe ao certo quanto tempo ficaram ali. Nenhum dos três tinham uma noção específica, o tempo ali não passava de uma maneira normal.
— Descansa um pouco. Essas cordas são fortes demais para você.
Avisou Nami ao único homem presente.
Tinham amarrado Zoro com cordas, o colado no meio de um tiro ao alvo gigante de circo, daqueles onde arremessavam facas.
— Já me soltei de coisas piores. — rosnou de volta.
Akira e Nami estavam enjauladas, ambas sentadas com os joelhos colados no peito.
— Quando eu corri, vi a cidade.
— Quer dizer, quando fugiu e deixou nós três para trás?
Zoro e Nami começaram uma pequena discussão, tão irritante que Akira não prestou atenção. Seus pensamentos eram puxados para o passado, para o seu trauma. Não gostava de ficar presa daquela forma, da maneira que costumavam fazer na marinha para punir os soldados irresponsáveis. Eles os prendiam em salas brancas e os deixavam sozinhos por dias...
Talvez essa seja uma das razões por ela detestar quando alguém tocava seu corpo sem permissão. Akira apenas se relembrava de quando tinha seu corpo forçado a se jogar naquele lugar, sozinha.
Havia certos tipos de coisas que ela conseguiu encobertar com a própria consciência, como substitui uma lembrança ruim por uma menos pior. Na psicologia isso se chamava escape, e normalmente as pessoas usavam memórias felizes para fazer tal coisa. Porém, Akira nunca conseguiu pensar em uma memória boa o suficiente que a fizesse ultrapassar os pesadelos. Eram sempre as menos ruins.
— Tem alguém vindo.
A voz de Roronoa trouxe Akira de volta à realidade e ela se deu conta de que Nami estava tentando abrir o cadeado que estava as trancando.
— Distrai eles...
No segundo seguinte, um dos caras de monociclo entrou no ambiente. A mais nova suspirou satisfeita por não ser um dos palhaços, não gostava da maneira que aquilo tinha poder sobre ela.
Ele socou o estômago de Zoro, antes de falar.
— Eu tenho pensado em você há mais de dez anos.
Nami e Akira trocaram olhares entre si, pensando na mesma piadinha homofóbica.
— Em como matou o meu irmão. — completou.
Akira riu baixo, o suficiente apenas para a ruiva ouvir, antes de voltar a tentar abrir o cadeado.
— Você cortou a cabeça dele e enfiou em um saco. Tudo por causa de alguns berries.
Zoro abaixou a cabeça, olhando de relance para as duas garotas.
— Tá bom. — confessou — Isso é algo que eu faria.
— Vamos ver se consegue salvar a sua cabeça.
Ele se moveu para a lateral da roda, girando de uma vez. Akira olhou apreensiva para a ruiva, que ainda tentava abrir o cadeado.
O corpo do caçador girou quatro vezes consecutivas, recebendo algumas facas arremessadas contra si. Mas, nenhuma o atingiu. Quando por fim, o cara do monociclo jogou a última faca, — não percebeu a maneira que acertou a corda, facilitando os movimentos de Zoro a qualquer instante.
O pequeno diálogo que se iniciou foi o suficiente para Nami conseguir soltar o cadeado, tirando Akira dali também.
Então, elas trabalham juntas pela primeira vez.
Akira pegou uma das bolas de beisebol que os palhaços normalmente usavam para espetáculos, mirou o mais rápido e preciso possível. Arremessando a bola contra a cabeça do indivíduo. Foi o suficiente para chamar a atenção dele. No instante em que ele se virou, Nami o chutou de uma vez bem no meio do peito. Ele cambaleou para trás, sendo pego pelo pescoço por Zoro e desacordado em minutos.
— O Luffy.
Nami falou alto, de certificando que Akira fosse terminar de ajudar o espadachim a se soltar. Ela apenas balançou a cabeça em concordância, indicando que ela podia ir na frente.
A mais nova terminou de ajudar o caçador a se soltar, tão apreensiva que não prestou muito atenção nas coisas a sua volta. Ela puxou a própria mochila que tinham tirado dela mais cedo e colocou nas costas, também pegando seu arco e flecha. Preocupada com Luffy. Não estava pensando direito. Por isso não prestou atenção enquanto Zoro pegou as próprias espadas.
Ela saiu da sala verde, à procura de Luffy. Porém, antes que pudesse chegar ao salão principal do circo — sentiu suas mãos sendo puxadas de uma vez para a direita. Se assustou de imediato.
— Xiu. — Zoro ordenou em um sussurro, quase tampando sua boca — Precisamos encontrar Luffy depressa, não temos tempo pra lutas secundárias.
A garota balançou a cabeça em concordância, percebendo que ele tinha acabado de a puxar para a lateral —, contra onde alguns dos capangas de Buggy passavam à procura do barulho.
Akira olhou mais um pouco, vendo os indivíduos passar.
— Ok, barra limpa.
Falou, se desvencilhando do homem. Pronta para seguir o caminho, mas novamente as mãos quentes de Zoro a puxaram. Dessa vez com mais força do que antes, pois até ele tinha sido pego de surpresa, — então prensou o corpo dela sem perceber, contra parede. Mas, Akira se assustou muito mais, pois o pensamento de que algum palhaço podia aparecer a qualquer hora era demais para si. Por isso, olhou na direção contrária, onde o rosto do caçador também estava olhando.
Foi muito rápido e imprevisível.
Primeiro que Akira não sabia o quão poderosa sua altura podia ser naquele momento. Isso não tinha nem passado por sua cabeça, mas aconteceu. No mesmo segundo em que ela virou a cabeça para a direita na direção dos sons onde os capangas vinham, Zoro virou o rosto para a esquerda, se certificando de que a garota estava quieta.
Mas, tudo foi muito mal calculado para ambos. Mas, perfeitamente bem calculados para seus lábios —, que se tocaram em um beijo casto.
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