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▬▬▬▬ CHAPTER III.

♪ ︴CHAPTER III:
THE CURSE ARRIVES IN VIENA ─ BY CARRIAGE.
a maldição chega em Vienade carruagem.


Valentine serviu-se de mais uma xícara de chá enquanto tentava imaginar um senhor Normandy mais jovem, frequentando bailes, compondo músicas e regendo orquestras, e assumiu com vergonha para si mesma que essa não era uma tarefa fácil.

── Um pouco mais de chá, senhor? ── ao receber uma imediata negação, ela recolocou o bule sobre a cômoda e bebeu um pequeno gole. ── Perdoe-me a indelicadeza, senhor, mas não há nenhuma pintura de quando o senhor era jovem? Ou de suas irmãs? Eu gostaria tanto de ver!

── Ora, para qual finalidade? Não vai encontrar nada de muito interessante, eu garanto ── Antonin riu. Depois de encarar Valentine por algum tempo, ele cedeu, e apontou para a cômoda. ── Se quer tanto, pegue a caixa preta de madeira que está na terceira gaveta. Tem alguns retratos nela.

Valentine adiantou-se e pegou a caixa, com zelo. Ela era muito bonita com aqueles símbolos dourados em formato espiral, e apesar de um tanto gasta, conservava um ar misterioso, aquele ar digno de todas as caixas que guardam relíquias antigas.
Havia uma fina camada de poeira sobre a caixa; Valentine sentiu-se honrada em retirá-la da tampa e quebrar o lacre que o tempo colocara nas coisas que ali ocultavam-se.

Se para Valentine o simples ato de abrir a caixa foi como libertar um encanto, para Antonin a única magia que emergiu dela foi a das memórias indesejadas, guardadas em forma de objetos. Assim como estes, certas recordações estavam quase que esquecidas, mas ainda presentes, mesmo que subconscientemente.

O cheiro da madeira da caixa o lembrava o de um piano... um piano antigo e usado ── pianos em "meio termo" eram os melhores, em sua opinião. Pianos novos parecem muito insossos, distantes, superficiais. Pianos gastos ao extremo são muito sombrios e pouco eficientes. Mas os pianos que ficam entre esses dois parelelos são únicos, são compreensivos, são dóceis e parecem conter uma alma misteriosa, mas fácil de se desvendar e manejar.

É engraçado como todas as coisas possuem exceções, concluiu Antonin, pensando no grande e velho piano que jazia no meio da sala. Apesar de não ser mais algo que você poderia chamar de novo ou sequer de meio termo, aquele piano não tinha a natureza ranzina que lhe seria cabível; não, ele ainda era doce, passivo e ecompanheiro, apesar de todo o ódio e amargura nele depositados através dos lancinantes olhares de Antonin. Ele ainda esperava e ansiava pelo toque e pela atenção que lhe eram negados à tanto tempo.

── E é este, menina ── Antonin disse, depois de algum tempo de silêncio ──, o motivo pelo qual muitos tentam tocar um instrumento e falham miseravelmente. Para tocar um instrumento, você não tem que se concentrar em aprender apenas suas técnicas e vangloriar-se depois que é um excelente músico. Antes disso, porém, você deve dedicar-se ao instrumento; conhecê-lo, explorá-lo, entendê-lo. Descubra as suas falhas e compense-as com suas qualidades, e depois faça o mesmo processo de forma inversa. Não deixe que o instrumento seja apenas um objeto. Transforme-o em um amigo.

Valentine, que encontrava-se antes entretida com as preciosidades da caixa, agora encarava o senhor Normandy com uma expressão atordoada, mas maravilhada. Como o assunto fora de pinturas para a forma correta de tocar um instrumento, ela jamais entenderia, mas as palavras a encantaram.

── Durante muito tempo, eu não compreendia isso── Antonin prosseguiu. ── Eu considerava o ato de tocar como parte de meu trabalho. Havia aquela boa sensação, obviamente, mas não havia o verdadeiro sentimento. Eu ansiava por executar cada compasso de forma perfeita, para que cada nota saísse sem o mínimo resquício de defeito, e por mais que isso acontecesse, jamais era o suficiente para mim. E foi então que eu me perdi na busca incessante pela perfeição, por ser sempre melhor, por ser mais do que eu era ── Antonin parou para tomar fôlego, com um olhar triste e distante, uma expressão quase comum à ele.

── É muito complexo buscar por algo quando você mesmo está perdido ── ele prosseguiu. ── Você tem que parar, e encontrar a si mesmo. Só que as coisas tendem a ficar ainda mais complexas quando essas duas buscas se fundem; aí você não sabe onde é ponto de partida, nem onde vai ser o ponto de chegada.

Valentine olhou com compaixão para o homem à sua frente, sem saber o que responder. Ficar em silêncio, no entanto, parecia muito insensível.

── Desse jeito, me faz querer aprender a tocar algo, senhor ── ela disse, com um sorriso amável; seu olhar era solidário e amigo. Antonin retribuiu.

── Ora, nunca sentiu-se interessada por algum instrumento, menina?

── Bem... Não tenho certeza... Mas acho que aprecio o violino.

── E você tem mesmo jeito! ── exclamou Antonin. ── Vamos, levante e faça de conta que está segurando um violino.

Assim a jovem fez, depois de hesitar um pouco, e rindo de como aquilo parecia um tanto ridículo. Antonin sorriu, observando-a. Tantas lembranças o inundaram como uma onda do mar que invade e banha a areia; elas se foram, deixando úmidos os olhos dele.

── Realmente, você tem jeito. Deveria investir nisso. Oh, me esqueci completamente: o que encontrou aí?

Valentine voltou a se sentar. Ela pegou uma pintura de tamanho médio ── na qual a beleza de duas adoráveis jovens e um elegante homem estavam eternizadas ── , a desenrolou cuidadosamente e virou-a em direção ao homem.

── Estas aqui são suas irmãs? ── ela perguntou, apontando.

── Sim. A dona dos belos cachos negros é Janinne, e a de cabelos castanhos é Aloysia.

── Ah, são muito bonitas! Este é o senhor, eu presumo ── Valentine apontou para o homem de rosto inexpressivo, que trajava impecáveis roupas pretas. Antonin riu.

── Minha nossa, menina, olhe só para isto! Nem me lembrava de que um dia fui assim. Sinceramente, eu não sei se me orgulho ou se me envergonho.

── Mas o senhor está muito bem! E com todo respeito, ainda continua ── ela brincou.

Enquanto Antonin ria consigo mesmo, encarando
[ aquele ser ridículo, desprezível e desagradável ]
seu eu mais jovem perfeitamente retratado na pintura, Valentine tomava coragem para fazer uma pergunta sobre um determinado tópico que começava a intrigá-la. Depois de repetir a frase dezenas de vezes em sua cabeça para ter certeza de que não seria indecoroso, ela decidiu que faria a interrogação.

── Senhor ── ela começou, cautelosa. ── Não se incomodaria se eu lhe perguntasse uma coisa?

── Esta é uma pergunta que eu só saberei responder depois que você me disser do que se trata ── Antonin respondeu, sério, mas com um ar ainda risonho. ── Além do mais, você acabou de fazer uma pergunta.

Valentine suspirou.

── Eu não quero invadir sua privacidade, então o senhor não precisa me dizer se não quiser, certo? É que eu suponho que, se quer mesmo me contar sua história, precisa me contar tudo... Quero dizer...

── Estou esperando ── ele disse, a interrompendo, suas mãos cruzadas sobre o peito.

── Bem. Eu gostaria de saber de quem se trata esse "ele" que é sempre mencionado pelo senhor.

Não houve resposta em imediata seguida. Antonin continuava a encará-la, sem piscar, estático; e assim ele ficou por algum tempo, até que voltou a falar. Algo havia mudado em seu rosto e em sua voz, como se uma soturna sombra tivesse invadido seu ser.

── Ele. Ele. Quem poderia ser? Só ele poderia ele. Luigi Gottlieb ── Antonin pronunciou o nome com gosto e desgosto, ao mesmo tempo. Fazia tanto, tanto tempo que ele não deixava aquele nome benditamente amaldiçoado escapar por entre seus lábios, respigando ódio e adoração. Cinco letras apenas bastavam para lhe trazer de volta múltiplas sensações, sentimentos e memórias.

Valentine observava o homem à sua frente com atenção e um certo temor que crescia a cada segundo silencioso. Ela odiava e também achava estranhamente fascinante a forma como o senhor Antonin agia como um comum homem de idade avançada, com seu mau humor e suas reclamações sobre todas as coisas possíveis e então, em um piscar de olhos, lá estava aquela expressão assustadora em seu rosto. Aquela expressão que parecia transformar seus olhos em dois grandes e profundos poços, tão vazios, mas tão cheios de algo indescritível. E sempre que ele falava sobre algo que fazia essa expressão surgir em seu rosto, seu foco tornava-se a janela, que de repente parecia ser muito mais atrativa.

A janela do tempo.

Era observando através dela, olhando as ruas ora vazias, ora cheias de pessoas cuidando de suas próprias vidinhas egoístas
[ ou talvez das vidas dos outros ]
que Antonin atravessava as dimensões do tempo e voltava ao passado.

── Gottlieb era um jovem prodígio da música, em minha época ── Antonin continuou, sem encarar Valentine. ── Ele chegou em Viena em meados de 1780, e a partir de então, cada mísero dia de minha vida transformou-se lentamente em um inferno. Maldita seja aquela carruagem que o trouxe, e aquele que a dirigia. Maldito seja ele, e o dia de seu nascimento. Maldito seja.

1780, 23 de março.

Era uma amanhã agradável de quinta feira. A temperatura estava amena, os pássaros cantavam em doce harmonia e os primeiros botões de rosa surgiam timidamente entre a grama e os arbustos, o que indicava o aproximar-se da primavera; ela cuidaria de reavivar e colorir tudo aquilo que o inverno havia desolado e desbotado. Uma brisa fresca passeava entre as árvores, que novamente vestiam-se de verde, e tudo parecia estar finalmente voltando ao normal depois da apreensão trazida pela estação do frio ── nem todos sobreviviam às baixas temperaturas e doenças trazidas por elas. Era um tempo realmente difícil.

Em uma das estradas que levavam até a capital da Áustria, mais precisamente aquela que ligava a cidade italiana de Veneza até Viena, uma carruagem negra e requintada cumpria pacientemente seu trajeto; ela era conduzida por um cocheiro elegante, porém inexpressivo, que nem sequer olhava para os lados. Dentro da carruagem, acomodados em confortáveis assentos, encontravam-se dois passageiros: uma senhora de aparência recatada e um jovem rapaz que não devia ter mais do que dezenove anos.

A referida dama chamava-se Marguerithe Gottlieb. Seu vestido tão negro quanto a carruagem não era deveras suntuoso, porque uma senhora viúva como ela devia portar-se de maneira a não chamar atenção sobre si, demonstrando a dor do luto que lhe atormentava após a morte do marido. Os óculos pequenos que repousavam sobre a ponta do seu nariz a auxiliavam em seu passatempo: ler um certo livro que trazia tantas boas lembranças para ela.

Não sei ao certo especificar o nome do volume, mas sei que era francês, bem como a própria Marguerithe. Ela nascera no sudeste da França, na cidade de Grenoble, e vivera uma infância muito feliz com um pai que possuía uma alma de poeta e uma mãe que cantava como a mais bela e talentosa das fadas. Ah, como Marguerithe sentia falta de correr por entre os campos com seus irmãos e sentir as flores roçarem sua pele juvenil; de apreciar os majestosos alpes franceses; de degustar as delícias que sua mãe preparava e de observar o céu estrelado com seu pai! Ela sentia falta de ser apenas le petite Meg, e não a Signora Gottlieb, sem precisar preocupar-se com todas as tribulações que a vida adulta traz consigo.

É claro que ela não se arrependia de ter casado com aquele belo e elegante músico italiano que passava pela França em uma turnê com seus parentes, mesmo que ele tivesse se mostrado um homem um tanto rígido e austero depois de certo tempo. Giovannie Gottlieb era seu nome, e apesar de o casamento ter sido arranjado por duas famílias amigas e contentes por se reencontrarem, Marguerithe havia o amado com todo o seu coração, independentemente de qualquer coisa. Ele havia mostrado para ela tantas coisas lindas em suas viagens após o casamento, e havia presentado-a com o seu tesouro mais precioso: seu filho, Luigi. Antes dele, outros bebês vieram, mas nenhum deles sobreviveu mais do que alguns dias, e Luigi, mesmo com sua saúde muito delicada e instável, foi o único que escapou das garras da maldição que parecia rodear o ventre de sua mãe.

A verdade precisa ser dita, apesar de tudo, e a verdade nessa história é que Marguerithe contentava-se com o pouco que acreditava ser por ela merecido. Giovannie nunca pretendeu casar-se com ela, bem como jamais conseguiu desenvolver sentimentos por sua própria esposa. Todavia, ele sempre manteve a casa, o casamento e a honra com a fria responsabilidade de estar fazendo seu dever, carregando o fardo que o acordo entre suas famílias lhe impusera. E mesmo assim, cega pela falta de amor próprio e pelos ensinamentos que lhe foram dados em sua juventude, Marguerithe tinha a plena certeza de que não havia homem mais justo do que seu esposo, e que ele fazia muito mais do que devia fazer ── o que estava longe de ser verdade.

Luigi, por sua vez, era uma bênção ainda maior para a senhora Gottlieb. O jovem rapaz tinha um dom musical extraordinário, digno do assombro até mesmo dos mais experientes compositores e músicos. Ela poderia passar o dia inteiro listando as virtudes de seu pequeno menino, aquele que jamais cresceria em sua ilusão maternal, mas as cartas que ela enviava para alguns familiares certamente poderiam resumir seu falatório interminável. "Você precisa ver como Luigi tem apreço por ouvir o pai tocando. Ele larga qualquer coisa que esteja fazendo caso escute um som que lhe agrade", Marguerithe confidenciou à prima Daise Lyon, quando Luigi tinha dois anos.
Em outra carta, enviada um ano mais tarde para sua irmã Lisette, ela relatou uma cena que jamais esqueceu. "Giovannie tocou, em um dia desses, uma música muito melancólica, mas adorável, ao piano. Luigi estava sentado fielmente ao seu lado, como sempre, mas desta vez ele fez algo que jamais o vi fazer. Querida Lisette, aquela criança estava chorando copiosamente, não por algum motivo infantil, mas por pura emoção. Nunca vi ninguém de sua idade fazer aquilo. Ele não emitiu nenhum som que interrompesse o pai ou a melodia, e continuou lá, ouvindo, como se estivesse absorvendo cada nota."

É claro que ela não mencionou a falta de delicadeza do pai ao estar diante de tal cena, afinal, Giovannie estava ocupado, e não podia deixar-se distrair.

Lisette era a irmã favorita de nossa referente dama, bem como sua destinatária mais frequente. Era à ela que os fatos do dia a dia da casa Gottlieb eram confidenciados ── mesmo que eles se resumissem apenas aos curiosos feitos do membro mais jovem da família. Marguerithe jamais assumiria a sua visão sobre a vida que levava: um tanto quanto monótona demais, apesar do ofício do marido. Ora, quem era ela para reclamar? Aquele era seu dever, e ela deveria cumpri-lo sem maiores reclamações.

No fim das contas, por mais demorados que fossem, os anos passaram para Marguerithe e sua família. Luigi cresceu em carisma, inteligência e fama, e seu talento era conhecido em todas as partes da Europa pelas quais suas turnês passaram. Marguerithe, por sua vez, envelheceu, como confidenciavam as rugas em seu rosto, e suas curvas tornaram-se muitíssimo menos notáveis. Seu marido também sofreu as consequências do tempo, e ganhou olheiras por baixo dos olhos respeitáveis, além de um belo bocado de fios grisalhos.

Fios grisalhos. Fios grisalhos que não cresceriam mais. Fios grisalhos que não poderiam mais ser tocados. Fios grisalhos que Marguerithe nunca mais poderia ajudar a arrumar antes que o dono deles iniciasse um concerto ao piano. Fios grisalhos que agora estavam enterrados abaixo de muitos palmos de terra.

Oh, maldita noite ── pensava a viúva, encarcerada em seu vestido preto ── em que o coração de seu querido homem parou de bater, sem maiores explicações ou precedências.
Maldita e fria noite que levara consigo seu esposo para sempre!

O que seria dela, a partir agora?

Marguerithe lembrou do enterro de Giovannie, aquele dia frio onde metade de seu coração se fora junto ao corpo daquele com quem dividira o leito durante tanto tempo. Oh, dia cruel!

Com um arrepio, ela reassistiu em sua mente o corpo de seu marido ser enterrado; e com um calafrio, ela recordou-se do estranho olhar que Luigi portava naquele dia: havia uma espécie de brilho apático e pacífico em seus olhos. Marguerithe não entendia.

É claro que Giovannie havia sido um pai severo,
[ ela não mencionaria as intrigantes e inúmeras, inúmeras vezes em que pai e filho trancavam-se no gabinete após uma discussão, nem o puro terror que gritava nos trêmulos olhos de Luigi antes e após sua entrada no aposento]
mas sentir alívio ao ver seu progenitor ser levado para sempre de seu convívio? Aquilo era incompreensível para a sua mente.

Os meses arrastaram-se lentamente para a senhora viúva, que tentava superar a perda de seu homem. E as coisas estavam assim até que, em um dia qualquer, Luigi sentou-se perto de sua mãe ── com um sorriso eloquente ── e disse simplesmente "E se nos mudássemos para Viena? "

Um firme não foi lhe respondido, mas ainda estava para nascer alguém com tamanha determinação quanto Luigi Giovannie Gottlieb. E em seguida, uma cascata de argumentos banhou Marguerithe de indecisão ── "Viena, a cidade da música! Pense nas infinitas oportunidades, mama!", "O tio Arnaud mora lá, mama. Estaremos perto de parentes. A prima Elize também mora lá, e sabe como ela nos quer bem!", " Uma mudança de cidade fará bem à sua cabeça", entre tantos outros.

No fim, ele a convenceu. Aquela grande casa e aquela pequena cidade não tinham mais o mesmo brilho que antes, e seu pequeno músico precisava de novos ares ── e ela também.

E agora ali estavam ambos, em uma viagem quase que interminável ao seu ver ( mesmo que incontáveis paradas já tivessem sido feitas ), chegando perto de uma possível nova vida.

O que atormentava Marguerithe era o fato de que a sugestão de morar em Viena já havia sido feita dentro da casa Gottlieb, e Giovannie, ainda em vida, havia respondido-a com uma negativa completamente inflexível, afinal, seu único irmão com quem ele era intrigado a bons anos morava lá. Então, tudo o que houve foi um não repetido por três vezes, com uma elevação significativa no tom da voz em cada uma. Luigi havia ficado terrivelmente chateado, ela lembrava, e, dirigindo-se ao quarto, bateu a porta com força. Giovannie levantou-se da cadeira, lentamente── com um olhar sombriamente calmo ── e caminhou pelo corredor até o quarto do filho. Ele fechou a porta com cautela, por sua vez.

Ela não soube e também não teve coragem de perguntar o que acontecera em seguida.

É claro que, retendo agora os poderes que seu falecido marido possuía dentro da pequena família, Marguerithe deveria ter mantido a decisão, em seu nome. Mas ele entenderia, ela imaginava. Diante de tal situação, sozinha em uma cidade sem parentes, mãe de um músico prodígio que precisava voar pelo mundo... ah, ela não poderia continuar vivendo dentro da prisão que se tornara a pequena cidade italiana onde eles moravam. Além disso, Marguerithe não tinha forças suficientes para negar um pedido à aquela adorável criatura que naquele momento estava sentada ao seu lado, com uma prancheta em seu colo, sobre a qual o rascunho de alguma nova composição repousava. Seu olhar, porém, estava perdido em algum lugar aleatório.

Luigi Gottlieb não se lembrava de nenhuma situação na qual ele ee encontrasse tão ansioso como aquela. Nem quando decidiu mostrar ao seu pai a sua primeira composição, quando tinha quatro anos. Ou quando dera seu primeiro concerto, aos cinco; tampouco quando embarcou em sua primeira turnê pela Europa. E ele lembrava-se bem daquele grande evento, muito mais do que o suficiente para reviver cada momento e ter certeza de que suas mãos jamais suaram tanto ou de que seu coração nunca estivera tão acelerado.

Não era como se ele não gostasse de viajar até outras cidades e até outros países; na verdade, ele estava muito bem acostumado com as carruagens apertadas e abafadas, e as longas estradas que ele precisava percorrer dentro delas. Mas essa viagem em especial estava levando Luigi e sua mãe até uma nova vida, , não à uma leve visita em trabalho.

Luigi não conhecia Viena suficientemente bem para sentir-se mais seguro. Ele tinha ido lá apenas um vez, aos seis anos. E existe uma grande diferença entre visitar uma cidade e morar em uma cidade; Luigi tinha medo da possível rejeição que suas obras um tanto ousadas poderiam causar. E não era por causa das críticasㅡ ele não se importava nem um pouco com críticas, eram apenas palavras ao vento para ele. Luigi preocupava-se mesmo com o dinheiro para manter à ele e sua mãe; apesar de saber que ambos iriam passar algum tempo na casa de seu tio Arnaud, Luigi não queria depender dele por muito tempo. Odiava dependência.

Quando ele era conhecido como o "menino prodígio de San Candido" uma cidade ao leste da Itália, ah, as coisas eram mais fáceis; as preocupações eram mínimas. Seus discretos, mas mexeriqueiros habitantes contribuiram para que sua fama se espalhasse rapidamente; todas as famílias de San Candido se conheciam, e em rodas de conversas ou até cartas com familiares que moravam em outros localidades mais distantes, Luigi era mencionado. Em todo lugar, o garotinho era muito bem recebido e pago por seus adoráveis concertos, o que causava a alegria de seu pai Giovannie e uma boa ajuda financeira para sua família.

Claro, haviam as dificuldades e os lados negativos de uma fama precoce. Giovannie era um homem extremamente severo e rígido
[ haviam certas palavras que poderiam descrevê-lo melhor na visão atual de Luigi, palavras que certamente não podem ser publicadas ]
que não tolerava brincadeiras e distrações no horário designado para o estudo, para o treino e para as apresentações em geral. E essa era a questão que girava de modo intermitente na cabeça infantil do menino: "qual era o momento para para brincadeiras e distrações?" Afinal, eles passavam o dia todo, todos os dias, praticando, compondo e conversando exclusivamente sobre música.

Às vezes, Luigi agradecia incoerentemente por ter uma saúde muito delicada, que lhe rendia longos períodos em que ele precisava ficar de cama: essas eram as únicas ocasiões em que ele podia descansar e tirar uma folga de sua rotina diária. Com sorte, ele até conseguia brincar com seus amigos que moravam nas casas ao lado, sentindo-se incrivelmente feliz por poder viver como uma criança comum, mesmo que somente por algumas horas.

Também haviam os malefícios das viagens que eles realizavam: os imprevistos como uma carruagem quebrada, uma estrada cheia de buracos, e os dias chuvosos demais ou quentes demais. Além disso, haviam as "doenças de estrada", que era a forma como Giovannie nomeava as epidemias localizadas nas cidades onde eles passavam, e que sempre afetavam o roteiro das turnês.

Mas o pior de tudo, para Luigi, era com certeza a saudade de sua mãe, Marguerithe. Também ela tinha uma saúde frágil, e quase nunca podia os acompanhar pelas turnês. Ela sempre ficava em casa, cuidando de algum bebê que posteriormente vinha a falecer antes de seu primeiro ano de vida.

Marguerithe e Giovannie tiveram sete filhos ao todo, mas apenas Luigi sobreviveu às péssimas condições de vida da época.

Apesar de tudo, Luigi sempre levou a vida com otimismo e leveza. Não era como se fosse uma forma encontrada para fugir dos problemas; era natural. "Sempre há uma saída, um lado bom nas coisas", esse era o seu lema, desde que ele era pequeno. E talvez fosse por isso que, apesar de toda a ansiedade, Luigi estivesse incrivelmente animado e confiante em sua nova vida, mesmo carregando dentro de seu coração uma sombra tão pesada e cruel, e o medo de acabar sucumbindo a ela.

Deixar aquela casa e aquela cidade era como estar libertando-se de tantas coisas ruins, e ao mesmo de muitas coisas boas.

Luigi suspirou, sentindo uma sensação parecida a acordar de um sono profundo depois de sair daquele túnel de pensamentos e memórias. Ele olhou para o rascunho de uma composição em seu colo ─ "sonata no. 10, all'imperatore". Ele pretendia presentear o imperador Leopold II com ela; um ato um tanto audacioso, mas é preciso ser ousado quando se quer viver neste mundo astuto. Com sorte, Luigi ganharia a graça do imperador, e obtendo-a, seus caminhos estariam abertos em Viena. Sua mini turnê durante a viagem de San Candido até Viena também não havia sido apenas um pretexto para que ele e sua mãe não seguissem caminho direto, sem paradas: se sua fama chegasse até os ouvidos de Leopold, Luigi não seria um mero músico desconhecido e sem precedentes.

Pequenos detalhes que fazem toda a diferença em uma sociedade entediante e cheia de distinções e desigualdades, Luigi pensou.

Mexendo-se um pouco para tentar mudar a posição das pernas, que formigavam, o rapaz olhou para a janela, buscando um pouco de ar fresco e tentando afastar os maus pensamentos; pensar muito não era de seu feitio. Quando isso acontecia, ele estava triste, ou peturbado com algo. E é claro que ele não estava triste, oras! Ele iria para Áustria, para Viena afinal, a cidade da música!

Luigi colocou a cabeça para fora da carruagem, através da janela. Seus olhos brilhavam, e seu sorriso irradiava um entusiasmo digno de uma criança cujo coração ainda não fora corrompido pela vida.

── Estou chegando ── ele disse, sem nenhum motivo particular, e riu.

── Gottlieb era uma grande mistura de nacionalidades. Ele nasceu na França, durante uma turnê de seu pai, e cresceu na Itália. Ele era filho de uma mãe francesa e um pai italiano que tinha raízes austríacas. Mas se quer saber, menina, para mim Luigi não veio de uma cidade no leste da Itália, nem da França. Ele veio do céu. Ele veio do inferno.

💬MEU DEUS EU TERMINEI ESSE CAPÍTULO.
Eu tô muito feliz em estar postando ele, e ao mesmo tempo não muito satisfeita com o resultado, porque achei que ficou meio confuso. Qual é a opinião de vocês? Me contem tudo, teorias, coisas que vocês ficaram em dúvida, fancasts; estou morrendo de saudade de ver os comentários de vocês!

💬nesse capítulo eu tentei introduzir da melhor forma o Luigi e a sua história meio confusa. eu deixei nas entrelinhas alguns detalhes que serão abordados mais em breve e serão muito importantes para a história, vocês têm alguma ideia do que seja?

💬uma dúvida, quem aqui gostaria de ser marcado nos novos capítulos ou de receber uma mensagem no pv/mural? o wattpad é uma porcaria para notificar; quem quiser, me avise!!

💬não se esqueçam de deixar um voto e comentar, isso é muito importante pra mim. mil desculpas pela demora e até breve <3

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