🖋️ • Lá
Não sei porque às vezes me cobro tanto. Meus pais nunca me cobraram notas excelentes, nem atitudes extremamente corretas. Pelo contrário; contanto que eu passasse de ano e não dissesse palavrões na mesa de jantar, tudo estava bem. Desde criança, tudo o que fiz sempre foi perfeito e não precisava de cobrança alguma. Eu gostava da admiração. Supria minha falta de habilidades extras ao ser incrível em tudo o que me propunha academicamente.
Quando comecei a escrever histórias, entretanto, passei a ter algo só meu. Algo em que podia focar tudo o que tinha de melhor, e criar um pedaço perfeito para me elevar acima dos outros. Era ótimo observar a reação das pessoas quando descobriam que uma criança escrevia contos e cartas de forma tão bonitinha.
Com o passar das idades, o "bonitinha" passou a ser bonito, correto, bem escrito, criativo e elegante. Os adjetivos iam mudando conforme eu me aperfeiçoava aqui e ali. Quando meu pai morreu, entretanto, uma tia distante formada em literatura que leu um dos meus livros me mandou uma mensagem, e pela primeira vez fui descrita como "crua". Tentei digerir se isso era bom ou ruim, e como não aceito determinadas críticas, preferi interpretar que era bom. Impossível não ser bom. Os detalhes dos parágrafos eram perfeitos, as características, as descrições; tudo. Procuro fazer com que meus leitores consigam escutar a voz de cada personagem, sem nenhuma ser igual.
— Não aceito imperfeição na minha arte — eu disse.
Então pela trigésima vez naquela consulta, a psicóloga fez uma careta como se não entendesse. Uma mulher uns dez anos mais velha que eu, que por indicação de Bruna, agora devia me suportar por um tempo. Eu já havia feito terapia antes, e sempre fingia melhorar para ganhar alta logo. Entretanto, nunca melhorei. Tinha preguiça em ficar melhor, minha imagem é um pouco feia de encarar.
Uma escrita dura e crua precisa da alma de um escritor meio morto. Se eu meio viver, posso continuar a escrever. Mas se estiver sempre viva, tudo fica florido demais. A escrita, a arte, o domínio do que se pode criar e do que já foi criado não são coisas que impactam quando tudo é vivo demais.
— Você me disse que seus pais nunca te cobraram para nada — disse Evi, olhando para mim.
— Sim, eu disse.
— Então você mesma gosta de se ver perfeita?
— Sim, eu gosto — suspirei.
— Mas e quando comete algum erro na sua... — ela checou a prancheta de anotações — arte? Você se sente mal?
— Erros? — sorri. — Não cometo erros. Planejo tudo antes de começar. Até mesmo as ideias mais avulsas são planejadas. — ou a maioria, antes que tudo crie vida pra fora de mim.
— Me conta um pouco sobre isso, esse processo — ela sorriu gentil. — Como é pra você criar um personagem, ou uma história? Me conte sobre seu livro favorito.
— E uma mãe tem filho favorito, Evi? — eu sorri. — Não sei se tenho, não. Mas cheguei perto de ter algumas vezes. Tem meses que é fácil, e tem meses que é difícil criar. Os que vem muito fácil eu não me impressiono; eles viriam uma hora ou outra. Mas os que me dão trabalho, dor de cabeça... esses eu gosto. Me fazem pensar se sirvo pra escrever mesmo, e eu nunca recusei o desafio. Escrevi tantos assim; com uma dificuldade horrorosa. Mas os escrevi, ainda aproveitando o gosto, de gole em gole, dos dois parágrafos diários que conseguia escrever até estar concluído. — Pensei, olhando para um vaso de flor única na mesa de centro da sala. — Tive muito prazer em escrever Ponto Nemo. — Evi não anotava nada, só olhava pra mim.
— Ponto Nemo? Aquele ponto mais isolado do mundo?
— É.
— É um livro sobre solidão?
— Não. É sobre querer tanto ser alguém que importe que você não sabe por onde começar. O mundo parece grande demais para o primeiro passo, e o oceano tá muito cheio pra conseguir fazer outra coisa senão boiar sem rumo nenhum.
— Oceano cheio? — ela me olhou com um cuidado precioso, antes de levar a mão para o peito, no lugar do coração. — Você diz oceano com a mão aqui. Seu oceano está cheio, Cecília? Você se sente boiar?
Olhei pra ela, e depois para os meus dedos. Para meus sapatos altos e então para o teto.
— Não sei boiar.
— Então está se afogando?
Já me afoguei faz tempo, em minha própria hipocrisia. Mas ressurjo deste pensamento, e tudo que consigo responder embaralha palavras verdadeiras, e mudo de assunto antes que pudesse querer dissertar.
— Mas também gosto muito de escrever fantasia. Uma vez escrevi sobre uma montadora de pégasus que começou uma guerra em um continente bem distante...
♬
Meu escritório raramente ficava tão bagunçado. Cheirava bem e estava limpo, mas extremamente desorganizado. Os post its estavam em todo lugar; digitar no computador não acalmava meus dedos e nem me fazia parar de tremer. A mão doía, o dedo calejado onde eu apoio a caneta ao escrever também estava ardendo, mas não podia parar. Sentia, na verdade, que havia acabado de começar a escrever algo incrível.
E feio. Incrível e muito feio.
Nunca criei nada tão sem ordem, sem rima, sem sentido. Alguns post its só continham uma palavra; outros, uma frase inteira. Alguns aqui e lá tinham tanta coisa misturada que eu não conseguia nem interpretar.
Mas todos vinham de mim. Eu não queria achá-los feios, porque sabia que estavam vindo de algum lugar esquisito e que nunca fora cutucado. É como se meu inconsciente perguntasse quem o atormentava à essa hora, tão tarde depois de uma vida inteira calado; já não queria mais despertar.
Eu me forçava a criar, a fazer disso uma realidade. Nem poemas estavam sendo mais. Tudo era apenas sentimento; frio e quente, feio e bonito, sangrando e cicatrizado. Mas todos, bagunçados ou não, tinham o cheiro dele. Invadindo minha arte, me tirando do meu trono e roubando-me de meus personagens principais. Queria eu ter poder de controle novamente, de poder ditar em que parágrafo ele aparece ou deixa de aparecer, mas simplesmente não posso. Jimin já se instalou como uma gripe, e meus espirros de palavras imbecis já não eram mais meus.
"Coisinha irritante que sussurra bonito demais."
"Como explicar para uma criança que quatro tiros não podem a impedir de viver?"
"Sua alma dança com a minha em uma nudez de espírito abundante. Quero dançar com ele."
Por quê eu o conheci? Seria bem melhor para o histórico amplo dele na vida ter sido interpretado por outro autor que não eu. Eu, se não o tivesse conhecido, seria grata sem saber ser. Como coloco a imagem de um menino lindo em palavras tão feias, tão absurdamente bagunçadas e sem sentido? O que é tudo isso? Por que quando o escrevo, sinto que ele vai sair do papel e vir sorrir pra mim fisicamente? É muita imaginação ou somente um grande querer?
O que é a inspiração senão um monte de querer-ser-real que não acaba nunca?
Ele teria sido mais bonito nos dedos de outra pessoa. Infinitamente. Mas me corrói por dentro essa verdade, e eu não a aceito. Me obrigo a encaixá-lo na minha bagunça. Ele poderia se tornar um personagem bonito nos livros e parágrafos de qualquer outro jornalista ou escritor inferior a mim. Mas jamais seria tão real quanto ele é ao ser escrito pelos meus dedos. Faço minhas palavras terem o cheiro de Park Jimin, e amaldiçoo qualquer um que ouse retirá-lo.
Sentia meus dedos tocando o papel como se fosse a pele dele. Quase o venerava. Uma sede inaceitável de viver como nunca vivi, de escrever como nunca escrevi. Me sentia capaz de fazer qualquer coisa, mas ao mesmo tempo, incapaz de tanto. Coloquei mais força na caneta.
"Quero que ele leia meus lábios como eu leio os dele."
Quero?
Só quero ou já sinto por antecedência?
Quase como um fantasma traiçoeiro, sua presença me assombra de dia e de noite, e eu não quero fugir. Quero que ele me absorva. Quero dividir com ele uma refeição e fazê-lo rir como fiz antes. Quase nunca faço alguém rir, mas ele ri pra mim. Uma bênção, uma música da qual não temo.
Quero ouvi-la de novo.
Deixei a caneta, peguei o celular. Enviei um "Janta aqui em casa hoje?" antes que pudesse frear o pensamento.
E continuei a calejar o dedo.
♬
— Sabe de uma coisa? — Jimin me serviu outra taça de vinho, e deixou a garrafa na mesa de centro antes de se acomodar ao meu lado novamente, as costas apoiadas no sofá e nós dois sentados no tapete da minha sala, onde fomos parar após o jantar. — Por algum motivo, senti que conhecia sua casa antes de entrar. Têm você em todo canto — ele olhou para os quadros avulsos de paisagens e pessoas na parede. — É como se eu estivesse lendo seu livro de novo.
— Eu sei. É um pouco desorganizado aqui e ali, mas eu gosto dos... — parei. Encarei ele, aquele rosto levemente corado e com olhar tranquilo me observando de volta. — Você leu algum livro meu?
— Claro que eu li — ele riu baixinho. — Estava indo ensaiar semana passada, e a livraria uma quadra antes do teatro abriu mais cedo. Colocaram na vitrine, seu nome brilhando mais que o título do livro. Comprei naquela manhã, na outra eu já havia terminado.
Meu coração errou uma batida.
— Qual deles?
— "Desaguar" — Ele disse, e eu imediatamente deixei de estar ali fisicamente. A voz dele, leve, suave, sussurrando o nome de um dos meus mundos era a mais profunda crise de realidade que eu poderia enfrentar. Que coisa linda, ser lida por quem eu leio.
— Você... você gostou?
— Tanto — ele me felicitou sorrindo novamente. — Gostei de como Alice é tão calma e, ainda assim, tão firme com a vida. Firme sem ser cruel. Isso é raro. — Ele riu sem graça, olhando para suas mãos segurando a taça. — Eu queria ser calmo como ela. Saber olhar os percursos que sei que tenho que enfrentar sem me castigar por antecipação.
— Eu também queria — confessei. — Alice é como... como eu queria me ver às vezes.
— Eu vejo ela em você — franzi o cenho com as palavras dele. — Essa firmeza no ser, no falar. Um cuidado tão grande em cada passo. Mas ainda assim, tão livre.
Ele me achava livre? Seria tão bom ser. Mas sigo sendo uma escrava hipócrita e medrosa, que escreve personagens que a humilhariam na vida real. Mas Jimin tomou fôlego e continuou:
— Foi como se você tivesse me concedido uma honra — seu semblante não estava sério, apenas olhava para o tapete fixamente, focado, as lembranças o invadindo aos poucos. — Eu não sou um leitor nato, você sabe. Mas ler o que você escreveu ali, Cecília... — ele batucou os dedos na taça. — Foi como se eu tivesse voltado pra casa, depois de muito tempo longe.
Me olhou de novo. Bem no fundo dos meus olhos. Mas não queria que ele olhasse, porque sabia que eu estava quase chorando. Segurei firme, e mesmo com minha força, a garganta doeu. Consegui segurar as lágrimas antes que escorressem.
— Obrigada — sussurrei.
Ele encostou a cabeça no sofá, mas sem tirar os olhos de mim. — De onde vem tudo isso? Como você me abraça sem me tocar? É um poder? É telepatia, Cecília? — Ele brincou, mas estava falando sério. Meu estômago se revirou em uma ansiedade feliz.
— No fundo eu só... tento escrever coisas tão simples. Simplicidade é tão difícil pra mim. Acho que é tão difícil, que corro aqui pra dentro — coloquei a mão no meu peito — e procuro o que falta. Da última vez que olhei, faltava você.
Olhei pra ele, sentindo meu rosto inteiro queimar. Mas ele sustentou meu olhar, devolvendo com doçura minha transgressão. — Digo... faltava um personagem como você. Só isso. — Corrigi instantaneamente, mesmo sabendo que era tarde demais.
— Que bom que me achou — ele falou, baixinho. — Porque acho que estava esse tempo inteiro esperando você me encontrar.
Eu nunca me apaixonei por ninguém da vida real. Só pessoas fictícias. E me permiti sentir, porque senão nunca saberia escrever sobre isso. Olhar Jimin, em carne e osso, tê-lo presente, ouvir sua respiração e escutar sua voz... tudo era tanta novidade.
Não sou estúpida. Sei reconhecer que ele se tornou muito mais que um personagem desde que o vi dançar naquele teatro. Sei que seu nome ecoando na minha cabeça dia e noite e essa vontade de tocá-lo sem tocar são uma obsessão silenciosa. Mas admitir, tomar um passo, garantir que isso é de verdade mesmo e jamais deixará de ser é difícil.
Não sei reagir a essa parte. Só sentir — e sinto. Nas pontas formigantes dos meus dedos, no suor de ansiedade nas palmas das mãos, na leveza de borboletas pousando nos meus ombros e nessa falta de palavras que jamais imaginei ter. Sempre falei e escrevi tanto. Como não saber escrever o turbilhão que me toma?
Nós mergulhamos em uma companhia gostosa e seguimos a noite sendo amantes das nossas conversas. Eu gosto de estar com ele, e de rir com ele e de falar com ele. Não fico me freando nas palavras, nem seguro o jeito que minha risada irá sair. Não sinto necessidade de pregar minha confiança; só deixá-la de lado um pouco. Ser vulnerável, só um pouquinho. É tão cansativo erguer muros a vida inteira.
Que linda a folha dessa planta, tão diferente. Disse ele. Eu sei! A amei desde o primeiro instante, comprei meu sofá pra combinar com ela. Jura? Comprou o sofá pra que combinasse com sua planta? Ele riu. Juro! E depois também comprei a televisão para que pudesse assistir do sofá. Você não tinha televisão antes? Não, mal uso. Hoje em dia só deixo na tela de descanso para passar aquelas fotos de paisagens bonitas. Qual sua preferida? Das paisagens? Sim, qual delas você gosta mais? Ahm... acho que do Saara. A areia é tão bonita. Olha, olha! Essa foto aqui é do Brasil, minha mãe vem de lá. Que linda. Não é? Jimin concordou com a cabeça. Ei, posso te perguntar uma coisa? Pode, qualquer coisa. Vou ter um ensaio novo nesta sexta-feira. Quer assistir? É meio bagunçado e tudo... mas- Eu vou! Fiz questão de sorrir. Vou sim, claro. Vou amar ir. Ele sorriu de novo. Então vou ter que ensaiar como se já estivesse apresentando, pra você achar que sou esforçado. E rimos de novo.
A maldita da hora passou num fio. Mas minhas muralhas ainda estavam abaixadas quando fomos parar na minha sacada, observando a vida noturna lá fora.
— Cecília?
— Sim?
— Você sente falta? De poder ouvir? — Ele perguntou.
— Ouvir livremente?
— Sim.
— Às vezes sim — fui sincera. — É meio solitário. Sinto falta de ouvir as músicas do meu pai.
— Seu pai cantava?
— Cantava — sorri, olhando pra cidade e além dela. — Mas não era um cantor, ele só... só cantava pra mim. Pra me ensinar as notas do violão.
— Você toca violão? — Olhei pra ele com um sorriso genuíno.
— Hoje em dia já esqueci. Mas uma música ou outra... — Fechei os olhos, me forçando a imaginar as casas e as notas. — Me lembro tão bem de como as notas soam que quase sinto o gosto do som na língua.
Eu sentia seu olhar atento em mim. Um entendimento mútuo de dor que vinha desde a medula óssea até a pele do nariz, essa pressão no meio entre os seios de estar prestes a abrir uma porta que estava trancada a vida toda.
— Eu sinto muito pelo seu pai, e por não poder mais ouvir como antes. Não deve ser fácil amar tanto alguma coisa e... — ele parou de falar, como se estivesse pisando em ovos pra descrever.
— Amar tanto alguma coisa, estar ao alcance e mesmo assim não poder fazer. Eu sei. — Sorri pra que ele se sentisse confortável.
— Deve doer muito.
Na verdade, não. Não doía fisicamente. O que Jimin acreditava ser sensibilidade era uma faca que cortava um pouco mais profundamente. Ia no emocional e me balançava até vomitar. Mas permaneci naquela mentira que era um pouco verdadeira, e concordei com a cabeça.
— Dói, sim — suspirei.
— Eu tenho medo — ele disse um pouco baixo e sem emoção, as palavras vindo de seu âmago. — De quando tudo acabar e não tiver mais nada ao alcance que eu possa fazer pra ouvir. Medo de perder a única coisa que sei fazer. Mas ao mesmo tempo, estou tentando me virar. Aproveitar cada segundo antes que esses resquícios virem poeira.
— Sinto muito por isso — falei, de coração.
— Eu também. Quer trocar? Eu escuto por você — ele brincou.
Eu gargalhei mediante à tristeza.
— Quero! Por favor — sorri pra ele. — Jimin?
— Hm? — Voltou os olhos bonitos pra mim.
— Ver você dançar me lembrou, depois de muitos anos, como a música é. Te ouvi sem ouvir. Não fique com medo de perder sua arte no futuro, você já se transformou nela há muito tempo. Não vai perdê-la.
Ele segurou minha mão, que estava apoiada na mureta da sacada. Segurou, como quem segura uma pérola, e beijou. Suave, com carinho, beijou as costas da minha mão. Então, a trouxe para seu peito, quase guardando-a ali com um carinho de quebrar o coração.
Não disse mais nada. Eu sabia o que seu gesto significava. Sabia, porque sentia também.
Deixei meu corpo se aconchegar mais para perto dele, até que sua mão suavemente pousou na minha nuca e me trouxe para perto, onde seus lábios encontraram minha testa.
— Dança comigo?
— Danço. — Sorri, sentindo o vento forte lá fora soprar meu cabelo.
Meu corpo, perto do dele, como quem já esteve naquela posição antes. Minhas mãos em seus ombros e as mãos dele na minha cintura, e prosseguimos a dança. Uma valsa lenta, somente o vento sendo nossa música, e o cheiro de uma chuva próxima inundando todos os cantos daquela rua.
Ri quando quase pisei em seu pé e ele riu quando esbarramos em um dos vasos de plantas que estavam ali, mas não paramos a dança. Senti genuína vontade de mostrar-lhe a bagunça que estava no meu escritório; único canto da casa onde não era possível ter algo meu. Tudo lá gritava ele, os poros da minha pele gritavam Park Jimin.
Não me sentia tão viva desde a última vez em que toquei violão.
— Posso te beijar? — perguntei, com o coração aberto.
— Por favor — ele sorriu, e então colou os lábios nos meus, trazendo aquele calor de dentro para fora e inundando qualquer letra que eu fosse capaz de fazer ressurgir.
Jimin tinha razão. Era como voltar para casa depois de muito, muito tempo.
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