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CHAPTER XXII: Legends Never Die | Parte I

| E S M E |
Suíça, Outubro de 1999

UMA BRUXA DA NATUREZA JAMAIS DEVE TER MEDO, mesmo na floresta mais sombria, pois há de carregar em sua alma, a certeza de que a criatura mais temível ali, é ela. Por não conseguir dormir, era exatamente no meio de uma floresta sombria onde Esme se encontrava às doze da madrugada. Vestindo apenas uma camisola branca — tão longa que descia ao nível dos calcanhares —, ela rodopiava graciosamente em meio à escuridão tenebrosa de uma floresta nas proximidades da pequena cidade de Zermatt. De pés descalços e espírito livre, ela dançava ao ritmo da natureza, sentindo a brisa fria daquela noite de outono bagunçar seus sedosos cabelos dourados.

Esme experienciou a floresta a acolhendo, as árvores admirando sua beleza, o vento frio sussurrando o quanto a desejava… Como qualquer outra Bruxa da Natureza, sentia-se incrivelmente mais poderosa naquele ambiente. Ela correu a passos leves até uma pequena clareira gramada, não muito distante da casa de seu Coven, onde pôde ter uma ótima visão da bela lua dourada brilhando imponentemente no céu aberto. Sentindo os poderes pulsando forte dentro si, ergueu o rosto na direção da luz e fechou os olhos.

Os raios lunares banharam seu corpo com uma sensação revitalizadora, e curvando os lábios em um sorriso ameno, ela se entregou. Seus pés deixaram de tocar o chão e a Melius flutuou lentamente de encontro ao céu. Uma nuvem de vagalumes pairou ao redor de si enquanto, de braços abertos, como uma criança sendo aninhada, sentiu a mãe Natureza lhe acalentar.

Momentaneamente, ela conseguiu clarear os pensamentos. Esqueceu do tempo, do passado, e da pequena discussão que tivera com sua irmã, Genevieve, há poucas horas. O universo parecia tão tranquilo e aconchegante, como se a luz do luar houvesse expelido todos os males para o núcleo da terra. Foi quando ouviu a primeira explosão.

O estrondo pavoroso, vindo da direção da casa, lhe fez perder a concentração. A grama fofa amorteceu sua queda, mas não o suficiente para evitar uma dor aguda no quadril. A garota correu disparadamente pela floresta sombria, até que um segundo estouro ecoou através da infinitude silenciosa daquela noite. Aquilo era um loop, uma fenda temporal isolada no meio de uma zona rural, onde nenhum ruído do mundo exterior poderia ser audível. Esme sabia exatamente o que as explosões significavam: White Star.

Ainda em meio às árvores, conseguiu um vago vislumbre do velho lar do Coven Leona, agora em chamas, cercado por inúmeros veículos escuros com uma estrela branca estampada na lataria. Esme Não ficou parada por muito tempo, rapidamente correndo rumo à saída de emergência subterrânea em uma área da floresta à esquerda da casa. Havia tropas tentando invadir a grande moradia de tijolos, mas falhando miseravelmente devido à espessa camada de gelo que naquele momento começava a engolir a casa com uma velocidade sobrenatural. Madame Luna, Esme pensou, e não pôde conter um sorriso de alívio.

O fogo se apagou por um momento, até uma troada ensurdecedora anunciar a explosão da terceira bomba. Ainda camuflada pela floresta, Esme conseguiu chegar à porta dupla do subterrâneo. Ela levantou uma das mãos, prestes a usar os poderes para abrí-la à força, mas se conteve quando alguém o fez pelo lado de dentro. Um rosto conhecido surgiu em meio à penumbra do túnel. 

Esme?

Andrew Bowie se surpreendeu ao deparar-se com a Bruxa da Natureza. Ele estava acompanhado por seis das sete crianças com menos de quinze anos que faziam parte do Coven Leona. Seu pijama azul, agora sujo de terra e fuligem, parecia também possuir vestígios de neve. O curto cabelo espetado agora encontrava-se desarrumado, e sua pele negra refletia suavemente o brilho da chama que resplandecia na palma da mão erguida.

— Você está bem?

Esme inquiriu ao notar o licor escarlate que manchava a manga esquerda do pijama da Bruxa da Carne.

— Sim, por enquanto. — A chama desapareceu em sua mão ao subir alguns degraus. Com o outro braço, ele carregava uma das crianças. — Agora preciso que você os leve para um lugar seguro.

— O quê?

— Tenho que voltar. Madame Luna não vai conseguir contê-los por muito tempo.

— Onde está Genevieve? 

— Não sei. Acho que a primeira granada atingiu seu quarto.

Sem pensar duas vezes, Esme agilmente se colocou a descer a escada de pedra, mas Andrew imediatamente agarrou seu antebraço com a mão livre, a qual ainda emanava um calor intenso.

— O que pensa que está fazendo? — Andrew questionou-a com rispidez.

— Escute com atenção. — O tom de Esme soou ainda mais duro. — Você sabe como usar o transportador. Leve as crianças para Coven Celeste e mande ajuda imediatamente. Não temos muito tempo até que White Star solte os caçadores. Você entendeu? Celeste!

Ela se desvencilhou de sua mão e desceu o resto dos degraus, passando por entre os jovens Melius apavorados até pousar os pés sobre o chão frio de pedra polida das primícias do túnel subterrâneo.

Celeste?! — Andrew irritou-se. — Esse Coven fica na América!

— Confie em mim! Nosso tempo está se esgotando. 

— Esme, você é uma Bruxa da Natureza! — ele esbravejou, fazendo o garotinho em seus braços começar um choro abafado. — Sabe que não é da classe certa para enfrentar esses caras!

— Sei, mas isso não vai me impedir de tentar.

Ela disparou pelo subterrâneo que se estendia em linha reta sob o extenso prado esverdeado que separava a moradia da floresta. À medida que corria, mentalmente fazia as antigas velas nas paredes acenderem-se uma a uma, iluminando o caminho para os próximos a passarem por ali.

Quando por fim alcançou o final do túnel, colocando-se sob o alçapão que daria acesso à casa, foi obrigada a usar seus dons para conseguir abrí-lo, visto que uma densa camada de neve impedia que fosse movido manualmente. Esme sentiu o impacto da baixa temperatura no segundo em que pisou sobre a neve fofa que se multiplicava gradativamente, e nem sua longa camisola de mangas cumpridas foi capaz de aquecê-la o suficiente. As paredes mostraram-se revestidas por uma espessa camada de gelo maciço, o que deixava o ambiente levemente imerso em um fulgor azulado.

Encontrou sua Mater, Madame Luna, em posição de meditação sobre a mesinha de centro entre o sofá e a lareira. Abriu a boca para chamá-la, mas uma mão imediatamente a impediu de expelir as palavras. Esme foi surpreendida quando a Pérola de Madame Luna tapou sua boca e a arrastou para longe da Mater, a qual permaneceu concentrada em sua meditação silenciosa.

— Se ela perder a concentração, todos morreremos aqui!

A Pérola sibilou, aborrecida, ainda pressionando os dedos frios contra os lábios de Esme. Ela tinha cabelos loiros empalidecidos ultrapassando o nível dos ombros por apenas alguns centímetros. Uma de suas íris possuía uma forte e escura cor azul, enquanto a outra apresentava um tom de branco doentio. Esse mesmo olho era rodeado por rachaduras finas, que serpenteavam de sua bochecha até a área da testa acima da sobrancelha, como se a garota fosse uma espécie de boneca de porcelana danificada — e realmente era.

Ninguém no Coven sabia seu verdadeiro nome, nem sua própria Mater, e isso era comum entre as Pérolas. Quando um Melius se compromete a se tornar uma Pérola, ele abdica de sua vida e da possibilidade de criar laços com qualquer um que não seja sua Mater. Abdicar de seu nome também era essencial, pois ser chamada de "Pérola" servia para reforçar a idéia de que não passava de um acessório. Um poderoso "objeto" com um único propósito: servir sua Mater, protegendo-a a todo custo — mesmo que o preço fosse sua própria vida.

— O que ainda estão fazendo aqui? — Esme sussurrou, afastando sua mão. — Por que não fugiram pelo túnel?

— Kada desapareceu depois da segunda explosão. Madame Luna está tentando nos ganhar tempo enquanto os outros procuram por ela.

— O que quer dizer com desapareceu?

— Ela não gosta de bombas e pode ficar invisível. Tente adivinhar.

Kada havia sido resgatada do Irã durante a guerra Irã-iraque da década de oitenta. Ninguém sabe ao certo sua história, visto que a garotinha de oito anos de idade nunca proferiu uma palavra sequer, desde que se juntara ao Coven. As explosões certamente a fizeram reviver momentos traumáticos de um passado ainda vivo em seus pesadelos.

— Onde está minha irmã?

Antes que a Pérola pudesse responder, as duas foram surpreendidas por um baque aterrador, levando toda a casa a chacoalhar. Ao que parecia, algo muito pesado no lado de fora estava se chocando contra a parede de gelo. White Star não desistiria tão fácil.

— Ajude os outros a encontrar Kada — Pérola demandou, correndo em direção à Mater. — Madame Luna não vai conseguir segurá-los para sempre.

Antes de subir as escadas, Esme deu mais uma olhada em Madame Luna, a qual naquele momento usava todo o seu poder e concentração para transformar a casa em uma fortaleza de gelo. Pérola está certa, ela pensou, não temos muito tempo. Seus pés, praticamente azuis, afundaram pesadamente na neve fria que cobria os degraus da escada. O segundo piso agora possuía uma cratera no meio do corredor oeste — onde uma das bombas acertara —, mas no telhado não era possível vislumbrar qualquer vestígio de entrada, visto que o gelo havia revestido-o por completo.

Esme sentiu a casa tremer mais uma vez, antes de atravessar a porta despedaçada de seu dormitório. Aquele cômodo ainda não tinha sido inteiramente dominado pela neve, mas o gelo maciço, que se disseminava com uma rapidez surpreendente, encobria os últimos resquícios de uma enorme fenda no teto. Vagando até o final do quarto, ela engoliu em seco ao defrontar-se com a terrível cena que lhe assombraria por anos a partir daquela noite.

Gen — Esme arfou, correndo até a irmã.

Ela encontrou a gêmea com o tronco recostado sobre a lateral de uma das camas, enquanto sua colega de quarto, Moema, esforçava-se para mantê-la acordada. A camisola estava encharcada pelo sangue que jorrava do amplo ferimento no meio de sua barriga, por onde atravessava um grande pedaço da viga de madeira que havia se desprendido do teto na primeira explosão.

— Ela perdeu muito sangue — declarou Moema, alarmada. — Eu não sei o que fazer.

— Andrew vai enviar ajuda. — Esme olhava nos olhos da irmã, forçando-se a manter a calma. — Você vai ficar bem. Aguente firme.

— Eu tentei fazê-la absorver meu éter para se curar, mas ela está fraca demais para...

— Nenhuma Bruxa da Natureza conseguiria curar uma ferida tão séria como essa — Esme revelou com pesar.

A casa chacoalhou novamente, e desta vez com ainda mais violência. Genevieve conseguiu alcançar e segurar suavemente a mão da irmã, lutando para manter os olhos abertos.

— E-Esme. — Ela fez força para falar, agonizando.

— Não diga nada — a gêmea mais nova ordenou. — Foque em respirar.

— Me… me… desculpe. Você estava certa. — A voz de Genevieve soou fraca e sem vida. — E-Eu não deveria ficar brava por conta das suas escolhas. Eu sei que tudo o que você faz é por um propósito maior.

— Está tudo bem, apenas… pare de falar. 

— Acha que deveríamos arrancar? — indagou Moema, fitando a larga estaca de madeira que perfurava o corpo da garota.

— Não é uma boa idéia. Ela só ia perder mais sangue — Esme advertiu. — Precisamos de uma Bruxa da Carne com poderes curativos.

— Posso guardar a alma dela — Moema sugeriu, gentilmente afagando a mão de Esme. — Você sabe, se for necessário.

Moema era uma índia advinda da América do Sul. Uma Bruxa da Alma capaz de capturar almas e guardá-las em orbes de cristal. Os longos cabelos escuros estavam sujos de neve e fuligem, e sua franja escondia um pequeno corte no meio da testa. Ela detinha um ótimo domínio sobre o francês, mas seu sotaque sul-americano ainda era perceptível.

— Nunca acharíamos um novo corpo para ela. — Esme replicou. — Gen precisa sair daqui inteira. Esse pode ser o plano B.

— Se ela morrer aqui, podemos levar o corpo para uma Bruxa da Vida. Ela pode ser ressuscitada.

— Não é tão simples assim, e White Star está prestes a invadir a casa. Precisamos correr para o transportador e mal sabemos se vamos conseguir fugir de mãos livres. Carregando um corpo é ainda menos provável.

— V-Você sempre teve um otimismo invejável, irmãzinha — Genevieve balbuciou.

— Sente frio?

Em pouco tempo o quarto já estava completamente coberto por gelo, e a neve começava a cair. Esme usou os poderes para aquecer o corpo da irmã, emanando ondas de calor pela palma das mãos. As fortes pancadas do lado de fora não cessaram nem por um segundo, mas passos pesados em uma rápida movimentação no corredor não passaram despercebidos. Esme viu através da porta o restante dos Melius da casa correndo em direção às escadas. Ewan Mimori foi o único a não seguir com os outros, e adentrou no quarto quando avistou Esme e Moema ajoelhadas no chão.

— Encontramos Kada — ele anunciou, caminhando de encontro às garotas. — O que vocês... Wow. Gen!

Assustado, parou bruscamente quando enxergou Genevieve. O garoto chinês usava uma camisa sem mangas manchada pelo sangue que saía de seu abdômen. Os braços largos expunham pequenos cortes ao longo dos bíceps e antebraços, como se houvesse rastejado sobre vidro.

— Ewan, vá com os outros — Esme exigiu com dureza.

— Mas ela...

— A ajuda está a caminho, você precisa ir. Tire todos daqui.

— Madame Luna não vai sair sem vocês.

O estampido que reverberou pela casa naquele segundo deixou claro que a fortaleza de gelo havia sido penetrada pelo inimigo, e isso ficou ainda mais evidente quando o som de tiros ecoou dentro da velha moradia.

— Eles precisam de você — Esme exclamou. — Vá!

Relutante, Ewan correu para fora do quarto, ao tempo que os ruídos de destruição que acompanhavam os tiros tornaram-se ainda mais intensos. O Coven Leona jamais cairia sem lutar. Esme voltou-se para Moema, notando a expressão apreensiva em seu rosto.

— Você deve ir também.

— Não vou deixar vocês aqui. Sou o plano B, esqueceu?

O tiroteio cessou subitamente, mas elas só notaram quando seu diálogo fora finalizado. O barulho de uma pequena explosão dentro da casa se estendeu por poucos segundos, até que o ruído de uma marcha ritmada sobre a neve prenunciou a tropa que se aproximava. Moema engatinhou para trás de uma das camas da esquerda quando Esme se abaixou ao lado de Genevieve.

— Você acha que consegue nocautea-los? — Moema sussurrou, já distante.

— Não sem ser baleada — Esme respondeu.

Ao se aproximarem, os passos foram ficando cada vez mais lentos e calculados. Esme ouviu o ranger do couro das botas pesadas, bem como o tilintar dos coletes e a respiração pesada através das máscaras de oxigênio que cobriam seus rostos. Mesmo na penumbra que imergia o quarto, conseguiu ver por baixo da cama as pernas de ao menos sete soldados no lado de fora do cômodo. Apenas quatro pararam em frente à porta, iluminados unicamente pelas luzes das lanternas acopladas em suas armas de longo calibre.

Aquela não era a primeira vez que Esme enfrentava soldados da White Star, e por isso sabia que estes geralmente carregavam no mínimo duas armas consigo. Uma de fogo, usada para exterminar ameaças incapturáveis, e outra de dardos tranquilizantes, usada quando fosse possível capturar. O soldado que se aproximava lentamente, averiguando o cômodo com a luz da lanterna, possivelmente carregava a de dardos tranquilizantes, mas os três que o esperavam à porta, seguramente estavam dando cobertura com armas de fogo.

Genevieve permanecia consciente, mas os olhos pesados e a palidez preocupante em seu rosto indicavam um possível desmaio por perda de sangue. Esme segurou sua mão, ainda observando os tornozelos do soldado por baixo da cama, o qual estava a alguns paços de descobrí-las. Moema não possuía dons de ataque ou defesa, mas com o olhar feroz, parecia preparada para lutar ao lado de Esme o quanto pudesse.

Quando finalmente alcançou o final do cômodo, demorou alguns segundos para perceber as gêmeas estiradas atrás da última cama da direita. A lanterna do lança-dardos moveu-se rapidamente em sua direção, e por um momento, aquela luz foi só o que Esme conseguiu ver. Ela instantaneamente ergueu as mãos, pronta para usar telecinese para torcer o pescoço do indivíduo, mas hesitou com o som de tiros.

Os disparos vieram de fora do quarto, fazendo o soldado diante de Esme voltar-se rapidamente para a porta um milésimo de segundo antes de apertar o gatilho. Os três que se encontravam na entrada do cômodo se movimentaram para fornecer reforço. Seguidamente, mais tiros ressoaram, de todas as armas juntas. O barulho era infernal, mas o silêncio foi ficando cada vez mais pesado quando, uma a uma, as armas foram silenciadas.

De ombros tensos e passos apreensivos, o último agente da White Star no quarto chamou através do rádio em seu ombro por qualquer sinal de seus companheiros. Não houve resposta, apenas estática. Ele ignorou completamente a presença de Esme, não a considerando uma ameaça, e trocou o lança-dardos pelo fuzil que descansava em suas costas.

Moema exibiu um semblante confuso, olhando por cima da cama o agente caminhar lentamente rumo à porta, a luz vibrante de sua lanterna denunciando o quanto suas mãos tremiam. Esme ficou de pé, colocando-se atrás do homem uniformizado e rapidamente preparando-se para quebrar seu pescoço. Não foi necessário, no entanto.

Ele nem ao menos teve tempo de apertar o gatilho, quando uma figura borrada invadiu o quarto mais rápido do que os olhos puderam acompanhar, e cravou o punho em seu peito. Um braço inteiro saiu pelas costas do agente, cujo corpo tremeu freneticamente por poucos segundos quando seu coração fora empurrado para fora da caixa torácica. Esme sentiu um enjoo passageiro ao se deparar com o órgão sangrento sendo esmagado pela mão que ainda atravessava o corpo sem vida do soldado.

Ele soltou o coração esmagado, antes de desatravessar o braço pelo corpo do homem, o qual despencou no chão como um saco de areia, finalmente revelando o autor de sua morte.

— Feliz em me ver, Princesa?

Charles Ekoptaris vestia o uniforme de batalha verde-marinho e branco, com o orgulhoso sol — brasão do Coven Celeste — estampado no peito. A vestimenta denotava perfeitamente a silhueta dos músculos de seu corpo, e haviam buracos de bala por toda a área do tronco, mas o sangue que o cobria decerto não era seu. Algumas mechas dos cabelos loiros despenteados ameaçavam cobrir os olhos azuis que fitavam Esme com diversão. Sua boca completamente suja de sangue.

— Genevieve precisa de ajuda.

Demorou para que encontrasse palavras, mas Esme não se permitiu transparecer o que sentia ao ver aquele rosto novamente. Charles de imediato se abaixou próximo à gêmea empalada, a qual já não se encontrava mais consciente.

— Essa é a primeira vez que vejo um Melinoe de perto — Moema sussurrou, colocando-se ao lado de Esme. — São assustadores.

— Ele não é um Melinoe.

— Ela ainda tem pulso — Charles constatou. — Mas precisamos fugir dos caçadores, e não dá pra fazer isso carregando um corpo.

— Você tem uma ideia melhor?

A questão levantada por Moema fez Charles voltar-se para Esme com uma inquisição silenciosa. Ela ponderou por um momento antes de responder.

FaçaEsme decretou com dureza, lendo a pergunta em seu olhar.

— Esme, essa decisão é séria demais. Ela não vai poder ser uma Bruxa da Natureza de novo.

— Não temos outra escolha e estamos ficando sem tempo. Por favor, me diga que não veio sozinho.

— Os outros estão segurando White Star e os caçadores lá fora. Seu Coven conseguiu chegar ao transportador, a propósito.

— Esme, você não está pensando em transformá-la em... — Moema começou, mas Esme fez um gesto para que não continuasse. — Você disse que eu era o plano B. Posso guardar a alma dela enquanto encontramos um novo corpo.

— Todas os Melius que morrem são ressuscitados. Nós jamais encontraríamos um corpo para ela. Sua alma ficaria aprisionada para sempre.

— Eu conheço a Genevieve o suficiente para saber que ela preferiria morrer em vez de se tornar uma... Você sabe. — Charles voltou-se para ela, receoso. — Talvez devesse deixá-la...

— Charles, cale a boca e faça.

Esme sabia o que ele iria sugerir, e aquilo estava fora de questão. Mesmo relutante, Charles arrancou o pedaço da viga que penetrava a barriga da gêmea e o jogou para longe. Ele levantou delicadamente o pulso de Genevieve, verificou a reação de Esme uma última vez, e o mordeu.

O veneno de Charles era extremamente letal tanto para humanos quanto para a maioria das bruxas, mas com Bruxas da Natureza, o resultado era diferente. Com apenas uma mordida, Genevieve seria transformada permanentemente, alterando sua alma e sua classe de Melius por toda a eternidade. Demorou um pouco para surtir efeito, e enquanto aguardavam, tensamente temerosos pela reação da garota, podiam ouvir os sons dos tiros e da luta do lado de fora, abafados pela basta camada de gelo que engolfava todas as paredes e janelas.

Pouco a pouco, o enorme ferimento em sua barriga começou a cicatrizar. Aquele era um dos principais talentos da classe de Charles: a recuperação acelerada de qualquer dano no corpo. Em menos de dois minutos, Genevieve abriu os olhos. Ela pareceu confusa, analisando cuidadosamente o espaço ao redor e apalpando a própria barriga, até que seu olhar se encontrou com o de Charles.

— Charles?

— Olá, Gen. Há quanto tempo?

— O que está... O que aconteceu? — Ela fez força para se levantar, e ele a ajudou. — Me sinto estranha. É como se eu...

Não finalizou a frase. Os olhos úmidos caíram sobre Charles em um julgamento silencioso, como quem pergunta "o que você fez?".

— Você estava morrendo — Esme falou, atraindo a atenção para si. — Não conseguiríamos fugir carregando seu corpo.

— Você me transformou em um...

Havia repulsa na voz de Genevieve quando voltou-se para Charles novamente. Os olhos marejados eram uma mistura de raiva e traição.

— Não havia outra saída! — Esme replicou, rebarbativa. — Se tiver que ficar com raiva de alguém, eu sou a culpada. Foi minha decisão.

Os olhos frios e sem vida de Genevieve voltaram-se para a irmã. Uma expressão apática assumiu seu rosto antes de responder com evidente escárnio na voz.

É claro que foi.

Não houve tempo para discussões. Genevieve ainda estava fraca, mas desvencilhou-se do toque de Esme com severidade quando esta tentou ajudá-la a descer os degraus cobertos de neve da larga escadaria de mármore. Eles seguiram rapidamente com destino ao alçapão de emergência no centro da sala de estar, deparando-se com os corpos uniformizados de soldados por todo o caminho, do corredor às escadas e das escadas ao primeiro piso.

Colocaram-se em posição de ataque ao avistarem inúmeros agentes ainda de pé, espalhados pelo primeiro andar. Os tais não se moviam, no entanto. Com os corpos completamente enroupados pelo uniforme denso e máscaras de gás, era impossível definir se estavam conscientes ou não. Permaneceram pétreos como estátuas, mas por não apresentarem nenhuma ameaça, Charles fez sinal para que continuassem andando.

As marcas da luta mostraram-se presentes em uma trilha de destruição pelas paredes, piso e móveis, sendo sutilmente encobertas pela neve que ainda caía. Apoiando-se sobre Moema durante todo o percurso, Genevieve era afetada pelos efêmeros efeitos colaterais da transformação que modificara tanto sua alma quanto seu corpo. Antes de chegarem ao destino, Charles recebeu uma mensagem pelo comunicador em sua orelha.

— Minha equipe precisou recuar — ele avisou. — Mas estão atraindo a maioria dos caçadores para longe.

— Eles os seguraram por tempo o suficiente — Esme assentiu.

Estavam quase na sala de estar quando o som da porta dos fundos sendo despedaçada os fez hesitar. O alçapão revelou-se soterrado sob uma volumosa porção de neve, a qual naquele momento começava a derreter. O urro infernal de caçadores não muito longe dali foi a motivação necessária para darem continuidade à fuga. Contudo, afundando as botas na neve semiderretida, três agentes uniformizados surgiram com fuzis em mãos, marchando da área da cozinha a passos ágeis. Charles fez menção de atacar, mas se conteve quando os três gritaram algo e apontaram as armas para a poltrona de couro à sua frente.

Eles gemeram de dor e desconforto à medida que seus movimentos mostravam-se cada vez mais limitados, até que suas vozes desapareceram em um último grito de agonia. Estavam paralisados, exatamente como os outros. Nenhum tiro foi disparado. Esme ficou confusa por apenas um segundo, até que a figura feminina trajando suéter e minissaia pretos se levantou da poltrona, revelando sua presença.

— Finalmente — celebrou a Pérola, com impaciência. — Eu começava a achar que estavam fazendo uma festa do chá lá em cima.

Os três agentes haviam descoberto da pior forma possível o que acontecia com quem encarava o terrível olhar da Pérola de Madame Luna. Aquela Bruxa da Realidade era capaz de tornar qualquer corpo ou objeto em uma reles e frágil porcelana. Seu próprio corpo era feito de porcelana, mas este definitivamente não era frágil.

— O que ainda está fazendo aqui? — Charles inquiriu.

— Minha Mater está em segurança, mas meu trabalho não está cumprido até que todos do meu Coven também estejam.

Esme gestilicou bruscamente, como quem separa cortinas imaginárias, e a neve que cobria o alçapão foi jogada para fora do caminho, liberando a portinhola. Moema ajudou Genevieve a se aproximar, mas antes que pudessem abrir a passagem, o rugido avassalador das bestas que rodeavam a casa as fez congelar.

Houve um estrondo alto quando não só a porta da frente, mas quase a parede inteira, fora destruída, manifestando a invasão de um inimigo bem maior do que um mero grupo de soldados. Havia apenas mais uma parede entre a porta e a sala, e esta também foi destroçada com violência quando a criatura os alcançou, mostrando sua forma demonizada pela primeira vez. 

Tinha mais de três metros de altura, uma fisionomia quase esquelética e um rosto doentio. Antes que o temível Caçador pudesse se aproximar mais, a Pérola deu um passo à frente, apontando as palmas das mãos para a criatura, usando seu poder para transmutá-lo em porcelana. Todavia, não pareceu tão fácil quanto era com humanos.

Ela conseguiu retardá-lo, e a mudança em sua pele foi evidente, mas Pérola encontrava dificuldade em transfigurá-lo totalmente. A grande aberração branca aproximou-se ameaçadoramente, fazendo o restante dos Melius recuar, mas antes que pudesse alcançar Pérola, a fera explodiu em centenas de cacos de porcelana quando Charles se uniu à luta, levantando o punho e lançando uma poderosa onda de telecinese na direção do caçador.

— Poderia ter feito isso antes — Pérola resmungou.

— Pensei que fosse conseguir sozinha. — Charles deu de ombros.

Moema ficou boquiaberta ao presenciar o garoto que antes acreditava ser um Melinoe demonstrar ter poderes de Bruxa da Natureza. Esme notou sua expressão de confusão, e soube imediatamente que estava se perguntando como ele conseguira fazer aquilo.

— Eu avisei que ele não é um Melinoe — ela murmurou para Moema.

E realmente não era. Charles Ekoptaris foi o raro fruto da relação de um Melinoe com uma Bruxa da Natureza. Um híbrido. O primeiro e único a nascer metade Melinoe e Metade Bruxa da Natureza. Na história Mélica ficou para sempre conhecido como o Pai de Todos os Híbridos, visto que seu veneno era o único capaz de tornar Bruxas da Natureza em híbridos como si próprio. Ao longo de seus seiscentos anos naquele planeta, havia gerado mais de uma centena de híbridos. Como Genevieve agora era.

Bruxas da Natureza, Brancas ou Sifão, são limitadas pelo próprio éter, mas híbridos dispõem de sua metade Melinoe para garantir éter à sua metade Bruxa, o que teoricamente os tornava mais fortes do que Bruxas da Natureza — embora não dispusessem de uma real conexão com a Natureza como estas dispunham — ou Melinoes — ainda que não fossem indestrutíveis como estes.

Pérola apressadamente abriu o alçapão, e no instante em que Moema fez menção de descer, os bramidos aterradores de mais caçadores anunciaram que ainda não era o fim.

— Eles estão muito perto — Moema desesperou-se. — Gen não consegue correr. Não vamos chegar ao transportador a tempo.

— Vocês vão na frente — Charles estipulou. — Eu e Pérola daremos cobertura até atravessarem o túnel em segurança.

Moema assentiu, ajudando Genevieve a descer em seguida, mas quando chegou na vez de Esme, esta simplesmente fechou a portinhola do  alçapão, abafando um grito furioso da Bruxa da Alma. Charles abriu um sorriso provocativo.

— O que pensa que está fazendo, Princesa?

— Eu vou ajudar. E já disse mil vezes que odeio quando me chama de princesa.

— Como quiser, Princesa.

Uma quietude gélida soterrou o cômodo pelos instantes seguintes, até que um estouro reverberou dos fundos da moradia, fazendo os três se virarem naquela direção. O som de um caminhar pesado seguidamente ressoou pela casa vazia, desta vez vindo do que sobrou da porta da frente.

O primeiro caçador emergiu da cozinha, destruindo os corpos de porcelanato dos três agentes ao avançar com voracidade. Ele berrou seu grito de guerra antes de partir em direção à Pérola, a qual rapidamente direcionou seus poderes para a besta albina, e desta vez foi Esme quem explodiu a criatura, espalhando pedaços de porcelana para todas as direções.

O segundo veio cambaleando pela entrada frontal, e sua pele mostrava ferimentos de luta. Com um gesto de mãos, Charles acendeu a lareira semidestruída, lançando uma coluna de fogo no corpo pútrido do caçador, o qual se chocou pesadamente contra o que restara da parede.

Charles manteve a coluna de fogo equilibrada, embora parecesse que não conseguiria segurar por muito tempo. Um pânico paralisante percorreu o corpo de Esme quando dois surgiram da outra direção, avançando energeticamente. Pérola porcelanizou suas pernas, e Esme as quebrou, fazendo-os desabar na no chão coberto de neve, mas aquilo não os impediu de se arrastarem com uma agilidade aterrorizante. Esme usou telecinese para quebrar o pescoço de um, mas este apenas o reajustou quando a garota o torceu para trás.

Quando o caçador queimado desistiu de lutar e se mostrou inerte, Charles empurrou uma das criaturas de pernas quebradas para a lareira, e fez as chamas a engolirem por inteiro. O berro horripilante prejudicou sua audição e fez a casa tremer, mas Esme ainda conseguiu se concentrar o suficiente para disparar um destroço de madeira em seu peito com o poder da mente, silenciando o grito no mesmo segundo. O outro continuava se arrastando em círculos, tentando alcançar Pérola, até esta cravar um punhal em sua cabeça.

— Estamos ficando bons nisso — Charles pronunciou, triunfante.

— Foi tempo suficiente. — Pérola abriu o alçapão mais uma vez. — Já podemos ir.

Esme se posicionou para descer, mas o que se passou em seguida aconteceu tão rápido que sua mente mal pôde acompanhar com eficiência. Primeiro, veloz como um felino, um caçador atravessou a parede da ala leste, partindo para cima de Charles sem que ninguém tivesse tempo de impedir. A besta se jogou contra o corpo do híbrido, lutando para abocanhar seu rosto, e antes que Esme pudesse reagir, uma segunda fera surgiu pelo mesmo lugar, avançando ferozmente de encontro a si.

Pérola prontamente lançou-se sobre Esme, empurrando-a para fora do caminho. Elas caíram na neve, mas as garras da besta conseguiram arrancar pedaços de suas vestimentas. Pérola tinha ódio no olhar quando se atirou na criatura, pressionando as mãos sobre sua pele descorada e agilizando o processo de porcelanização. Com um aperto mortal, a própria conseguiu estilhaçar o corpo fragilizado da criatura, enquanto Esme usava telecinese para mandar o caçador que prendia Charles para através da parede. O híbrido rapidamente se recompôs, correndo na direção do alçapão ainda aberto.

— Vamos, depressa!

Ele desceu logo depois de Esme, mas Pérola não os seguiu. Olhando para a abertura sobre sua cabeça, Esme chamou seu nome, e depois de alguns segundos, a garota apareceu com o fuzil de um dos agentes mortos em mãos. Ela sorriu serenamente ao encontrar os olhos de Esme  encarando-a de baixo.

Esme sentiu a pressão despencar quando notou a fissura na manga do suéter da garota. Até o momento acreditava que o corpo daquela Pérola era resistente a tudo, mas um grande arranhão fazia escorrer sangue pelo seu braço de porcelana, o qual já expunha uma coloração esbranquiçada alastrando-se lentamente. Ela sabia o que aquilo significava. Pérola havia sido infectada.

Pérola...

— Não ouse derramar uma lágrima por mim. Sou uma Pérola. Quando se vive por alguém, está sempre preparada para morrer — ela proclamou solenemente, ainda esboçando um sorriso fraco. — Por favor, diga à nossa Mater que foi um honra cuidar de sua segurança durante todos esses anos.

Um rugido furioso do caçador que havia sido jogado pela parede roubou sua atenção por um momento.

— Foi uma prazer lutar ao seu lado, Esme Montreux.

Ela apontou o fuzil para a própria cabeça, pouco antes de fechar o alçapão com um baque ruidoso. O som abafado do tiro causou em Esme um aperto doloroso no peito, mas não teve tempo de lamentar. Charles agarrou sua mão e a puxou através do túnel iluminado pelo fraco brilho amarelado das velas ainda acesas. Encontraram mais corpos de agentes pelo caminho, e assim que alcançaram à saída, puderam ouvir a portinhola por onde passaram ser forçada com violência. Quatro pancadas foram o suficiente para destruí-la, mas eles já estavam atravessando a floresta escura quando aconteceu.

Charles corria com dificuldade, mas logo conseguiram chegar ao transportador, o qual se encontrava nas margens de um lago entre duas colinas. Moema e Genevieve repousavam sobre os degraus, e Madame Luna, ainda presente, mantinha-se um pouco mais adiante, recebendo Esme com um abraço de alívio.

— Onde está minha equipe? — Charles perguntou.

— Retornaram à Celeste há pouco tempo. Um deles acabou sendo baleado, mas vai ficar bem. — O volumoso cabelo afro de Madame Luna brilhava sob a luz prateada da lua enquanto olhava para os arredores a procura de algo. — Onde está minha Pérola?

A expressão de Esme foi o suficiente para fazê-la compreender. A dama não conseguiu esconder o pesar que cobriu seu semblante, e encaminhou-se para o transportador sem dizer mais nada, antes que as lágrimas começassem a cair. Genevieve se levantou quando a mulher ligou o aparelho, e Moema logo as seguiu. Esme estava quase subindo os degraus quando percebeu Charles parado a uma certa distância, contemplando estaticamente o reflexo da lua nas delicadas ondulações do lago.

— O que está fazendo? Precisamos ir.

Ele se virou vagarosamente, levantando a camisa para que pudesse mostrar a lateral do abdômen. Esme quase desmaiou quando a respiração escapou de seus pulmões. O mundo pareceu se inclinar para o lado, como se a gravidade tentasse jogá-la para longe. Havia um grande corte em seu corpo, rodeado por um tom de branco doentio que já chegava ao nível do pescoço.

Esme...

Não...

Eu sei que o que eu vou pedir agora não é justo, me desculpe por isso, mas eu não quero me tornar uma daquelas coisas.

Não diga.

Eu preciso que você me mate.

Esme tremeu ao grito amedrontador de um caçador não muito distante dali, possivelmente o que os seguira pela saída de emergência. Charles se aproximou, trazendo mais e mais lembranças à mente de Esme a cada passo que dava. Era uma dor esmagadora, cortando-a de dentro para fora, como o maior arrependimento de sua vida.

— Preciso que arranque o meu coração. — Ele colocou a mão trêmula de Esme sobre seu peito. — É a única forma de ter certeza

Um caçador urrou novamente, seguido de outro e mais outro, até comporem uma alcateia inteira de bestas uivando nos arredores. Esme estava paralisada, tal como as lágrimas presas em seus olhos, fitando o rosto de Charles como se o visse pela primeira vez.

— Precisamos ir! — Madame Luna soou mais distante do que realmente estava.

— Está tudo bem, isso não é um adeus. — A voz suave de Charles conseguiu fazê-la se sentir ainda pior, o branco da infecção já estava no nível de sua boca. — Foi bom te ver de novo, Princesa.

O som não muito distante de árvores sendo derrubadas denunciou a posição da criatura. Mesmo destruída por dentro, Esme se preparou para fazer. Ela afastou a mão quando Charles fechou os olhos, e se concentrou em sentir seu coração pulsando antes de obrigá-lo a ser expelido para fora de sua caixa torácica — algo que praticara contra inimigos inúmeras vezes. 

Antes que pudesse realizar o ato, no entanto, Moema repentinamente aproximou-se por trás de Esme, fincando o punho no peito do híbrido sem que este sequer sentisse. Ela estava usando seus poderes de Bruxa da Alma, sua mão atuou como um holograma alaranjado quando penetrou no peito do garoto. Esme arregalou os olhos, momentaneamente confusa, mas assim que Moema puxou a mão para fora, pôde entender o que fazia.

O corpo de Charles caiu inerte no chão, sem vida e sem alma. Sua alma, agora cristalizada em um formato esférico alaranjado com alguns tons de verde-marinho e branco, encontrava-se na palma da mão de Moema, a qual não teve tempo de explicar o que pretendia com aquilo. Ela puxou Esme pela braço e ambas correram para o transportador quando uma das bestas assassinas saltou por entre as árvores, avançando como o predador voraz que era.

Logo depois das coordenadas de Celeste, Madame Luna digitou o código de emergência, o qual não só as levaria para longe dali, como também ativaria a autodestruição do transportador após sua última viagem. Houve uma rápida contagem regressiva antes que a luz cobrisse seus corpos e as fizesse desaparecer, e quando aconteceu, a explosão do aparelho chacoalhou toda a floresta silenciosa daquela triste noite de outono.

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