CHAPTER XVI: The Big Bang
A ESCURIDÃO PRIMORDIAL DO NADA INFINITO que pintava os confins do espaço era a única presença existente na vasta imensidão do vácuo pré-universo. Sem tempo, sem matéria, sem luz ou consciência, o Caos era o tudo e o nada. O vazio primitivo e sombrio que precede toda a existência; o espaço intocável de todo o começo; a primeira e única força do universo, e a junção de tudo que há de potente nele. Era composto principalmente por energia negativa, escuridão e trevas, contudo, um tipo contrário de energia também marcava presença em sua constituição obscura: éter, o elemento mais poderoso.
O tempo ainda não existia, portanto, a duração dos fatos, momentos, períodos e épocas, era algo que não possuía forma. A existência singular e tenebrosa do Caos não durou milênios, horas ou segundos. Ela simplesmente estava ali, e de repente não estava. O éter em sua constituição explodiu toda a escuridão do espaço, criando infinitos zilhões de figuras sólidas e os primeiros focos de luz. Após o final da grande explosão, um pequeno ponto de luz, em específico, surgiu com algo único e peculiar: a primeira forma de consciência.
Perfeita, intangível, imutável e complexa, a mais velha das formas de consciência espacial — a qual posteriormente seria chamada de Grande Mãe — é considerada a primeira e única criatura "viva" a acordar no vácuo infinito do vasto e silencioso universo, possuindo a forma de uma gigantesca nuvem de energia cósmica.
Durante seus primeiros momentos de existência, ela assistiu à formação das galáxias, constelações, estrelas e planetas, acumulando conhecimento ao longo desse período. Em um certo instante, vendo os átomos da grande explosão se reproduzirem, ela ponderou sobre a possibilidade de realizar sua própria criação.
Rodeada pela balbúrdia inquietante da solidão esmagadora que em nenhum momento a incomodou, a Grande Mãe tentou, pela primeira vez, moldar o éter de sua energia em uma segunda forma de consciência singular, mas tudo o que conseguiu foi uma mera miragem e reflexo de si mesma, que se dissipou no espaço assim que parou de pensar sobre aquilo.
Na sua segunda tentativa, entretanto, conseguiu um resultado diferente. Em vez de usar sua energia para criar outra, a Grande Mãe realizou uma incisão em si mesma, e se dividiu em duas. Instantaneamente, sentiu metade de todo o seu poder a deixar, e aquela foi a certeza de que havia funcionado. Ela pôde sentir a singularidade da segunda consciência a existir no universo pairando no espaço diante de sua presença, e assistiu maravilhada o despertar da Segunda Grande Mãe. Sua aura era magnífica, mas diferente de sua progenitora, Segunda não era perfeita, e foi isso que a Primeira Grande Mãe mais admirou em sua criação.
Elas se contemplaram por alguns instantes, fascinadas com o que suas consciências captavam e, gradativamente, curiosidade se tornou apreciação, apreciação se tornou carinho, e carinho se tornou amor — o primeiro rascunho de sentimento a ocupar o cosmos.
Durante um certo período, as nuvens de força cósmica apenas aproveitaram a companhia uma da outra, e aprenderam mais sobre o universo que as cercava, mas em um dado momento, Segunda decidiu que queria mais. Antes da existência de qualquer palavra, elas argumentaram através de trocas de energia, e Segunda acabou convencendo Primeira de que o cosmos era vasto demais para permanecer vazio, e que juntas poderiam criar algo extraordinário.
A ideia de "família" ainda não existia, mas foi praticamente isso que tinham em mente quando tomaram a decisão de expandir sua consciência. Primeira era perfeita e já havia aberto mão de muito poder quando decidiu gerar Segunda. Fazer mais incisões em si mesma só criaria novas cópias de Segunda, e eventualmente, extinguiria sua consciência singular.
Segunda, por outro lado, não era perfeita, e carregava alguns traços de matéria obscura que agarrou-se a sua constituição quando fora criada, mas possuía tanta energia quanto Primeira, e estava disposta a se sacrificar pela criação de novas formas de vida. Formas sólidas de vida.
Segunda faria múltiplas incisões em si mesma, mas diferente de Primeira, ela solidificaria sua energia antes de realizar o processo. Ambas sabiam que aquilo apagaria sua consciência para sempre, e Primeira se opôs à ideia primordialmente, pois não pretendia perder a razão de seu único sentimento. Entretanto, o motivo pelo qual não queria perdê-la foi o mesmo pelo qual a deixou ir.
"Minha energia vai se dividir e minha consciência pode deixar de existir, Segunda teria confessado à Primeira, antes de partir, mas enquanto eu viver em sua memória, nosso amor vai continuar sendo parte deste universo."
A Segunda Grande Mãe então solidificou toda a sua nuvem de energia cósmica, transformando-a em uma enorme esfera rochosa, que em poucos instantes, destroçou-se magestosamente em uma explosão multicolorida. Primeira, assistindo à extinção daquela que anteriormente fora sua única companheira, sentiu pela primeira vez algo que a incomodou. O amor em sua atmosfera agora a fazia mal, e demorou um pouco para sua consciência primitiva compreender o que estava sentindo. A tristeza, causada pelo luto, foi o segundo sentimento a ocupar um espaço no universo.
Da explosão que desintegrara a esfera, surgiram dez formas sólidas — joias — de cores distintas, compostas unicamente pelo éter da Segunda Grande Mãe. Do interior infinito de cada joia, nasceu uma entidade cósmica, com consciência e funções singulares. Todas possuíam a mesma quantidade de energia, de modo que nenhuma se sobressaía à outra. Eram elas: Realidade, Tempo, Destino, Matéria, Natureza, Carne, Vida, Mente, Alma e Ordem.
Cada uma das Entidades Supremas havia nascido com um propósito específico, que fora minuciosamente pensado por Segunda antes de se esvair, e todas sabiam exatamente suas respectivas funções quando se manifestaram diante da presença onipotente da Grande Mãe.
A primeira a pintar o cosmos com seu éter foi Realidade, que apenas com a força do querer, criou infinitas versões do universo, e pôde olhar para cada uma delas sendo moldada. Em seguida, Tempo conectou seu éter à realidade, e tudo passou a ser organizado por milésimos de segundos que cortavam a existência. Destino teceu o futuro e o presente, e manipulou todas as possibilidades para cada realidade e cada segundo.
Com toda sua soberania divina, Primeira criou seu próprio sistema solar, e escolheu metodicamente o planeta onde começariam sua criação — o qual posteriormente seria chamado de Primordial. Não passava de uma enorme rocha amarronzada em formato esférico, com alguns satélites naturais pairando próximos de si e a grande estrela a uma certa distância.
Natureza deu cor ao planeta etéreo, e o banhou com formas de vida pouco complexas — vida vegetal —, ditando regras, estabelecendo limites e transformando aquela colônia em um enorme jardim. Matéria agiu em seguida, usando as regras para dar solidez e forma às possibilidades estabelecidas pela natureza. Esta criou as primeiras moléculas químicas que passaram a constituir o universo, além de adicionar seu éter à superfície.
Usando o barro do solo daquele mesmo planeta, Carne moldou e deu consistência às formas dos primeiros habitantes da colônia, criando funções, forças, fraquezas, desejos e sensações para cada um dos corpos. Mas todos eram apenas vasos vazios, até Vida acender uma chama no interior de cada um, e foi como se o céu ganhasse suas primeiras estrelas.
No entanto, essas estrelas só começaram a brilhar de verdade quando Mente e Alma fizeram sua parte. A primeira deu consciência, pensamentos próprios e inteligência à cada uma das formas de vida, tornando-as capazes de realizar algo que outrora apenas a Grande Mãe e suas criações podiam. A segunda adicionou significado e personalidade aos seus corpos, dando uma alma para cada um, tornando-os seres puros, com sentimentos fortes e valores morais.
E assim nasceram os Primordiais, a primeira e única raça gerada pelas entidades supremas que era plenamente perfeita. Seus corpos possuíam rigidez, longo comprimento, resistência, e a tonalidade escura do barro do qual foram criados. O tempo não os afetava, tampouco a matéria e a natureza. Eram belos, imortais, eruditos, fortes e atemporais, e aceitaram de bom grado a vida que os fora presenteada, jurando solenemente amar e respeitar suas criadoras.
Por último, mas não menos importante, Ordem, a menor entre as Entidades Supremas, selou tempo, espaço e realidade com o fim da era do Caos, e no final do sétimo dia da Criação, as dez entidades se retiraram para um período de descanso. Em suas formas físicas, elas habitavam o templo que fora construído no ponto central da grande criação, e por um longo milênio, coexistiram em paz e harmonia com suas criações. No entanto, depois de todo esse tempo, os resquícios do Caos que agarraram-se à nuvem de energia de Segunda continuavam presentes no éter solidificado da jóia de cada entidade, e talvez, apenas talvez, esse detalhe tenha sido crucial para o fim de toda a ordem.
A aparência de cada entidade suprema não passava de uma mera ilusão. Seus verdadeiros corpos eram as joias que situavam-se em algum membro de sua estrutura física. Essas pedras, compostas unicamente pelo éter solidificado de sua progenitora, eram sua fonte de vida e de energia, capazes de emanar uma luz cósmica que se moldava para obterem o aspecto que desejavam.
A luz que se manifestava de cada uma das pedras era especificamente configurada para fazer com que todas as entidades se parecessem com Primordiais. A maioria das supremas, apesar de possuírem a aparência de suas criações, escolhiam uma estatura muito superior à das mesmas, com a intenção de destacar sua magnitude divina. Ordem, em contraponto, escolhia ter a mesma estatura dos primordiais, não possuindo o complexo de superioridade das irmãs.
Ela era a menor entre todas as entidades e possuía uma personalidade relativamente infantil. Todos a adoravam, tanto os Primordiais quanto as irmãs. Ainda não existiam crianças em qualquer lugar do universo, mas Ordem era o mais próximo disso naquela época. Até a Grande Mãe, nas raras vezes em que assumiu uma forma física, a proporcionava mais atenção, deixando algumas das outras entidades levemente enciumadas.
Mas não foi um sentimento tão tolo quanto ciúmes que causou a primeira revolta. Foi ambição. Houve algumas discordâncias entre as entidades supremas sobre como cuidar da colônia primordial, e depois de muitas discussões, elas decidiram que seria melhor se cada uma tivesse sua própria colônia. E assim, únicas em sua perfeição, as Supremas — com exceção de Ordem — expandiram seu império por todo o universo, criando novas colônias por centenas de sistemas solares. Não era necessário mais de uma entidade para a criação de uma colônia, pois embora todas possuíssem uma função específica, cada uma podia fazer o mesmo que as outras — apenas o fariam com menos maestria.
Nenhuma outra criatura jamais chegou aos pés da perfeição dos Primordiais, visto que nenhuma outra espécie fora criada com a participação de todas as dez Supremas. As espécies das colônias de Mente eram extremamente sábias e eruditas, mas não possuíam muita força, resistência ou altruísmo; as criações de Carne eram fortes mas tinham pouca inteligência e bondade; Alma deu vida a criaturas exageradamente bondosas e altruístas, mas sua força e inteligência eram limitadas; e assim sucessivamente.
As criações individuais de todas as entidades possuíam centenas de defeitos, no entanto, a não-atemporalidade era o pior deles. Os Primordiais eram eternos, pois em seu nascimento foram agraciados com o éter de Tempo, mas as novas criaturas — com exceção daquelas criadas por Tempo —, envelheciam e morriam com o passar dos anos. Foi pensando nisso que as Supremas decidiram dar a suas novas criações o dom da reprodução, para que nenhuma espécie entrasse em extinção por consequência do tempo.
Natureza foi aliada de todas as outras entidades, e embora não conseguisse criar espécies com mentes, corpos e almas muito abstrusas, esta ajudou como pôde, banhando os planetas das colônias de suas irmãs com formas de vida bem pouco complexas — fauna e flora.
Ordem foi a única das dez entidades que não quis criar sua própria colônia, alegando estar suficientemente feliz vivendo em Primordial com a Grande Mãe e suas criações, e não sentir a necessidade de governar seu próprio império. Ela era constantemente vista pelas irmãs como uma criança imatura, e por essa razão, estas não a levaram a sério quando alertou que sentia uma forte onda de caos perturbando o fino tecido da ordem.
Não muito após o aviso, a primeira guerra foi declarada. Matéria e Realidade brigavam por território, pois segundo Realidade, haviam muitos planetas da galáxia Tuna que estavam sendo colonizados de forma desleixada e Matéria se recusou a dividi-los com a irmã. Aquela foi só a primeira de muitas. Logo, o universo estava sendo banhado pelo sangue das criaturas que juraram servir suas supremas, e o caos que outrora dominava o universo gradativamente mostrava estar presente novamente.
Ordem fez o que pôde para evitar mais destruição, mas seu status como Suprema não significava nada para as outras entidades. Ela pediu à Grande Mãe que fizesse algo a respeito, mas esta não podia interferir na forma como as entidades usavam suas criações. A maré de caos parecia ter dominado aquele universo e Ordem acabou se sentindo obrigada a usar a força para impedir as irmãs. Ela era a única que possuía o dom de silenciar o poder de outras entidades, tornando-as inúteis em batalhas ou na criação de novas colônias. Essa habilidade, por consequência, aborreceu algumas de suas irmãs, causando mais desentendimentos entre as Supremas.
Em um certo dia, quando praticamente todas as novas colônias das entidades estavam em guerra, uma intensa onda de energia cósmica repleta de éter explodiu em algum lugar de Primordial, varrendo tempo e espaço como uma lufada de ar. Todas as Supremas e até a Grande Mãe sentiram um súbito mal-estar, como se uma parte de si houvesse sido arrancada. Demorou um pouco para descobrirem o que havia acontecido, mas logo perceberam a ausência de algo muito importante.
Todas as dez entidades e a Primeira Grande Mãe estavam conectadas por um vínculo cósmico, pois em um dado momento da história, todas foram uma só, e por este motivo, todas sentiram quando uma das joias foi destruída.
A forma física das supremas era uma mera ilusão, e se fosse prejudicada, simplesmente se regeneraria depois de um certo período. Todavia, se suas joias fossem danificadas, não havia nenhuma força no universo capaz de reconstituí-la. E, tragicamente, foi o que aconteceu. A joia de Ordem não só fora danificada, como foi destruída, desintegrando sua consciência e éter de todo o espaço-tempo, e desconectando-a das outras Supremas.
Houve muita balbúrdia e melancolia entre as irmãs, a Grande Mãe e, especialmente, entre os Primordiais, quando descobriram. Mas uma coisa era certa, se antes acreditavam que suas joias eram indestrutíveis, agora ganharam a certeza de que só uma força no universo era capaz de aniquilar uma suprema: outra suprema.
Destino acusou Vida, alegando que as viram discutindo inúmeras vezes quando Ordem usou seus poderes para impedí-la de adicionar mais espécies à guerra. Vida negou até o final, e acusou Destino de mentir para se livrar da culpa. As supremas se dividiram em dois lados: aquelas que acreditaram em Destino — Natureza, Matéria, Carne e Alma — e aquelas que escolheram defender Vida — Tempo, Mente e Realidade.
A maior guerra de todas aconteceu, durando séculos e causando o triplo de destruição no universo. Enquanto acontecia, a Grande Mãe, tomada por tristeza e luto pela perda de Ordem, usou todo o seu poder e grandiosidade para esconder Primordial do resto do universo, tornando-o um planeta fantasma e banindo todas as Supremas pela eternidade.
O lado de Destino foi o vencedor da Grande Guerra, mas não existia muito o que ser comemorado, visto que haviam acabado de aprisionar quatro de suas irmãs em suas próprias joias — por uma quantidade de éons indeterminada —, condenando Vida pelo assassinato de Ordem, e Mente, Tempo e Realidade por ficarem ao seu lado. Durante a batalha, a forma física de Alma também foi gravemente prejudicada, levando-a a entrar em um estado de coma no interior de sua joia, enquanto seu corpo de luz se recuperava.
Um longo período de paz se estabeleceu no final do grande conflito. Destino assumiu o controle da maioria das colônias das irmãs caídas, deixando apenas algumas no comando de Natureza, Matéria e Carne. Matéria se ofereceu para cuidar das joias de Mente e Realidade, enquanto cumpriam seus milênios de reclusão, e Natureza se responsabilizou pelas joias de Vida e Tempo, deixando apenas a de Alma — a irmã aliada — aos cuidados de Destino.
Destino criou um santuário especialmente para guardar a Joia de Alma, em um planeta de sua colônia menos desenvolvida, e imaginou que permaneceria segura enquanto estivesse lá — pelo menos até a irmã despertar de seu sono de reformação.
Aquela colônia, no entanto, se desenvolveu um pouco mais rápido do que deveria, e a recuperação de Alma durou bem mais do que o esperado. Era um planeta colonizado por Destino milênios antes da Grande Guerra, e que, diferentemente das outras colônias da mesma, acabou evoluindo em progressão geométrica, principalmente por não ter tido participação direta na batalha.
Seu nome... era Juno.
A joia de Alma se manteve protegida por milênios, cautelosamente guardada no santuário criado por Destino, o qual se localizava no coração de uma floresta bem pouco acessível. Quando já estavam consideravelmente mais desenvolvidos, os junianos, em uma expedição científica, descobriram um jardim de ruínas — o qual outrora fora o santuário de Alma — no meio de uma mata fechada, e durante a exploração, a tão poderosa joia foi encontrada.
Mesmo após saberem o que era, não tinham ideia de que os fluidos que haviam entrado em contato com a joia possuíam tanto éter que eram o meio anteriormente utilizado pelas Supremas para criar novas espécies individualmente — adicionando esses fluidos no solo de determinado planeta, o qual acabaria funcionando como uma incubadora e geraria formas de vida a partir de matéria bruta.
Quando ingeriram a água que havia entrado em contato com aquela pedra, seus corpos foram revitalizados, mas mal sabiam que também haviam se transformado em incubadoras para uma nova espécie, a qual os mesmos batizariam de Corrompidos. Aquelas criaturas possuíam um metabolismo completamente diferente de seus progenitores, e não sobreviviam nas condições normais daquele planeta, já que não vieram do solo, e por isso, na formação de seus corpos, receberam poucos nutrientes.
Depois de conseguirem estabilizar a taxa de mortalidade daquelas criaturas, os junianos, pela primeira vez desde o início de sua existência, receberam a visita divina de sua matriarca suprema, Destino. Após o final da Grande Guerra, ficou estabelecido entre as Supremas que restaram um acordo que determinava a proibição de contato entre as entidades e suas criações, entretanto, Destino violou a regra proposta por si mesma, quando se manifestou diante de um grupo de cientistas junianos.
"Se essa espécie continuar aqui, o futuro deste planeta estará em risco, Destino alertou às suas criações, Tais abominações não possuem alma ou uma mente complexa, e um dia, vão se adaptar à atmosfera de Juno e sobreviver fora das salas. Quando isso acontecer, seu futuro estará selado com um destino trágico."
Os Junianos escutaram atentamente, levemente afetados pela aura magnífica da presença divina que se manifestava diante de seus olhos. Eles questionaram à grande suprema, o que deveriam fazer com aquelas criaturas, e esta sabiamente respondeu:
"Levem-os para a galáxia mais isolada possível e coloquem-os no sistema solar mais distante de qualquer outro planeta com vida. Quando isso acontecer, o futuro de sua nação estará salvo."
A esplendorosa entidade então sugeriu um planeta em específico, o qual posteriormente seria chamado de "Terra" por seus habitantes. Ele possuía fauna e flora bastante diversificadas — pois era um planeta colonizado por Natureza —, mas ali não viviam formas de vida racionais, já que o éter de sua matriarca não era muito efetivo na criação de mentes ou almas complexas.
Aquele planeta uma vez já fora habitado por feras gigantescas que estavam ligadas à sua fauna, mas após ser atingido por um meteoro, acabou perdendo grande parte de sua diversidade, e por isso era o planeta ideal para os corrompidos. Natureza aceitou de bom grado a presença daquelas criaturas, e como se fossem suas, indiretamente cuidou para que se adaptassem e sobrevivessem nos seus primeiros anos ali. O que ela não sabia, era que a espécie que aceitou de braços abertos em sua casa, posteriormente se tornaria um câncer para seu planeta.
Milênios mais tarde, quando os corrompidos já haviam se autodenomiado humanos, os primeiros Melius começaram a nascer, quebrando o ciclo das criações corrompidas. Aqueles seres não eram como seus progenitores ou os Junianos, apesar de se parecerem com humanos. Possuíam mentes bem desenvolvidas e almas intensas, as quais eram formadas pelo éter ancestral das grandes supremas.
Quando os junianos ingeriram o fluido que havia entrado em contato com a joia de Alma — o Ánam —, eles não foram os únicos a se tornarem incubadoras. Os corrompidos foram as incubadoras mais eficientes, pois herdaram a carência de nutrientes de seus antecessores, levando os Melius a herdarem unicamente o éter da joia da alma, o qual possuía conexão direta com todas as outras joias, e por esse motivo, a grande diversidade de poderes entre essa espécie.
Devido ao éter de suas almas, possuíam habilidades que os destacava de todas as outras espécies existentes. Não muito depois de Juno descobrir a existência dos Melius, se espalhou pelo universo a notícia de que existiam criaturas com habilidades similares às das grandes supremas em um planeta afastado, que era domínio de Natureza, e os sucessores dos corrompidos acabaram por fascinar e despertar a curiosidade de milhares de colônias pelas galáxias.
Os Junianos, no entanto, logo marcaram território, e deixaram claro que os Melius eram seus descendentes e portanto, seriam os únicos a cuidar dessa espécie, proibindo qualquer outra colônia de fazer contato com a Terra. A denominação "bruxa" era constantemente usada para se referir aos Melius, já que os humanos, em sua maioria dotados de mentes apodrecidas pela ignorância, acreditavam que as habilidades daqueles seres se davam pelo uso de magia e pactos com divindades profanas — coisas que nunca realmente existiram. O termo, no entanto, acabou sendo muito usado pelos próprios Melius, se tornando um sinônimo entre aqueles que sabiam de sua existência.
Com o passar dos séculos, sua luta pela sobrevivência naquele planeta se mostrava cada vez mais árdua, e enquanto isso, Alma permaneceu em seu coma de regeneração enquanto as Supremas Adormecidas — Vida, Realidade, Tempo e Mente — continuaram cumprindo sua pena de reclusão, presas em suas joias por uma quantidade indeterminada de éons e escondidas em algum lugar do cosmos.
Ou ao menos é o que acreditamos.
NOTA DA AUTORA.
Acredito que não seja
necessário dizer, mas
por via das dúvidas,
vamos deixar uma
coisa clara: as Gran-
des Mães, obviamen-
te, não possuem gêne-
ro ou sexo biológico.
Elas são sempre citadas
com pronomes femini-
nos por simples
preferência da autora.
Os verdadeiros corpos
das Entidades Supre-
mas são suas respecti-
vas joias, ou seja,
também não têm gêne-
ro ou sexo biológico,
no entanto, estas esco-
lhem se manifestar
com a aparência femini-
na — por preferência
delas.
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