Capítulo 5
(Mila)
— Will foi ajudar Peter com a mudança. — Helen, minha amiga, contou enquanto tirávamos as coisas das prateleiras da lojinha.
Eu me sentia triste por estar fazendo aquilo, não queria que a lojinha fechasse, e cada bobagem ali era importante para mim.
— Ele tem a sorte de ter muitos amigos. — Comentei, e ela riu um pouco.
Helen era minha única amiga mulher. Não sei bem porque tinha dificuldade para fazer amizades, ou talvez fosse muito apegada a Peter e não tentava me aproximar de outras pessoas.
Conheci Helen por acaso, bem aqueles encontros de filme. Ela estava andando na rua e veio comprar algo na lojinha. Minha amiga era uma artista de alma e formação, parecia viver em seu próprio mundinho e apesar de parecer muito sóbria e séria por fora, ela era incrivelmente criativa e talentosa. Por coincidência do destino, Helen era namorada de um dos melhores amigos de Peter, William, o qual eu poderia dizer que quase vi crescer, acompanhei o momento em que ele deixou de ser menino e virou homem.
— Talvez devêssemos pedir reforços. — Ela disse já tirando o celular do bolso de seu jeans.
Helen tinha compridos cabelos negros e lisos, com uma franja fofa sobre a testa. Minha amiga era tão única que até entre a população européia, ela andava por com um gene oriental gritante.
— Aposto que eles estão muito ocupados. — Murmurei concentrada.
— Quem sabe a gente não descola Theo e James? Theo adora estar entre garotas.
Acabei rindo em lembrar do Theodore. Peter tinha muita facilidade em fazer amigos, e desde a escola andava com mais seis garotos, os quais pareciam ter ficado para a vida. Eles eram de fato um time. Peter, Natan, Ethan, Robert, James, Theodore e William. Muitas vezes eu sentia inveja, pois eu sabia que quando perdesse Peter, perderia os outros também.
Acordei dos meus pensamentos quando percebi que Helen estava mesmo falando com alguém pelo celular.
— Vocês estão muito ocupados? — Ela disse, e eu sabia que era com Will. — Mila está com vergonha de pedir ajuda. Manda o Theo para a gente.
Acabei sorrindo um pouco. William era uma das poucas pessoas que conseguia fazer Helen sorrir de verdade.
Eu pensei que apenas o Theo viria ajudar, mas me senti desnorteada quando a equipe em peso apareceu na loja quase uma hora depois.
— Vocês já terminaram no apartamento? — Questionei vendo tantos homens entrarem.
— Deu tudo certo. — Peter disse sorrindo um pouco.
— Mila, que saudade. — Theo me abraçou me deixando de mãos atadas. Ele estava muito mais alto que eu e quase fui engolida pelos seus ombros largos.
Theodore era intenso, em todos os sentidos possíveis para se ser. No mesmo instante meu olfato foi inundado pelo seu perfume. Theo tinha a pele bronzeada, como se fizesse sol o ano inteiro, e seus cabelos castanhos escuros estavam compridos, escorrendo pela testa, formando leves ondulações nas pontas.
— Peter monopoliza você, quer denunciá-lo por abuso? — Theo brincou segurando meus ombros.
— Amigo da onça. — Acabei rindo e apertei suas bochechas, vendo seus grandes olhos de perto. — Por onde andou, Theo? Destruindo o coração de alguém?
O rapaz era belo demais. Desde a escola viviam com uma enorme quantidade de garotas interessadas nele.
— Esse menino parece um carrapato. — Peter reclamou puxando Theo pelo colarinho da camiseta branca que ele estava usando.
Aquilo deu espaço para os demais se aproximarem, como se fizesse tanto tempo assim que não nos víamos.
Robert abriu os braços e sorri indo de encontro a ele. Robert era um dos melhores amigos para se ter. Me recordava de ter muitas conversas com ele na escola, sempre que Peter não estava, ele era uma das pessoas que eu mais procurava para desabafar. Apenas seu enorme sorriso carismático era suficiente para conquistar a confiança das pessoas.
— Estou noivo. — Ele disse me mostrando o anel em seu dedo.
— Eu sei. — Ri. — Parabéns! Mary parece ser uma mulher incrível.
— Quero você no meu casamento.
Assenti com a cabeça e precisei virar quando senti alguém cutucar meu ombro.
— James. — Falei vendo o garoto atrás de mim. — Que bom te ver.
Ele eu abracei quase esmagando as bochechas fofinhas. James era literalmente o anjinho do grupo, e não apenas por seus cabelos cacheados serem loiros, mas pelo seu coração gentil.
— Meu Deus, que confusão, saiam da minha frente! — Ouvi alguém resmungar e acabei rindo em ver Ethan quase chutando Theo, que estava barrando sua entrada. — Oi Mila. — Levantou a mão acenando.
— Oi Ethan. — Sorri acenando de volta para o garoto de olhos pequenos, como se estivesse sempre com sono, mas ele assim como Helen era descendente de orientais.
Logo os meninos colocaram a mão na massa e tudo ficou mais rápido com a ajuda deles. É claro que eu havia sentindo falta do cumprimento do Natan e fui atrás dele enquanto estavam todos ocupados. Natan e Peter estavam empilhando as caixas perto da entrada para ser mais fácil descarregar no caminhão depois.
— Natan, você nem falou comigo. — Falei chamando atenção dele, o qual me olhou desnorteado e sorriu sem graça.
— Me desculpe. — Ofereceu-me a mão, a qual apertei. — Estou muito cansado.
— Sinto muito por Peter ter te arrastado para cá.
— Não se preocupe. Meu cansaço é mais mental do que físico.
Eu sabia que Natan estava passando por uma fase difícil após o término de seu relacionamento de anos.
— Mila. — Will sussurrou me dando um susto. — Poderia me ajudar com uma coisa?
— Claro! O que?
— Semana que vem é aniversário da Helen, poderia me ajudar a fazer alguma comemoração para ela?
— Com certeza! — Me animei e nem percebi quando Peter também se aproximou interessado.
— Eu levo a comida. — Ele disse.
— Pode ser lá em casa. — Falei fazendo Will sorrir.
O garoto voltou ao trabalho animado e Peter continuou ali me encarando. Não estávamos muito bem, já que parecia que consegui mesmo deixá-lo confuso. Eu não fazia ideia do que estava fazendo, mas tentei seguir o conselho da vovó.
— Volte o trabalho. — Movimentei o queixo e tentei me afastar, mas ele segurou meu braço.
— Você está muito estranha, sabia? — Disse me puxando para perto. Ele estava suado pelo trabalho e seus cabelos claros estavam jogados para trás me mostrando seus olhos azuis com mais ímpeto.
Eu e Peter tínhamos até características semelhantes como cabelos e olhos claros. Mas meus olhos nunca foram tão bonitos quanto os seus.
— Não estou. — Me desvencilhei dele. — Você que é muito chato.
— Não vai mesmo me dizer o que está acontecendo?
— E se eu tiver deixando David tentar me conquistar, o que você tem a ver com isso?
Ele ergueu as sobrancelhas. Na verdade não estava acontecendo absolutamente nada com David, mas Peter não sabia disso, e eu resolvi brincar um pouco com isso.
— Faça seu trabalho. — Ethan surgiu despejando uma caixa nas mãos de Peter.
— Foi mal, Ethan. — Peter falou já voltando para o trabalho. Parecia mau humorado.
Natan sorriu um pouco quando olhei para trás e percebi que ele nos observava.
— Você conhece a história Mansfield Park, Mila? — Natan perguntou aceitando a caixa que Peter lhe ofereceu.
— Conheço, por quê? — Respondi me sentindo nervosa.
— Nada. — Natan negou com a cabeça. — Estou procurando um livro para indicar ao Peter. O que acha de Mansfield Park? A história de Fanny Price parece ser uma boa escolha, o que acha?
Eu sorri sem jeito, porque senti que Natan finalmente havia percebido o que nenhum deles viu por anos. Peter alternou o olhar entre nós dois parecendo perdido.
— Acho que as histórias de Jane Austen são boas demais para Peter. — Gaguejei, mas aquilo fez Natan gargalhar.
***
A comemoração do aniversário de Helen foi muito agradável mesmo que no meio da semana. Havia pedido para sair mais cedo do trabalho para ajeitar tudo em casa para aquela noite. Peter realmente levou a comida. Theo e James compareceram, mas os outros infelizmente não puderam ir.
Foi muito bom poder fazer aquilo por minha amiga querida, e ela gostou muito do quadro que dei para ela. Não havia pintado recentemente, mas separei aquele que estava na parede do meu quarto para presenteá-la. De artista para artista.
Quando tudo acabou Peter ficou para me ajudar a limpar as coisas. Eu sabia que agora que ele tinha se mudado para Londres não tinha mais motivos para dormir na minha casa, o que me deixou um pouco desanimada.
— Ok, precisamos resolver isso. — Ele disse depois do longo silêncio enquanto lavávamos os pratos.
— Resolver o que? — Murmurei enxugando a louça.
— Mila, há algo estranho.
— Vai continuar estranho até você perceber. — Falei cabisbaixa lutando para manter minha postura.
— Vamos conversar. — Ele enxugou as mãos, já tinha terminado de lavar tudo.
Ele pegou a garrafa de vinho e duas taças. O segui até a sala e hesitei um pouco antes de sentar no sofá ao seu lado.
Andava pensando em me declarar de uma vez, acabar com todo suspense. Mas meu medo da declaração causar o fim da minha amizade com ele era o que tanto me assombrava.
— Toma. — Ele me ofereceu uma taça e encostou a sua na minha brindando sozinho. — Vamos relaxar.
Puxei uma almofada para meu colo. Estava vestindo um vestido jeans, como uma camiseta amarela por baixo, e talvez pudesse tentar seduzi-lo, mas não consegui me expor nenhum pouco.
Tomei um gole do vinho, mas sabia que se ficasse bêbada estaria mais vulnerável.
— É o David? — Peter perguntou colocando sua taça na mesinha de centro. — Ele falou alguma coisa de mim?
— O que ele teria para falar de você? Sinceramente, vocês dois são grandes idiotas.
— Poderia parar de me chamar de idiota? — Ele cruzou os braços.
— O que David teria para falar de você? De qualquer forma, em quem eu deveria confiar? Nele ou no homem que eu conheço a minha vida toda?
Peter me observou um pouco parecendo desconfiado. Ele tinha tirado o dia de folga para ajudar Will com o aniversário de Helen.
— Também não quero que pense que estou tentando impedir você de namorar alguém. — Ele disse. — Você pode ficar com quem quiser. Eu só quero que você seja muito feliz, Mila. Me desculpe.
Ele pressionou os lábios e me encarou preocupado. Tentei conter todas as minhas vontades naquele momento, mas não consegui parar de encarar seus olhos, e a vontade de dizer a verdade queimou dentro de mim. Virei a taça de vinho de uma só vez.
— O que foi isso? — Ele riu me observando limpar a boca com as costas da mão.
Dá para sentir as batidas do coração de uma pessoa em vários pontos do corpo. Peter não recuou quando me aproximei e toquei seu pescoço.
— Normal. — Falei percebendo que ele estava tranquilo, embora sua expressão fosse confusa. Peter estava calmo enquanto meu coração só faltava sair.
— O que está normal? — Ele perguntou curioso.
— As batidas do seu coração.
— Isso é bom? — Neguei com a cabeça deixando sua expressão mais confusa ainda. — Por quê?
— Era para estar assim. — Levei sua mão ao meu peito. Eu percebi o constrangimento se formar em seu rosto. Não sei se pelo meu ato ou pelo meu coração agitado.
— M-Mila... — Peter tentou falar alguma coisa fitando sua mão no meu peito.
— Posso tentar uma coisa? — Deixei sua mão cair e a minha voltou para seu pescoço, o que usei de apoio para me ajoelhar no sofá e ficar ainda mais próxima dele, o encurralando no canto do sofá.
— O que? — Ele disse com os olhos petrificados em mim, parecia assustado como se pudesse imaginar o que eu faria em seguida.
Apenas avancei e encaixei meus lábios nos seus.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro