Thor quase bateu a cabeça no para-brisas quando Megan freou seu carro de uma vez. Eles haviam chegado ao dado endereço no bilhete: 177A, Bleecker Street.

O local deu arrepios nos dois. Era um prédio antigo, amarronzado, que parecia um tanto abandonado. Possuía muitas janelas e, no topo, um tipo de símbolo em um círculo de vidro e concreto. Passaria facilmente por um cativeiro, local de cultos satânicos ou qualquer coisa do tipo.

Thor foi o primeiro a descer do carro depois de observar atentamente o local. Ele estava em trajes despojados, com o Mjolnir "fantasiado" de guarda-chuva. Entretanto, a beleza dele era tão óbvia e avassaladora que nenhum tipo de roupa ou disfarce poderia cobrir seus traços naturais de deus.

Megan estava parada ao lado dele, tendo esses pensamentos enquanto tinha seus olhos dominados pelas íris azuis de Thor. O deus olhou para a porta prostrada à sua frente, levantando o punho para bater.

Antes mesmo de tocar a madeira, tudo virou um vulto. Megan não teve nem tempo de piscar, e muito menos de entender o que havia acontecido. Eles não estavam no mesmo lugar.

Ela forçou os olhos para focar o que estava em sua frente. Uma grande escadaria, um cômodo repleto de madeira... Mas ela não estava na frente de uma porta há um milissegundo?

Ambos olharam ao redor atentamente até seus olhos chegarem a um homem parado no topo da escada. Ele os encarava com um semblante sério. Megan tirou alguns segundos para o analisar, demorando os olhos sobre as vestes esquisitas dele. Era um tipo de quimono azul com alguns apetrechos, parecidos com o cinto de utilidades do Batman, incluindo um tipo de colar que se parecia com um olho. Entretanto, o mais memorável naquele look era uma capa vermelha comprida, que flutuava mesmo sem ter nenhuma corrente de ar a atingindo. Era como se tivesse vida própria.

—Bem vindos ao Sanctum Sanctorum, Odinson e senhorita Carter.

—Quem é você? —Thor foi o primeiro a se pronunciar e aproximar.

O tal homem começou a descer as escadas, consequentemente atraindo uma postura defensiva dos dois à sua frente.

—Sou o Doutor Estranho.

—Estranho? Você é algum tipo de aberração? —a cara de confusão de Megan em relação ao "nome" do tal homem foi respondida, primeiramente, com um revirar de olhos.

—Estranho é o meu sobrenome, senhorita.

—Como é o seu sobrenome?. —Thor também assumiu um semblante confuso. —Gosto de nomes estranhos.

—Estranho. Estranho é o meu sobrenome! —o tal Estranho estava claramente irritado pela confusão dos dois.

—Que tipo de pessoa se chama "Estranho"? —Megan agora olhava para Thor, deixando claro que aquela era uma pergunta retórica.

—Eu me chamo! —o homem agora estava à frente deles, cruzando os braços na frente de seu corpo e revirando os olhos mais uma vez. —Se meu nome é tão difícil de ser assimilado pela mente burra dos dois, podem me chamar de Stephen.

—Obrigada pela humildade, Doutor. Na verdade, não ligamos para sua droga de nome. Apenas nos devolva o nosso Loki. —Megan também cruzou os braços, olhando firmemente nos olhos do tal Stephen enquanto falava.

—Isso não será possível, minha cara. Eu tenho uma lista de criaturas que possam ser uma ameaça ao nosso mundo, e Loki está quase no topo dela.

—Nós estamos aqui em missão de paz, Stephen Estranho Doutor. Estamos procurando por nosso pai. —Thor retornou o semblante confuso quando disse o nome do homem, mas mostrou sinceridade quando falara do seu objetivo em Midgard.

—Eu sei onde está Odin. Se eu te disser, vocês vão deixar esse planeta em paz?

—Certamente!

—Ótimo! —Stephen bateu palmas em um movimento de animação, logo estalando os dedos. No mesmo segundo que ele fez isso, o cenário mudou novamente. Megan coçou os olhos, como se tentasse comprovar que eles realmente estavam funcionando e não alucinando.

Agora eles estavam em um tipo de depósito. Havia uma mesa grande com uma "bacia", onde Stephen despejava algumas coisas enquanto consultava um livro.

—O que é você, Stephen? —Megan se aproximou, colocando seus olhos sobre o livro. Era um tipo de receita para um "portal". Ela ainda achava que ele era um louco.

—Um neurocirurgião. Mestre das artes místicas. Protetor da sua realidade e do Olho de Agamotto. Várias coisas.

A mulher estava com o cenho franzido, tentando assimilar o que o homem acabou de falar.

—VOCÊ É UM MÁGICO?

Ela não pôde ver a expressão de Stephen, mas ele certamente estava revirando os olhos.

—De tudo o que eu disse, você só absorveu isso? As mentes de vocês realmente são subdesenvolvidas. —Stephen suspirou, como se sentisse pesar por ela. Megan nem teve tempo de protestar, apenas viu o tal homem se virando e indo decididamente na direção de Thor. —Eu preciso de alguns fios do seu cabelo.

—A-há! Ninguém encosta no meu cabe- —antes mesmo de Thor conseguir terminar a frase, Stephen sumiu, reapareceu atrás do deus e puxando alguns fios loiros que se rebelavam contra o resto que estava preso.

Megan fez uma expressão surpresa, com medo que Thor surtasse e soltasse raios por todo o lugar. Ela sabia o que aquele cabelo significava para o loiro.

—MEGAN, OLHA O QUE ELE FEZ COMIGO! —Thor falou em um tom choroso, como se Megan fosse sua mãe e devesse protegê-lo do homem mau que tocou em seus fios dourados e sedosos.

—Foram só dois fios, Thor. E está pronto. —Stephen depositou os fios na tal bacia, depois fazendo algo com as mãos e emanando uma luz dourada de seus dedos.

Ele se virou para os dois, estalando os dedos, e lá estavam novamente no cômodo em que chegaram. O Doutor levantou uma mão, deixando-a firme no ar, e com a outra fez movimentos circulares. Conforme sua mão se movimentava, um tipo de faísca se ascendia à sua frente. A faísca dourada formou um círculo completo e, inacreditavelmente, dentro dele um outro cenário aparecia. Como um portal.

Megan estava boquiaberta, se aproximando do círculo para confirmar se realmente estava vendo aquilo.

—Bem, podem ir. —Stephen indicou o portal com a mão.

—Ah, claro. —Thor deu um passo na direção do portal, mas logo parou. —Eu acabei de lembrar que preciso do meu irmão de volta.

Estranho fez uma cara de "ah, é verdade!" e logo fez outro movimento com a mão, apontando para cima.

Outro tipo de círculo se acendeu. Um corpo envolto por trajes negros caiu do ar, fazendo um baque quando encontrou o chão.

Todos olhavam atentamente para Loki caído no piso branco, jogando a cabeça para trás para ajeitar seus cabelos negros que estavam caídos em seu rosto.

—Eu fiquei caindo. POR TRINTA MINUTOS! —ele se levantou, carregando aquela expressão psicopata ao dirigir seus olhar a Estranho.

—Obrigado, Megan e Mago, por toda a ajuda. —Thor deu um rápido abraço na mulher, um aperto de mão em Estranho, logo se aproximando do portal.

—Foi você, mágico de quinta categoria, que desafiou o Deus da Trapaça? Seu filho da p- —Loki não conseguiu terminar seu xingamento, sendo envolvido pelo portal e desaparecendo do cômodo.

Megan ainda estava um pouco perdida, olhando a sua volta para confirmar se eles realmente tinham desaparecido.

— Sim, eles desapareceram. —Stephen soou em um tom de desprezo pela descrença da mulher.

Ela voltou os olhos ao homem ao seu lado, agora vendo seu rosto com mais clareza. Ele parecia estar próximo dos quarenta, tendo olhos verdes muito brilhantes e duas mexas muito bem definidas acinzentadas em seu cabelo.

—Você... —ela fez uma cara perdida, não sabendo o que dizer a seguir.

—Quer saber mais sobre mim? Ouvi dizer que você costuma ser a babá dos Vingadores. —Stephen finalmente soou simpático, até tendo um início de um sorriso em seus lábios.

—SIM! —Obviamente, ela estava extremamente curiosa com o que havia visto e ouvido dele. Já sentia falta de cuidar de seus esquisitões, então todo possível herói era bem vindo em sua vida.

Estranho estalou os dedos novamente, agora os levando para um tipo de sala de estar. Um sofá estava logo atrás de Megan, sendo indicado pelo homem para que ela se sentasse. O próprio Stephen se sentou em outro sofá, de frente para ela, depois estalando os dedos e trazendo um chá em cima da mesa de centro.

—Sirva-se, Carter.

—Pode me chamar de Megan, Doutor. —ela pegou uma das xícaras, bebendo calmamente.

—E eu posso ser apenas Stephen. Então... —ele levou seu dedo indicador até sua têmpora, como se repousasse a cabeça ali. —Eu era um médico, até sofrer um acidente de carro. Tive sequelas nas mãos, não podendo mais mexer com cérebros, obviamente. —ele revirou os olhos. —Busquei todo tipo de ajuda, médica e espiritual, até chegar ao Kamar-Taj, onde fui ensinado tudo que sei.

Ela arregalou os olhos.

—Então qualquer um pode aprender... Você sabe... Como mudar de sala sem andar?

A cara de desprezo e ironia de Stephen nunca esteve tão latente.

—Eu não faço só isso, minha cara. Eu protejo o mundo em que você vive de ataques, tanto no plano físico quanto astral. Além disso, sou o portador de uma das coisas mais poderosas do mundo. —ele deu um sorriso forçado, logo mostrando o seu colar para Megan.

—Esse colar aí é uma arma? —ela olhava com indiferença, bebendo o chá e desafiando Stephen a mostrar o que aquilo realmente era. Quer dizer, ela não sabia nada sobre a índole do homem, talvez não fosse seguro deixar algo assim com ele, não é?

— Esse colar, que os deuses te perdoem por essa blasfêmia, é o Olho de Agamotto. —ele fez alguns gestos na frente do objeto, logo despertando um brilho verde intenso.

Megan observou atentamente a peça, largando a xícara na mesa e se sentando na beirada da poltrona para se aproximar mais daquilo. Ela já viu algo similar.

—Isso... É uma jóia. Droga, outra merda dessas... Droga, droga, droga. —seu olhar desesperado atraiu um semblante confuso em Stephen.

— Como você sabe sobre as joias, Megan?

—Eu já lidei com uma delas, Stephen. E não foi nada legal. Essas pedras idiotas só trazem problemas. Eu sugiro que leve isso para bem longe! —ela se levantou em um pulo, irritada.

A tal joia do cetro de Loki trouxe muita dor de cabeça. Ela foi usada num ataque à Nova York, na criação de dois mutantes Maximoff, em um super-robô-e-o-que-mais-Visão-fosse, era um objeto que emitia raios extremamente poderosos e até mesmo tinha um certo nível de consciência. Megan tinha medo do que aquilo causava, estava aliviada por aquilo sobre controle, mas havia mais uma bem ao seu lado.

—Nenhuma delas é igual à outra, Megan. Cada uma tem controle sobre algo.

—Ah, Deus. Não me diga que existem mais disso por aí! —a pergunta dela foi retórica, mas o olhar sugestivo de Estranho foi uma resposta suficiente.

—Temos cerca de seis. Essa aqui interfere no tempo. —um brilho verde mais uma vez surgiu enquanto ele explicava sobre sua funcionalidade.

—SEIS? EXISTEM SEIS DESSAS BOMBAS IDIOTAS E ELAS AINDA FAZEM SURPRESINHAS? —ela agora colocava as mãos na cabeça, passando pelos cabelos de um modo desesperado.

—Acalme-se, Megan! Eu estou de olho em tudo, nada de ruim vai acontecer!

DO OUTRO LADO DA GALÁXIA...

—I am Groot.

—Não, Groot, você não vai comer outro pacote de jujubas. —Quill tirou os olhos da direção de Milano por alguns segundos para encarar o adolescente de madeira atrás de si.

—I AM GROOT!

—Groot, não seja pirracento! Você está cada dia mais insuportável! —a mulher de pele esverdeada o olhou, repreendendo seu vocabulário baixo.

—Droga de adolescentes. —Rocket revirava os olhos, já cansado de discutir com o poço de raiva e explosão de hormônios que era Groot naquela época.

—ATENÇÃO, ATENÇÃO! GUARDIÕES, ESTÃO ME OUVINDO?

Uma voz metalizada, falha e desesperada soou pelo rádio transmissor da nave, chamando a atenção de todos os ocupantes.

—Quem está falando? —Quill apertou um botão, regulou alguns outros, tentando otimizar o sinal daquela transmissão.

—XANDAR ESTÁ SENDO ATACADA, QUILL! ELES QUEREM O ORBE!

—Eles quem? —Gamora saltou para a frente, temendo a resposta para sua pergunta.

—THA- —antes que o homem que os falava pudesse terminar sua fala, um grito horrorizado soou ao fundo. A transmissão fora interrompida.

O chiado do fim da transmissão era a única coisa que podia ser ouvida naquela nave. Todos estavam imóveis, torcendo com todas as forças para que o fim daquele nome não fosse o que eles pensavam.

—Ah, droga. —Quill fechou os olhos por alguns segundos, já colocando as coordenadas de Xandar como seu destino.

Thanos is coming.