Capítulo I - "I am Iron Man"
Terça feira. Um objeto voador não identificado atravessa as fronteiras aéreas sem nenhum tipo de identificação. Pequeno demais para ser qualquer tipo de jato, grande demais para ser alguma ave. Todo o setor de defesa aérea vai à loucura tentando entender o que era o objeto que conseguiu acabar com um dos melhores jatos que estavam o perseguindo. Um terrorista? Não. O que quer que fosse, aquela coisa salvou um dos pilotos que não conseguiu abrir seu paraquedas. Megan fez uma visita ao escritório onde os integrantes da força aérea viram e lidaram com o objeto. Conversou com alguns membros, que diziam não fazer ideia do que era aquilo e que juraram guardar para si o estranho evento em questão. Entretanto, um dos entrevistados atraiu a atenção de Megan por um nervosismo além do normal, considerando as breves perguntas que ela fez. O coronel Rhodes desviou o olhar para a esquerda quando perguntado se sabia o que era aquilo e isso, absolutamente, não seria um bom sinal. Após finalizar o pequeno questionário, Megan dispensou o homem e, propositalmente, forjou uma leve trombada de ombros ao passar por ele ao sair da sala. Desculpou-se, enquanto o celular de Rhodes já pousava no bolso da espertinha Carter.
Sem muito esforço, acessou a aplicação de ligações recentes de Rhodes. Para a sua surpresa, a última ligação, que mostrava ter ocorrido durante o incidente aéreo, foi de Tony Stark. O que o playboyzinho que acabara de voltar de um cativeiro do Afeganistão tinha de especial para falar com um coronel enquanto este estava lidando com um invasor ?
Deixando o celular do coronel em cima de uma mesa na mesma sala que se encontrava anteriormente e dotada de uma expressão vencedora, Megan fez um sinal com a mão para Nick avisando que estava indo embora. Ela caminhou até o fim do extenso corredor abarrotado da cor branca, chegando à sua perfeitamente estacionada em frente ao complexo e nada discreta Lamborghini Gallardo LP 560-4 branca. Aquela belezura era uma fiel companheira de Megan há um bom tempo, atingindo velocidades muito satisfatórias que a ajudavam a cumprir os prazos malucos de Fury tranquilamente.
Megan dirigia por uma hora e vinte e cinco minutos quando seu GPS informou que ela havia chegado ao destino proposto. Ela passava em frente a um muro alto branco, coberto com uma planta trepadeira verde e algum musgo que dava um charme rústico à entrada do lugar. Parou de frente com um grande portão de ferro negro, que possuía no centro, onde as duas partes do portão se fecham, as siglas T e S. Aquela era a nada humildade residência de Tony Stark. Falando insistentemente por dez minutos com um brutamontes que guardava a entrada, Megan o convenceu a interfonar para a oficina do senhor Stark para falar pessoalmente das intenções de sua visita.
-Boa tarde, senhor Stark. Eu sou Megan, membro de uma organização de inteligência chamada SHIELD. Preciso vê-lo imediatamente devido a possíveis ligações suas com o incidente aéreo na fronteira do nosso país de ontem.
Após um minuto de espera por uma resposta, ela ouviu uma voz masculina saindo do interfone.
-Megan, que belo carro você tem! Infelizmente, consigo vê-la da minha câmera à sua esquerda. Você não é a primeira mulher a bater no meu portão querendo cinco minutos comigo. Mas, infelizmente, hoje eu passo. Tenha uma boa tar-
Antes mesmo de Tony tentar desligar o telefone, ela já estava falando novamente.
-Eu sou a pessoa que invadiu o seu sistema na última quinta e encontrou, em menos de cinco minutos, as coordenadas que levaram o helicóptero até você, senhor Stark. Se acha que eu tenho recursos para encontrá-lo, tenho mais ainda para mandá-lo de volta a um inferno muito pior que o que vivenciou nestes últimos dias. Te dou vinte segundos para abrir esse portão antes que eu o exploda e te arraste para um bunker e arranque de forma nada gentil todas as informações que preciso. Eu não ligo para quem você é. –Após essa pequena demonstração de "você não esta falando com qualquer uma", Megan desligou o interfone e começou uma contagem regressiva mentalmente.
Vinte. Dezenove. Dezoito. Dezessete. Dezesse-
E lá estava o portão se abrindo. Ela deu um sorriso orgulhoso e pensou no quanto sentia falta de ameaçar alguém. Começou a movimentar seu carro novamente, já podendo avistar ao longe o enorme edifício arredondado de uma elegância e ar moderno que ela nunca pensou que funcionariam tão bem combinados. Parecia ter três ou quatro andares, impossível de se dizer certamente pela dinâmica da arquitetura, inteiramente na cor gelo, com grandes contribuições de janelas de vidro em tom fumê. Ela parou seu carro bem à frente da enorme porta negra localizada na entrada principal. Aos lados da porta, entretanto, haviam faixas de vidro que possibilitavam ver um movimento na parte de dentro. Logo que desceu do carro, a porta se abriu, revelando um homem de uns vinte e poucos, estatura mediana, cabelos castanhos escuros e uma barba peculiar muito bem desenhada, de um porte médio e musculoso. Tony Stark. Seus óculos alaranjados tentavam esconder, sem muito sucesso pela transparência das lentes, olhos cansados, decorados com olheiras roxas e profundas de quem parecia não dormir há um mês. Mas o que realmente chamou a atenção de Megan foi um dispositivo no meio de seu peito que exalava um brilho intenso em tons de azul. Conforme se aproximava, pôde perceber que não era parte da regata branca que ele vestia. Na verdade, parecia estar emaranhado em meio a pele de Tony. Lembrou-se de ter visto coisa parecida numa foto de jornal, algum tipo de reator da própria Stark Enterprises. A fim de não causar uma estranheza logo de cara, ela não encarou a estranha peça.
-Prazer em finalmente conhecê-lo, senhor Stark. –disse Megan em um tom cordial duvidoso, se aproximando e estendendo sua mão ao homem com uma cara de poucos amigos à sua frente.
-Não posso dizer o mesmo, senhorita...
-Carter. Megan Carter.
-Senhorita Carter. Acho que já ouvi esse nome antes... Por acaso nós já transamos ? –e, enquanto fazia a última pergunta, Tony abria o sorriso que costumava fazer as garotas se derreterem. Obviamente, ele ainda não havia entendido com quem estava lidando. Megan só conseguia pensar em decorar o rosto de Tony com alguns tons arroxeados usando suas próprias mãos.
-Eu não seria capaz de tamanha atrocidade comigo mesma, senhor Stark. Se não se importa, gostaria de ir diretamente aos negócios. –respondeu, no tom mais indiferente possível.
Tony deu um sorriso de escárnio à resposta da moça, já encostando em sua porta e abrindo passagem para ela entrar em sua casa. E que casa.
O hall de entrada da mansão Stark, mesmo sendo como um corredor, era maior que todo o apartamento de Megan, possuindo espelhos gigantes em ambos os lados direito e esquerdo, com aparadores em uma madeira muito bonita e vasos de vidro decorados com flores que Megan nunca havia visto antes. Seguindo o caminho que os tapetes formavam, eles chegaram à uma gigantesca sala de estar, a qual era formada por paredes de vidro que mostravam o mar do outro lado do edifício. Três sofás muito grandes, em tom marrom escuro, estavam dispostos no meio da sala, com um tapete muito felpudo que poderia facilmente servir de uma confortável cama, e um lustre de cristais pendendo ao meio. Tony apontou um dos sofás, onde Megan seguiu para se sentar. Ele, em contrapartida, dirigiu-se para um bar mais à esquerda. Após despejar uma boa quantia de uísque em um copo e voltar a analisar o rosto de Megan, ele disse:
-Eu já me encontrei com alguém dessa sua organização. Um tal Coulson. Qual o problema de vocês comigo ?
-Problema nenhum, senhor Stark. Nós só-
-Tony. –disse, interrompendo Megan no meio da frase. – Prefiro ser chamado do Tony.
Enquanto ele se dirigia ao sofá em que Megan estava sentada em uma pose muito profissional de pernas cruzadas e coluna ereta, ela acenou com a cabeça para acatar o pedido dele.
-Tony. No dia em que voltou, você deu uma declaração à imprensa. A Stark Industries iria parar de fabricar armas para se concentrar em outras formas de tecnologia. Recentemente, uma tecnologia não identificada invadiu o nosso território aéreo e conseguiu acabar com um jato. Você, Tony Stark, maior nome em tecnologia armamentista do mundo, tem algo a ver com isso?
Tony não tirou os olhos dela enquanto a acusação era proferida. Seu rosto estava impassível, dificultando a leitura por Megan. Ele simplesmente deu mais um gole em seu uísque e respondeu com apenas uma palavra.
-Não.
-Não ? É tudo que tem a dizer, Tony ? Você quebrou sua própria empresa, suas ações caíram 56,5% após sua declaração e aqui está você, em sua casa, no meio do dia, numa regata branca com um enfeite brilhante. Não acha nem um pouco suspeito ?
-Escuta aqui, queridinha, eu não devo satisfação ao governo e nem à droga de organização nenhuma. Eu quase fui morto por um grupo de terroristas que me ameaçavam com minhas próprias armas. Tudo que eu achava que estava fazendo de certo pelo mundo, por esse país, quase me matou. Você, Obadiah, Pepper, podem achar o que quiserem sobre minhas ações, mas o nome que está nessa empresa é o meu. Não quero ter mais sangue de inocentes em minhas mãos.
Megan ficou surpresa pela declaração. Quer dizer que Tony realmente possuía um coração ? Será que ele estava falando a verdade sobre não querer mais estar envolvido com itens bélicos ? Ele parecia estar sendo muito verdadeiro, agora encarando seus próprios pés com um olhar de pesar, como se estivesse revivendo momentos muito difíceis em sua própria mente. Provavelmente algo relacionado ao cativeiro em que foi mantido. De acordo com as declarações que ele deu à CIA, as quais Megan conseguiu encontrar facilmente hackeando um dos computadores da rede, é a de que Tony viu o doutor que salvou sua vida se sacrificando por ele. Isso deve atormentar a cabeça dele por um longo tempo.
-Tudo bem. Isso é tudo que eu precisava saber. Agradeço por sua colaboração. –e assim Megan foi levantando, deixando um Tony ainda perdido em seus devaneios sentado no enorme sofá.
Enquanto caminhava, Megan pensou no documentário que assistiu sobre Howard Stark. Tony perdeu os pais muito jovem, não tendo nem a chance de se despedir. Antes disso, também não possuía um pai, já que Howard era muito ocupado e dedicava mais de sua vida ao trabalho do que a todo o resto. Com vinte e um anos, Tony já teve que assumir a empresa do pai, carregando o enorme fardo de ter o nome Stark e tendo muitas expectativas sendo jogadas em si. Megan conseguiu se identificar em muitos pontos com o homem que estava largado no sofá atrás dela, sozinho, nessa gigantesca casa. Sem nenhum membro da família por perto. Tendo apenas em seu trabalho um alívio e distração. Após esse momento de empatia pela história de Tony, Megan parou de andar e se virou novamente para ele.
-Tony, sinto muito.
-Sente ? Pelo quê ? –respondeu, ainda em um olhar de descrença e indiferença para com Megan e qualquer coisa que seja que ela estivesse sentindo.
-Suas perdas. O sequestro. Tudo. Temos uma história similar em muitos pontos, e eu gostaria de ter alguém que se identificasse comigo dizendo me entende e que sente o que eu sinto. Você pode contar comigo e com a SHIELD para qualquer futuro inconveniente. Meu número estará em cima do aparador na entrada.
Conforme ela falava, a expressão de Tony foi mudando. No começo, desgosto. Ele tinha nojo do sentimento "dó". Mas, quando Megan mencionou ter uma história parecida com a sua, ele se sentiu confortável. Confortável com a presença dela, como se fosse alguém que ele pudesse confiar e que conhecesse há muitos anos. Quando ela terminou de falar ele estava muito mais tranquilo, olhando nos olhos dela, e podendo perceber que ela também carregava um fardo emocional muito pesado. Uma parte dele, porém, estava em dúvida entre ela estar fazendo apenas um teatrinho que fosse parte do emprego. Então ele apenas acenou a cabeça, deixando um agradecimento implícito, e tentou dar um pequeno sorriso. Megan retribuiu, virando-se para continuar seu caminho para fora da casa.
Megan não sabia exatamente até em que ponto acreditava nas declarações de Tony. Absolutamente, ele deve estar traumatizado por tudo que vivenciou, isso explicaria seu não envolvimento com um novo projeto de arma voadora. Mas qual outro ser humano seria capaz de construir uma tecnologia como essa, que passa indecifrável pelos maiores figurões numa base aérea totalmente equipada ? Tendo esse pensamento, Megan segue para casa. Com certeza essa não seria uma aparição única. O grupo ou pessoa que disparou, usou ou pilotou aquilo se manifestaria novamente.
Dito e feito.
Quando Megan abriu os olhos, no dia seguinte, seu celular vibrava desesperadamente. Mesmo tendo uma intensa preguiça, agarrou o aparelho e viu o nome "Pierce" piscando na tela. Para ele realizar qualquer tipo de contato pessoal com ela, a coisa deveria ser importante.
-Megan, eu pensei que você estivesse cuidando do caso do bicho voador. Ele fez outra aparição hoje, num povoado do Afeganistão chamado Gulmira, e trucidou vários integrantes do Dez Anéis que estavam ameaçando os aldeões. Ainda assim, vários mortos e feridos. O Conselho está me questionando.
-O bicho matou terroristas ? Então, quer dizer que ele realmente é bonzinho... –sua cara era de alguém que estava juntando muitos pontos na cabeça. Ainda assim, haviam inúmeras incógnitas. –Então, é algum tipo de avião de pequeno porte ?
-Não. É uma cápsula voadora em formato de homem, feita de ferro e colorida em vermelho e dourado. Sem muitas informações. Nosso principal informante é um menino de 12 anos que diz tê-lo visto pessoalmente. Afirmou que o pai e muitas outras pessoas foram salvas por esse tal bicho. Isso é tudo que tenho, agora vou enrolar o Conselho enquanto você descobre o que é isso, por quem é comandado e o que ele quer. Dois dias. –assim, dando o prazo final, Alexander desligou o telefone, deixando a moça com várias peças de um quebra-cabeça tentando se encaixar.
Megan levantou-se da sua cama e foi direto para o seu improvisado escritório em casa. Não passava de uma mesa na sala de estar com dois computadores muito potentes, alguns dispositivos de localização e um grande quadro em branco que ela usava para despejar todas as informações ou fatos recentes dos casos.
Então ela começou seus rabiscos.
"Cápsula voadora". "Ajudou inocentes". "Tecnologia diferenciada avançada". "Primeira aparição: três dias atrás". "Corajoso". "Povoado do Afeganistão".
"Homem de ferro".
O que ela buscava, então, era uma pessoa do bem, que tivesse acesso à recursos tecnológicos de ponta, que tivesse pendências com o grupo Dez Anéis e soubesse que esse povoado no Afeganistão estava em perigo. Assim, um nome piscou em verde neon na cabeça dela.
"Tony Stark".
Era isso. Tony construiu esse tal robô para matar os integrantes do grupo que o sequestrou. Que o fez sofrer, que quase o matou. Fazia sentido!
Então, ela colocou o uniforme típico de agentes femininas da SHIELD em missões de campo: o macacão cinza agarrado com o símbolo da organização, uma águia, e botas. Por mais que odiasse aquele macacão, o tecido era extremamente confortável e não limitaria seus movimentos, caso tivesse que prender Tony ou algo assim. Ela juntou algumas coisas como o tensor de pulso que emitia choques fortes o suficiente para paralisar alguém por pelo menos 5 minutos, um revólver taurus 410, potente e pequeno, e tomou seu rumo. Em poucos minutos ela já ligava sua moto com destino à mansão Stark.
Após uma hora de viagem à quase 220 km/h com sua moto ninja ZX-6R 336 preta, ela chegou ao mesmo portão negro. No entanto, este encontrava-se semiaberto, sem nenhum segurança no local. Algo estava errado.
Adentrou o terreno com muita calma e atenção, procurando por mais coisas estranhas, e logo que parou em frente à porta principal notou que esta também encontrava-se aberta. Alguém que esteve ali saiu com muita pressa. Ela já pegou seu revólver, ficando na posição alerta, ambas as mãos segurando o revólver e apontando para cima, preparada para acabar com qualquer um que passasse em sua frente. Entretanto, tudo que ela encontrou foi um Tony Stark jogado no sofá que eles ocupavam no outro dia, o rosto extremamente pálido com suas veias destacadas num tom arroxeado. Sua camiseta estava rasgada, revelando um corpo que fazia jus a todo o endeusamento de Tony por parte do público feminino. No centro de seu peito, havia um buraco. Um buraco mesmo. Era um buraco revestido de metal. Logo Megan se lembrou do que estava faltando ali no meio: aquela coisa azul brilhante.
Ela correu para socorrer o homem que estava desacordado, mas vivo, já que podia ver seu tórax se movimentando para realizar a respiração. Ele estava extremamente gélido, e após um leve chacoalhão de Megan, já era possível ver seus olhos de uma mistura de castanho com mel abrindo em um susto.
-Tony, você está bem ? O que aconteceu ? –ela disse em um tom muito afobado, ajudando ele a se levantar. –Vou levá-lo a um hospital.
Assim que ela proferiu a palavra hospital, Tony balançou a cabeça em negação, apontando o buraco no peito e depois as escadas no canto da sala que levavam para o subsolo. Ele mexia a boca, tentava falar algo que soava como "coração", mas sua voz não saía. Ele se levantou cambaleante enquanto Megan tentava assimilar o que ele queria, e logo foi ao seu lado servindo como um apoio e o ajudando a descer as escadas.
-Tem alguém aqui embaixo ?
Ele negou com a cabeça.
-Você precisa de algo que está aqui ?
Um movimento de afirmação.
E assim eles chegaram à oficina de Tony. As paredes de vidro que a trancavam estavam totalmente quebradas, possibilitando a passagem dos dois com certa dificuldade, devido à falta de força de Tony. Ele prosseguiu, com a ajuda de Megan, até uma mesa que possuía um outro dispositivo brilhante, mas que parecia um pouco mais fraco. Ele abriu o vidro que o guardava, se apoiando na mesa, e inseriu aquela rodela estranha de ferro dentro do buraco em seu peito. Megan observava atônita, nunca tendo visto algo parecido.
Tony deu uma respirada profunda, como se tivesse chegado à superfície após vários minutos se afogando debaixo d'água. Sua pele começou a adquirir um tom mais rosado e normal, e sua força parecia voltar aos poucos.
-Você está melhor ? Posso fazer algo para ajudar ? –perguntava cuspindo as palavras a nervosa Megan.
-Eu assumo daqui.
Foi aí que a vida de Megan como membro da SHIELD mudou.
Tony saiu caminhando para um canto escuro da sala. Após apertar um interruptor que parecia invisível aos olhos dela, uma luz se acendeu, iluminando apenas uma vitrine. Atrás do vidro, havia um robô. O robô. O homem de ferro. Mesmo com todas as suspeitas de que Tony era o dono de tal coisa, Megan ainda encontrava-se surpresa, aproximando-se daquilo e analisando cada uma de suas partes. Tony logo abriu aquela vitrine, postando-se na frente do robô.
-Abrir. –disse ele.
E, então, o robô se abriu. Seu interior era oco, parecendo caber exatamente um homem. E coube. Em poucos segundos Tony virou-se de costas para aquilo, e foi como se ele fosse engolido pelo ferro. Não era um robô, muito menos um jato.
Era uma armadura.
Tony era o Homem de Ferro.
-Eu tenho um assunto pendente. Fique aqui e conversamos mais tarde. –disse uma voz parecida com a do Tony, mas um pouco mais robotizada. Dois jatos se ativaram nos pés da armadura e logo ele estava levitando. Após alguns segundos, um jato muito forte se ativou, fazendo Tony quebrar o teto voando. E assim ele se foi.
Lá estava Megan, sozinha, duvidando da sua sanidade no que acabara de ver. Um homem, humano, normal, acabou de se enfiar numa armadura de ferro e saiu voando. Seu primeiro pensamento e ação foram ligar para Fury. Ele adorava esse tipo de doideira.
Após descrever o que aconteceu, Megan subiu as escadas e se sentou com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça sendo segurada por suas mãos. Encarou o bar farto de Tony à sua direita, e logo estava com uma dose dupla de uísque com gelo. Após vários minutos, em meio a tentativas de se comunicar com Tony e observando notícias em tempo real para saber se ele havia feito algo imbecil, a porta preta se abre e de cara aparece Fury, em seu traje usual preto, como um vampiro gótico, e seu tapa olho. Ele carregava uma pasta muito grossa de arquivos embaixo do braço direito e olhava Megan diretamente nos olhos enquanto se aproximava da sala de estar.
Sem nem um "oi" ou "como você está?", como sempre, ele jogou as pastas no chão, que aterrissaram no tapete felpudo do cômodo sem produzir nenhum barulho além dos papéis se chocando.
-O que é isso ? Não estou com saco para mistérios e gente não me falando nada.
Ela odiava ser a última a saber das coisas. Odiava, também, não saber o que estava acontecendo.
-Leia.
Após encarar Fury por alguns segundos com muito mal humor estampado na cara, Megan se deu por vencida e se jogou no chão para avaliar as centenas de documentos que se prostravam à sua frente.
A primeira pasta continha o nome "Steve Rogers". Ela já ouvira isso. Com certeza ouvira isso. Após dois ou três segundos revirando os arquivos internos de seu cérebro, veio a imagem do homem loiro, de olhos azuis, extremamente forte, com um capacete azul. Era o nome do jovem magrelo e asmático que se prontificou a receber o soro produzido pelo pai de Tony, tornando-se o primeiro e único super soldado de sucesso no mundo. Tornando-se, além disso, o Capitão América. O soldado mais famoso da história do mundo que se sacrificou para acabar com um avião abarrotado de mísseis que dizimaria milhões de pessoas. Dentro da pasta, algumas fotos de Steve, um homem extremamente belo, e a foto do que parecia ser ele mas com um rosto muito mais pálido, lábios e pálpebras arroxeados, cobertos por algo... Gelo ? A cara de dúvida de Megan ativou a fala de Nick.
-Este aí é o Steve. Presumo que já tenha a história da vida dele passando na sua cabeça. Essa foto estranha de um cara congelado é ele, há sete dias. Foi encontrado no Ártico, dentro do avião com o qual se jogou embaixo de muitas camadas de gelo. O cara não morreu, mas passou todos esses anos congelado, e ainda está inconsciente sem previsões de acordar um dia. A estação de medicina avançada da SHIELD está cuidando dele, avaliando suas condições físicas, e observando com muito cuidado o seu processo de degelo total. Megan, um cara usando uma armadura não é nada perto do que estamos encontrando ultimamente.
E assim, após ouvir atentamente tudo o que Nick acabara de lhe contar, Megan abaixou o olhar para as fotos que estavam em sua mão.
-Próxima pasta. Bruce Banner. Leia.
Próxima pasta. Bruce Banner. Lendo.
Bruce era um cientista brilhante, o homem que mais sabia sobre radiação gama no mundo. Megan já havia lido um livro sobre esse tipo de radiação, mas nunca teve muito apreço por Física e Química, e mesmo quando sua avó tentava lhe ensinar sobre os processos físicos da água ela tinha sua atenção voltada para "como decodificar os arquivos do pen drive que achou na gaveta de sua avó ontem". Lendo por cima, Megan viu que Bruce tentou desenvolver em si mesmo o soro que foi utilizado na formação do Capitão América. Mas deu muito errado. Após uma foto 3x4 de um homem aparentemente normal, moreno, cabelos castanhos escuros e olhos de cor parecida, de um cabelo rebelde que lhe cai na testa, também muito bonito, havia uma foto de um bicho grande. Esverdeado. Preso por correntes muito grossas de ferro. Escrito atrás da foto, em uma caneta preta, estava "O Hulk". Que diabos era Hulk ? Essa pergunta foi respondida instantaneamente por Fury, como se ele lesse sua mente.
-O Hulk é um monstro que habita a mesma pele do doutor Banner. Os dois não são uma mesma pessoa, mas habitam um mesmo corpo. Quando Banner se descontrola, o Hulk assume seu lugar. É um ser quase irracional, dotado de absolutamente nenhuma lei moral ou ética, que causa destruição extrema por onde passa. Bruce teve seu primeiro surto, transformando-se no Hulk, há três anos. Você ainda não estava na SHIELD oficialmente, sua avó ainda estava viva e nós dois cuidamos disso sem dar nenhum alarde. Ninguém ficou sabendo da existência desse monstro. Nós o monitoramos de longe, que se encontra agora na Índia. Próxima pasta.
Próxima pasta.
Tesseract.
-É impressão minha ou o nome desses homens estão ficando cada vez mais estranhos ? –disse Megan, agora mais calma, absorvendo a estranheza de tudo que estava vendo.
-Este não é um homem. É a causa de eu estar te mostrando tudo isso. É a causa de eu estar criando uma nova divisão confidencial de nível 10 para você comandar.
-Uma divisão ? Para mim ? Do que se trata ? –mesmo que soasse um pouco precipitado uma mulher de 21 anos e 11 meses assumir toda uma divisão da maior organização de espionagem do mundo, Megan já estava totalmente devota à ideia e pronta para assumir qualquer que fosse sua responsabilidade naquele exato momento.
-O Tesseract, Megan, é um cubo de pura energia que foi encontrado no mar por Howard. Desde então, estamos fazendo testes e mais testes para tentar entender o que é e o que ele é capaz de fazer. Mas esse troço é alienígena.
Enquanto Fury falava, Megan foleava os numerosos arquivos de relatórios diários do comportamento do Tesseract. Numa foto, mostrava um cubo de energia brilhante em tons azuis, de um brilho parecido com o pequeno reator que Stark carrega no peito. Não parecia algo tão ofensivo, mas ressoava em todos os mínimos cantos ser algo que veio de outros mundos. Isso deixava Megan com um sentimento de impotência. Num dia, todos somos seres normais (na medida do possível), trabalhando, convivendo com nossos infernos psicológicos pessoais, e então chega um cara dizendo que o mundo não é bem assim. Que existe um cara com superpoderes descongelando numa sala do prédio em que Megan trabalha. Que existe um cara superinteligente que se transforma num monstro verde quando fica bravo. Que existe um cubo mágico que é mágico mesmo, e que levanta as questões de "não estamos sozinhos nesse Universo nem fudend-". E que a coisa mais normal que ela vivenciou na semana foi um cara que voa por aí numa roupa de ferro.
Após muitas horas de uma Megan alternando entre ficar sentada como um zumbi em estado terminal e andar de um lado para o outro durantes crises de ansiedade, Tony Stark chegou à sua casa. Naquele momento, ela pensou sobre tudo que viu naquelas folhas e sobre tudo que deveria ser feito. Por ela.
Quando Tony abriu a porta, ela estava em pé, de costas, observando a escuridão do lado de fora.
-Tony, tenho uma proposta para lhe fazer. –disse a mulher, em um tom um tanto quanto sombrio, mais alimentado pelo canto escuro onde ela se dispunha. –Há uma ideia. Eu chamo de Iniciativa Vingadores...
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