The comeback
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LOUIS
Talvez não tenha sido a melhor resposta para dar ao Harry, mas foi a única que me veio em mente. Depois disso, não teve um retorno. Esperei tanto para que pudéssemos ter um diálogo online, mas pelo visto, ele não quer isso. Por um lado é bom a ideia de olhar no olho, pelo outro torna a angústia dilacerante de não saber quando será o próximo dia.
— Está pronto pra isso? — Tia Jane massageou meus dedos roxos na sala de espera.
Como havia prometido, eu iria para uma consulta com a terapeuta e tentaria melhorar, mesmo que eu não sentisse que tinha um jeito para aquilo. Para mim.
— Não. Mas eu vou tentar fazer o que posso.
Apesar do seu olhar estar me cortando em fatias depois de me ouvir, tia Jane esticou sua mão e massageou a minha palma.
— Eu sei que você vai conseguir.
Sorri, balançando a cabeça.
Tentei comer hoje pela manhã, mas meus pensamentos pioraram com o passar dos dias. Eu estava vivendo o meu próprio inferno e quase me sufocando através dele. Depois do meu primeiro mal estar e quedas de cabelo no travesseiro, comecei a ter dificuldades para fixar algo nas minhas mãos, por exemplo: segurar um lápis e escrever de modo normal, para mim havia se tornado quase impossível. E por conta da constante mudança de peso acelerada, acabou atrasando meus estudos. Nada mais parecia o mesmo e as vertigens me puxaram aos desmaios repentinos. Meu estado de saúde chegou até a diretora e eu precisei vir para a terapia.
Ca estou eu, cavando uma nova estrada sem saber se era exatamente isso que eu queria.
A clínica que estava, era moderna e acolhedora, com mesa posta no centro da recepção, um tapete nude estirado por debaixo e folhas verdes em jarros para entoar paz. Uma música clássica tocava no fundo e revistas estavam no porta papéis próximo dos sofás. A ideia é apenas fazer com que as consultas valessem a pena e que melhorias começassem a surgir em mim e era sobre elas que meu medo de estar ali, aumentava.
Para me distrair, bato as pernas e toco nas unhas quebradiças da minha mão, esperando ser atendido o quanto antes. Encaro a senhora entediada do outro lado do balcão, arrumando seus cabelos negros e tentando esconder seu olhar enjoado, deve ser difícil para alguém como ela, ter que passar estresse todos os dias nesse lugar. Desvio meu olhar para o pequeno corredor movimentado e suspiro, sentindo os meus olhos pesarem. Entre as lacunas da entrada, um garoto loiro surge com um caderno mas mãos, parecia com um diário rústico e elegante. Se não me engano, teria sido Niall Horan, um dos alunos que me recepcionou no primeiro dia e tentou me sugerir ajuda
Engulo em seco, por ver que ironicamente eu estava no local que ele citou no banheiro. Niall estava sozinho e parecia contente quando me encontrou. Suas mãos se ergueram e ele acenou, faço o mesmo e suspiro.
— Quem é ele? — escuto Jane sussurrar no meu ouvido e apontar com o queixo na direção dele.
— Ahm, hum... É o Niall da escola.
— Por que não vai falar com o Niall da escola?
Me virei para ela, pensando no modo mais educado de dizer que eu não estava com muita vontade de me mover para o outro lado.
— Louis Tomlinson? — a recepcionista me salva ao me chamar. — A doutora te espera na sala dela.
— Ok.
Tia Jane tenta me questionar, mas me despeço apontando para a porta de madeira. Ela semicerra com o olhar e sei que mais tarde serei imprensado por seus questionamentos longos e persuasivos. Coloco minhas mãos dentro do bolso do moletom e sinto minhas mãos suarem quando parei de frente para a sala da terapeuta. Era a primeira vez que eu tentaria lidar com aquilo e estava com medo de não ser exatamente o que todos afirmavam.
Fecho meus punhos e bato contra a madeira, ouvindo o som dos papéis do outro lado. A terapeuta elevou o tom para dizer: “Entre” e por mais que eu tenha torcido contra para a sua boa recepção, girei a maçaneta e me enfiei na sala fria. A mulher que estava sentada em uma poltrona, abriu o sorriso ao me ver e deixou seus papéis de lado.
— Entre, rapaz. Não fique que nem uma estátua na porta! — ela riu e eu despertei para começar a agir.
Faço o que ela me pediu e caminho em passos arrastados na sua direção. A terapeuta tinha cabelos curtos cacheados, volumosos a ponto de não deixar de destacar os fios iluminados do seu castanho mel. Seus olhos eram cheios de vida, lembravam caramelos sobre sorvete de chocolate, sua pele era carregada por detalhes suaves que uma mulher negra poderosa carregava. Era vital ser suprido por uma positividade quando se está próximo dela e o modo como ela parecia confortável no seu macacão jeans, quebrava a seriedade que o seu escritório aparentava.
— Louis William Tomlinson?
A mulher de sorriso largo se levantou, causando um pouco de ansiedade em mim.
— Sim.
— Eu sou, Michelle Horan. — Oops. Meus olhos arregalaram quando ouvi seu sobrenome.
Niall estava aqui como se fosse sua casa. O que significava que aquela mulher era sua mãe. Como poderia ser possível? Digo, talvez agora faça sentido a sugestão de ajuda da sua parte.
— Louis? Tudo bem?
— Não estou certo dos meus sentidos, deve ser a fraqueza. — minto, tentando não parecer surpreso.
— Por que não se senta? — Michelle rir, apontando para o divã vermelho. — Ou se deita, fique a vontade.
Balanço a cabeça e me sento, colocando as mãos nos joelhos. A mulher de cabelos de mel, caminha até a mesa de vidro e enche um copo com água. Logo o traz para mim e aceito, tomando um pequeno gole para mão ficar cheio.
— Melhor? — afirmo com a cabeça. — Você ficou pálido e provavelmente, eu saiba o motivo quanto você. Vou ter que dar os cinquenta dólares ao Niall por perder essa aposta! — seu tom muda para irritado.
Arregalo os olhos e abro a boca, sem deixar sair nenhum som.
— Ah, não se surpreenda. Eu sou a mãe adotiva do Niall! Ele me disse que você precisava de ajuda e bem, consegui convencer a diretora a mandar meu número para a maravilhosa Jane. — Michelle sorriu, agora mais tranquila em suas ações. — Fico feliz que tenha vindo.
Tentei não questionar os motivos dela ter feito uma aposta com o Niall sobre como eu me comportaria depois que descobrisse a verdade. Abaixei a cabeça, tomando outro gole de água e deixando o copo na mesa de centro.
— Posso perguntar?
— Claro.
— Por que eu me sinto exposto por vocês dois?
Michelle levantou a sobrancelha e colocou as mãos no queixo como se estivesse analisando minha pergunta.
— Talvez, porque eu e meu filho tenhamos invadido parte da sua privacidade? — Michelle indagou.
— De fato. Acho que vocês ultrapassaram os limites e eu tenho todo o direito de dizer pra minha tia que não vou mais vir para essa terapia. — Afirmei me levantando, revoltado quem sabe, com aquela possível ousadia.
A Sr.Horan não disse nada e me observou caminhar em direção a saída.
— Ou — paro de andar, esperando as próximas palavras dela. —, você pode ficar aqui e tentar lutar pela sua vida.
— E o que te faz pensar que eu quero lutar pra viver? — viro meu corpo e mantenho meus pés firme no chão para não cair.
— Porque você está aqui. E você não sabia do nosso plano e por algum motivo você sabe que está a um fio de perder tudo o que tem e existe algo ou alguém que o inspira a ainda acreditar na ideia de viver. De melhorar. — Michelle carregava firmeza nas suas palavras, enquanto colocou as mãos na frente da sua barriga. — Me corrija, caso eu esteja errada Sr. Tomlinson.
E eu queria ter alguma resposta para contrariar o que ela me disse, entretanto, não havia. Ela estava certa e não faço a mínima ideia como ela sabia tanto sobre mim, quanto eu mesmo. Abri e fechei a minha boca, emitindo meus ruídos baixos quando voltei para o meu lugar e captei seu sorriso.
— Que bom que estamos finalmente nos entendo. — Ela ficou com a coluna reta e puxou a prancheta da mesa. — Está certo para iniciar a sessão?
Dou de ombros e ela sorri.
— Vou entender isso como um sim. — Ela posiciona caneta em cima do papel branco com linhas e informações. — Bem, como estamos na nossa primeira sessão, vamos começar com os procedimentos simples. Preciso que tire os sapatos para sabermos seu peso na balança e eu vou avaliar outras coisas antes de começar o tratamento.
— É mesmo necessário?
Odeio saber meu peso, odeio ter que ver o que me torno todos os dias.
— Sim, Louis.
Bufo. Desabotoando meu cadarço e pensando que talvez não tenha sido uma boa ideia tentar vir a terapia. Michelle me acompanhou até a balança e vimos o número 47, fiquei angustiado porque não era o que eu imaginava que estava, eu queria muito menos. Aquele peso me deixava alarmado. Começo a me organizar, quando ela avalia a altura e chama uma enfermeira para medir minha pressão e quando ela sai, voltamos para outras analises na prancheta, eu me sento no divã, balançando as pernas ansioso e agoniado.
— Você costumava pesar naturalmente quantos quilos? — Michelle balançou a caneta nas mãos.
Olho para baixo, com vergonha de revelar o verdadeiro peso que eu tinha antes. Por causa dele que estou tentando fugir do que um dia fui.
— Louis, para nossa terapia funcionar, você precisa me deixar conhecê-lo melhor. — suspirei — Aqui não vai existir julgamento e eu prometo ser sincera no que eu falo.
— Certo. — Me dei por vencido — Eu pesava sessenta quilos, por aí.
— Quando você começou a praticar bulimia?
— Desculpa, mas realmente devemos começar assim? Não era pra você perguntar se eu tinha algo pra falar sobre mim?
Michele largou a prancheta do seu lado e massageou o couro da poltrona, seus olhos estavam concentrados em mim.
— E você tem algo pra dizer? — ela indagou. — Geralmente os pacientes se sentem perdidos sem uma pergunta. Então, pensei que seria favorável questionar a fazer essa sugestão.
Fiquei em silêncio, engolindo a audácia que eu tentava ter para cima da terapeuta. E confesso que eu estava chateado, descontando minha frustração de estar ali em alguém gentil e boa. Engulo em seco, mexendo as pernas lentamente e suspirei.
— Quando criança, recebia alguns apelidos sobre meu corpo e dentro da minha própria família. Todos os dias eu lidava com isso e conforme fui crescendo aumentou toda a insegurança que eu tinha sobre ele. Foi quando eu comecei a ver pessoas magras serem elogiadas por serem de tal forma e eu sendo comparado com elas, no quesito de ter que alcançá-las. — olho para os meus pés, revivendo todo aquele inferno. — Mas tudo ficou pior quando entrei no ensino médio e os insultos ficaram piores, foi quando eu pensei que teria respeito se eu colocasse meu corpo como daquelas pessoas perfeitas sofreria menos. Então, isso foi se tornando frequente e eu comecei a me viciar em todas as táticas para emagrecer que eu via na internet.
Descarrego meus ombros para trás, assim que minha cabeça encostava no divã. Michelle pediu para que falasse sobre minha vida e meus pais. É claro que era amargo dizer que eu jamais os veria e doloroso por ser a única verdade. Mas a tia Jane, era como uma mãe pra mim e eu deixei claro quando relatei que ela ficou ao meu lado todo esse tempo. A sessão inicial, não era longa, apenas trinta minutos para que eu colocasse para fora tudo o que poderia estar me matando. Mesmo que faltasse um pouco do que eu queria dizer, pressupus que teria sido o suficiente para aquele dia.
E talvez, eu não tenha carregado a decepção que eu esperava.
Michelle me ouviu todo o tempo e não me cortou, foi um pouco estranho ser o único a falar na sessão ao mesmo que interessante porque eu notei que uma parte obscura de mim estava saindo. Quando finalmente, respirei fundo e a encarei, Michelle sorriu e deitou como se fossemos grandes amigos conversando sobre a vida.
— Tem uma longa história e uma tragédia também, sinto muito pela sua família e o acidente. — A respondo dizendo que está tudo bem. — Falta apenas dez minutos para encerramos a sessão, tem algo que queira acrescentar?
— Acho que se eu falar mais, vamos utilizar o tempo dos outros da fila. — Eu solto uma risada e ela me acompanha. — Por enquanto, está sendo o suficiente.
— Tem razão, você começou bem e apesar de recluso, deu seu primeiro passo ao estar aqui. Veja isso como motivo de mudança. Não será fácil, pode ter certeza porque temos que trabalhar muitas coisas em você. E se permitir, toda essa bolha de negatividade vai explodir e sumir aos poucos.
— Então eu vou ao psiquiatra, não é?
— Está diante de uma formanda recentemente na área de psiquiatria! — Arregalo os olhos e ganho seu bom humor. — A única coisa que não me especializei foi em nutrição, então, terá que ir na nutricionista para começarmos a ver sua alimentação.
— Hum.
— Entendo, que seja difícil se permitir alimentar seu corpo, mas veja que é necessário. É olhando para si mesmo que nota as mudanças drásticas no seu corpo? — ela indagou com o tom suave. — Por ele, Louis, tente mantê-lo saudável, bem e seguro. Seu corpo é seu lar. Lembre-se disso.
Não me opus, apenas assenti com a cabeça.
— Na próxima sessão, vamos começar a trabalhar algumas coisas importantes e vou passar esse tempo separando as suas primeiras medicações.
— Será necessário? — Me levanto abruptamente e sinto meu corpo quase tombar para frente.
Fiquei intacto, pressionando minhas mãos na lateral do divã e esperando as ondas de calafrios passarem.
— Você ainda pergunta? — A encaro como a expressão vazia e sinto o frio se estender pelo meu corpo. — Vamos até a porta, vou garantir a sua tia que você continuará o tratamento, correto?
— Só porque eu gostei de você. — A respondo como um sorriso fraco.
De repente, tudo parecia frio e cansativo demais. Michelle gargalhou, passando as mais nas minhas costas. Nos despedimos quando ela colocou a cabeça para fora e acenou para a minha tia. Olhei para os lados a procura de outra pessoa, não encontrando no meio daquelas cabeças. Jane se apressou para me cumprimentar e envolveu deus braços ao redor do meu corpo.
— Eai, como foi? — Ela movia suas mãos rapidamente para arrumar meu moletom e cabelos. — Devo ir na recepção confirmar a sua volta?
Procuro mantê-la quieta e aperto seus dedos para que ele parasse.
— Foi bom, a Dr. Horan é legal! Tivemos uma boa conversa e acredito que está inacabada. — Tia Jane soltou um gritinho, cujo atraiu os olhares dos pacientes e o meu coberto de vergonha.
— Estou muito contente, querido. Tenho certeza que vamos caminhar para o próximo passo da sua vida! — Positiva como sempre, Jane me lançou um olhar coberto de emoção e brilho. — Obrigada por tentar.
Sorri, sem jeito.
— Não vá chorar, estamos no meio de pessoas! — brinquei e ela apenas rolou os olhos.
— Fique aqui, vou na recepção pra podermos ir pra casa.
— Ok.
Enterro minhas mãos no bolso e brinco com meus dedos enquanto a tia Jane aguarda ser atendida. Olho para os lados, me perguntando se valeria a pena todos os dias que viesse para a terapia. Quer dizer, vale mesmo a pena viver como todos afirmam? Ou será apena um modo de empurrar a todos nós para fazer uma terapia? Seja o que for, espero que funcione para o bem de alguém.
Encaro um paciente sentado na última fileira das cadeiras, percebendo que ele me observava de modo sublime e curioso. Abaixo a minha cabeça, ainda sentindo seu olhar na minha direção e engulo em seco. É inevitável, não ficar bem quando algum cara me encara. O professor acabou inserindo um pânico alto e reflete todo o meu medo quando alguém me encara por muito tempo. Suando por dentro do moletom, dou um pulo quando o som da notificação do meu celular entoa, puxo do bolso e estremeço mais ainda por saber de quem se tratava.
Harry
On-line
Desculpe a demora para retornar a sua mensagem, quero que saiba que acabo de me estabilizar com a minha mãe e vai ficar mais fácil para que possamos nos encontrar.
15:55 ✓✓
Então, minha mãe sugeriu que eu vá na sua casa e converse melhor sobre o meu sumiço. Se você ainda quiser, fico aguardando sua mensagem de volta
15:55✓✓
Ai caramba! Meu coração estava quase saindo pela boca por pensar que o momento era exatamente agora.
Ok, ok! Não surta antes do tempo Louis, vocês vão conversar como queria. Harry entrou em contato, o que significa que ele se importa mesmo em deixar claro tudo o que aconteceu quando ficou ausente. Minha palma suou o bastante por vê-lo online e saber que finalmente colocaremos as cartas na mesa. Eu só tenho medo que no final, as cartas rasguem e acabem se espalhando para todo o lado.
Eu
Tudo bem, que dia fica melhor pra você?
16:00 ✓✓
Harry
Pode ser hoje?
16:01✓✓
Puta merda! Logo hoje? Largo o teclado e encaro a tia Jane assinando o papel no balcão e penso se ela deixaria eu falar com Harry hoje. Embora, a resposta seja sim, já que ela sabe tudo o que ele passou.
Eu
Tudo bem, que horas?
16:10 ✓✓
Harry
Às 18?
16:10 ✓✓
Eu
Ok! Espero você.
16:11✓✓
Harry
Prometo que dessa vez, não será por muito tempo.
Até logo!
16:15 ✓✓
Visto por último às 16:15 da tarde...
Desligo o celular, sentindo a garganta seca e meu corpo dormente. Harry finalmente iria me ver e eu não sei como reagir normalmente. Começo a ficar nervoso e surtar internamente, tia Jane acena para a recepcionista sem receber de volta e para na minha frente com o seu sorriso largo, aos poucos o desfazendo.
— Tudo bem? Você está pálido.
— Estou bem, eu só — coço a cabeça respirando fundo. —, quero ir embora.
— Certeza?
— Absoluta. — faço um sinal positivo com o polegar.
Tia Jane assentiu e me guiou para fora, o mundo ainda estava girando para mim e se ela não estivesse me segurando, acredito que cairia.
✧✧✧
A primeira coisa que eu fiz quando chegamos em casa, foi ir direto para o quarto tomar um banho. Como esperado, tia Jane deixou que Harry viesse conversar comigo desde que não passasse disso, é claro que ela estava se referindo a sexo, mas mal sabia que eu era casto. Desfiz aquela conversa garantindo que talvez tenha sido justamente aqui que ele tenha escolhido para falar, já que ela estaria por perto. Os adultos tem uma maneira estranha de querer interferir na nossa vida, eu hein!
A água parecia gelada a medida que eu esfregava meu corpo. Minha cabeça não parava, estava concentrada nele e pensando no que ele iria falar pra mim. Parecia ter sido transferida a tudo o que se referia a ele: “Harry, Harry e Harry”, ela não sossegava e parecia maliciosa a não me deixar esquecer que ele viria. Demorei alguns minutos no banho e fui de toalha até o guarda roupa, escolhi cerca de dez peças, mas nenhuma parecia ideal para o momento.
Oh droga! Por que isso é importante mesmo?
Bagunço os meus fios e respiro fundo, olho pra aquela pilha em cima da cama e puxo a blusa de frio de lã vermelha, a calça caqui nude e vans. Simples mais conceitual, penteei o cabelo percebendo o bolo de fios morto que caiu na minha mão. Aquilo começou a ficar fora de controle e olhado para o espelho, lembro do que eu ouvi na terapia e a junção do quão era verdade. O assunto sobre a minha saúde era mesmo sério.
Porque a minha vida estava por um fio.
Jogo o bolo de cabelo no lixo e deixo a minha franja pro lado. Fico por algum tempo paralisado no meu reflexo e percebo as manchas roxas visíveis até mesmo de longe. Subo mais a gola para que Harry não veja, embora seja óbvio a minha situação.
— Uau! — escuto do outro lado, a voz feminina da minha tia. Me viro e a encaro parada no batente da porta. — Não sabia que o garoto era importante pra você!
— Por que você estava me espionando? — Me locomovo até a cama e começo a juntar a pilha de roupa.
— Óbvio que eu não estava fazendo isso, você que parecia no mundo da lua e esqueceu que mora com outra pessoa. Inclusive, uma pessoa maravilhosa! — Tia Jane cruzou os braços, pressionando os seios. — Está nervoso.
— Eu não estou nervoso e — Jogo minha roupa em cima das dobradas. —, pare de me analisar!
— Não preciso te analisar, pelas suas próprias ações já conseguimos saber. — Ela riu. — Você nem falou nada depois que entramos, saiu correndo e agora está jogando toda a roupa que eu dobrei com carinho, de qualquer jeito.
Fecho a porta do guarda-roupa, apertando os dedos na fechadura de madeira e me viro, para a mulher persuasiva diante de mim. Ela tinha razão, eu mesmo desconfiaria se visse alguém extremamente agitado. Empurro minhas costas no guarda-roupa e lanço a ela um olhar derrotado.
— Tá, digamos que esteja certa. Me sinto vulnerável quando se trata dele. E Harry vai chegar daqui a pouco, eu tenho medo de não sair tudo bem. Eu sei que é estúpido criar uma ansiedade em cima disso, mas eu falei besteira pra ele por mensagem e tenho medo, repito, de que ele me odeie.
— Meu amor, Harry não pode odiar você. Deve ser por isso que ele está vindo conversar? — Tia Jane suavizou a expressão e me fez lembrar da mamãe. — Tente não colocar seu medo em cima disso. Toda essa pressão está fazendo acreditar que vão romper um laço que digamos, não deixaram de criar. Respira fundo, Louis e espere vocês colocarem as cartas na mesa.
Coloco minha mãos no rosto e sinto uma enorme vontade de gritar.
— Coragem seu bundão! É mais capaz de se beijarem nessa cama do que magoarem o coração um do outro.
Espio entre os dois dedos seu olhar alegre e congelo, ao escutar o som da campainha. Puta que pariu!
— Opa! Se não é o príncipe misterioso abaixo. Você vai atender ou quer que eu faça as boas novas?
Eu queria ter um motivo para rebater a minha tia, mas começou a suar que nem uma galinha em dia de verão. Peço para que ela desça e a Tia Jane assentiu, rindo enquanto se afastava. Apresso meus passos até a porta, ouvindo o som da tranca da sala e outra voz por baixo.
“Nossa! Harry! Que... Diferente!” tia Jane o cumprimentou, o que será que ela quis dizer com diferente?
Escutei sua risada, rouca e tímida do outro lado. Meu coração aqueceu por alguns instantes, até eu voltar a me concentrar nele.
“Olá, Jane. Obrigado pelo elogio, você está deslumbrante!”
Harry estava diferente.
“Se estar suada e esgotada depois de ir a uma clínica é estar deslumbrante, eu quem devo agradecer.” Pelo amor, tia Jane!
Ele riu de novo e escutei algo da minha tia pedindo para entrar. Começo a tremer como Pincher e percebo que suas vozes vão sumindo conforme vão ficando distantes. Talvez, fosse a minha deixa para descer e cacete! Ele mexia comigo sem precisar estar perto, levanto do meu canto e encaro minhas mãos, conversando sozinho até voltar a ouvir as vozes no andar de baixo.
“Por que não sobe e o chama? Louis ficou empolgado com a sua visita. Tenho certeza que ELE o espera no quarto.”
Aí não! Não, não, não! Eu vou matar a minha tia! Como ela pode? Pior ainda, como ele aceitou e começou a vir até aqui?
Olho para todos os lados e entro em pânico, jogando os papéis de lixo debaixo da cama e sinto o suor atrás das costas. Odeio ficar alarmado e daquele jeito, quando os passos estão perto o suficiente da minha porta, me sento na cama e finjo que estou olhando para os meus pés.
Péssimo!
Duas batidas causam embrulho no meu estômago e de repente, minha boca fica seca trazendo a lembrança do nosso primeiro beijo. Porque tinha que ser naquele momento para todos os meus sentimentos virem à tona.
— Entre. — quase sussurro e não encaro a porta.
Escuto o ruído lento que ela fez, até conseguir sentir seu perfume de longe. Forte e inesquecível. Mordo os lábios e sinto um turbilhão de sentimentos dentro de mim quando ergo meu olhar e o vejo. Diferente e brilhante. Com suas velhas roupas pretas e jaqueta jeans, com o cabelo mais curto e rosto sadio. Suas tatuagens estavam mais cobertas e com o novo corte de cabelo, ele pareceu destacar o piercing no rosto.
Consigo decifrar o que a expressão que a tia Jane usou para falar com Harry, realmente era de se arregalar os olhos.
Fico em silêncio, pois, estou devidamente preso naquele garoto enorme no meu quarto. Acho que é fácil descobrir que estou babando na sua beleza, pois, ele também fazia o mesmo comigo.
— Oi, Louis!
— Oi, Harry! — finalmente conseguimos colocar para fora nossa saudação.
— Se importa se eu me aproximar ou quer que eu espere você lá na sala? — Ele enterrou as mãos no bolso da jaqueta, ressoando intimado pela minha frieza.
Olho para as minhas pernas e balanço com cuidado porque de verdade, eu queria mesmo era correr para os seus braços e não largá-lo. Afinal, ele sobreviveu a escuridão para contar história, o que significa que ele tem um grande propósito pela terra. Mas eu estava com receio e travado, tudo o que eu fiz foi balançar a cabeça.
— Quer que eu desça? — ele indagou confuso.
— Não. — Crio coragem para encará-lo. — Eu quero que você fique. Pode fechar a porta?
Ele levantou as sobrancelhas e assentiu. Espero o bater da porta e escuto seus passos indo até a cadeira perto da minha escrivaninha. Depois que eu liberei para que ele pudesse trazê-la pra perto, começo a surtar internamente e trago a vontade de chorar com medo, ao mesmo tempo que feliz pela sua volta.
E me pergunto, o que ele espera de nós?
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Primeiro post de Medicine do ano
(っ˘з(˘⌣˘ )
Queria agradecer por todos que ainda dão vida pra essa história!
E como estamos seguindo pro encontro, pergunto: Quem vocês querem narrando o capítulo no próximo?
Espero que tenham gostado e fiquem bem!
Amo vocês!
Ax.
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