Se eu perder você
"Tudo bem :)"
Olhando para o teto eu pensava no quanto essas palavras poderiam me afetar. Se seria surpreendentemente bom ou ruim. E eu precisei me esforçar para não entrar em uma crise que agravasse meu estado de saúde. Mas acho que consegui exprimir toda a minha ansiedade depois que mandei para o Louis uma mensagem de texto mostrando que estava "tudo bem". Tive medo de perdê-lo, demorei cerca de duas horas para poder pensar em algo exato.
Acarretando na demora para digitar.
Durante a terapia com o doutor Otto, aprendi que deveria sempre trabalhar o que eu tenho que dizer ao outro. Não como se fosse uma regra, é o famoso "pensar antes de agir" e eu tenho costumes estranhos de ser completamente intenso no que digo. Uma das características de um border e bipolar é sentir demais. Comecei a terapia duas semanas atrás, todos os dias. Os remédios tem sido meu chacra, Carbolitium tem me feito bem, apesar dos efeitos colaterais. No começo eu quis desistir, nunca conseguia melhorar e essa agonia atrasou todo o processo de estabilidade. A terapia não foi o suficiente e logo, me passaram para o psiquiatra. Quase fugi por medo e voltei por ele. Porque eu preciso ficar bem, para que nosso vínculo seja prolongado.
E por isso tenho tentado, arrancando forças de não sei de onde pra fazer isso dar certo. Pois, as recaídas podem ser constantes se o tratamento não for levado a sério. Quando tiraram o tubo de mim e começaram a auxiliar com algumas medicações da internação. Claro que para eu poder tomar os meus remédios psiquiátricos, precisei do intervalo de tempo. Então, os primeiros sintomas vieram na primeira pílula, quase enlouqueci de tão forte que eram. Fiquei transtornado e me perguntei se era mesmo uma medicação para alguém como eu.
Mas o doutor Otto, me afirmou que fazia parte do processo. Confiei nele e hoje, sinto o belo trabalho que está fazendo. Nunca pensei que poderia dizer isso ou se é apenas a empolgação para mostrar ao Louis o que estou fazendo ou como está indo as coisas. Tenho terapias, que me ajudam o suficiente para equilibrar as duas coisas. Todo o custo, foi oferecido pelos doutores que me ajudaram a sobreviver as toxinas das drogas e devo isso a eles também. A minha mãe que não saiu do meu lado desde que eu caí.
Não vou negar que a mensagem do Louis me dilacerou, quase me derrubou outra vez. Eu pensei que estava perdendo e que a mensagem que eu li, significava nunca mais olhar nos seus belos olhos azuis. E ele me pediu para ficar longe... Foi o bastante para eu mirabolar a melhor maneira de conseguir sua atenção. A resposta veio no tarde da noite, fiquei esperando por um bom tempo até ler a sua mensagem:
"Tudo bem :)"
Acho que foi a única coisa que ele conseguiu dizer pra mim e foi o suficiente, eu só precisava de uma resposta afirmativa. Ainda gostaria de estar perto dele, nem que seja pela última vez. E sorrindo como um bobo, eu consegui pegar no sono sem estar sob delírios.
✯✯✯
- Vai mesmo se divorciar dele? - insisti na pergunta, arrumando meu cabelo com a mão.
Anne estava em pé, olhando através da janela alguma coisa vinda do jardim da casa de recuperação que eu estava. Com um vestido vermelho até o joelho e os cabelos soltos no ombro. Lembro que quando eu era criança, adorava sentir o cheiro do perfume das duas roupas para ter a certeza de que ela voltaria logo do trabalho. Eu odiava ficar sozinho com o meu pai em casa.
Lentamente, seus dedos bagunçaram a baia do vestido e ela se virou, com a expressão mais suave. Nossa vida foi um caos, talvez se eu focasse o bastante do que sofremos ou no que ela teve que aguentar, iria ser pesado demais. Meu pai era machista e agressor, já era o suficiente para resumir a minha infância até aqui.
- Se eu não fizer, esse inferno não terá um fim. As consequências de dar várias chances a ele, quase tirou você de mim, meu filho. Eu pensava muito no seu pai e me esquecia de você. - Ela estica a sua mão para tocar nas minhas bochechas. - Por mais que esse relacionamento ainda esteja em mim, quero poder me libertar dessas correntes.
- E se ele não quiser?
- Ele vai querer. Porque eu já decidi e ele não vai pensar em tocar em mim de novo.
Apertei seus dedos e suspirei aliviado por Anne. Por nós. Depois de todo esse inferno que vivemos nas mãos de Desmond.
- Me perdoe por demorar tanto para enxergar a verdade. As vezes nem a pancada da vida, nos desperta do relacionamento. Eu vou tentar fazer isso diferente e torço para que o mesmo aconteça com você. Afinal, tenho culpa da overdose que fez em si mesmo.
- Não...
- Eu sei que foi. Era pra você ter uma vida diferente, Harry, não essa. - Anne esticou a sua mão para tocar meu rosto e massageou meus cachos. Ela estava chorando enquanto fazia isso, liberando toda a sua dor em um simples gesto. - Preciso conhecê-lo melhor. Saber do que gosta e de como quer que seja na faculdade. Até mesmo o que sentiu quando aquele garoto da escola se jogou e a culpa ficou sobre você. Quero saber de tudo. Pra eu poder ser uma mãe que não teve antes.
Fechei meus olhos, apreciando seu toque e cacete, fazia um bom tempo que eu não sabia o que isso significava. Talvez eu fosse muito pequeno quando Anne me tocou, pois, era vaga a lembrança do seu carinho.
- Vou dizer o suficiente pra você. Não quero ter que remoer o passado e não saber lidar com isso. - sorri.
Nos começarmos através de uma longa troca de olhares, mamãe parecia bem mais feliz do que antes.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Pode, mãe.
- Seria remoer seu passado falar sobre esse Louis que respondeu sua mensagem? - receosa, Anne tocou no assunto pessoal que eu tinha. Fiquei sem saber como ela reagiria por entender que eu poderia ser bi. Tudo o que consegui fazer, foi abrir e fechar a minha boca pensando em uma boa resposta. - Desculpa, eu não queria ter invadido sua privacidade, mas te vi nervoso aquele dia que ele mandou uma longa mensagem e precisei entender o que te afetava já que seu tratamento estava indo tão bem.
- Então, você sabe que eu beijei um homem?
- Basicamente, sim. - Ela riu. - Acha que eu sou preconceituosa? Ah Harry! Eu sou velha mas não sou burra. Eu sei que as pessoas se amam. Sejam dois homens ou duas mulheres, trans, pansexual...
- Ok, eu entendi que você sabe sobre isso. - Começo a rir e ela revira os olhos. - Louis é um garoto bom, apesar de ter seus próprios problemas, ele entrou na minha vida e nos beijamos na noite em que eu tive uma overdose. Não disse nada e acho que ele está muito puto comigo! Talvez, ele nem queira mais ficar perto de mim.
Meu maior medo era acreditar naquela ideia.
- Uh! Complicado. Hum... Talvez, a certeza de que vão se encontrar mude seu pensamento. Seu coração está ansioso e por estar apaixonado pelo rapaz, está criando inseguranças ainda sem a certeza do que virá no futuro.
- E como você sabe que eu estou apaixonado?
- Porque está óbvio! E eu sou sua mãe, eu sinto quando algo mexe com você.
Não a respondo. Se ela tinha a convicção que eu criei sentimentos por Louis, não estava errada. Esses últimos dias, precisei lidar com os meus piores demônios e um deles sempre me deixou inseguro para o amor. Amar alguém era complexo demais, requeria se entregar um ao outro, aceitar as diferenças e devíamos dar, receber e aprender. Eu fugia deles para mão me machucar e não ter que fazer o mesmo com a outra pessoa. Por isso eu surtei quando percebi que estava nutrindo algo por Louis e percebi que ele estava retribuindo, foi de um e um milhão que o amor se aproximou de mim, eu não queria estragar as coisas como tenho o costume de fazer.
Mas, como eu me sentia uma nova fase para as mudanças e se o Louis ainda estivesse sentindo algo por mim, eu posso tentar algo com ele.
...
Depois de muito tempo, finalmente voltamos para o nosso lar. Não o antigo lar, aquele não era nosso. Mamãe alugou uma casa próximo da escola e isso não me afetaria quando retomasse os meus estudos, a diretora Diana conseguiu me dar a força com os professores. Eu estava atolado de tarefas e não teria tempo para ficar de bobeira. Ainda continuarei seguindo com os meus tratamentos, pois, prometi aos médicos que não deixaria meu apoio.
Estava tudo em ordem.
Ao entrar na pequena casa, senti os avanços da nossa vida nova. As paredes eram cobertas por uma tinta branca escassa, o piso de madeira levava por todos os cantos e compunha a escada que levava aos quartos. O cômodo acima não tinha tantos caminhos, apenas ao meu quarto com o de Anne.
- Vou precisar de tintas para pintar as paredes, o banheiro é pequeno e o cano está entupido, vamos ter que arrumar. O telhado e o quintal. - Ela me apresentou os cantos, apontando para os cômodos. - O que você achou?
Olhei para o teto e as escadas, me sentindo tranquilo e feliz.
- Tenho certeza que vamos nos adaptar. - sorri, colocando minhas mãos no bolso da frente da calça. - E eu vou ter que descobrir meu novo talento com pintura.
...
- Tem certeza que vai fazer isso? - Anne perguntou receosa.
Lá estávamos nós, eu na cadeira sem camisa e minha mãe segurando a tesoura de ferro nas mãos. Mas eu começava a pensar que teria lhe dado uma arma, já que ela parecia com medo o suficiente para encostar em mim.
- É uma mudança e tanto, Harry. Eu não sou cabeleireira. E se eu errar?
Prendi a risada, para não ganhar tapas da sua parte. Mamãe tinha medo de fazer estragos e um deles estava na responsabilidade de cortar um cabelo.
- Confio em você. - envolvo meus dedos na sua cintura e a puxo para mais perto. - Só corta o cabelo do seu filho.
Anne resmungou e balançou a cabeça.
- Tudo bem, você sabe o que faz!
Solto uma risada e fecho os olhos apreciando o som da tesoura tirando a minha antiga versão e trazendo um novo Harry Styles.
...
Analiso minha imagem refletida no espelho improvisado no meio da sala. Era eu, o mesmo, todavia com um ar diferente. Isso era bom e interessante. A ideia de mudança me convém e o corte que Anne fez, deu um novo contraste para o meu maxilar e tatuagens.
- E aí?
Sua cabeça surge no reflexo e sorrio.
- Pra quem não sabia cortar um fio, você acertou no corte.
- A maior parte você fez, vendo aquele tutorial no celular! - Anne balançou os braços e se aproximou, mexendo nos fios curtos. - Realmente, está bem melhor agora! Apesar de continuar cheio de piercing na cara! - eu solto mais uma risada. - Pare de rir da sua mãe!
- Certo. Que tal a pizza antes de anoitecer?
- Eu prometi que seria o prato principal da nossa estreia já que o caminhão da mudança resolveu atrasar.
...
Empanturrado como crianças, devoramos a pizza que pedimos. Vez ou outra, arrotávamos e riamos como se estivéssemos bêbados. Cantamos músicas antigas e a maioria era rock, Anne me fez diversas perguntas entusiasmada, ela realmente queria me conhecer melhor. Ela chorou e me abraçou, disse que me amava mais de uma vez e isso foi o suficiente para a minha ficha cair.
Quem poderia imaginar? Uma casa nova, uma situação nova depois de uma tragédia. Talvez agora, seja a minha segunda chance de viver. O que me dava esperanças para poder fazer meu encontro da certo com o Louis.
Ainda não falei com ele desde a sua resposta e não tive tempo porque passei metade do tempo distraído com Anne. E parecia um sonho, até os meus piores dias negaram a mostrar que eu poderia viver algo do tipo. Era tolice! Pois olha aonde estou!
Estou bem, estou na minha zona de conforto e eu queria que tudo desse certo.
Depois de horas descontraídas, levei Anne até o colchão inflável no seu quarto. Parecia cansada e sua energia deveria estar acumulada em seus mais suaves sonhos. A cobri com o edredom e agradeci pelo dia que tivemos. Desci para colocar algumas coisas no saco de lixo, apaguei as luzes e tomei a minha medicação antes de dormir. Cada pílula era como um modo de me avisar que era um processo em equipe e nem sempre tudo estaria bem, mas não significava que eu tinha fraquejado, apenas que eu era humano. Com esse pensamento, subi para meu quarto vazio e me deitei no colchão, encarando as estrelas através da janela entreaberta e pensei nele. Em Louis e como seria revê-lo amanhã. Apenas por pensar nisso, minha barriga tremeu e a pizza quase voltou por onde entrou.
O nosso beijo foi inesquecível, não consigo me esquecer dos detalhes e em como seu corpo frio se colidiu contra a minha pele. Seus lábios eram tão macios e doces, seus toques eram suaves e delicados, Louis era bom. Ele era um mundo, uma constelação de infinitas estrelas no céu. Eu quero poder dizer isso e outras coisas para ele, amanhã. No nosso tão esperado encontro.
Quero poder ajudá-lo e ser capaz de fazer uma mudança ao seu lado.
O amanhã é promíscuo e delicado, me viro para o lado fechando os olhos com Louis Tomlinson no meu coração.
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Feliz Natal atrasado pessoal! 🎄
Espero que tenham passado o feriado bem ❥
No capítulo de hoje, eu quis passar a mensagem de mudança, ela é importante pra todo o personagem e eu queria que Harry tivesse essa mudança ❥
Destacando, a passagem de tempo com a mãe dele e esse laço que ambos criaram um para o outro.
Foi um capítulo sem Larry, mas não quero apressar esse encontro intenso que eles vão ter ♡
Espero que tenham gostado, quero que saibam que apesar de ter passado "rápido" a recuperação do personagem, que na vida real vale muito a pena tentarmos nossa própria mudança, reconstruindo o que deixamos para trás. Quero deixar claro que vai passar e vai ficar tudo bem ❤
Nos vemos no próximo!
All the love, A.
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