CAPÍTULO 2
Uma parte de mim está adormecida e a outra tenta desesperadamente voltar a ter consciência. Sinto o ruído baixo de um carro e uma música tocando ao fundo. Notei que música ao fundo é a Wrong Side Of Heaven de uma das minhas bandas favoritas, Five Finger Death Punch.
"... Arms wide open, I stand alone
I'm no hero, and I'm not made of stone
Right or wrong, I can hardly tell
I'm on the wrong side of heaven, and the righteous side of hell..."
Uma voz masculina surge em meus tímpanos, mas não consigo entender tudo o que ela diz, a música, a dor e o ruído do automóvel me impedem de me concentrar.
- Não, Daniel. Ela está sangrando muito e não dá...
Eu apago, mas logo recobro parte da consciência.
- Eu sei disso, mas ela...
Ah, não. Vou apagar outra vez. Ops, voltei. Quer dizer, uma parte voltou.
- Ela tem que ir para o hospital... Eu sei Daniel. Porra! Já falei que não dá. Ela está perdendo muito sangue...
Ele estava falando ao celular sobre mim?
- Mande um recado para o líder dos Nefilins...
Nefilins?
- Daniel, isso vai dar merda. Não darei trégua... Diga á Magnus que logo estarei aí... ok, combinado.
De repente a voz se calou, ficaramdo apenas o ruído do automóvel e o final da música que estava tocando no player.
" I'm on the wrong side of heaven, and the righteous side, the righteous side of hell"
Senti algo quente e macio sobre o meu corpo. Ele me cobriu?
Obrigada. Que droga! Não é pra sentir gratidão. Nem sei quem é ele.
- Vai dar tudo certo. – ele disse e depois tudo voltou a ficar preto.
-Ai. - Algo espetou meu braço esquerdo. Tentei abrir os olhos. Tentativa em vão. Comecei a ter certeza de que estava em meio a um pesadelo.
- O que aconteceu com ela? – indagou a voz feminina.
- Não sei. Mas eu a encontrei esfaqueada e como a senhora pode ver, ela está perdendo muito sangue. – Lionel mentiu uma parte dos acontecimentos.
Pude sentir alguma coisa queimando em minhas veias e foi se espalhando pelo restante do corpo. E eu continuava tentando abrir os olhos, precisava entender o que estava acontecendo ao meu redor.
- Não se preocupe meu rapaz. Mas, ela terá que fazer uma transfusão de sangue, porque sangrou muito até chegar aqui.
- Cuide bem dela, por favor. – Sua voz era quase uma súplica.
- Faremos o melhor. Pode aguardar na recepção, te chamarei assim que terminar de cuidar dela.
- Ok. Obrigado.
Ah. Agora eu sei que estou em um hospital.
Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac...Fazia o relógio em algum lugar do local onde eu estava.
Quanto tempo eu levaria para conseguir acordar?
- Ela já acordou? – ele perguntou.
- Ainda não. Tivemos que sedá-la. Mas não se preocupe, só estamos mantendo-a sedada para que ela descanse e não sinta dor. Ela teve muita sorte de ter um anjo como você, meu rapaz.
Sim, eu tenho muita sorte. Ou não?
- Ah, eu não diria isso. – ele respondeu.
- O importante é que você a salvou. Se ela tivesse ficado desmaiada na rua e continuasse perdendo tanto sangue, teria morrido. – Disse a enfermeira. – Vá para casa, descanse você também. Ela só deve acordar em aproximadamente 6 horas.
Seis horas?
- Ok, me ligue se notar qualquer coisa de anormal.
- Tudo bem.
Senti que uma mão passou sobre a minha testa e deslizou por entre os meus cabelos.
- Cuide-se, ruiva.
Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac...
Vejo uma menina correndo em meio a um campo pedregoso, ela se parece comigo. Quem é aquele de armadura dourada que a persegue com tanto ódio? Ei – eu grito, - Não a machuque, por favor – Ele não me escuta, nem percebe que eu estou vendo tudo acontecer.
Outro homem de armadura dourada surge com uma espada empunhada. Uma batalha entre os dois homens está preste a acontecer. A pobre criança chora horrorizada. Tento ir até a garotinha, mas sou abruptamente arrancada de onde estou e tudo desaparece.
Volto a escutar uma voz familiar.
- Ei, garota. Você tem que acordar. – Sussurrou. Senti seu hálito quente em minha orelha.
Dedos gelados tocaram o meu rosto.
- Ah, Sophia. Tantos anos que eu esperei... Depois tudo vai acabar e... Maldito, Ezequias... Por que os Nefilins... de tempos em tempos... Espero que um dia me perdoe...O bem e o mal... a luz e escuridão...
Lion, eu não te entendo, porque tenho que te perdoar? Quem são Nefilins?. Por favor, faça-me acordar por completo.
Agora os dedos gelados seguram minhas mãos.
Por favor, eu só quero acordar.
- É melhor assim... longe de mim... Porque o perigo... Daniel não entende... King Lion... isso não é nada já que ... anjos não devem... a profecia é muito clara... Só depois que as asas... pra força ser total... não vai acontecer... e eu não sou feito de pedra... Adeus, Sophia.
Lion!
****************
Rolei na cama e notei que alguma coisa estava errada. Senti muita dor no lado direito da minha cintura. Argh! Notei que os acontecimentos da noite anterior não foram pesadelos. Olhei ao meu redor e tudo era branco. Eu estava atrelada á um frasco de soro fisiológico e minha cintura estava enrolada em um curativo.
- Sophia? Você me ouve? – Perguntou a senhora japonesa que me fitava, logo notei que ela era a enfermeira.
- Sim. – Olhei para os lados na esperança de encontrá-lo.
- Sente dor? - Ela segurava uma bandeja com algumas seringas.
- Muita. Principalmente quando me mexo. – Cadê ele?
Ela olhou meu soro, que já estava quase no fim e regulou a saída do liquido e ele começou a fluir mais rápido. Então, pegou uma das seringas e aplicou o que eu deduzi ser remédio para a dor, já que no mesmo instante a dor diminuiu.
- Você teve muita sorte em ter sido socorrida por Lionel. O coitado estava muito preocupado com você. Não sei o que teria acontecido se ele não tivesse te encontrado a tempo.
- Eu também não sei. Ele está aqui? – Eu preciso muito vê-lo.
- Não, ele esteve aqui há duas horas, mas você ainda não estava acordada. Pensei que iria acordar logo após o anestésico parar de fazer efeito, mas você continuou dormindo. Depois ele veio aqui, ficou um por alguns minutos conversando com você. Eu falei que era loucura, já que você estava desacordada, mas ele ficou um bom tempo aqui falando sozinho e depois foi embora.
- Eu não me lembro de nada. – resmunguei. Não sabia o motivo, mas eu estava irritada.
- Tivemos que fazer uma transfusão sanguínea e te deixamos sedada. Você ficou desacordada por dez horas, deveria ter acordado a mais ou menos quatro horas atrás, mas acho que seu corpo estava cansado demais para acordar.
- Mas agora me sinto muito melhor. Gostaria de ir para casa. – Queria sair daquele pesadelo.
- Talvez amanhã já tenha alta. Tudo vai depender de como você passará o dia de hoje e logo poderá voltar para sua família. A propósito, você gostaria de ligar para algum familiar? O único contato que conseguimos foi com uma moça chama da Helena, ela está na recepção aguardando notícias.
- Não, só tenho Helena mesmo. Dividimos o apartamento. – Era triste ser uma pessoa sem família, mas fui agraciada com Helena em minha vida.
- Agora que você acordou, preciso informar a polícia. Tem um policial aguardando para tomar seu depoimento.
Estremeci. Não sabia o que Lionel tinha dito sobre o assunto, mas não sabia se contava a verdade ou mentia. Lembro-me vagamente de tê-lo escutado falando com a enfermeira e ele dizia ter me encontrado já esfaqueada.
- Lionel deu depoimento? – Eu tinha que descobrir o que ele havia falado.
- Sim. Ele disse que a encontrou em um ponto de ônibus e que você tinha perdido muito sangue. – Disse ela, enquanto preenchia a ficha médica.
- É, ele me encontrou. – Suspirei.
- Ele pediu para que eu lhe entregasse um bilhete. Mas disse para pedir a você que só leia depois de falar com o policial. – Ela então me deu um papel dobrado.
- Ah, ok. Fale para o policial que eu já consigo dar o depoimento. – Quanto mais rápido o depoimento, mais rápido poderia ler o que havia no bilhete.
- Ok, mas não se esforce muito. – Ela saiu e em menos de cinco minutos o policial entrou.
Ele era um senhor calvo de estatura mediana e muito simpático.
- Olá, Srta. Sophia, eu sou o agente Charles. – disse ele ao se sentar em uma cadeira ao meu lado. - Já preenchi seus dados com os documentos que encontramos em sua carteira. Desculpe ter mexido nela, mas como foi necessário para fazer sua ficha médica, aproveitei e preenchi meu formulário.
- Tudo bem. – Empertiguei-me e consegui sentar e me apoiar em um travesseiro.
- Só preciso que você me fale o que aconteceu. – ele sentou-se ao meu lado.
- Ok, Saí do Pub por volta de 3 da manhã e fui para a parada de ônibus que fica próxima ao local onde eu estava. Fiquei uns 20 minutos aguardando, quando senti uma faca encostada em mim e um homem anunciando um assalto, ele queria levar a minha bolsa. – Omiti a parte em que Lionel e Ezequias entraram em conflito.
- Hum, prossiga – Ele continuava a fazer anotações em seu bloquinho.
- Não me lembro exatamente, mas eu pedi para que ele não me machucasse, depois senti muita dor e quando percebi, estava acordando aqui no hospital. Desculpe mas isso é tudo o que eu me lembro.
- Consegue descrever o meliante? – ele me lançou um olhar inquisidor.
- Não. Eu tinha bebido um pouco e não consigo me lembrar de muita coisa. Lembro-me apenas de ele anunciar o assalto e depois de sentir dor. – Eu continuava mentindo, só falaria a verdade caso ele perguntasse sobre o corpo de Ezequias.
- Ele roubou alguma coisa? – indagou.
- Não sei, ainda não vi a minha bolsa. – De fato eu não fazia a menor ideia.
- Bem, na sua bolsa tem um batom, duas chaves, algumas contas pagas, seu celular, seus documentos e três notas de 20. – Ele fez cara de culpado – Desculpe, mas você estava descordada e aproveitei para adiantar o meu trabalho.
- Que eu me lembro, isso era tudo o que estava na bolsa. – Contorci-me um pouco, a dor estava voltando.
- Lionel nos contou que você estava deitada na calçada. De início, ele pensou que estivesse bêbada, sentiu-se compadecido e parou para oferecer ajuda. Mas ao se aproximar, notou que a senhorita sangrava muito e trouxe-a para o Pronto Socorro. Ele não soube dar qualquer informação sobre o assaltante.
Lionel realmente omitiu as informações.
- Desculpe, mas eu não me sinto bem. Poderia chamar a enfermeira? – Minha cabeça estava girando.
- Ah, claro que sim. Não se preocupe, vamos checar as câmeras de segurança das proximidades do crime e a manteremos informada.
Ah que merda, vai descobrir que eu menti.
- Ok, Obrigada. – Respondo, tentando parar de tremer.
Charles me deixou sozinha e rapidamente peguei o bilhete de Lion, que havia deixado embaixo do travesseiro.
"Ruiva, você deve ter notado que eu menti sobre os fatos, mas quero deixar bem claro que fiz isso apenas para que a polícia não venha atrás de mim. Quanto às despesas médicas, não se preocupe, já deixei tudo pago.
Não me procure e nem queira saber nada a meu respeito, pois não deixei qualquer informação sobre mim no hospital, inclusive descartei o número que havia deixado como contato com a enfermeira que cuidou de você. Eu me arrisquei em te salvar e não desejo repetir tal loucura. Apenas trate de viver a sua vida e, por favor, não se coloque em risco outra vez. Você não faz ideia de como a noite pode ser sombria.
Lionel."
Uma lágrima rolou pela minha face. Ele havia partido.
No mesmo instante a enfermeira retornou, Laura era o seu nome, foi a primeira vez que notei o crachá em seu jaleco. Tentei disfarçar a tristeza que estava me consumindo.
- Sophia, eu vou te dar mais uma dose de analgésico. E você tem visita.
Instantaneamente olhei para a porta na expectativa de vê-lo, mas para meu total desgosto, era Helena quem viera me visitar.
Repeti pra ela a mesma história que havia contado para Charles.
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