06
Get up (get up)
Come on (come on)
Why're you scared? (I'm not scared)
You'll never change what's been and gone
• Stop Crying Your Heart Out - Oasis •
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Frase do Capítulo:
-Queria que ela não tivesse passado por tudo aquilo, a culpa foi minha e não a protegi como devia!
António Torres, 2012
💄💋⚽️
Aurora Torres
23:09h - em casa
Já estávamos em casa há cerca de 30 minutos. Levei Ferran para o quarto dele para dormir, enquanto Duarte já tinha ido para o nosso quarto. O pequeno estava aliviado por saber que a irmã estava bem, mas também demonstrava medo de que algo pudesse acontecer com ele. Esse medo, no entanto, era algo que não permitiríamos que se concretizasse.
António ficou com S/n no hospital, e era provável que ela precisasse de mais dois dias para se recuperar completamente. Mesmo assim, eu sabia que ele não sairia do lado dela nem por um minuto após tudo o que aconteceu.
Depois de deitar Ferran na cama, contei-lhe uma história para ajudá-lo a adormecer. Ele sempre dormia facilmente, ao contrário da sua irmã caçula. Liguei a luz de presença, fechei a porta do quarto e fui até à cozinha para beber um copo de água. Precisava de me acalmar depois dos dias caóticos que vivemos.
Ao chegar à cozinha, vi Núria sentada na bancada com a cabeça entre as mãos. Estava a chorar.
— Núria? Por que ainda estás acordada? — perguntei, enquanto caminhava até ao frigorífico.
— Não consigo dormir...não depois do que aconteceu hoje. A S/n já não me ama, e o Ferran mal me dá atenção.
Aquelas palavras cortaram o ar. Sentei-me ao lado dela, tentando transmitir calma.
— Não digas isso. Eles são teus filhos e jamais vão deixar de te amar, tenho a certeza. S/n estava muito fraca, mal sabia o que dizia.
— Mas ela pediu pela mãe dela...e não era eu, era a Natasha. E o Ferran... ele prefere estar perto dela também — desabafou, deixando as lágrimas fluírem livremente.
— Olha, isto vai passar. É só uma fase. Vem, vamos dormir. Amanhã será um novo dia.
Subimos para os quartos juntos. Núria estava visivelmente abalada, e isso era impossível de esconder. Decidi que pela manhã teria uma conversa com Ferran para entender melhor o que estava a acontecer. Quando S/n voltasse do hospital, falaria com ela também.
Ao chegarmos ao andar de cima, Núria dirigiu-se ao quarto de hóspedes e fechou a porta sem dizer mais nada. Antes de ir para o meu quarto, fiz uma parada no quarto de Ferran para verificar se estava tudo bem com ele. Satisfeito por vê-lo a dormir tranquilamente, fechei a porta e segui para a cama.
Assim que me deitei, o cansaço finalmente me venceu, e adormeci quase de imediato.
Duarte Torres
09:00h - na empresa
Já tinha chegado ao trabalho. António ficaria fora por uns dias para cuidar dos filhos e garantir que estavam a salvo. Compreendi a sua decisão, mesmo sabendo que seria um período exigente para ambos. Estacionei o carro e entrei na empresa, dirigindo-me diretamente à recepção, onde Patrícia, estava atarefada.
— Patrícia, quando tiveres um momento, por favor, telefona ao Felipe, o antigo funcionário. Quero falar com ele. — pedi, num tom firme, mas amigável.
Assim que ela assentiu, segui para o meu escritório, onde comecei a trabalhar. Sentei-me e comecei a analisar os dados financeiros que António tinha deixado organizados. Estava tudo sob controlo, o que foi um alívio.
Algum tempo depois, ouvi uma batida na porta.
— Pode entrar, Felipe. Sente-se. — convidei, enquanto arrumava os papéis na capa.
Ele entrou, visivelmente curioso com o motivo da chamada.
— Bem, chamei-o aqui porque me recordo do quanto se dedicou quando trabalhou connosco. Além disso, António comentou comigo sobre o quanto se desculpou ontem ao ajudar a encontrar a minha neta.
Felipe respirou fundo antes de responder.
— Senhor, não fiz mais do que a minha obrigação. Tenho filhos e sei o quanto eles são importantes.
Sorri, reconhecendo a sinceridade nas suas palavras.
— Justamente por isso, e após falar com António por telemóvel, decidimos que seria justo contratá-lo novamente. Ele sente que tem uma dívida enorme consigo e pediu-me para lhe transmitir os seus agradecimentos.
Os olhos de Felipe brilharam de emoção.
— Está a dizer que vou voltar a ser funcionário? Eu nem acredito! Amo esta empresa e o trabalho que faço aqui. Muito obrigado!
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele levantou-se da cadeira e deu-me um abraço espontâneo.
— Calma, Felipe. Primeiro, assine o contrato e, então, poderá recomeçar oficialmente.
— Claro, senhor! Muito obrigado por esta oportunidade.
— De nada. — disse, enquanto voltava ao computador para atualizar os seus dados na plataforma da empresa.
Felipe sentou-se novamente, mergulhado na leitura do contrato. Enquanto isso, registrava-o no sistema, sentindo-me genuinamente satisfeito. Ele tinha sido uma ajuda inestimável nos últimos dias, e esta era a melhor forma de retribuir.
A alegria dele era contagiante, e a atmosfera parecia mais leve. Quando os meus funcionários estão felizes, isso reflete-se no ambiente de trabalho, e, inevitavelmente, na minha própria felicidade.
António Torres
19:00h - no hospital
Já fazia quase um dia que minha filha estava internada no hospital, e o peso da culpa sobre mim era quase insuportável. Cada passo que eu dava parecia sussurrar que eu era responsável por tudo aquilo. Aproveitei o momento em que ela dormia para buscar um copo de água, mas, preocupado com sua segurança, deixei dois seguranças à porta do quarto para protegê-la. Mesmo assim, minha mente não parava de me torturar, e eu sabia que esse sentimento não iria embora tão cedo.
No caminho, cruzei com o médico e perguntei, com um fio de esperança, quando ela teria alta. Ele foi cauteloso, explicando que não podia dar certeza, mas que, se tudo continuasse como estava, provavelmente ela poderia ir para casa na manhã seguinte. Eles queriam garantir que ela estava respondendo bem aos medicamentos, e os progressos das últimas 24 horas eram animadores.
Agradeci ao médico pela atenção e voltei rapidamente para o quarto. Não queria ficar longe dela por muito tempo; além disso, ela podia acordar a qualquer momento. Ao entrar, fui recebido por uma cena que aquecia o coração: Natasha estava com ela, e as duas riam juntas.
— Boa tarde, Natasha! Veio visitar a pequena? — perguntei com um sorriso. Ela retribuiu, e acrescentei: —Ela está um pouco cansada, mas talvez amanhã vocês possam passar mais tempo juntas quando formos para casa.
Minha filha, com um brilho nos olhos, disse.
— Papai, a Natasha não está a incomodar. Além disso, ela, o mano e a vovó foram os únicos que vieram me visitar. Sei que o vovô está no trabalho, mas ele deve vir mais tarde. Já a mamãe...bem, ela nem apareceu hoje.
Senti meu coração apertar com essas palavras, mas tentei amenizar.
— Princesa, não digas isso. A tua mãe te ama muito e deve estar a caminho. Não te preocupes, cada um tem seu jeito de demonstrar carinho. Agora, que tal comeres um pouco? A comida vai esfriar.
Ela fez uma careta.
— Não tenho fome. Além disso, esta comida é horrível.
— Querida, seu pai tem razão. Você precisa comer para ficar mais forte. Eu também já estive internada e, mesmo sem vontade, acabei comendo porque insistiram. —Natasha interveio com um sorriso gentil.
— Tá bom, mas só um pouquinho.
— Claro, meu amor! — respondi aliviado.
A presença de Natasha parecia mágica; minha filha não apenas aceitou comer, como começou a se divertir com ela. Elas riam enquanto assistiam desenhos animados, e a felicidade no rosto da pequena era contagiante.
Enquanto elas estavam distraídas, aproveitei para tirar algumas fotos delas juntas. Era um momento especial, e eu queria guardá-lo para sempre. Mais tarde, planejava revelar as fotos e talvez presenteá-las com um quadro. Ambas tinham uma conexão única que me emocionava.
Para minha surpresa, minha filha terminou toda a comida sem reclamar. Quando mostrei as fotos que tirei, ela ficou animada e pediu para colocá-las num porta-retrato. Já Natasha, embora sorrisse, parecia ligeiramente desconfortável com minha atitude. Talvez ela achasse que eu estava exagerando, mas eu só queria preservar momentos felizes em meio a tanta turbulência.
As horas passaram rapidamente. Já eram 20h30, e o horário de visitas estava acabando. Natasha se despediu, dando um beijo carinhoso na testa da pequena.
— Até amanhã, mamãe! Quero ver-te lá em casa quando eu voltar! — disse minha filha com sua inocência encantadora.
— Vou tentar, mas depende do teu pai, não é, António? — Natasha riu e respondeu.
— Por mim, tudo bem. Tenho certeza de que meus pais também vão adorar te receber. — sorri, colocando a mão no ombro dela.
Natasha agradeceu e, antes de sair, deixou um último olhar caloroso. Assim que a porta se fechou, minha filha se aconchegou no travesseiro e, pouco depois, adormeceu profundamente. Agora, no silêncio do quarto, fiquei observando-a descansar. Embora a culpa ainda estivesse ali, eu sentia uma pontinha de esperança. Amanhã seria um novo dia.
Aurora Torres
21:50h - em casa
Abri a última caixa e encontrei alguns balões para encher. Estávamos organizando uma recepção especial para dar as boas-vindas à S/n. Ela merecia isso e muito mais, depois de tudo o que enfrentou. Eu e meu neto já havíamos encomendado o bolo, que chegaria amanhã por volta das 10h da manhã. Por isso, precisávamos deixar tudo pronto ainda hoje à noite para que a surpresa fosse perfeita.
Duarte estava com Ferran enchendo os balões enquanto eu cuidava do placar de boas-vindas. Com a ajuda dos seguranças, fixei-o na porta da casa. Era uma placa bonita, com cores alegres que refletiam bem o espírito da nossa pequena S/n.
Ela era a luz da nossa família. Todos a amavam profundamente. Ela tinha uma maneira única de encantar as pessoas, sempre gentil, prestativa e atenta. Quando percebia alguém triste, fazia de tudo para arrancar um sorriso – e sempre conseguia. Nós tínhamos muito orgulho em tê-la como parte de nossas vidas.
— Vovó, já terminamos de encher os balões! Agora podemos colocá-los? — perguntou Ferran, correndo em minha direção com um sorriso empolgado.
— Claro que sim, querido! Vamos lá, nós três juntos!
Começamos a prender os balões uns nos outros, escolhendo cuidadosamente os lugares onde seriam colocados. As cores, roxo e rosa claro, eram as favoritas dela. Tenho certeza de que ela iria adorar.
Com os balões posicionados e tudo ganhando forma, percebi que estávamos quase prontos. A decoração estava linda, simples, mas cheia de amor. Decidi levar Ferran para a cama, já que precisaríamos acordar cedo no dia seguinte para ajustar os últimos detalhes. Amanhã seria sexta-feira, e, com Duarte também ficando em casa, a família estaria completa.
Enquanto isso, Núria chegou. Notei que ela passou direto para o quarto, sem nem olhar para a decoração ou o que havíamos preparado. Apesar disso, meu coração estava cheio de expectativa. Queria que o dia seguinte fosse inesquecível para
S/n e, acima de tudo, um reflexo do quanto ela é importante para nós.
Natasha Costa
00:00h - na casa de Francesca
Eu estava na cozinha com Francesca, conversando sobre tudo o que tinha acontecido nos últimos tempos. A loira parecia não conter o sorriso cada vez que eu mencionava a família de António, e era evidente que já estava a imaginar algo mais. Mas eu não me importava; queria apenas aproveitar aquele momento de paz. Enquanto preparava um leite com chocolate, Francesca fazia questão de responder animadamente sempre que eu mencionava os Torres.
— Natasha... — sussurrou ela de repente.
O som suave da sua voz fez-me levantar os olhos, apenas para encontrar o seu olhar fixo em mim, como se me estivesse a julgar.
Aquela expressão dela fazia-me sentir como se tivesse cometido algum crime.
Antes que eu pudesse reagir, Francesca aproximou-se. Aquela atitude inesperada fez-me perceber que talvez eu estivesse falando demais sobre António e sua família. Levantei-me do banco em frente à bancada, disposta a mudar de assunto, e caminhei em direção à sala. No entanto, ela me segurou pelo braço, parando-me no meio do caminho.
Senti a necessidade de me desculpar, mesmo que sem muita convicção. No fundo, eu sabia que poderia passar horas falando de António, porque, apesar de tudo, ele ainda era uma figura importante para mim.
— Natasha, não vais dizer nada? — insistiu ela.
— Não tenho o que dizer. E, aliás, já está tarde, não achas? — respondi, tentando soar o mais calma e paciente possível.
— Não mudes de assunto, e muito menos finjas que não gostas dele. A tua cara já te entrega, amiga! — disse Francesca com um sorriso travesso.
— António? Que absurdo! Ele é muito mais velho do que eu. Nunca daríamos certo! —eu ri nervosamente.
— Mas eu nem mencionei o nome dele...
Senti meu rosto corar.
— Não? Bom, acho que já está na hora de ir. Amanhã falamos, pode ser? — murmurei, tentando disfarçar. —Eu vou indo...Até amanhã, Francesca.
Fechei a porta atrás de mim e desci as escadas rapidamente. Abri o portão da entrada e entrei no carro de Enrique, que já me esperava para me levar para casa. António havia insistido para que eu não andasse de transporte público, e recusar a oferta seria quase impossível. Ele realmente era uma pessoa incrível, por mais que as pessoas adorassem criar histórias sobre ele.
Pouco tempo depois, cheguei em casa. Agradeci a Enrique e sugeri que ele fosse descansar, mas ele relutou. Garantiu-me que preferia ficar por perto, mas eu o convenci a voltar pela manhã. Antes de partir, ele pediu para eu não contar nada ao seu superior sobre sua insistência, e, claro, concordei.
Assim que ele partiu, virei-me para a entrada do prédio.
— Finalmente em casa. Lar doce lar! — sussurrei aliviada.
A minha felicidade durou pouco. Ao aproximar-me da porta do meu apartamento, percebi um post-it colado nela. Não entendi de imediato, mas, ao lê-lo, senti as lágrimas rolarem pelo meu rosto.
Com mãos trêmulas, abri a porta, entrei, e travei-a com a chave atrás de mim. Sentada no sofá, fiquei encarando o pequeno pedaço de papel que agora parecia um peso insuportável. Eu ia ser despejada por não pagar duas rendas atrasadas.
Aquela notícia me deixou sem chão. A tristeza e o desespero tomaram conta de mim. Eu precisava falar com alguém, pedir ajuda, tentar resolver aquela situação.
Mas...como?
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James Mendes
08:40h - em Sevilha, Espanha
Eu havia fugido para a Espanha para evitar ser encontrado por António. Se ele viesse atrás de mim na fábrica, certamente acabaria preso, e isso era algo que eu não podia permitir. Porém, o que ele não sabia era que eu já estava planejando minha vingança. Eu o colocaria no tribunal e alegaria que ele roubou minha empresa e todos os projetos que eu havia desenvolvido na Espanha.
Agora ele teria que pagar pelo que me tirou.
Naquela manhã, Eduarda, minha filha, já tinha ido para a escola. Aproveitei a tranquilidade da casa para me concentrar no plano. Sabia que precisaria de ajuda, então decidi convocar um dos meus contatos mais confiáveis para esse tipo de trabalho. Em pouco tempo, ele chegaria.
— Bom dia, pode entrar, por favor. Vamos direto para o meu escritório. — convidei, mantendo um tom cordial.
— Bom dia. O que exatamente você precisa dos meus serviços? — perguntou Bernardo com um sorriso educado enquanto se acomodava na cadeira em frente à minha mesa.
— Quero que plante isso na casa de António Torres, mais especificamente no quarto dele, em um lugar onde ele jamais encontrará. Preciso dessas provas para levá-lo ao tribunal e garantir que ele seja incriminado.
Bernardo pegou os documentos que eu lhe entreguei, usando luvas para evitar deixar qualquer traço de DNA. Ele analisou as páginas com atenção, seus olhos demonstrando cautela.
— Senhor, esses documentos são extremamente comprometedores. Tem certeza disso?
— Absoluta, Bernardo. Quero que António passe um bom tempo na prisão. É mais do que merecido.
— Entendido. Assim que tiver os bilhetes de viagem e concluir a tarefa, entrarei em contato para informá-lo. Muito obrigado pela confiança.
— Eu que agradeço, Bernardo. Até mais. — respondi, acompanhando-o até a porta.
Enquanto ele partia, senti uma satisfação sombria tomar conta de mim. Eu estava determinado a não perder por nada a reação de António quando fosse preso e tivesse que se explicar no tribunal. Ele adorava se fazer de bom homem na frente dos outros, mas eu sabia quem ele realmente era por trás daquela fachada.
E agora, finalmente, a verdade viria à tona, ou, pelo menos, a versão que eu criaria para arruiná-lo.
António Torres
10:00h - no carro
S/n já tinha recebido alta do hospital, e eu estava muito ansioso para levá-la de volta para casa. Antes disso, no entanto, queria passar numa loja para revelar uma foto que tirei no dia anterior, a qual tínhamos gostado muito. Por isso, avisei aos seguranças para não seguirem direto para casa. Reencontrar minha filha era uma experiência única e especial. Estar perto dela me trazia uma paz imensa. Ela era tudo para mim.
No carro, o clima era de pura alegria. Eu dirigia pelas ruas enquanto a pequena, ainda um pouco debilitada, permanecia sentada na cadeira dela. Não quis incomodá-la muito, já que ela parecia entretida assistindo a vídeos no YouTube, sorrindo de vez em quando.
Os seguranças do carro da frente pararam, e eu percebi que havíamos chegado à loja. Lopez desceu e veio até mim. Mostrei a foto pelo celular, e ele se prontificou a entrar para revelá-la. Preferi ficar no carro com S/n para evitar que ela pegasse frio. Poucos minutos depois, Lopez voltou com três cópias. Ele me explicou que uma delas era para eu guardar no escritório da empresa.
Agradeci e seguimos para casa, onde uma recepção calorosa nos aguardava. Ela estava animada para rever os avós e os irmãos, mas, no fundo, eu sabia que ela sentia falta da mãe.
— S/n, princesa, venha aqui! — chamei enquanto abria o porta-malas. —Tenho uma surpresa para entregares aos avós e ao teu irmão.
— Que lindo, papai! Eles vão adorar. Mas agora podemos entrar? — perguntou com um sorriso adorável.
— Claro, vamos lá. — murmurei, pegando sua mão pequena, que apertou a minha de leve. —Acho que preciso relaxar um pouco, não achas, princesa?
— Com certeza, papai. — respondeu, com um sorriso inocente.
Assim que entramos, um coro de vozes ecoou pela sala.
— SURPRESA!
O ambiente estava decorado com as cores favoritas dela, e os presentes foram muito bem recebidos. S/n entregou tudo com entusiasmo, e os avós ficaram emocionados.
— Papai, vem ver! A vovó e o Ferran escolheram um bolo delicioso! — exclamou S/n.
— Filho, calma. A S/n acabou de sair do hospital. — advertiu Núria, segurando um copo de vinho.
Aproveitei a pausa para perguntar:
— Mãe, onde está a Natasha? Ela não deveria estar aqui com o Enrique? Aconteceu alguma coisa?
— Não sei, filho. Nem uma mensagem ela mandou. Mas deve estar a caminho, não te preocupe. — respondeu, tentando me tranquilizar.
— Acho que vou ligar para saber se está tudo bem. A S/n quer muito que ela esteja aqui, e eu ficaria triste por ela se Natasha não viesse.
— É mesmo pela S/n ou é por ti, António? Não tentes me enganar. Eu sei o quanto tu te importas com ela. Mas também sei como é difícil para ti confiar novamente em alguém. — disse minha mãe, com um carinho que fez meus olhos lacrimejarem. —Vai, vai atrás dela.
— Vou sim. Só vou avisar à S/n e ao Ferran.
Quando me virei, S/n já estava me observando de longe, curiosa.
— Papai, por que o senhor está com os olhos de choro? A Natasha não vem?
— Vou buscá-la, princesa. — sussurrei, acariciando seu rosto enquanto ela sorria.
Antes de sair, todos estavam curiosos sobre o primeiro pedaço do bolo.
— Este pedaço especial vai para a vovó Aurora. Ela é como uma mãe para mim. — S/n, sorridente, fez questão de anunciar.
Aurora sorriu emocionada, recebendo o prato das mãos da neta.
— Eu também te amo, meu anjo. E, sim, o papai vai buscar a Natasha. — acrescentou Aurora, piscando para mim.
Despedi-me com um beijo rápido em S/n e Ferran, que logo começaram a cantarolar, rindo.
— Papai está apaixonado! Papai está apaixonado!
Sorri, meio sem graça, e saí pela porta com uma certeza no coração: precisava ver Natasha.
Natasha Costa
12:02h - em casa
Eu não tinha conseguido dormir a noite toda. A mensagem deixada na porta me atormentava, e eu não sabia como reagir. Aquilo me deixava arrasada. Enrique já tinha batido na porta uma, duas, três vezes, mas eu apenas dizia que já estava indo, mesmo sem forças para sair da cama. Quando ele insistiu pela quarta vez, abri a porta. Ele me encontrou com o rosto inchado de choro e ainda de pijama. Sua expressão de preocupação dizia tudo: ele sabia que eu não pretendia sair de casa.
— Está tudo bem? — perguntou ele.
— Sim, está. — menti, tentando parecer convincente, mas minha voz fraca e abatida me denunciava.
Enrique hesitou, dizendo que me deixaria em paz, mas duvidei que ele realmente fosse fazer isso. Assim que fechei a porta, me sentei no chão, encostada na parede entre o banheiro e o quarto. Comecei a chorar novamente, perdida nos meus pensamentos.
Algum tempo depois, ouvi vozes no corredor do prédio. Uma delas era inconfundível: António.
— Natasha está em casa? — perguntou ele a Enrique.
— Está, senhor. Mas parecia bem abalada, provavelmente chorou a noite toda. — respondeu Enrique.
Meu coração disparou ao ouvir isso.
O que António fazia aqui?
Eu não conseguia pensar direito. Antes que pudesse me recompor, vi António entrar no apartamento. Ele veio em minha direção, ajoelhou-se ao meu lado e, com uma gentileza que contrastava com sua postura firme, limpou as lágrimas do meu rosto com a mão. Ele começou a falar, mas eu estava tão atordoada que mal conseguia ouvir. Tudo parecia um borrão, até que finalmente consegui murmurar, ofegante:
— O que estás aqui a fazer? E como entraste? — perguntei, com dificuldade para respirar.
— Vim porque estás atrasada. A S/n perguntou por ti, Natasha. Ela quer que tu estejas lá em casa. E, quanto a como entrei...bom a porta estava entreaberta, e fiquei preocupado. — explicou ele, a voz carregada de preocupação.
Fiquei ainda mais desconcertada. Eu tinha certeza de que havia fechado a porta, mas, no estado em que me encontrava, era bem possível que não o tivesse feito.
— Por que estás assim? — continuou ele. —Alguém te magoou? Te intimidaram? Fizeram algo contra ti?
— N-não...foi só...uma coisa deixada aqui. Não é nada demais. — balbuciei, tentando evitar o assunto.
— Posso ver? — perguntou ele, sentando-se ao meu lado. —Por favor, Natasha, eu preciso saber.
Ele parecia tão sincero que me senti incapaz de esconder. Peguei o papel que estava ao meu lado e o entreguei a ele.
— Aqui está...mas, por favor, não digas nada. Eu nem tenho forças para sair de casa.
António leu o bilhete e sua expressão se fechou em indignação.
— Despejar-te? Ele não pode fazer isso! Vou falar com ele, mas, por enquanto, vais vestir outra roupa. Vamos para a festa de boas-vindas. A pequena quer-te lá.
Antes que eu pudesse protestar, ele me ajudou a levantar, tentando me animar com cócegas e um sorriso suave.
— Anda, Natasha. Espero-te no carro. — disse ele, firme, mas gentil.
Eu suspirei, derrotada, e assenti.
— Está bem. Eu vou...mas só pela pequena. — respondi, finalmente cedendo.
António Torres
Eu fiquei genuinamente feliz com o que Natasha disse antes de entrar em casa para se trocar. Aproveitei para sair e esperá-la no carro, tentando organizar meus pensamentos. Precisava resolver aquele problema, mas isso ficaria para amanhã. Não deixaria passar muitos dias sem dar um basta. Enquanto aguardava, peguei o telemóvel e vi algumas mensagens da minha mãe, perguntando se estava tudo bem.
Respondi que já estávamos a caminho e pedi que não contasse nada à S/n para fazer surpresa.
Pouco tempo depois, Natasha desceu e entrou discretamente no carro da frente. Talvez ela quisesse evitar rumores ou olhares curiosos, o que eu compreendi perfeitamente. Não me importei. Dez minutos depois, chegamos em casa. Assim que entramos, Natasha e eu fomos direto para a sala de jantar. Antes que pudéssemos dizer qualquer coisa, a pequena saltou da cadeira e correu em direção a Natasha, trazendo Ferran junto.
— Mamãe Natasha! Achei que não vinhas! — disse S/N, abraçando-a com força.
— Natasha, tive saudades! Vem, ainda tem um pedacinho de bolo guardado para ti. A minha irmã deixou um pedaço especial, rosa, porque sabe que amas rosa como ela. — acrescentou Ferran, animado.
Núria, com seu habitual tom provocador, não perdeu a chance de brincar.
— Meninos, tenham calma! Natasha já não tem a idade de vocês! — disse, rindo maliciosamente.
— NÚRIA! — gritei, mas logo controlei o tom.
Suspirei fundo, sentindo a tensão subir, e disse, decidido.
— Já chega. Vou fazer as malas e voltar para os Estados Unidos. Fico feliz por estares bem, filha. — Disse, beijando S/n e Ferran antes de subir as escadas.
Enquanto isso, S/n não perdeu tempo e se aproximou de Natasha, com um sorriso radiante no rosto.
— Vem, Natasha, senta aqui no sofá. Tenho um presente para ti! É lindo, e quero que o deixes ao lado da tua cama para sempre olhares antes de dormir. — disse, entregando uma sacola à morena, que já estava acomodada no sofá ao lado de Ferran.
Natasha abriu o presente com cuidado e seus olhos brilharam ao ver o que havia dentro.
— Oh, pequena, eu amei! Muito obrigada! Mas acho que também devemos agradecer ao melhor fotógrafo do mundo, o teu pai. — disse Natasha, sorrindo para mim.
— Ah, não precisam disso. Já me sinto lisonjeado. — respondi, rindo.
— Convencido como sempre, filho! — disse meu pai, abraçando-me de lado e sorrindo para Natasha e as crianças.
Ferran, curioso como sempre, aproveitou para fazer uma pergunta.
— Natasha, o que vais fazer na Páscoa?
— Não sei, pequeno. Provavelmente, irei ajudar pessoas, como faço todos os anos. — respondeu ela, com um tom calmo e carinhoso.
— Isso é seguro? Não tens medo de falar com estranhos? — perguntou S/n, com a testa franzida de preocupação.
Natasha riu de leve e respondeu.
— Não, pequena. Ver as pessoas felizes com um simples prato de comida ou um copo de água faz meu dia valer a pena. Nesse trabalho, precisamos ter um coração firme, senão acabamos chorando de emoção.
— Nossa, que bonito! Quando eu crescer, quero ser assim como tu, Natasha. — disse S/n, encantada.
— Tenho certeza de que vocês dois serão pessoas maravilhosas. O mundo terá orgulho de vocês. E, quando eu tiver filhos, vou ensinar-lhes isso também. — completou Natasha.
— Que lindas palavras, minha jovem. Nunca estiveste tão certa. — disse meu pai, sorrindo com aprovação.
— É mesmo, vovô! O senhor também doa alimentos para instituições, não é? — perguntou S/n, subindo no colo dele.
— Sim, pequena. O vovô faz isso. — respondeu ele, abraçando-a.
Natasha olhou para todos com carinho.
— Vocês têm uma família maravilhosa. Deviam sentir muito orgulho. — comentou, com sinceridade.
— Bem, o que acham de fazermos algo juntos? — sugeri, sentando-me no sofá ao lado de Natasha.
Natasha era um verdadeiro pilar para os meus filhos. Eles iluminavam o dia dela, assim como ela fazia com os deles. Desde que Natasha entrou em nossas vidas, tudo mudou para melhor. Tenho certeza de que, daqui para a frente, só haverá momentos incríveis.
S/n subiu no colo de Natasha e ligou a televisão, procurando algo nos DVD's espalhado pela caixa de veludo preta. Escolheu o filme favorito dela para assistirmos, mesmo não sendo um dia especial como seu aniversário. O sorriso no rosto dela era contagiante, uma alegria tão pura que parecia que nada de ruim tinha acontecido.
Natasha era muito importante para todos, especialmente para mim. Só que, é claro, eu não iria admitir isso em voz alta. Afinal, como dizem as crianças: "Papai ama ela!"
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