Watch Me Burn - ShigaDabi
Oiii
É a minha primeira one desse shipp (meu otp), reconheço que ainda há muito a melhorar, mas lançar o cap foi meu primeiro passo
Espero que gostem. Boa leitura ♡
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Segure-me perto, não me solte, me observe
Neste hospital para almas
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Um... dois... três...
Contava seus próprios passos enquanto rumava em direção à porta de madeira infestada de cupins, que a destruíam pouco a pouco. Assim como a madeira, as maçanetas já estavam gastas, as portas rangiam, as janelas também. Não sabia ao certo quando começou ou quando terminaria, apenas que não ousaria mover um dedo para colocar em ordem. Não novamente.
Seus braços cruzados na altura do peito mostravam que sentia frio no momento, apesar de suas vestes, sentia como se estivesse nu passando pelos corredores e sentindo na pele a corrente de ar, chegando ao ponto de doer. Sua mão abusava de seu pescoço machucado pelas próprias unhas, formando pequenos ferimentos, superficiais demais para chamar atenção, mas, em um conjunto, formavam grandes marcas escuras. Era um alerta de sua preocupação. Ou de sua ansiedade. Não se importava, nunca proferiria seus motivos.
Parando para pensar, nunca disse. Exceções poderiam ser contadas nos dedos da mão esquerda.
Sob todas aquelas mãos decepadas, seus olhos escarlates e cansados demais para estarem totalmente abertos eram outro sinal de que poderia explodir a qualquer momento. Não seria ruim, não para ele; sentia que em breve aconteceria e, pior ainda, sabia que não faria nada para evitar este destino pois, novamente, não se importava com coisas fúteis.
Quatro... cinco...
Tocou cuidadosamente o metal da maçaneta, ouvindo o ruído irritante que a porta fazia. Praguejou de início, pois logo percebeu que Touya se apoiava na parede suja de sangue - e aos pedaços -, sendo destruída pelo esquecimento. O mesmo que aconteceu com as vítimas da liga, caíram no esquecimento, tanto para os vilões quanto para os próprios heróis. Nada daquilo era surpresa. Heróis, ao menos para Shigaraki, eram apenas pessoas atrás de fama; esqueciam-se que toda vida era uma vida, que os civis que acreditavam neles foram esquecidos em meio a tantas fichas de mortos e flash's de câmeras que focavam unicamente no "salvador da pátria", aqueles que salvavam vidas, mas não estavam lá quando Tenko necessitou de ajuda.
Observou serenamente os dedos de Dabi serem base de pequenas labaredas azuis, iluminando a sala, mesmo que pouco, era o suficiente. Shigaraki retirou uma das mãos em seu rosto, a colocando no canto da sala. Continuou a arranhar sua pele. Por um momento, Dabi pensou em ajudá-lo, mas desistiu da ideia, querendo ver onde isto daria.
Seis...
Vacilou no sétimo passo, sentindo o impacto de seus joelhos no chão e a dor por terem sido eles que serviram de apoio para o resto de seu corpo. Seu coração passou a palpitar cada vez mais forte e rápido, deixando-o incapaz de sentir se ele realmente batia ou se parava de bater aos poucos. Sentiu que o sobretudo de couro que o cobria apenas o pinicava, o incomodava ao ponto de querer arrancá-lo de seu corpo e queimar a peça, mas se contentou em cobrir seu rosto com suas próprias mãos e se encolher no chão.
Segundos depois, um grito cortou o silêncio do cômodo ocupado por apenas duas pessoas - se ouvissem os gritos do lado de fora, jurariam que os dois estavam se matando. Seus punhos doeram em contragosto quando atingidos contra o chão de cimento mal feito. Os buracos que ali estavam apenas eram empecilhos, ferindo a fina pele de Tenko no primeiro golpe, no segundo o sangue já escorria e assim foi até o sétimo, que foi quando o ouviu estalar, um aviso de que um osso fora quebrado naquele instante, e assim, mais um grito de dor foi ouvido. Mesmo assim não tentou parar, se preparou para o oitavo soco, mas foi impedido por Dabi antes que pudesse tocar o solo. Parou no mesmo momento, se assustando com a irresponsabilidade do outro ao segurá-lo sabendo de sua individualidade.
Shigaraki contraiu seu rosto num misto de irritação e preocupação, fechando uma de suas mãos em punhos para acabar - ou tentar acabar - com as possibilidades de usar sua individualidade em Touya. Encarou Dabi de relance, que mantinha uma expressão confusa em sua face.
- Me solta - ordenou - Antes que eu-
O moreno arqueou uma de suas sobrancelhas, esperando-o terminar a frase.
- Você enlouqueceu? - indagou, recebendo o silêncio como resposta. Shigaraki sentia que não devia explicações para ninguém, afinal, ele era o chefe ali. Certo? - Me responda!
Puxou seus braços em uma tentativa falha de afastar-se do agarre. Sentia que perderia o controle, que todo o ódio que guardava dentro de uma caixinha tornou-se algo mais forte e a destruiu, agora estava solto e controlava o corpo de Shigaraki. O controlava, o manipulava e o machucava. O machucava muito.
- É uma ordem, Dabi, solte-me! - ordenou novamente. Toda aquela resistência o dava nos nervos. Queria socar a face do outro, mas, em força bruta, o Todoroki era mais forte. Shigaraki usava o resto de sua sanidade para tentar cessar a voz em sua cabeça que o mandava matar o moreno naquele momento, assim como fez com sua família, com suas vítimas. Assim como aquela voz queria que fizesse com Touya. Se rendendo a situação, deixou de se movimentar na tentativa de se soltar e sentou-se sobre suas próprias pernas.
Sentiu-se vulnerável sob o olhar preocupado do outro vilão. Odiava quando o tratava como uma criança incapaz, mas nunca pensou que uma parte sua realmente poderia ser. Seus olhos já não mais seguravam as partículas de lágrimas acumuladas, deixando que elas percorressem livremente pelo rosto frio de Shigaraki, parando em seus lábios ressecados por um tempo, e logo caindo de seu queixo.
Dabi estava curioso sobre o que o deixou assim, no entanto, não passava de perguntas feitas mentalmente, não perguntaria ao chefe, não agora. Continuava a segurar as mãos do azulado, que agora, pouco a pouco deitava ao chão, suprimindo tudo que queria dizer. Não chorava, tampouco dizia o que sentia para qualquer outro, nem mesmo para Touya, o vilão que tinha um relacionamento nada desenvolvido, mas que era o suficiente para satisfazer seus desejos mais quentes. Preferiam ficar na companhia um do outro vez ou outra, afinal, eram vilões, sequer achavam que mereciam estar juntos a alguém.
O azulado deitou-se ao chão por completo, voltando a arranhar seu pescoço, de modo que os pequenos cortes surgiam instantaneamente. Deixou que seu braço machucado pendesse no chão, próximo ao buraco que o feriu.
- O que tem na cabeça? - pergunto estupefato. Ainda digeria o que acabara de ocorrer. Preferiu fazer a pergunta em voz alta. Era curioso, a curiosidade poderia sim matá-lo - e matar outros.
- Não é da sua conta - respondeu - Nunca mais faça isso -, se referiu ao agarre em suas mãos para que parasse.
Contrariando suas ordens, Dabi entrelaçou seus dedos aos de Shigaraki, vendo-o arregalar os olhos.
- Chefe -, suspirou -, Eu só... - Desistiu do que diria em seguida, enfim deitando-se ao lado do outro.
Chamas azuis voltaram a dançar na ponta de seus dedos enquanto observava Tenko intrigado com o que poderia acontecer a seguir. Mas nada aconteceu. A não ser que nada também pudesse ser sinônimo de uma troca de olhares entre as orbes azuis de Dabi e escarlates de Shigaraki. Touya fechou suas mãos em punhos apagando as pequenas labaredas antes de passar seus dedos na face do outro e aproximar-se para um beijo, o que não foi negado ou ignorado pelo azulado, que soltou as mãos de Dabi ao ver que seus dedos se aproximavam de sua pele.
Não se surpreendeu quando sentiu maior contato com o corpo do Todoroki, sentindo também o calor gostoso que o outro produzia por sua quirk, mesmo que algo sôfrego, sendo bem egoísta, se sentia bem quando Dabi se aproximava e o abraçava, arrancando-lhe o frio que o consumia rapidamente.
Suspirou. Segurou a camisa de Dabi, apertando-a brevemente - sem tocar o indicador e o dedão. Quando o outro se afastou, ofegou em contragosto, pedindo sem proferir palavras para que ficasse ali. O maior, deixando que suas pernas descansassem em cada lado do corpo alheio, sem que colocasse seu peso sobre o corpo, para ele, frágil - não que fosse a realidade, apenas preferia manter certo cuidado -, passou suas mãos por baixo do pescoço de Shigaraki, o abraçando de forma desajeitada.
Aos pouquinhos, Tomura se acalmava, apenas por estar nos braços do moreno. Ele o apertou mais forte, vez ou outra, deixando que seus lábios e grampos tocassem na fina camada de pelo dele.
- Chefe...?
Shigaraki não respondeu, estava cansado demais para formular algo. Mais cedo aconteceram muitas coisas, coisas o suficiente para fazê-lo perder a cabeça de uma forma que nunca perdera, e regava aos céus para que não acontecesse novamente, não queria chegar mais próximo do inferno que isso. Nunca mais.
Percebendo que, estranhamente, Tomura seguia seus "comandos", passou seus dedos nos cabelos azuis alheios, retirando a franja dos olhos. Não esboçava sorriso algum, seria mais estranho se demonstrasse alguma emoção para a L.O.V., não era surpresa para ninguém ali. Mas um romance, sim, era uma surpresa; algo que em hipótese alguma poderia acontecer, mas o mundo não é justo, e aconteceu. Um amor proibido não era algo que queriam, mas adrenalina era o que necessitavam. Isto poderia explicar o porquê do beijo sedento, dos toques cobertos de segundas intenções e dos ofegos. Também havia amor naquela reação, por isso Dabi não foi adiante, se preocupava e sabia que Shigaraki não estava num bom momento.
Se contentou em beijá-lo uma vez mais, vendo-o encarar o teto, não estava ali, refletia sobre algo que o Todoroki sequer sabia.
- Dabi... não conte a ninguém o que aconteceu aqui, é uma ordem - disse seco.
- Não direi, chefe.
Dabi fechou seus olhos lentamente, o cansaço tomava seu corpo, fazendo-o sair de cima de Shigaraki e deitar ao seu lado. Dormiu o observando, analisando-o e considerando cada detalhe de seu corpo. Dormiu pensando em quem nunca cogitou amar. Mas lá está ele, o amando como nunca amou ninguém.
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