Sete
Durante os meus quase dois anos de residência eu reaprendi a amar a medicina. Cada área na qual eu atuei, aprendi de forma única e singular o valor do ser humano.
Aprendi a comemorar a alta de pacientes com as mais complexas doenças, mas também aprendi a sentir pesar por aqueles que não tinham mais do que vinte e quatro horas de vida.
A cada seis meses eu ficava fixa em um setor e temporária em outros, o que me permitia contemplar ainda mais a beleza de cada área médica que existe atualmente. Desde geriatria, que é basicamente o fim da vida, até a pediatria, que é o começo.
Era bizarro o quanto algumas situações destoavam umas das outras. Em uma hora eu noticiava a morte de um ente querido à sua família e na outra eu expunha um bebê recém nascido aos seus pais, que vibravam de alegria.
Tudo seguiu de forma normal e pacífica até eu achar a paixão profissional da minha vida: Traumatologia.
A maioria dos médicos daquele hospital eram excelentes, porém, em trauma, ninguém superava o Tyler. Ele era perspicaz, tinha um sentido aguçado para o atendimento e suas cirurgias eram 99,8% bem sucedidas (os 0,2% eram dos casos em que o paciente já estava desenganado). Vinham médicos de várias cidades próximas vê-lo operar e lá estava eu no meio disso tudo, sempre observando com muita cautela todos os seus movimentos para conseguir aprender o máximo de tudo o que ele tinha para me oferecer.
O nosso namoro ia de vento em polpa e eu não podia estar mais feliz com todas as áreas da minha vida. Era como se tudo estivesse encaixado em seu devido lugar. Eu sentia, pela primeira vez em muito tempo, que eu estava exatamente no lugar em que era pra eu estar.
Contudo, algo dentro de mim me dizia que havia algo escondido, algo oculto, que precisava ser revelado. A aura misteriosa do Tyler se solidificou ainda mais ao longo desse tempo e algo em sua forma de se portar me dizia que ele estava cercado por um enigma e que, de alguma forma, eu estava envolvida nisso.
Agora que todos os pontos cruciais já foram relatados, podemos avançar no tempo até aquele fatídico dia com aquele fatídico reencontro.
Foram seis anos.
Com exatidão? Seis anos e meio.
Arredondando? Sete anos.
A margem de erro que lute, porque eu não perderei o meu tempo para calcular o tempo.
Ok, foram 78 meses.
SETENTA E OITO MESES.
Setenta e oito é o número rudimentar da minha satisfatória lucidez. Esse é o número que eu não fiz questão de contabilizar até encontrar aquela perdição em forma de ser humano desacordado no ambulatório.
Eu não conseguia parar de reviver aquelas imagens que, basicamente, consistiam em:
Michael desacordado.
Michael acordado com a Stephanie ao seu lado.
Michael com o seu incrível abdômen definido exposto.
Michael falando obscenidades pra mim.
Michael me destratando.
Michael se retratando subliminarmente.
"O foda é que eu ainda sinto sua falta"
Sabe o que é foda, Michael? É que eu podia jurar que tudo o que eu sentia por você havia passado. O foda é que eu constatei que não tenho controle de mim mesma quando se trata de você.
E sabe o que é mais foda ainda? Eu nem te conheço mais! Como eu posso ter tantas reações a uma pessoa que eu nem conheço?
- Você está bem? Podemos pedir a conta e ir embora se quiser... - Tyler sugeriu com sua expressão neutra, porém nitidamente preocupado.
Ele estava sentado à minha frente no restaurante. Tinha o braço direito apoiado no encosto da cadeira vazia que estava ao seu lado, enquanto sua mão esquerda repousava calmamente em cima da mesa. Sua camisa social estava com os primeiros botões abertos, o que me dava uma leve visão do seu peitoral, enquanto as mangas estavam dobradas na altura de seus cotovelos.
Antes que vocês achem que já estamos praticamente casados... não. A essa altura estávamos a dez meses oficialmente juntos.
Apesar de tudo, Tyler era uma pessoa muito boa pra mim. Ao longo desses dez meses, eu tive uma nova oportunidade de amar e ser amada por alguém. Ele parece um lord e eu creio que parte dessa atitude é por conta dele ser inglês.
"Ok, Anne, mas o que você quer dizer com parece um lorde?"
Basicamente? Ele abre a porta do carro e todas as demais portas pra mim, me dá o seu casaco quando estou com frio, me trata respeitosamente e também sempre combina os meus gostos aos dele, e isso vai desde alimentação até o sexo.
Ah! No quesito sexo ele é um homem bem peculiar. Não vou compará-lo ao Michael, até porque vocês sabem bem como eram as coisas entre nós. Porém, com o Tyler eu me sinto uma adolescente aprendendo a fazer sexo. Reaprendendo, na verdade.
Ele é extremamente romântico, extremamente amoroso, mas de um jeito bom. Ele sempre conduzia o sexo e eu não achava ruim, porque sempre saía satisfeita.
Eu sei que falei pra vocês que gostava de uma coisa mais bruta, mas essa forma de me tratar do Tyler é algo particular dele. Ele não se sentia muito bem em levar as coisas de uma forma mais... rude, entendem? Ele via isso como forma de desrespeito. Mesmo que eu não achasse, mesmo que eu pedisse, ele não se sentia à vontade em me deixar chupões e apertar minha bunda tão forte que a deixasse roxa.
Ok! Eu prometi não comparar ele com ninguém, né? Então vou parar essa história por aqui.
Enfim, basicamente, eu namorava com um príncipe que qualquer mulher sonha em ter.
- Não! Está tudo bem, só estou... - sorri tímida - pensando - encarei seus olhos verdes que me olhavam de uma forma intensa, como se soubessem que eu omitia muitas informações.
Depois que recebi a mensagem do Michael, Tyler me convidou para jantar. Normalmente eu recusaria para descansar, mas na situação que eu estava, aceitaria qualquer oferta que aliviasse meus pensamentos... dele.
- Quem é Michael Evans? - ele inclinou minimamente sua cabeça para a direita.
- Você está fazendo de novo - revirei os olhos.
- O que?
- Me analisando como se eu fosse uma de suas pacientes - Tyler havia aperfeiçoado seus estudos em psicologia comportamental, o que pra mim era um terror.
- Distanciamento verbal do tema, ok! - ele levantou as mãos na altura do ombro, em forma de rendição - não quer falar sobre Michael Evans... - revirei os olhos mais uma vez. Era um saco ser analisada pelo Tyler sem ter a visão do seu corpo nu - Então vamos falar de outra coisa... - ele apoiou seus cotovelos na mesa e inclinou seu corpo na minha direção - o que você está usando por baixo desse vestido? - recostei minhas costas da cadeira, peguei minha taça de vinho e degustei, enquanto sustentava o seu olhar de luxúria.
- Vou deixar sua imaginação responder isso por mim - Por debaixo da mesa levei meu pé, que estava calçado com uma sandália de salto, até o interior da coxa dele. Observei ele engolir seco, porém o sorrisinho malicioso continuava nos seus lábios.
- Vou te contar como vai terminar a nossa noite, então... - ele voltou a recostar-se na cadeira. Arqueei uma sobrancelha, aquilo seria interessante - Ao sairmos daqui, iremos para o meu apartamento, onde já deixei minha hidromassagem estrategicamente ligada. Vou tirar sua roupa com a minha boca e te chupar até você ficar sem ar - ele dizia com a maior naturalidade do mundo, como se estivesse em uma conversa acerca do tempo. Deu um breve gole no seu vinho antes de continuar - Depois vamos transar em cima da mesa do meu escritório e te darei mais um orgasmo arrebatador - ele deu uma breve pausa e umedeceu seus lábios. Eu apertava as minhas coxas na tentativa de conter a excitação, já que tudo o que ele prometia, sexualmente, ele cumpria - Depois disso abrirei um vinho para tomarmos enquanto estivermos na hidromassagem, falarei algumas baboseiras de psicólogo barato e você vai desabafar tudo acerca desse tal Michael Evans. Após as suas confissões, vamos transar na hidromassagem. Ou seja, eu vou arrancar quem ele é de qualquer jeito. Você quem escolhe - ele piscou pra mim e direcionou seu olhar para o garçom que trouxe a nossa refeição. Pelo visto, ele ouviu bem mais do que deveria.
- Você está perguntando quem ele é como psicólogo ou como meu namorado? - ele me analisou alguns instantes antes de responder.
- Como namorado.
- Se eu falar agora, a parte dos orgasmos ainda está de pé? - me aconcheguei na cadeira para me servir. O ouvi gargalhar ao mesmo tempo em que meu celular deu um bip.
- Não quero sexo em troca do seu desabafo, se é isso que está pensando - meu celular deu outro bip - Mas me sinto na obrigação de te ouvir, já que você sempre faz isso por mim.
- Eu te ouço porque a sua vida social é muito mais interessante do que a minha - Eu estava no começo da minha carreira, então a maioria dos meus esforços eram voltados para a minha residência. Ele posicionou uma mão em seu peito e fingiu estar ofendido. Mais dois bips seguidos saíram do meu celular.
- Somos namorados, Anne. É isso o que namorados fazem: OUVEM - meu celular deu mais três bips seguidos - Tem alguém muito interessado em falar com você. Você devia ver - respirei fundo antes de virar a tela do aparelho na minha direção.
Danny
3 chamadas perdidas
Danny
Anne, você ainda vem no meu aniversário né? 🥺
Danny
Eu pensei que o Mike ia vir só depois...
Danny
Por favor, não cancela comigo, a gente mal se vê...
Danny
Faço qualquer coisa, mas por favor, não cancela comigo 🙏🏽🙏🏽
- Você quer mesmo saber? - suspirei derrotada e recebi um olhar animado dele em resposta.
- Eu quero saber tudo sobre você, Anne - ele me lançou um sorriso que exibia seus dentes perfeitamente alinhados.
Tyler já tinha ciência de grande parte da minha vida. Ele soube acerca do meu vício devido a obrigatoriedade de relatar isso na minha ficha de inscrição a residência e as demais coisas contei conforme nos relacionávamos. Titubeei alguns instantes enquanto refletia na sua pergunta: Quem era Michael Evans? Meu salvador? Minha perdição? Meu salvador que se transformou na minha perdição?
- Ele foi um colega de classe no último ano do ensino médio... - sua expressão rapidamente se transformou em deboche - No qual eu me envolvi intimamente... - conclui e o vi cerrar os olhos para mim.
- Sua boca falou isso, mas o seu corpo me diz o quanto você está ansiosa por conta dele - revirei os olhos. Ele não cansava de me analisar! - Ex namorado?
- Eu já falei do quanto odeio ser tratada como uma das suas pacientes? - eu estava nitidamente brava - Sim, ele é um ex namorado.
- E pelo visto a presença dele te incomoda. Estou errado? - sua cabeça inclinada para o lado me indicava que ele analisava cada micro expressão que o meu rosto fazia involuntariamente com as suas perguntas.
- Tyler, já chega! - soltei os talheres ruidosamente em cima do meu prato e o encarei incisiva - Se for pra você interpretar cada frase que eu digo com as suas babozeiras psicológicas, eu vou embora - Ele respirou fundo e balançou a cabeça lentamente.
- Me perdoe, as vezes eu faço isso involuntariamente - ele assumiu uma expressão pesarosa e deu uma garfada na salada que estava em seu prato - Pode continuar.
- Não tem o que continuar. É isso - voltei a comer, mesmo nervosa.
- Por que eu sinto como se algo te incomodasse? E antes que você fale que eu estou te analisando, eu digo isso como namorado - titubeei no que eu iria dizer.
Realmente eu estava incomodada, mas não podia cair no erro de falar algo acerca dos meus sentimentos conflituosos para o Tyler, então optei por...
- Daqui a algumas semanas vai ser aniversário do Danny e saber que o Michael estará lá me incomoda - uma verdade.
- Do Dwane? - fiz que sim com a cabeça. Ele tinha costume de apelidar as pessoas do meu meio social - Por que?
- Na verdade, eu já não queria ir por causa da Rebecca... - mais uma verdade.
- A cafetina? - No caso, a Rebecca recebeu esse codinome após um dos meus desabafos no começo da nossa amizade.
- Isso, Ty, a cafetina - respirei fundo antes de prosseguir - eu já não queria ir por causa dela, agora que eu sei que o Michael vai... sei lá, eu não consigo - mais uma verdade.
- Por que não? - ele adotou a postura "médico analisador" novamente, mas optei por ignorar.
- Porque eu vou me sentir deslocada! Ele me viu no meu pior estado de abstinência. E ainda tem a Re... a cafetina que vai me cercar para tentar falar comigo. Eu não me sinto preparada pra uma situação dessas - Uma meia verdade. Respondi e desviei o olhar para o meu prato.
Ele não precisava saber da confusão mental que eu enfrentava acerca do Michael.
- Eu deveria me preocupar com isso? - rapidamente voltei a olhá-lo.
- Não. Por que?
- Sua insegurança exacerbava em vê-lo me soou como se algo entre vocês ainda tivesse vivo. Devo me preocupar? - sua voz era serena, mas era óbvio que a intensão dele ali era me testar.
- Claro que não!
- Então acho que eu deveria ir com você, assim você não se sentiria tão insegura - refleti um pouco no seu argumento. Acho que estava nítido no meu semblante que eu não estava confortável, porque ele completou - olha, só estou sugerindo isso para você não ir a esse evento sozinha. Eu me importo com você e não quero que ninguém te veja como a Anne coitadinha, ex drogada e sim como a Anne fodona, que superou suas dificuldades, tornou-se uma excelente profissional e ainda transa com o médico mais lindo de Boston - soltei uma risada, sua autoestima é algo inabalável. Ele piscou para mim como se fosse o gênio do século vinte e um.
Anne
Vou sim! Mas vou levar meu namorado, pode ser?
Danny
Traga a Costa Oeste inteira, contanto que você venha 💙
Quem mais está fazendo contagem regressiva para o Mike voltar? 🙋🏻♀️
Falta um capítulo!!!! Nem eu estou acreditando... 😭😱😱😱
Se quiserem capítulo extra, a meta é 130 comentários e 28 estrelinhas. Fui mais boazinha, vai... 💁🏻♀️
Com amor, mamãe Fox 🦊
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Curtido por monfret.rebecca e outras pessoas
anne.stein Aproveitando o dia de folga pra dizer que eu voltei 🍃
jonestyler 🥳👏🏻
dannyjohnson Parabéns irmãzinha! Te amo!
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Curtido por justmargot e outras pessoas
mikevans No limits 🌀
steph.adams 🥰♥️
justmargot Saudade, Mi
dannyjhonson Abana, papai.......
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Curtido por k.martinez e outras pessoas
dannyjhonson Que vista... 🤪
monfret.rebecca Desisto de você.
mikevans Se ela não te quer, eu quero ♥️
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Curtido por anne.stein e outras pessoas
jonestyler #tbt 🐶♥️
anne.stein Rihanna!! Que saudade dela 😪♥️
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