Eu sentia a brisa gelada bater no meu rosto em contraste com o clima quente, enquanto observava a paisagem da cidade passar pelos meus olhos. Não me preocupei se o vento iria bagunçar o meu cabelo e fazer nós que iriam demorar séculos para serem desfeitos.

Voltei o meu olhar para o homem que estava ao meu lado. Ele dirigia com uma expressão compenetrada, totalmente perdido em seus pensamentos. Suas mãos apertavam o volante ao ponto dos nós dos seus dedos ficarem brancos. Imagino que, da mesma forma que eu, ele jamais imaginou que vivenciaria tudo o que vivenciou ao longo desses últimos meses.

Nem nos meus sonhos mais bizarros eu imaginei que a minha vida tomaria o rumo que tomou e com quem tomou. Nunca cogitei que teria que lidar com situações que só vemos nos mais bizarros documentários e que, honestamente, desdenhamos que realmente seja real.

Quando ele percebeu que eu o observava, um sorriso tímido apareceu em seus lábios.

- Você quer mesmo fazer isso, Anne? - assenti e retribuí o sorriso tímido - Eu não pensei que você fosse do tipo religiosa - ele arqueou as sobrancelhas e falou com o seu tão típico ar de deboche, o qual aprendi a amar.

Eu realmente não sou religiosa. Bem observado.

- Perdão não tem a ver com religião, tem a ver com paz de espírito - respondi e observei pela janela que já estávamos próximos ao nosso destino - Se você quiser que sigamos em frente, eu preciso fazer isso.

- Não estou te julgando, só não pensei que...

- Eu sei o que você pensou - voltei a olhá-lo - Não precisa se explicar.

Um silêncio constrangedor pairou sobre nós até o carro estacionar em frente a uma grande igreja católica. Sua arquitetura antiga e vampiresca fez um frio correr por toda a minha espinha. Minha personalidade medrosa me implorou para que fosse embora, contudo minha consciência me reafirmava: era o certo a se fazer.

Eu precisava disso para seguir em frente!

- Eu já volto - abri a porta do carro - me espere com o carro ligado, não vou demorar - lancei um último sorriso a ele, que me encarava compassivo.

A brisa se encarregou de balançar os meus cabelos e de acalmar parte do meu coração. Subi as escadas lentamente e observei cada detalhe daquele lugar lindamente bizarro. Ao alcançar o topo, entrei sem cerimônias no salão da igreja, que estava cinco graus mais frio que a temperatura externa, e me dirigi até o tão famoso confessionário.

Levei minha mão até a maçaneta antiga em tom dourado e abri a porta. Assentei-me na única cadeira vaga disponível naquele cubículo minúsculo. A minha esquerda havia uma madeira com pequenas aberturas, que não me permitia enxergar a totalidade da sala. Não demorou muito e ouvi o barulho da porta se abrir, revelando-me que alguém havia entrado do lado oposto ao meu.

- Perdão, padre, eu pequei - minha voz saiu um pouco trêmula, em harmonia com o turbilhão de sentimentos que se emaranhavam dentro de mim. Observei minhas mãos mexerem-se nervosamente no meu colo - Já faz tempo que eu não me confesso - mais especificamente dez anos.

- O que lhe aflige, minha filha? - uma voz masculina soou do outro lado, o que me indicou que era um homem já avançado de idade.

- Eu errei muito, padre - respirei fundo, como quem reúne forças, antes de prosseguir - Eu fiz muitas coisas erradas na minha adolescência e eu já paguei por todas elas. Contudo, recentemente eu cometi muitos erros.

- Quais, minha filha?

- Fui negligente com a minha profissão, prostitui mulheres, vendi drogas, me deixei ser corrompida por ações torpes e excessos alcoólicos. Também entrei em um relacionamento sério e o traí de todas as formas possíveis.

- Esses são todos os motivos da sua aflição, minha filha? - sua voz era compreensiva e mansa, que me acalmava na medida do possível.

- Sim, padre, são os que mais me atormentam. Mas a minha real motivação de vir aqui é outra - senti meus olhos marejarem com as lembranças daquele fatídico dia.

- E qual é essa motivação, filha?

- Eu matei o meu noivo.

O que dizer dessas leitoras lindas que não me dão paz nem no domingo à tarde? Só que eu amo muito hahaha ❤️

Primeiramente gostaria de agradecer a rainha-do-caos pela capa linda!! ❤️❤️

Segundamente, obrigada por tudo! Vocês são demais! Ainda não tenho data exata para o início das postagens oficiais, mas se esse prólogo bater 35 estrelinhas e tiver muitos comentários eu solto um capítulo bônus. Que os jogos comecem!

Com amor, mamãe Fox 🦊