CAPÍTULO VINTE E DOIS.
Reprimo o grito entalado em minha garganta, tentando me controlar.
- Que merda você fez, Hiran? - O garoto continua andando em círculos lentamente, com as mãos na nuca entrelaçadas uma na outra.- Ei! - o acordo do transe.
Ele para, olhando para meu rosto agora e começa a tirar as faixas enroladas nas mãos. Sem que eu tenha tempo de questionar, segura meu pulso e me arrasta para fora da quadra. Permaneço em silêncio, confiando em cada passo que dá à minha frente. Talvez tenha uma boa explicação, e não quer que Oliver ou qualquer um escute.
Nostalgia me invade quando me leva para o jardim dos fundos, onde é cultivada a grande horta. Adorávamos andar por aqui juntos quando eu ainda era pequena. É como se eu pudesse ouvir a voz de Charles, o senhorzinho que cuida de toda a plantação, avisando para termos cuidado. Meu Deus, a quanto tempo não venho aqui? Tudo continua impecável, as verduras brilhantes e a grama completamente limpa. Olho para os muros, que cercam todo o terreno do Instituto, impedindo que qualquer perigo da floresta lá fora nos atinja.
- Vem, Charles deve estar na cozinha. Ninguém vai nos ouvir aqui - apenas agora ele solta meu pulso, andando à minha frente com as mãos nos bolsos da calça de moletom cinza. Cruzo meus braços, sentindo a brisa fria apesar dos raios solares que ultrapassam a muralha.
Ele parece agoniado com algo, os ombros se erguem pela respiração forte. Me assusto quando ele vira de frente para mim em um movimento rápido, mas permaneço com meu rosto neutro e as sobrancelhas franzidas.
- Eu não fiz por mal, Mia. Eu só não imaginei que no momento exato e na hora exata...
- Que porra passou pela sua cabeça? Chamar Ethan? Deixar que ele me visse nessa carcaça de Sophie Baker - balanço a cabeça, mas me obrigo a parar com o tom grosseiro quando vejo a expressão em seu rosto, apenas ouvindo com os olhos baixos.
- Eu queria ajudar você - sai como um sussurro e por mais que eu não queira isso, sinto a raiva me deixar gradativamente, fazendo com que meu rosto relaxe. - Achei que você pudesse contar tudo ou... fazer qualquer coisa que não o afastasse de vez. Você estava tão preocupada com ele e com o que iria pensar...
Uma pausa é dada e ele não me olha em nenhuma momento durante ela.
- Me desculpa, Mia.
Ah, Hiran... meu colega, parceiro e treinador... é esse o cara que está aqui. Com a cabeça baixa e a voz tão pesada pelo arrependimento, é ele. Não a pessoa que venho desconfiando ultimamente.
- Tudo bem - dou mais um passo na sua direção. - Não deveria te acusar de algo, eu só...
Estou cansada, Hiran. Estou tão cansada.
Fungo, reprimindo qualquer sensação amarga que me faça lembrar do olhar de Ethan. Isso desperta a atenção de Gray, que não hesita em se aproximar de mim, ficando a minha frente, enquanto eu encaro o capim bem aparado.
- O que aconteceu? - Sei que me encara, sinto as órbitas me analisando, tentando me estudar. Não precisa ser um mestre da psicanálise nessa hora, porque me conhece e aposto que é por isso que usa a voz mais mansa quando pergunta novamente: - O que aconteceu, Mia?
Encaro seus olhos. Os mesmos que sempre tentaram me tranquilizar, até naquele dia... com todos meus berros ecoando pelo corredor. Naquele dia em que chorei em seu colo pelo ocorrido comigo.
- Eu o mandei embora.
Meus braços se debatendo na maca, Hiran surgindo de um corredor qualquer, sendo impedido de me alcançar pelos seguranças.
- Eu... o mandei embora - dou um passo para trás, sentindo minha respiração falhar e cada sensação que senti naquele dia preenchendo meu corpo. Não mais aquele corpo de criança inocente e que não entendia porque todos a tratavam mal.
Os guardas o segurando, enquanto eu gritava pelo seu nome, implorava para que ele não deixasse que me machucassem. Ele, com dezoito anos de idade enquanto eu... apenas tinha onze. Acorrentaram uma garota de apenas onze anos, sedaram uma garota de apenas onze anos. Eles. Tudo por causa deles; minhas cicatrizes, as de Adam e Hiran, foram eles. A morte de Bev, a mudança de caráter do meu amigo, a forma como tive que expulsar Ethan...
- O mandei embora - minhas mãos tremem junto aos meus lábios quando toco em meu próprio peito.
Não deixem que me levem. Foi o que eu gritei naquele dia, inúmeras e inúmeras vezes.
Recuo alguns passos, tentando puxar algum resquício de ar para o meus pulmões. Nada.
Gritei, todas aquelas pessoas viram meu sofrimento e não fizeram nada, apenas Hiran, impossibilitado pelos guardas.
- Eles me obrigaram - a cada palavra, o ar falta mais, deixando a frase incompleta. - Tive que... - engulo em seco.
Eles. Tudo por causa deles.
- O mandei embora, e James... - aperto o tecido que cobre meu peito com força, tentando me livrar de toda agonia - Você... você não... Você também foi embora - um soluço me escapa.
Lágrimas, eu estou chorando. Diante dele, desabando por essa falta de ar e o ódio. As lembranças...
- Eles... você foi embora e Ethan também - choramingo.
Recuando novamente, novamente... tropeço em meus pés, sentindo braços fortes me segurarem e me acolherem. Tremo, com meu coração acelerado e a visão turva.
- Calma, calma - é a voz de Hiran, os braços me apertam mais.
Os olhos de Ethan, a raiva em seus olhos... ele me odeia.
- Tô aqui, respira. Eu tô aqui - as mãos encaixam na minha nuca, me apertando mais contra ele. - Calma, calma...
Sigo sua respiração, fechando os olhos e me concentrando nas batidas do coração dentro do peito onde minha cabeça está encostada.
- Não vou embora, não vou embora...
- James estava lá - confesso, com a voz embargada e sentindo o soluço me interromper novamente.
- Tudo bem, respira.
Meu peito sobe e desce conforme o de Hiran. Respire. Assim faço, mesmo com as lembranças que me atingem com tanta força que tenho vontade de gritar.
- Não pode trabalhar com eles Hiran, não pode, não pode... - libero, abraçando o seu tronco.
O aperto, como se isso o impedisse de levantar e virar as costas para mim.
- Não vire as costas pra mim...
Por que fica em silêncio? Agarro minhas mãos no uniforme.
- Hiran?
- Eu tô aqui, tô com você. Respira.
Está comigo.
Fecho os olhos, imitando seu fôlego.
Está comigo.
- Isso, respira. Não se preocupe, eu tô aqui.
Inspira, um, dois, três, quatro, expira. Inspira, um, dois, três, quatro, expira. Inspira, um, dois, três, quatro, expira.
De novo e de novo, até que eu volte a prestar atenção em outros sons além das galopadas do coração do homem que me abraça.
O que aconteceu? Por que surtei?
Meus joelhos doem, só agora percebo que estou ajoelhada. As mãos longas continuam a afagar meus cabelos. Afasto meu rosto devagar, envergonhada demais para o encarar.
- Tudo bem? - Tira uma mecha do cabelo que está colado nas minhas bochechas molhadas.
Balanço a cabeça lentamente, olhando para as verduras na horta.
- Me desculpa por... isso - minha voz sai rouca.
- Não tem problema - olho para minhas mãos com as palmas vermelhas. - Quer que eu pegue água?
Minha cabeça se move novamente. Ele fica em silêncio, desdobrando os joelhos e sentando na grama de vez.
- Então... sei lá, quer falar? Parece que tem bastante coisa aí dentro.
E aí está o problema. Me viu vulnerável, viu uma parte de mim que não suporto libertar nem para mim mesma. Fico em silêncio.
- Tá bom, tudo bem - uma pausa antes de continuar: - Mia, sabe que pode confiar em mim, não é?
Trinco os dentes, voltando meu olhar para ele.
- Claro que não - digo afiada. - Não é isso que somos ensinados? A não confiar em ninguém? Não é isso que você está seguindo?
Permanece com a mesma expressão, como se minhas palavras não tivesse feito nem cócegas.
- Não precisa vestir toda essa armadura para mim, Fletcher.
Claro que tenho que me equipar, você é um deles.
- Nunca vou virar as costas para você, tá me ouvindo? Nunca. Passamos por tantas merdas que tudo o que eu mais queria era fugir com você para qualquer lugar, te tirar daqui. Se dói em você achar que não pode confiar em mim, me dói mais ainda ver que fiz algo que te fez perder essa confiança.
Meus lábios se abrem pela forma que diz. Hiran...ainda é ele mesmo. Eu poderia ir na igreja mais próxima e agradecer porque ele ainda é o mesmo, e o alívio que me preenche quando ouço essa confissão sair da boca dele não tem preço. Mas, eu apenas engulo em seco e pergunto:
- Pode me explicar como ligou para ele? - Repouso as mãos nas minhas coxas.
- Me ofereci para ajudar na cozinha e peguei o celular de uma das cozinheiras, pesquisei a ficha de cada pessoa que se chamava Ethan no Canadá e quando o reconheci, mandei a mensagem e queimei o telefone logo depois. Fiquei cuidando das câmeras por alguns turnos então apaguei qualquer fita que me comprometesse.
Esperto. Muito esperto. Olho meus dedos com unhas pintadas pelo esmalte descascando.
- Ele vai te escutar. Tudo vai se resolver - Hiran diz, como se lesse meus pensamentos.
- Não... você não viu a forma que falei, não tive coragem nem de ver se ele olhou para trás. E eu... nem sei se vou voltar para o Canadá mesmo - a frase sai acompanhada de um suspiro.
- O quê?
- Talvez isso tenha acontecido... como um choque de realidade para mim, nunca vou ter uma vida normal. Por que tentar? Por que suportar isso tudo? Me sustentei até aqui porque pensei que iria encontrar Ethan no final de tudo, mas agora...
- Ah, não Mia - a voz pela primeira vez sai rígida. - Você o conhece há o quê? Um ano?
- Isso não importa! - Grito rudemente.
- Quando ficou madrugadas acordada treinando para sair daqui, o que te motivou, hein? - fico calada. - Tinha algum Ethan para isso?
Engulo em seco.
- Fez isso por você mesma, para se dar uma vida melhor. Então, se está pensando em desistir eu não vou te deixar fazer isso.
O rosto beira preocupação e irritação ao mesmo tempo, e por um momento, acho isso engraçado. Talvez não porque tenha alguma graça de verdade, mas apenas pela felicidade que sinto em observar o cuidado comigo expresso em cada linha das sobrancelhas cruzadas.
- Ah, não vai? - Rio com minha cara inchada.
- Não vou, não tô brincando - o lábio se arqueia.
Empurro o ombro dele, fazendo com que o seu sorriso se abra mais.
- Você tem que sair daqui também.
Ele passa a mão pelos cabelos baixos, o riso murchando.
- Tô tentando.
- Não vai precisar tagarelar no meu ouvido o tempo inteiro, falei com Troy e não vai ter mais escuta. Mais tempo para você estudar.
- Falou com ele? Simples assim?- Orgulho, é isso o que lampeja em seus olhos quando pergunta brincando.
- Também não entendi, mas não sou louca de questionar. Falando nisso, preciso encontrar a Hailey na sala de disfarces... e você vai comigo.
- O quê? Por quê? - Está sério agora.
- Falei com James, sabe? Ele ficou me perguntando o tempo inteiro sobre Ethan e quem ele era, me pressionando.
- Não conseguiu se resolver com ele?
- Na verdade, eu consegui.
- Então qual o problema?
- O problema é que eu quero que ele confie em mim, sem precisar ficar arrancando resposta minhas - continua com a testa franzida. - Ele ainda está com uma pulga atrás da orelha, Hiran. Quis saber do meu passado e isso é um problema.
- Eu não tô entendendo nada.
- Se ele por acaso for pesquisar por Sophie Baker ele acha, certo? - Hiran balança a cabeça. - Mas e se, como você fez, ele puxar o nome de Ethan, só que na Austrália, e perceber que nenhuma aparência bate?
- Acha que ele está desconfiado a esse ponto?
- Talvez não desconfiado, mas... eu não sei. Jackson foi se encontrar com ele, não pude ficar escutando atrás da porta pois todos veriam, mas e se ele foi a pedido de James? Sei lá... quero que ele confie na Sophie de Nova Iorque, que esqueça todo o passado misterioso dela enquanto estamos juntos; que veja somente essa garota que mora com a prima e que quer recomeçar sua vida nesse novo país.
- Eu não vou perguntar nada porque na maioria das vezes você tá certa, então só me diz o que eu tenho que fazer.
Começo a falar o pequeno esquema que estou pensando, e de primeira ele já faz uma careta de reprovação quando digo que Troy não pode saber. Que escolha tenho? Ele me esfolaria viva se descobrisse tudo. Hiran continua com as sobrancelhas cruzadas, como se tudo o que estou falando seja uma grande paranóia e que o plano não vai mudar em muita coisa. Mas, quando conto a outra parte, ele discorda de vez.
- E o que vai interferir na confiança entre vocês dois se transarem?
- Tenho que fingir que estou caindo na dele, Hiran. Não posso o negar de novo e...
- De novo?
Balanço a mão na frente dele, tentando afastar qualquer que fosse a confusão em seus pensamentos.
- O que importa é que ele me pediu pra ficar, sabe o quão significativo isso é para um cara como Hart?
E, eu sou um dos motivos que o faz repensar sobre sua partida de Nova Iorque, mas isso é uma história que lhe conto depois.
- Tá e depois? Vai ficar tendo um casinho com ele e em um belo dia: Ha, surpresa amor! Você está preso - a cara cínica de desmancha junto com o teatrinho.
- Vai me ajudar ou não?
- É claro.
- Confia em mim, vai dar certo.
- Troy? Me mandando para uma missão? - Hailey pergunta, olhando a identidade falsa que Hiran a entregou.
- Eu também estranhei, mas esse foi o recado que ele mandou te dar.
Está mentindo excelentemente bem.
- Então eu vou ser... - ela faz uma careta, entortando os lábios quando lê o nome - a prima Lexie.
- Isso. Vai cumprimentar o James e depois sair, dizendo que tá apressada com alguma coisa do trabalho, me deixando sozinha com ele.
Os lábios vermelhos abrem um sorriso perfeitamente alinhado.
- Sozinhos para o quê, exatamente?
- Para o quê você e o Adam ficam sozinhos aqui, exatamente? - Hiran pergunta, afiado, apoiando a mão na grande penteadeira da sala dos disfarces.
Adam e Hailey?
- Calado, Gray - ela usa o tom autoritário, me fazendo reprimir o riso.
- Lembra de quando for se despedir, dizer algo que demonstre que vai passar bastante tempo fora, entende? - A aviso.
Ela começa a passear pela sala, olhando o documento de Lexie em sua mão.
- Argh, quase quarenta anos trabalhando aqui para no final ser a priminha com duas falas, enquanto você vai passar a noite toda com aquele homem que os anjos fizeram com tanto carinho.
- Ah, pelo amor de Deus, eu vou treinar - Hiran reclama, indo em direção a porta.
Rio olhando para minhas botas, satisfeita pelo gesto não sair forçado. A raiva de Hailey não está tão presente assim como meu enjôo. Ainda bem, depois daquela explosão resultando no surto, que ainda não entendi muito bem o que aconteceu, consigo me sentir mais aliviada.
- Deixo você escolher as roupas que vou usar se quiser - Hailey diz, puxando um dos cabideiros enfileirados.
Quarta-feira.
Nova Iorque, 20:24 PM.
Olho para o espelho com o rímel em minha mão. O meu reflexo está aceitável; um short de algodão com um cropped de manga longa do mesmo tecido, uma roupa confortável para ficar em casa, não quero ser tão óbvia a ponto de me produzir toda para ficar no meu sofá. As maquiagens foram necessárias, infelizmente. Apenas uma pele leve, natural para esconder as olheiras.
Arrasto meus pés pelo quarto, deixando o rímel na minha escrivaninha ao lado da cama, junto dele, além do abajur, está o globo de neve delicado. Sorrio com a lembrança de quem me dera isso.
O Canadá estava curtindo o clima natalino e eu... estava preocupada demais pelas coisas que estava sentindo pelo garoto de corpo esguio para pensar nisso. Naquele dia do parque, eu o pedi para encerrar tudo o que estávamos tendo, mesmo sem entender o que era. Eu pedi, como pedi para que ele fosse embora no hall do hotel há alguns dias. Não sei qual foi a diferença, mas no dia do parque, ao contrário do que fez ao me encontrar recentemente, ele não desistiu de mim. Inúmeras vezes o avisei que era complicada, mas ele disse que uma coisa importava mais que isso. Olhe só no que resultou.
Pego o globo simples com um pequeno pinheiro dentro, o chacoalho vendo as bolinhas brancas cobrirem a arvorezinha de plástico. A voz doce soa em meus ouvidos, como se eu voltasse para aquele lugar barulhento e cheio de pessoas.
"Vamos fazer um acordo: se eu acertar o alvo, você me dá uma chance."
"Ethan eu não tô brincando, ok? Você é uma pessoa maravilhosa mas não podemos continuar isso."
"Também não tô brincando, acha que eu não levaria isso a sério?"
"Tá literalmente querendo resolver nosso futuro com um joguinho de barraca."
"Ah, então temos um futuro? Está vendo? Por isso não posso desistir. Não posso desistir de você."
E, a sensação de ter alguém querendo tanto que eu ficasse em sua vida me fez sentir tão querida, que com minha voz hesitando, eu o respondi:
"Não teremos se você não acertar essa maldita argola na garrafa."
Ele acertou, e como prêmio, ganhou esse globo. Ponho o objeto repousado no mesmo lugar, o alinhando. Escuto um barulho de talher no andar de baixo e reviro os olhos tentando não rir.
- Se você quebrar uma coisinha sequer... - aviso ameaçadoramente para Hailey ao chegar na cozinha.
- Tô procurando algo para fazer café.
- Café? Em casa minha não tem café.
- Ainda bem que estamos na casa de Sophie e não da chata da Mia. Cadê a cafeteira?
- Hailey, eu tô falando sério. Não tem - paro de falar quando escuto o celular na mesa vibrar.
Bufo. Ainda não é a mensagem que espero.
- E aí? O Romeu respondeu?
- Você é tão engraçada, sabia? - Dou um sorriso cínico que se desmancha quando ela retribui. - Não, não é ele.
Ponho o dispositivo na mesa novamente e sento na cadeira. Hailey segura o mármore do balcão, e sinto seu olhar em mim enquanto olho para minhas unhas fazendo minha mania de sempre.
- Por que está nervosa?
- Não estou nervosa coisa alguma - respondo, ríspida.
Claro que não estou. Não estou nervosa.
- Você não é virgem, ou é?
Levanto minha cabeça, vendo a mulher de cabelos dourados.
- Não sou, não é isso... por que ele não me responde? E se não quiser vim? Não consigo sustentar essa personagem por muito tempo, juro por Deus que se esse garoto não aparecer e depois vim com gracinha eu vou mandar ele pra casa do caralho - digo tudo depressa.
Tá, talvez eu esteja nervosa. Chamei James e ele não respondeu, talvez tenha se arrependido, por isso não falou comigo a tarde inteira. Não caiu no meu papinho sobre Ethan.
Ligo o visor do celular novamente. Nenhuma mensagem que interessa.
- Não precisa fazer isso se não quiser, Mia. A pior merda que Troy já ensinou foi dizer que devemos fazer tudo pela missão - fala gentilmente.
- Claro que preciso - respondo, mesmo que o demônio em meu ombro ria de mim por estar mentindo.
Não é tão mal assim. É James, afinal. Com as tatuagens, os músculos sem exagero, o maxilar travado e as correntes no pescoço. Sei que é uma necessidade, mas isso não quer dizer que eu não queira... apenas um pouquinho.
Talvez... esse frio na barriga seja justamente por ele ser de um nível tão alto. Como satisfazer um homem daquele tendo apenas experiência sexual com uma pessoa na vida? Bom, eu sei que tenho poder sobre os homens. Sei cuidar dessa raça de estúpidos, sei enrolar. Mas, na hora H? Nunca cheguei. Apenas com Ethan.
- De qualquer forma, pode trocar de lugar comigo se quiser - Hailey brinca, me arrancando um sorriso.
O interfone toca, nos interrompendo. Collier permanece na cozinha quando eu vou atender.
- Olá.
- Boa noite, senhorita Baker. James Hart está aqui.
- É claro que está - rio, cerrando meu punho em comemoração.
- Perdão, senhorita?
- Nada, pode deixar subir.
Ponho no gancho e falo alto para Hailey escutar de onde estava:
- É agora, Lexie - uso o nome falso.
A campainha toca e quando abro a porta, me arrependo da minha roupa simples. James abaixa o capuz do moletom coberto pela jaqueta preta cheia de rabiscos, revelando o cabelo desgrenhado.
- Olha só, você veio - encosto minha testa na porta, aproveitando para olhar o rosto bonito de bochechas ocas.
- Já que insistiu - põe a mão no bolso da calça clara, dando de ombros.
- Eu insisti? Você me manda todos os dias "qual a boa hoje?" e diz que eu insisto?
- Próxima vez irei estar ocupado, sinto muito. Tenho que fingir ser difícil pelo menos.
- Você não é, desista.
- Acredite em mim, eu tento - a voz sai arrastada enquanto ele encaixa os dedos nos meus, me puxando para mais perto dele.
Desfruto, desencaixando nossas mãos para rodear meus braços em volta do tronco firme dele. Os dedos na mão larga tiram um pouco do cabelo em minha testa, e seus lábios beijam minha testa delicadamente, fazendo com que eu fique de ponta de pé para que eles não deixem de tocar minha pele.
- Foi mal a demora, tive que ir ajudar Broke em algumas coisas e assim que vi a mensagem corri para cá.
- Veio correndo para cá? - Sorrio, deitando a cabeça para o lado. - E ainda quer pagar de difícil.
- Você pode me dar umas aulas depois.
- Pra você deixar de vim correndo me encontrar? Nada disso!
O rosto se ilumina e ele solta um sorriso, segurando o meu rosto com a mão, o dedo na linda do meu maxilar fazendo com que eu olhe para cima; para ele.
- Não seja por isso, meu amor eu venho aqui de manhã, tarde e noite se quiser - a língua me preenche, suave, lenta e detalhista.
Meu Deus. Por favor, Hart venha aqui de manhã, tarde e noite. Aperto meus dedos entrelaçados perto das costas dele quando ele morde meu lábio inferior, já iniciando outro beijo.
- Hey - se afasta de mim no mesmo instante quando escuta a voz da minha prima.
Viro meu corpo para ela, me dando conta que ainda estamos na porta da frente.
- Vem - deixo que o corpo alto passe pela porta.
Ele mantém as mãos junto ao corpo, dando um aceno de cabeça para Hailey.
- E aí. James - se apresenta e me impressiono quando ele dá a mão a Hailey para que ela aperte.
Cubro minha boca com os dedos para esconder o riso. Ela me encara enquanto retribui o aperto, vendo minha expressão e me repreendendo com o olhar.
- Sou Lexie, prima da Soph.
Ele sorri simpaticamente, colocando as duas mãos nos bolsos da jaqueta, virando na minha direção como se pedisse para que eu não o deixe sozinho com ela.
- Vou naquela conferência que te falei, então se cuidem - diz casualmente, pondo a mão na maçaneta.
James acena para ela e quando a porta se fecha, olho para ele.
- Sua prima.
Pois é, viu? Não minto sobre minha família porque não tenho nada a esconder. Dá para confiar em mim agora?
- Que menino mais educado - debocho dele, me aproximando mais.
- Nem vem de zoação, por que não disse que tinha gente em casa? - O lábio dele está rosado e o sorriso genuíno o deixa ainda mais encantador.
Que bela máscara ele tem para encobrir seu segredo. Puxo o tecido da jaqueta, o juntando ao meu corpo e deixo um beijinho em sua boca.
- É só a Lexie, relaxa.
Ele para por alguns segundos, me encarando com o lábio arqueado antes de tirar as mãos do bolso da jaqueta para agarrar minha cintura.
Essa noite vai ser maravilhosa.
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