CAPÍTULO QUINZE ².
Continuação
- Sério, Soph, quantos anos você tem? - James zomba de mim enquanto tento conectar a playlist do celular no som do carro.
- Eu por acaso tô pedindo sua ajuda? Fica de boa aí - ele ri mais uma vez.
- Sabe o que é isso? Teimosia - aperto o ícone do bluetooth novamente no meu celular enquanto a coisa irritante do meu lado ainda fala: - O meu tava pegando normalmente mas você tinha que tirar.
- Eu não vou ficar escutando... - o rádio finalmente emite um som, informando que conectou o aparelho - Consegui!
- Parabéns.
Ponho minha pior cara para a ironia.
Enquanto entro em uma das minhas inúmeras playlists, é impossível não lembrar de Ethan, parece que cada uma delas foi tocada em algum momento em que estive com ele. Nós tínhamos gostos parecidos; uma garota saindo para o mundo depois de vinte anos claramente não iria saber de nada das músicas do momento da época, mas ele me mostrou o que gostava e antes que eu percebesse, comecei a me apaixonar pela a música no geral, essa combinação de ritmos que sempre me acalma.
Quando vejo na capa quadrada as fotos de The Weekend e Chase Atlantic, mais memórias me atingem e um calor me invade ao lembrar da perfeita harmonia que são beijos gentis de Ethan com as músicas desses caras no fundo, as mãos tocando a parte inferior de minha coxa, os dedos em minha bochecha e...
- Então, o que você tem aí?
Foco, Mia!
- Músicas que provam o meu bom gosto - me gabo.
James para em um sinal vermelho e me encara, enquanto eu desço a página do celular, fazendo um som agradável quando minha unha se choca com a tela.
- Preparado? - Pergunto já dentro da playlist que tem todas minhas favoritas.
- Você vai me obrigar a escutar de todo jeito, não é mesmo?
- Ainda bem que sabe - clico na música, e o som conhecido por mim soa em meus ouvidos. - Essa é a melhor música já feita - aponto para o aparelho e me aprumo no banco.
Não demora para que a voz de Lykke Li ecoe no carro, meu sorriso se abre enquanto a melodia ao fundo permanece pacífica acompanhada apenas por pequenas batidas.
Por um momento, olhando as iluminações dos postes da cidade que passam diante de meus olhos, me imagino olhando as luzes do Canadá no terraço do meu prédio como muitas vezes já fiz, com essa mesma música em meus fones de ouvido.
Deito minha cabeça no encosto do banco e cantarolo o refrão baixo, olhando a paisagem lá fora. Pessoas caminham pela rua, algumas apressadas e outras emburradas.
- Uau - ouço James sorrir. - Sophie Baker, senhoras e senhores.
Reviro os olhos para ele.
- Você nunca consegue me elogiar de um jeito normal, já percebeu isso? - O encaro agora. - Mas se você quis glorificar minha voz, obrigada.
- Glorificar - ele repete a palavra e passa a língua pelos lábios. - Talvez eu devesse parar com os elogios de vez, pra não inflar seu ego.
Lhe lanço um olhar superior e volto minha atenção para a cena que tem através do vidro fumê.
- Deep sea baby - canto alto dessa vez, o ignorando.
Quando a música tocou a última estrofe, o silêncio pairou no carro, e só aí percebi o quanto estou calada. Vai ser um longo caminho, e pode ser um bom momento para me aproximar de James.
- Eu nunca perguntei o que você cursa na faculdade - pergunto, já sabendo da resposta que li em sua ficha.
Eu não acreditei quando li, mas depois percebi o quanto esse carinha é esperto.
- Direito.
Meu lábio dá uma leve arqueada mas eu o reprimo. Direito. Está por dentro de todas as leis, sabe de todos os direitos que tem, todas as penalidades, o filho da puta foi perspicaz nisso. Até sendo procurado por todos os lugares, conseguiu tornar a fuga uma coisa vantajosa para ele.
- E você? É na área de música?
Balanço a cabeça, mesmo que ele não esteja olhando pois está focado na estrada.
- Não. Psicologia.
É o mesmo curso de Broke. Nunca cheguei a perguntar como foi resolvido a papelada, mas Troy me deu várias escolhas e pareceu não ter problemas em ajeitar tudo. É o governo Americano, afinal. Estranho seria se algo o atrapalhasse.
- Então esse é o seu lance?
- Hm? - O questiono.
- Ajudar as pessoas? - Dou de ombros.
- Parece que é. E o seu, doutor Hart é de protegê-las... - encolho os ombros e o encaro, vendo seu sorriso travesso se formando - ou acusá-las?
O sorriso se desmancha ao poucos, enquanto ele tenta reformular uma boa resposta.
- Acusar umas para defender outras.
Faz sentido, na verdade.
Meu celular no painel vibra e quando o pego, vejo uma mensagem de Broke, explicando que teve que ficar com Jenna. Sorrio quando vejo a última frase dizendo para que eu fique longe de James "por mais que ele seja legal" é o que está escrito.
Chacoalho o celular e ele olha de relance para mim.
- Sua irmã dizendo que devo ficar longe de você. Me avisam tanto que acho que vou começar a seguir os conselhos, pare o carro que eu vou descer.
- Sinto em avisar que agora já é tarde demais.
- O que você pode fazer, não é? A pior tortura já teve, me deixou escutando aquelas músicas horríveis - o provoco e ele faz questão de tirar a atenção do caminho para me olhar como se realmente tivesse sido abatido pelo comentário.
Eu não seguro minha risada, até ponho a mão sobre minha boca para abafar-lá.
Meu riso sai com facilidade nos demais minutos durante a viagem. A ironia presente em cada palavra de James faz com que o caminho todo se torne descontraído.
Nós apenas assinamos um tratado de paz quando a voz de Bruno Mars preenche o carro. A única coisa que concordamos essa noite foi sobre o quanto todas as músicas são maravilhosas e bem escritas, resolvemos colocar uma playlist somente com elas.
Minha testa chegava a se franzir quando eu prestava atenção em Hart cantando a plenos pulmões junto comigo. Como se não tivesse nada para esconder, nada para se preocupar, apenas um garoto cantando. Apenas um garoto cantando comigo. Apenas um garoto tentando me conquistar quando toca na ponta de meu nariz e cantarola a parte que diz "you deserve it, baby, you deserve it all".
Uma viagem simples, normal, pela primeira vez na minha vida. Não uma daquelas em que eu olhava para a janela do avião me perguntando se eu voltaria a ficar trancafiada naquela maldita escola. Nada disso. Nada dessa névoa pairando sobre mim, pelo menos por alguns minutos.
Quando o carro freia próximo a praia, James dá tapinhas em minha canela que estão em cima das suas pernas, eu as coloquei ali em algum momento.
Descemos do carro, a areia ainda é pouca nessa parte onde paramos. Estico meus braços, me espreguiçando enquanto espero o garoto. Tem alguns carros ao lado do nosso, o que me faz deduzir que algumas pessoas já chegaram.
James me entrega minha mochila e continua segurando a dele. O sigo, adentrando mais na área agradável. A praia está deserta, me pergunto se a extensão é particular, ou só está vazia desse jeito por causa do horário.
Olho para o mar, com um azul escuro cintilante banhado pela lua. Me perco olhando para tudo, a areia limpa, a forma como as ondas a deixam úmidas, o som que o mar agitado faz e a espuma violenta que forma.
- Soph - James me chama e eu percebo divertimento em sua voz. - Vamos.
O encaro finalmente mas meus olhos focam na estrutura atrás dele. Um casarão alto; daqui onde estou, a janela de vidro aberta que dá na sacada de algum quarto do primeiro andar é o que se destaca.
A casa é literalmente à beira mar, os grãos de areia só acabam quando o chão de madeira começa na varanda da entrada. A enorme porta de correr de vidro com bordas em madeira está escancarada, aqui de fora dá para ver um dos sofás branco da sala de estar.
Entramos na casa e James dá um sorriso para os amigos. Alguns rostos conhecidos da faculdade, a maioria da fraternidade, me cumprimentam também, e eu os retribuo com um aceno. Movo meus pés, adentrando mais, mas antes que eu vá para o andar de cima escuto passos pesados de lá e um furacão passa correndo pela a escada. Olho na direção da luz alaranjada que passou e vejo uma garota de costas para mim, me permitindo ver somente os longos cabelos loiros.
A pele é avermelhada, talvez queimada pelo sol. Em sua cintura exposta e definida, está rodeada por uma corrente dourada. Ela está parada, olhando por toda a sala, procurando por algo.
- Cadê a Broke? - Pergunta com a voz alterada, e os braços cruzados.
James ri novamente. É claro que ri.
- Não pôde vim.
Pelo menos deu a mesma desculpa. Será que essa garota sabe sobre Jenna? E quem é essa nova desconhecida?
Ela bufa e bate o pé como uma criança, fazendo com que os ombros sacudam. Os dedos longos puxam os fios lisos e o rosto com as maçãs cheias de sardas vira em minha direção.
- Soph? - Assenti, pronta para reagir em caso de alguma gracinha vindo dela.
Mas ela sorri, com os lábios rosados e fartos.
Passos apressados ecoam no interior da casa... Argh, tudo o que esta bom se estraga nesse exato momento. Olho para Christopher, que saí do amplo corredor.
- Cara você precisa vê a... - ele cumprimenta James com um aperto de mão, mas quando olha para o lado e me vê, o sorriso desaparece. - Sério? - Levanta as sobrancelhas, com um ar de desdém.
Qual a dele?
Cerro meu punho e antes que eu pergunte se há algum problema com ele, a loira alta encaixa o braço no meu.
- Você vai ficar no meu quarto - afirma, começando a me arrastar para os degraus da escada.
Continuo olhando Chris, mesmo que ele tenha voltado a falar com James. Quando chegamos no piso do primeiro andar e eu finalmente quebro o contato com Chris, a menina segue me guiando.
- Sou Stacy - a garota fala com a voz agradável.
Dou um sorriso fechado para ela.
O ambiente todo tem uma estética amarronzada, com alguns detalhes brancos. É na antepenúltima das quatro portas de madeira que entramos, e somente aí o braço fino desencaixa do meu.
O quarto tem duas camas, e cada uma delas tem um abajur ao lado, em cima de uma escrivaninha. Não só a escrivaninha, mas todo o lado de Stacy já está com coisas espalhadas.
- Broke falou de você, seria legal se ela viesse - se lamenta, sentando na ponta da sua cama.
- Eu também estava achando que ela vinha.
Ponho minha mochila em cima da cama e deito. Uma voz masculina grita no andar de baixo, chamando por Stacy. Não é a de James então nem tento e nem me dou o trabalho de adivinhar.
- Esse povo não consegue viver sem mim - ela levanta bufando. - Tem banheiro no corredor, desce pra jantar que eu te mostro a piscina - fala tudo enquanto caminha em direção a porta, eu só balanço minha cabeça e me aconchego entre os travesseiros quando a porta finalmente fecha.
Pego o celular de Sophie. Apenas com algumas rolagens no feed do Instagram, meus olhos começam a pesar, quando o celular cai em minha cara por eu ter largado, eu paro de lutar. Não preciso me repreender por dormir mais cedo que os outros, não tenho nenhum equipamento para ser achado enquanto durmo.
Mesmo botando fé nesse pensamento, deixo a mochila no mesmo lugar que está, ao lado do meu travesseiro e quando viro meu corpo, ficando de barriga para baixo, ponho meu braço discretamente em cima da bolsa. Não demora muito para meus olhos se fecharem.
NOTA
Hey, gente! como esse cap foi um daqueles gigantes, eu resolvi dividir em dois. Vocês gostam mais desse formato ou completo?
O que acharam da música? honestamente, é uma das minhas favs da playlist do livro 🤧 no capítulo playlist mostro todas as músicas e lá tem dizendo como vocês podem acessá-la se quiserem.
Animada para ver a reação de vcs com os próximo caps! ❤️❤️❤️
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