CAPÍTULO QUINZE ¹.
❝Ele é uma mensagem
Eu sou a mensageira
Ele é o rebelde
Eu sou a filha esperando por você❞
I Follow Rivers - Lykke
Sexta-feira
Nova Iorque, 20:37
— Acho que isso é tudo - solto um suspiro de alívio.
- Nada disso! - O áudio sai do alto falante do notebook, onde na tela reflete uma Hailey indignada comigo pois, segundo ela, não devo levar três maiôs e apenas um biquíni.
- Serão apenas dois dias.
E eu não preciso ficar exibindo minhas cicatrizes por aí, elas não são nada atraentes.
- E daí? Imprevistos acontecem! - Cruza os braços e levanta as sobrancelhas para mim.
Fico em silêncio, mas pego outros dois biquínis que ela mandou Hiran trazer para mim e coloco junto com os maiôs. Olho para meu sofá que está ocupado pelo garoto, ele balança o joelho com a perna dobrada enquanto assiste uma série qualquer na tevê. Não o incomodo, a maldita escola já nos priva o suficiente de qualquer mídia, não irei fazer isso com ele também.
- Você está levando todo o equipamento? - A mulher da tela puxa outro assunto, fazendo com que eu bufe alto.
- Claro que não!
Me irrita responder a mesma pergunta, já expliquei a ela milhões de vezes o porquê não vou levar.
- Ai, Mia... - ela começa a puxar alguns pelinhos do braço apoiado sobre a mesa. - Você às vezes procura, sabia?
- Primeiro, nunca gostei da ideia de ter uma escuta e Troy sabe muito bem disso, segundo, como caralhos eu vou ficar andando pra cima e pra baixo com o ponto em um biquíni? - Volto a tirar outras roupas de uma das sacolas que Hiran trouxe. - E acho que vou dividir o quarto com outras pessoas, já imaginou? - Balanço a cabeça em um gesto negativo. - Vou fazer somente o relatório e ponto.
Vejo ela sorrir e balançar a cabeça.
- Tá, tá bom, mas você sabe como o outro vai ficar quando saber que descumpriu uma ordem...
Reviro os olhos.
- Hailey, do que adianta se a gente faz uma coisa certa ou errada? Me diz. Porque tudo o que eu faço é só me foder mais e mais - jogo a roupa com força dentro da mochila.
Do canto do olho, vejo o corpo forte ficar sentado no sofá, me observando. O ignoro e tiro mais um objeto da sacola, quando reconheço, aproximo as embalagem de alumínio enfileiradas.
- Você pode me explicar o que é isso? - Tiro toda a cartela de camisinhas de dentro da bolsa e deixo visível para a câmera.
Ela apenas dá de ombros e minha raiva ameniza, pois não consigo segurar minha risada pela cara dela.
- Você é a pessoa mais tarada que eu já conheci, Collier - ela sempre odeia a forma como pronuncio o sobrenome, pois quando falo rápido soa como "colher".
- Hailey, você não fez isso - a gargalhada que Hiran dá no sofá depois de dizer faz com que o corpo caia para trás.
- O quê, gente? É precaução - Ela realmente está falando sério e isso só me faz rir mais ainda.
- E haja precaução, né? Seis para dois dias.
- Aí, Miazinha você às vezes é tão inocente - o sorriso fechado que dá evidência às covinhas.
Tá, admito que não sou tão experiente e mesmo que tenha tido algumas relações com Ethan, ainda tenho algumas dúvidas sobre o assunto mas... seis? Por acaso acha que James é algum cachorro no cio?
Olho para os preservativos e ponho a unha do indicador entre os dentes.
Pensando bem... Hart realmente não se cansa fácil, deve ser daqueles que provoca, provoca e provoca até que as mulheres peçam. Deve lançar aquele mesmo sorrisinho tentador enquanto ele explora o limite, tocando cada lugarzinho, descobrindo todos os pontos de prazer e...
- Eu que sou a tarada e você tá imaginando coisas aí - me desperto com a voz alegre de Hailey.
Olho para as camisinhas e nem tento entender porquê pensei em James olhando justamente para isso, apenas jogo elas na cama.
- Eu espero que você tenha colocado as peças que pedi, mocinha - ela entrelaça os dedos e eu assenti. - Ótimo, você tem que comprar algumas roupas para não causar esse perrengue toda vez - ela respira fundo e olha para o relógio no pulso. - Já deu minha hora, tenho que ir.
- Eu vou só colocar as maquiagens e pronto.
- Tá bom, vou desligar aqui - ela acena para mim e eu faço o mesmo. - Tchau Hiran! - Exclama para ele escutar, recebendo uma despedida alta em resposta.
Fecho o notebook quando ela finaliza a chamada, olho para o meu sofá ocupado e vou até ele, batendo no pé do folgado que libera um espacinho para mim.
Analiso o rosto sério entretido com a trama.
- Já que você tem a chave, quando James vim me buscar você pode ficar aqui - aviso e deito minha cabeça na lateral do sofá.
- Troy vai notar que estamos em lugares diferentes - noto o peso do cansaço em sua voz.
Então é ele que está paranóico de ficar rastreando todos, e não Hiran como eu imaginei.
- Ficou sabendo que ele veio aqui, não foi? - Ele desgruda os olhos da tela e dirige a atenção para mim e mesmo sem responder entendo que ele soube sim. - Você ajudou ele a me rastrear?
- Na verdade, ajudei sim.
Engulo em seco e cruzo os braços.
- Não vai ficar com raivinha pra cima de mim não, queria que eu fizesse o que? Eu segui o raciocínio dele.
- E qual foi?
Porque pra mim não teve explicação alguma.
- Troy viu que você não tava aqui no apartamento e me chamou, mas aí pensamos que você poderia estar na tal festa que Yumi tinha postado - balancei a cabeça novamente. Até aí tudo bem, eles conseguiam ver o perfil em redes sociais rapidinho. - Rastreamos o número de Yumi e os locais não batiam, mas o número que James te deu tava lá.
Aperto minhas sobrancelhas.
- Não tava não.
- Como assim, Mia? - Revira os olhos.
- James estava comigo, ou você também não acredita em mim? Ele estava com um celular no carro, Chris ligou precisando de ajuda e ele me trouxe pra cá.
Hiran fica em silêncio, olhando para o tapete. Ele senta no estofado e começa a ligar os pontos, enquanto demonstra nos dedos o que fala.
- Ele tem dois celulares... - balanço a cabeça. Isso não é informação nova. - Usou o rastreável para marcar de sair com você mas na hora não levou ele e sim o outro?
Dou de ombros dessa vez. Realmente, pensando por esse lado, chega a ser difícil acreditar em mim.
- E por que ele deixaria o celular na casa de alguém?
- Não seria perigoso ele deixar o normal com qualquer pessoa, já que não tem nada para o comprometer, mas o do trabalho deve sempre levar com ele.
Hiran solta um riso nasalado.
- O do trabalho?
- Do tráfico, na verdade. Quem sabe o que tem naquele telefone? Vários nomes, vários compradores...
Apoio o cotovelo no braço do sofá.
- Você acha que ele continua vendendo? - Franze as sobrancelhas quando pergunta.
Olho minhas unhas que dessa vez estão apenas com uma cobertura de base.
- Em todo crime tem uma hierarquia - o lembro de uma das coisas que aprendemos na escola. - Você pode ser o chefe, o braço direito do chefe ou o cara mandado pelos dois.
- E o que James é agora?
Está aí uma boa pergunta.
- Não acho que ele deixaria de vender, talvez apenas parar com grandes quantidades, claro, mas... faculdade é um dos maiores pontos para o tráfico.
- Então? - Levanta as sobrancelhas para mim.
- Está fingindo ser um dos mandados, é claro.
- Ele marcou com outros caras para vender pelo menos quantidades pequenas antes de te encontrar, então? - Assenti.
- Com certeza, me disse que estava por perto.
Ainda assim parece que ele está com uma pulga atrás da orelha, não consegue segurar a língua e logo pergunta:
- Mas por que iria fazer isso se quer sumir do mapa? É isso que não entra na minha cabeça.
- Porque ele precisa de grana, Hiran! - Aprumo meu corpo e encaro os olhos com as órbitas castanhas. - Tem muitas pessoas trabalhando para ele, na polícia principalmente, pessoas que precisam ser pagas.
E então, ele parece lembrar algo. Minha curiosidade atiça em mim, mas espero que ele fale algo.
- No dia da festa, quem estava de olho nas câmeras e nas rádios era o Marcus, e eu tava lá com ele. Na frequência da polícia informaram um endereço muito próximo ao IP do celular de James que não estava com ele, foi uma denúncia anônima, talvez de algum vizinho...
- Foi isso, Hiran! - Ele para de falar no momento que grito.
- O quê?
Levanto do sofá e começo a andar ao redor da mesa de centro.
- Christian pediu a ajuda de James, foi por causa disso!
- E por que ele não poderia resolver sozinho?
- Porque somente James tem os contatos.
Mesmo com a confusão exibida no rosto de pele marrom, eu não consigo segurar meu sorriso. A cada coisinha que é descoberta na missão, é mais um passo para o Canadá, mais um passo para Ethan.
- É claro! Faz todo o sentido! James só está se segurando mas ele tem poder na mão, não importa onde estiver, Nikolai passou todas as manhas para ele e...
Paro de falar no mesmo instante.
Hiran se apruma no sofá, com a boca aberta e mil vezes mais perdido.
- Nikolai? - A voz sai aguda quando indaga.
- Nikolai? - Tento me fazer de cínica.
- Nem vem, você falou Nikolai - ainda sentado, aponta o dedo para mim.
- É coisa minha.
- Desembucha, Mia!
Respiro fundo e olho para um dos espelhos que tenho na sala.
Qual é garota, ainda é o Hiran.
Não. Na verdade ele não é. Mas... se criar uma desconfiança com Troy, assim como eu, talvez venha para o meu barco novamente.
- É só que... - ponho meu joelho no sofá e me jogo nele. - Nikolai está nos atormentando a anos e James só apareceu agora, um pouco antes de Balashov ser preso.
Ele não fala nada, então continuo:
- Se ele era tão foda lá na Rússia, por que não atacou Nikolai primeiro para dominar tudo, antes de atacar Bruce? Que está numa cidade que ele nem chegava perto?
Os dedos de Hiran seguram seu lábio enquanto ele fixa o olhar em minhas pernas dobradas, prestando atenção em cada frase que digo.
- Você falou isso a Troy? - Pergunta ainda sem me olhar e minha fúria desperta dentro de mim.
- É claro que não - empurro seu ombro de leve -, e nem você vai falar.
Ele me olha.
- Mia...
- Troy sabe mais do que eu e você juntos, nos ensinou muita coisa mas nada para o ultrapassar.
- O que tá querendo dizer com isso?
- Que ele não é burro! Por que não nos contou sobre Kira ou a mãe dela se isso nos ajudaria em tudo? - Ele reprime os lábios. - A gente só dá informações mas não recebe nada em troca, como posso ajudar assim?
Permanece em silêncio e apoia o braço na lateral do sofá.
- Ou estamos certos, ou isso tudo é uma grande coincidência - olho para o braço dele. - E vai por mim, estou convivendo com o Jay e seria muito mais fácil acreditar que ele não é o nosso homem - no mesmo instante me encara, com os olhos arregalados, como se uma frase horrenda tivesse saído da minha boca. - Mas, a cada dia... aparece algo novo, de ambos os lados...
A única diferença é que James só demonstra atitudes de um jovem normal, enquanto Troy só desce no meu conceito.
Continuo olhando para o braço dele e ele observa meu rosto.
- Por que esconderia algo por mal? Sem a gente, ele não é nada. Tem que confiar em nós porque tudo está nas nossas mãos - ele não se referiu sobre o caso de James, mas todos os casos, todos os agentes que são os únicos que dão a cara à tapa para enfrentar um suspeito de frente.
- Confiar? - Meus lábios se abrem em um sorriso fraco. - Ele não confia em ninguém e não hesitaria em nos denunciar por traição.
Me levanto do sofá e vou até a cozinha, enchendo um copo de água para mim.
- Eu preciso te falar algo - escuto a voz de Hiran mais alta vindo da sala.
Meu coração gela e eu me repreendo por isso. Tenho que ser firme, não posso ter medo de nada que venha no futuro. Enfio a água goela abaixo e apresso meus passos para onde o sofá está novamente.
- Troy me perguntou sobre Ethan.
Minhas pernas se dobram e eu sento com um baque.
- E você?
- Disse que não fazia a mínima ideia de quem era, claro.
Tomo um gole do copo.
- O que aconteceu? Ele me disse que Ethan estava aqui, literalmente aqui em Nova Iorque.
Meu peito sobe e desce quando eu desvio meus olhos do dele. Balanço a cabeça, sentindo algumas mechas loiras baterem em minha bochecha.
- Esqueci a porra do ponto aqui e... - respiro fundo e solto o ar junto com a frase - ele achou que eu estava Ethan e não com James.
Suspiro fundo.
- Surtou e quebrou o celular que eu usava para falar com ele - puxo meus cabelos com a mão livre e o encaro. - Agora eu só tô pensando em qual desculpa vou dar quando voltar para o Canadá, isso se ele ainda estiver lá.
Esfrego meus olhos e fito novamente minhas pernas.
- Se usar o cartão de crédito ele vai ver? - Assenti para a pergunta besta.
Eu tinha três cartões, mas um deles, o único que Troy não tinha acesso, foi bloqueado quando vim para cá. Não tem como correr para lugar nenhum, estou até pensando na hipótese de falar toda a verdade para Ethan, talvez assim ele me perdoe pelo meu sumiço em um momento tão difícil para ele.
- Eu vou te ajudar - abaixo a cabeça e solto um sorriso irônico quando o garoto de olhos piedosos à minha frente diz isso. - Ei, olha para mim - levanto meu queixo ainda com meus lábios arqueados. - Eu vou te ajudar - repete.
Reprimo meus lábios e mordo o inferior com força.
Tenho vontade de rir da minha própria desgraça. Sei que Hiran tem sim a intenção de ajudar, mas o que ele pode fazer dentro daquela escola? Só está dizendo isso para me deixar mais confortável agora, até esse assunto se dissipar de vez.
- Como?
E o silêncio pairou, é claro. Dessa vez ele que parou de me encarar, talvez se segurando para não dizer algo que não irá cumprir. Não é como se eu fosse uma criança que precisasse ter as necessidades atendidas. Lembro que pedia algumas coisas bestas para ele e tudo que dizia era "sim, vamos fazer isso" ou "claro, vamos conseguir" e muitas vezes eu deixava o assunto de lado.
Talvez ache que as coisas ainda funcionam assim comigo, mas mesmo sendo tratada com a maior bondade nos meus tempos de criança, escutando coisas boas apenas da parte dele, eu entendi que talvez ele fazia para o meu bem, porém a vida não era assim, principalmente a minha. A vida que nós levamos.
- Acho que a sua carona chegou - finalmente fala, mudando de assunto e apontando para o celular vibrando freneticamente na mesa situada no centro da sala.
"como a senhorita Baker está??"
"espero que com muita paciência"
"vc vai ser minha um fim de semana inteiro"
"tô aqui, desce"
Essas são as mensagens. Não consigo segurar o riso vendo o quão besta ele é.
"tô levando dois tipos de calmantes, fica tranquilo"
Respondo e ponho o celular no bolso traseiro da minha calça. Pego minha mochila da mesa da cozinha, indo em direção a porta.
- Tenho que ir agora - aviso a Hiran que ainda está no sofá.
- Toma cuidado e não esquece de escrever o relatório.
Reviro os olhos e concordo.
- Espera vinte minutos antes de sair, ok? - Pergunto já com a mão na maçaneta da porta e é a vez dele de concordar.
Assim que saio do elevador, respondo o boa noite do porteiro amigo de Troy e vejo as portas automáticas se abrirem.
Os vidros escuros baixam antes mesmo que eu chegue no carro, revelando o garoto de moletom preto e cordões brilhantes.
Ele observa cada movimento meu até quando paro ao lado do carro e abro a porta.
- Hart - o cumprimento tirando a mochila de meu ombro e sentando no banco sintético.
Coloco a chave do apartamento no bolso lateral e a jogo no banco de trás, olho para todo o banco traseiro e lhe pergunto:
- Ainda vamos passar pra pegar Broke ou ela vai com o próprio carro? - o encaro pela primeira vez, vendo sua barba perfeitamente desenhada e baixa.
Esse é um estilo que combina com ele. Nunca achei pelos faciais atraentes, mas no caso de James não são tão cheios, parece que quando finalmente estão crescendo, ele os apara novamente e esse estilo nele é... Chega a ser sedutor.
- Aconteceram algumas coisas e ela não vai mais - dá de ombros.
Que droga. Broke é uma peça fundamental e tenho certeza que eu conseguiria arrancar algumas coisas dela, algo que me fizesse entender o que realmente acontece com seu irmão.
Tento afastar meus pensamentos. Por agora, meu foco deve ser descobrir o porquê ela não veio, se a própria me chamou.
Quando puxo o cinto e passo pelo meu corpo para o afivelar, ele ainda está me encarando, com os lábios erguidos e as bochechas apertando os olhos desse vez.
- O que foi? - Pergunto erguendo uma sobrancelha.
- Você tem um chaveiro de rosquinha?
Reviro os olhos.
Meu objetivo de descobrir a ausência de Broke vai ser atrapalhado com o objetivo de James para esse final de semana, ele quer me curtir um pouco?
Que assim seja. Lá vamos nós.
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