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CAPÍTULO ONZE.

- Então - Miller chama minha atenção,
fazendo com que eu o olhe.

Ele me chamou aqui com um propósito, e mesmo que eu tente esconder, o frio em minha barriga é evidente. Sei que não importa a posição em que ele queira me colocar, terei que aceitar. Mesmo que questione e tente amenizar, no final eu tenho que aceitar e ele sempre consegue o que quer, pois manda em mim, assim como em todos nessa escola.

- Estava ouvindo as últimas gravações das suas conversas com seu amiguinho Jay - reviro os olhos, parte de mim quer perguntar logo o objetivo desse deboche todo. Mas ele continua andando calmamente pela sala, até chegar ao meu lado e olhar os pobres alunos no gramado ao ar livre. Dirijo meu olhar para o quintal também. - Temos uma chance de ouro, garota.

- Como assim?

Para estar de bom humor assim, já sei que é algo que vai estragar o meu humor.

- Simples, ele está te dando mole.

Consigo até imaginar a expressão de Troy vendo a gravação que eu falo a Hiran que o garoto tentou me beijar. Eu estava alterada, ele com certeza deve ter rido de mim.

Minhas bochechas começam a esquentar. Me afasto dele e apoio meu braço na cadeira giratória de couro que fica atrás da mesa.

- Se você não for na onda dele, pode o afastar.

E o que ele sabe afinal? Por acaso já flertou com alguém? Já enlouqueceu alguém em apenas uns minutinhos de conversa? Porque eu sim, e ele sabe disso, sabe que o que menos preciso é conselho de como manter um cara por perto.

- É claro que está me dando mole, senhor, essa foi a intenção desde o começo - respondo formalmente, talvez assim ele não grite tanto comigo quando eu mostrar meu ponto de vista.

- E é ótimo que você esteja conseguindo - interrompe, concordando comigo.

- É, é ótimo. Mas e se eu beijar ele? O que vai acontecer depois? Ele vai querer algo a mais, com certeza.

- Então dê a ele o que quer.

Meu pescoço se move bruscamente, fazendo com que eu o encare. Não pode ser. Troy não chegou a esse ponto. Sério, é algo tão simples pra ele?

- Dá a ele o que quer? - Repeti as palavras, com a voz já elevada saindo entre dentes, não ligo para o olhar repreendedor que ele me lança. É de mim que está falando, e mesmo que não consiga mudar sua idéia, tenho que pelo menos tentar.

- Algum problema, 611? - Me pergunta com seu tom pacífico.

Trinco meus dentes e fecho meu pulso com raiva me consumindo, mas lá no fundo consigo sentir uma melancolia por ser tratada dessa forma. Isso realmente foi a gota d'água, não consigo formar uma frase bem feita para articular contra ele. Só lanço meu olhar com repudia enquanto sinto minha mão tremer pela força que a aperto.

- Não é como se não tivesse feito isso outras vezes e com caras com idade para ser seu pai. Vamos lá, Mia. Não seja tão dramática.

Dramática. Acabou de me chamar de dramática. Ele não imagina como uma pessoa dramática iria agir nas mesmas situações que já passei, situações que ele causou!

- Nunca cheguei a beijar nenhum suspeito e você sabe disso, muito menos dormir junto - consigo dizer, ainda sentindo as unhas cavarem na palma da minha mão.

- Mia... - a voz neutra me irrita e eu não consigo me segurar.

- Eu não vou fazer isso Troy!

A mão em minha boca interrompe qualquer argumento que eu possa proferir em seguida. Ele segura minha bochecha com tanta força que meus lábios não conseguem se fechar. Tento me desvencilhar, minhas duas mãos sobem para a única que me segura, ele levanta a esquerda e aperta meu pescoço me empurrando contra o vidro que observei minutos atrás. Quando minha cabeça bate no objeto duro, não consigo segurar meu gemido de dor.

Mas eu não vou me calar, não vou.

- Sei que está desesperado, mas isso não vou fazer - minha voz sai abafada mas sei que escuta, seus olhos mudam de alguma forma.

Ele aproxima seu rosto do meu, chegando perto do meu ouvido.

- Qual o nosso lema? - Sussurra enquanto eu tento tirar suas mãos do meu pescoço dessa vez.

Eu poderia chutar suas partes, mas será que não vai ser pior para mim?

- Qual o nosso lema?!

Bate minha cabeça contra o vidro mais uma vez. Fecho meus olhos com força para reprimir a dor.

- Tudo... - solto um murmuro de angústia quando ele aperta mais - Tudo pela missão.

E então, lança meu corpo no chão. Massageio o lugar que ele apertou, encarando o chão, enquanto minha garganta queima pelas tosses secas que dou, as lembranças me invadem e o sentimento de humilhação me preenche mais uma vez como tantas outras vezes no passado.

É como se eu estivesse revivendo uma das cenas novamente. As lembranças me invadem e eu consigo ouvir as vozes me encorajando, enquanto a pequena Mia tossia, frágil, sem conseguir colocar forças nas próprias pernas tentando se levantar.

Quando finalmente consegue erguer a cabeça procurando ajuda, encontra a estatura baixa e forte, na época com sua pele mais conservada e sem nenhum cabelo branco.

"Vamos, levante!" A voz de Oliver ecoa enquanto tento apoiar minha mão no chão.

- Abre a porta, Miller! - Me desperto quando ouço a voz de Hiran junto a forte batida na porta, que emite um som segundos depois, avisando que foi destrancada.

- Mia - o corpo atlético se ajoelha no chão quando já estou agachada. - Porra, Troy pra quê isso?

- Isso não foi nada, só estávamos conversando - olho para o filho da puta que faz um gesto com a mão. - Vamos, levante-se.

Hiran segura meus cotovelos mas eu o afasto delicadamente. Aprumo meu corpo e começo a andar em direção ao homem que é quase do meu tamanho.

- Você é um burro do caralho - Começo a falar já com minha voz alterada saindo pela garganta queimando, e Hiran segura minha mão quando passo por ele, me impossibilitando de aproximar de Miller - disse que contava comigo e estou fazendo o que é certo! Se der a James o que quer de primeira, ele vai pegar o prêmio e ir embora! Pensa!

Em parte eu sei que é um bom plano, mas quem vai saber do futuro? Ele pode se aproximar ou se afastar de vez. Sem contar que essa também é minha escapatória para não precisar ter um caso com James.

Troy, com aquele ar de superioridade, e de quem não dá a mínima, continua próximo a porta que ainda permanece aberta.

- Lembre apenas de uma coisa: está sendo paga para isso e, se não cumprir o que prometeu, vai voltar para cá, sem nenhuma chance de sair.

Engulo em seco e sinto uma necessidade de apertar a mão de Hiran que segura a minha.

- Agora saiam!

O mais alto vai na frente, me conduzindo enquanto eu ando de cabeça baixa. Não olho para Edward, ele deve ter visto tudo, assim como a maioria das pessoas que estavam no quintal também. A região atrás do meu maxilar ainda não parou com a dor, a dor tão familiar que já senti em tantos outros lugares, vinda da mesma pessoa. Agarro o braço direito de Hiran, encaixando minhas mãos no cotovelo.

Continuo olhando para meus pés, que dessa vez estão calçados por um par de tênis brancos. Do canto de olho, vejo Hiran me fitando de vez em quando, enquanto caminhamos pelos corredores serenos.

Solto um gemido quando tento engolir minha saliva e uma pontada se espalha pelo meu pescoço. Fecho os olhos com força, sentindo minhas bochechas esquentarem quando lembro da mão áspera me apertando. Aperto mais Hiran, mas não com as unhas, ele não tem culpa de nada.

Lembro que cheguei a imaginar que tudo iria mudar quando fizesse o acordo, mas está bem óbvio que não foi isso o que aconteceu. É impressionante como Miller consegue manipular, sempre me encorajou a ir mais a frente para chegar no final do jogo, mas eu já cheguei na última etapa, já consegui o pote de ouro, e mesmo assim sinto as mesmas dores, que só aliviam quando tiro esse ódio de mim.

- A gente passa na enfermaria e coloca um gelo nisso - uma nostalgia me invade quando Hiran me sugere isso.

- Eu resolvo isso em casa.

E mais uma vez ele me encara, por um longo tempo agora, até que para de andar e fica de frente para mim. Permaneço com meu olhar no chão. Com a mão do braço livre, ele afaga a pele abaixo do meu ombro.

- Olha pra mim - com a voz mansa, típico tom que já me é conhecido, ele me pede.

Bufo antes de levantar o meu rosto, encarando o garoto um pouco mais velho que eu, de cabelos baixos com seu sorriso de lado. Sinto meus olhos pesados, cansados. Sei que minha feição não é a mais agradável para ele agora, mas é tudo o que tenho a oferecer. Não consigo forçar nem um mínimo sorriso acolhedor como o dele.

- Aí está ele!

É só o que falta mesmo. Aperto meus dentes uns nos outros e baixo a cabeça novamente.

Reconheceria essa voz em qualquer lugar, essa voz ridícula que se força a soar simpática. Reprimo meus lábios e esfrego meus dedos uns nos outros, tentando não fazer minha velha mania. Hiran já não segura meu ombro, se afastou assim que o homem grisalho começou a caminhar até nós.

- Acho que vai gostar disso, garoto - levanto um pouco o olhar e consigo ver o envelope que ele entrega para Hiran.

- O que é isso?

- O resultado do teste de campo. Setenta e três por cento - ele encaixa a mão no ombro alto de Gray, fazendo um som oco ressoar. - Você passou.

Ele passou?

- Agora é só caprichar na segunda fase e vai ter sua passagem para sair daqui - fala animado e balança o ombro rígido de Hiran.

Por que está tão calado? Ele passou na primeira fase! Deveria estar feliz e comemorando também. Subo meu rosto para o encarar, estudando cada centímetro do rosto dele. Ele está sorrindo, mas as sobrancelhas um pouco arqueadas mostram que está hesitante. Olho para a mão em seu ombro e então para o dono dela. Me arrependo na hora quando ele me encara de volta.

- Pode pegar algumas dicas com ela se quiser - ele dá uma risadinha que faz com que eu engula em seco novamente. - Noventa e seis por cento - tira a mão do braço musculoso do garoto ao meu lado e cruza os braços, me encarando. - Nossa menina prodígio.

Ele ri novamente e se aproxima mais de mim, a cada vez que se aproxima, minha cabeça baixa mais, até que eu esteja encarando meus pés novamente.

- 611, soube que está no caso de James Hart.

Eu deveria responder? Ele pode ficar bem bravo se o interromperem. Meu Deus, o que estou pensando? Não sou mais nenhuma criancinha!

- Sim, Senhor Bennett - minha voz sai formal e um pouco falha, como sempre faz quando me dirijo a ele.

Aperto minhas mãos que estão juntas, assim como meus pés. Oliver consegue ser mais intimidante que Troy. A maioria das péssimas memórias que tenho daqui, ele sempre está nelas e estava naquele maldito dia. Respiro fundo e dou um passo para trás, eu não quero fugir mas toda parte do meu corpo quer que eu corra daqui agora. Mas então, eu olho para Hiran, que está olhando o papel que estava dentro do envelope, e Oliver o encara.

Está muito sério, muito sério para alguém que acabou de passar em uma das mais importantes etapas de sua vida. Sei que ele não vai com a cara de Oliver também, mas agir assim? Não. Não é Bennett que causou isso nele, mas de qualquer forma, eu tenho que arrastá-lo daqui também. Tá, preciso sair, mas como? Desde quando tenho coragem de argumentar perto desse homem de cabelos brancos a nossa frente?

- Eu preciso ir, crianças - fala para o meu alívio.

Ele tira seus olhos de Gray e antes que eu perceba, seus dedos seguram meu queixo e o ergue, olho para a íris esverdeada.

- E você, boa sorte - tira os dedos imundos de mim e passa no meio de nós dois.

- Consegui fazer sessenta e oito barras - escuto a voz neutra de Hiran, ele sobe um pouco as sobrancelhas, como se estivesse chocado com ele mesmo.

Meu rosto se vira em direção ao homem no uniforme cinza que está prestes a virar no final do corredor.

- Tenho que ir.

Não espero respostas para começar a andar na direção oposta. Hiran apressa o passo e me alcança, ainda analisando a folha em suas mãos, me informando sobre seus números de desempenho. Eu não ligo nem um pouco, não faço isso por querer mas porque meu pensamento só está no homem de cabelo grisalho. Na forma que minha numeração saiu da sua boca depois de tanto tempo, foi desconfortável demais. Meu pescoço dói, minha cabeça dói e não tenho paciência para o cara ao meu lado agora.

- Tá bom, já chega - não sou que digo isso, e sim ele tocando no meu braço com os dois dedos me avisando que é para parar.

- O que foi?

Já estamos fora da escola, em um dos arredores do quintal, na parte próxima ao grande portão entre os paredões. O sol não está tão quente, algumas pessoas com os típicos uniformes escuros caminham pelo gramado. Hiran é uma delas, infelizmente, com a regata manchada de suor e um short leve. Ele me encara prestes a dizer algo.

- Tá tudo bem?

É estranho como somente ele me faz essa pergunta realmente querendo saber.

Aperto mais minhas sobrancelhas quando lembro de que caminho ele está seguindo, o caminho que o distancia de mim. Solto um longo suspiro cansado e passo a mão sobre minha testa, subindo até os fios de meu cabelo.

- Tá, tá tudo bem.

Meus olhos ainda cansados o olham. Ele consegue transparecer tudo o que pensa, neste momento não gosto do seu rosto, da expressão dele, do olhar de pena.

- Não, não está.

Era só o que faltava. Solto uma risadinha e ponho minha mão na cintura.

- O que é isso agora, hein?

- Agora? Te conheço desde sempre e reconheço quando não tá bem.

Meu riso se torna um sorriso cínico.

- Não Hiran você não me conhece - balanço a cabeça.

- Já chega disso! Para de ter... raiva de mim quando tento te ajudar! - Exclama sem um pingo de grosseria na voz, e isso é o que me preocupa. - Não somos mais crianças, não precisamos ficar fingindo pra...

- Tá! Você quer me ajudar, não quer? - Ao contrário do dele, meu tom sai rude.

- Claro, claro que eu quero.

Me aproximo dele e ponho minhas mãos em seus ombros, para forçar o corpo dele a baixar mais.

- Você tem que apagar umas gravações da câmara da sala de Troy - sussurro próximo a sua bochecha lisa.

Ele faz um gesto negativo com a cabeça. É claro. Estou muito fodida se a única escapatória para ajuda que tenho é ele.

- O que tá pegando, Mia?

Chacoalho os ombros dele.

- Ajudar sem protestar - faço uma rima besta.

Ele fecha os olhos e reprime os lábios.

- Ok - fala depois de bufar, se dando por vencido.

Tenta aprumar o corpo mas eu não solto seus ombros.

- Não... - me interrompo. Será que eu devo falar isso mesmo?

Ele me olha, esperando que eu complete a frase. Puxo meu lábio inferior com os dentes. Se pedir para não contar nada para Troy vai parecer muito suspeito, mas por outro lado, já pedi para apagar essas merdas, então já estou suspeita, não é?

Mas se citar isso, aí sim ele vai ficar com uma pulga atrás da orelha, Mia.

"Se não é culpado, não haja como um", foi uma das lições que aprendi aqui.

- Não se preocupe comigo - é o que eu uso para substituir a frase.

Ele balança a cabeça assentindo e encosta nossas testas, me empurrando de leve e rindo em seguida. Meu sorriso se abre e eu me afasto dele. Continuamos a andar em direção ao portão.

- Então - me pronuncio, olhando para o rosto dele atento ao papel que segura. - Setenta e três - tento soar o mais animada possível, o sorriso que ele me dá mostra o quanto está bobo pela nota.

Eu não sei, as vezes eu consigo sentir muita raiva dele mas... ele me carregou hoje, mais uma vez. Talvez ainda tenha uma pequena consideração por mim, tento me segurar nisso, é nessas horas que gosto do seu lado sentimental. Porque, mesmo com seu rosto indiferente na maior parte do dia, sei que ele consegue me mostrar que ainda é Hiran. É, talvez se importe, mas isso é suficiente? Aprendemos a viver sempre derrubando um por um, mesmo que tenhamos uma consideração, isso não pode afetar o trabalho. Talvez eu tenha perdido meu velho escudeiro e tudo bem, se isso aconteceu eu ainda posso o tratar como Hailey. Sem confiança.

O sorriso alinhado desaparece do rosto e ele dá um longo suspiro, parecendo hesitante igual minutos atrás antes de perguntar:

- Você realmente acha que eu posso não sair daqui? Nunca?

Ele para de andar e se posiciona na minha frente.

Merda, merda, merda.

Eu acho! Eu acho mas... mesmo com Oliver me cobrando tanto, Hiran sempre esteve me apoiando e incentivando. Isso foi bom, a sensação foi boa, os sorrisos que ele deu cheios de orgulho foi bom e quero que sinta isso também, e é pensando nisso que eu respondo:

- Você conseguiu isso - pego a folha da mão dele. - É claro que consegue!

- Mas você disse...

- Eu digo muitas coisas - falo dócil.

Ele solta um risinho e tira a folha da minha mão.

- Mas são coisas sinceras - as bochechas começam a murchar depois de falar isso. - Isso é o que me preocupa.

Então é isso! Ele não estava com medo de Oliver lá em cima, enquanto recebia milhões de elogios, só estava pensando em sua eficiência.

- Você mesmo disse que eu não sei mentir, Hiran.

Ele abaixa a cabeça e começa a dedilhar o papel.

- Mas você não mentiu quando disse isso - solta mais um sorrisinho.

É, eu não menti. Ponho minhas mãos no bolso da calça e observo o rosto iluminado pelo céu um pouco nublado.

- Eu preciso ir, tenho que aproveitar que agora é o turno da Julie, só vou conseguir apagar se for nesse horário - ele muda de assunto totalmente.

- Valeu, Hiran.

Ele assente em resposta e vira às costas, começando a andar com suas mãos nos bolsos frontais do short.

"eu não sei, a gente conhece milhares de pessoas e nenhuma delas te toca realmente, e então, conhece uma pessoa e sua vida muda para sempre"

É com essa patética frase apaixonada que o personagem Jamie encerra o filme.

Meu sofá está esticado e meu pé esquerdo está apoiado na minha coxa direita. Ponho a borda da taça em meu lábio e sinto o gosto amargo do líquido que contém nela. A garrafa do vinho já está pela metade.

Viro meu corpo fazendo com que a minha barriga coberta pela regata encoste no sofá marrom. A música dos créditos começa a soar na tevê e foco em outro problema que tenho agora: rede social. Sempre manter atualizada, foi isso o que Hiran avisou. Desbloqueio o celular, entro no aplicativo do Instagram e publico uma foto que bati da rua na janela hoje do quarto hoje, quando o sol ainda banhava o chão cimentado.

Comecei a olhar os inúmeros stories dos alunos da faculdade. Todos eles pareciam estar em uma festa, Chris, Yumi e Samantha postaram sobre, com vídeos que mostram o quanto estão alterados. Chris não tem medo de se exibir, assim como James, os perfis são lotados de fotos. É o poder de ter uma ficha limpa, eles seguem o velho ditado do "quem não deve, não teme", se é inocente, pra quê esconder as redes sociais, não é mesmo?

Saio do aplicativo e vou para a galeria, onde está a foto que tirei da ficha da tal Avalanna Stuart.

Pincelo a tela com meus dois dedos para aproximar a imagem e enxergar as letras melhor. Na ficha dos agentes tem coisas sobre personalidade, saúde, características físicas e histórico. Avalanna não tem um bom histórico, já foi punida várias vezes e a maioria por desobediência e desrespeito contra os superiores. Aproximo mais para analisar a foto da menina novamente, exprimo meus olhos quando vejo uma sequência de números e letras abaixo da mesma, a imagem está tremida mas é legível; MCM-382 é o que têm escrito. MCM?

Olho para as letrinhas dos créditos do filme novamente.

Nunca ouvi falar de MCM, que porra é essa? Uma sigla? Olho de novo para a tela.

Abaixo do nome completo está escrito a idade dela, 16 anos. 16 anos e eu nunca vi pelos corredores da escola? Procuro pelo país de origem e vejo o nome de Nova Iorque grifado, deveria ser do mesmo instituto, mas eu não sou louca, sei que nunca vi essa garota na minha vida.

Sinto que tem uma merda se formando bem embaixo do meu nariz, eu só não sei se devo ir mais a fundo ou não. Minha nuca, que foi pressionada contra o vidro hoje, começa a doer junto com minha têmpora, como um tipo de resposta para meu pensamento e logicamente reclamando pelo esforço que estou fazendo para ler as letras miudinhas. Isso com certeza deve ser o pouco de senso que tenho em meu subconsciente me pedindo para deixar isso pra lá... mas que sigla é essa? Será que é uma sigla mesmo?

Solto meu celular de volta no sofá e massageio minha testa, fechando meus olhos e quando estava quase relaxando, o telefone apita com uma nova mensagem.

"Talvez eu tenha me apaixonado pela Julieta, msm sem entender uma mísera palavra do q diz"

Não consigo deixar de rir, um riso cansado. Não nos falamos a um tempo e foi eu que mandei a mensagem anterior, zombando do seu filme predileto quando estava nos últimos minutos. Estou começando a entrar nesse joguinho de sumir e só mandar uma mensagem aleatória depois, ele adora fazer isso.

"Vc assistiu mesmo? MDS"

Finjo entusiasmo.

"Digamos que sim, somente os primeiros vinte minutos, mas sim"

Reviro os olhos quando leio a resposta.

"Q desrespeito, garoto"

Ele respondeu com uma risada e é como se eu realmente pudesse ouvir o riso arrastado dele ao meu lado, saindo do fundo da garganta, fazendo com que os ombros largos balancem.

"Estou com 0 sono, e vc?"

"Na mesma"

Respondo e olho os nomes que aparecem debaixo do seu nome. Primeiro ele digita, depois para, e volta a digitar de novo.

"Quer dar uma volta?"

Coloco minha unha entre meus dentes quando releio a pergunta. A essa hora? Qualquer coisa pode dar errado nesse horário. Como ele, escrevo na barra branca mas logo paro.

Ok, vamos pensar sobre os prós e contras. Eu não posso deixar qualquer oportunidade de sair com ele passar, mas eu também não posso ir a um lugar qualquer com ele a essa hora. Respiro fundo e antes que comece a digitar de novo, o meu outro celular toca. Arregalo meus olhos e começo a me revirar no sofá. É Ethan, só pode ser ele.

Cambaleio até a cozinha depois de ficar tonta por levantar rápido, deixo o celular de Sophie na pia e pego o outro aparelho no móvel de mármore. Como eu imaginei, assim que pus no ouvido escutei a voz tranquila.

- Hey! - Diz animado, fazendo com que meu sorriso apareça.

- Oi, Ethan - solto um suspiro - Ai, que saudades de você! Não pode ficar puto comigo, tá me entendendo?

- Não foi eu que comecei.

- M-mas você precisa me entender... faculdade é um saco - mordo meu lábio com força.

- Eu imagino. Mas você está bem, não é?

- Estou, eu acho.

Começo a brincar com o porta guardanapo na mesa.

- E você? Como vão as coisas?

Ele fica em silêncio por alguns instantes e a minha preocupação se acende.

- Está tudo bem? - Pergunto sério dessa vez.

- Na verdade não - ele dá uma risadinha fraca e a corta com brutalidade, ficando em silêncio em seguida. - Acabou, Mia. Tudo.

Meu coração começa a pulsar com a probabilidade de ele ter descoberto algo.

- Tudo o que? - Consigo me manter firme.

- A música, os festivais - De que merda ele tá falando? - a... a minha família.

- O que aconteceu? Fala de uma vez.

- Meus pais... eles se separam - o suspiro melancólico que ouço vindo do outro lado da linha aperta meu peito.

Eu não consigo dizer nada, só espero que ele continue.

- E - mais uma vez ele pausa. - Eu não posso deixar minha mãe, entende? Ela me irrita e tudo mais, mas a gente só não concorda em algumas coisas.

Eu não consigo entender a dor dele. Não sei o quão importante chega a ser o amor de uma mãe.

- E pra onde você vai com ela?

- Pra casa da minha avó no Texas.

- Texas!? - Exclamo. - Mas se você for...

- Exatamente, eu vou perder todas as oportunidades de ser reconhecido pela minha música.

Ethan já conhecia pessoas certas que poderiam ajudar ele, mas se for embora do Canadá? Vai ser muito mais difícil ganhar confiança de outros caras importantes.

- Você tem a chave do meu apartamento, pode morar lá se não quiser depender do seu pai.

Os pais dele sempre o pediram para que largasse a vida de DJ e fosse trabalhar na empresa da família, mas ele não queria, nem temporariamente. Ele sempre dizia "é assim que começa, você arruma um péssimo emprego que te fode mas continua nele porque tem comida na mesa, e talvez o emprego do sonho não te dê isso"; e por isso concordo que ele não deve ficar na casa do pai, mas também não concordo que ele vá embora. Mesmo que não seja uma escolha minha, quero ter a tranquilidade de saber que de uma certa forma, o ajudei na entrada da estrada, agora ele tem os dois caminhos livres.

- Obrigado, amor - sorrio pelo apelido. - Mas minha mãe precisa de mim agora. Quem sabe eu não volte depois? Eu não sei - ele ri. - ai meu Deus eu não sei, não sei... - consigo até vê ele puxando os cabelos negros enquanto sorri da própria desgraça.

- No fundo você sabe sim, só está hesitando.

Ele vai com a mãe, tenho quase certeza. Por mais que ela seja uma megera, parte da personalidade sempre foi influenciada pelo marido, que é muito pior que ela.

- É como eu disse: tô fodido de todos os jeitos.

- Mas olha só... - o outro celular que eu deixei no balcão da pia vibra e apita de novo, pego ele em minhas mãos e inclino um pouco para vê a tela, é outra mensagem de James. Merda, por um momento até esqueci dele.

Eu só quero conversar com Ethan! Será que nunca mais vou poder fazer isso nesse inferno?

- Mia?

- Oi! Oi, tô aqui - começo a balançar minhas mãos, como se esses movimentos fossem trazer alguma ideia para minha cabeça. Observo a cozinha e uma lâmpada se acende em minha cabeça quando vejo a pequena cesta que tem alguns remédios. - O despertador tocou para eu tomar o antibiótico.

- Antibiótico?

- Sim, minha garganta está doendo há alguns dias.

- Sabe o porquê disso, não?

- Não coloca a culpa nos sorvetes!

- Acertou, sorvete toda madrugada esse é o seu problema.

- Ai, falou igual à sua mãe.

- Ei! - Ele exclama uma falsa indignação.

- Tá, falando sério agora. Se o alarme não tocasse eu nem me daria conta da hora, eu preciso ir dormir - falo a mentira que inventei.

- Tá bom, universitária - nós dois rimos. - Estamos de boa?

- Sim, por favor.

Estou batendo meus pés enquanto a chamada não termina. James está esperando minha resposta, mas eu não tenho coragem de interromper a enrolação de Ethan.

- Tchau, então. Boa aula amanhã.

- Bom dia amanhã.

Ele bufa exageradamente.

- É o que eu mais preciso agora.

- O que mais precisa? - Brinco já sabendo da sua resposta.

- Além de você aqui, claro. Isso seria parte de um dia bom - não consigo segurar minha risada. Ele se supera as vezes.

- Tchau, meloso.

Tiro o celular do meu ouvido e clico no ícone para finalizar a chamada. De imediato já pego o outro telefone.

"ok"

Foi a mensagem de James. Que garoto carente, talvez tenha ficado sentido por não tê-lo respondido e aceitado a rejeição que ele mesmo inventou na cabeça.

"te encontro onde?"

Pergunto e a resposta vem em segundos:

"posso te encontrar aonde tiver"

Reprimo meus lábios. Ele acha que eu não saco a dele de cara? Quer vir aqui pra quê? Assistir um filme como na casa dele?

"boa tentativa mas não vai vir pra minha casa"

"pare de ser tão má comigo"

Se ele estivesse em minha frente agora com certeza faria uma ceninha para essa frase.

"eu estou saindo a essa hora com vc, acho q já é uma boa ação"

"você é uma santa, senhorita Baker." O ridículo mandou um emoji de duas mãos juntas rezando. Emoji de duas mãos rezando. O que eu fiz pra merecer?

"ai mds só me encontra na lanchonete da Kim, tá?"

Largo o celular e corro para o meu quarto. No pequeno espelho do banheiro, as marcas roxas e esverdeadas na pele pálida do meu pescoço refletem, indo até a divisão do maxilar. Com dificuldade passo um pouco de base por cima dos hematomas, cada vez que tento pressionar a esponjinha para espalhar o líquido, minha pele reclama de dor. Desisto e jogo os produtos na pia.

Por um instante me permito olhar para mim mesma, para meus ossos marcados na clavícula, a antiga cicatriz clara que tenho no músculo que liga o ombro no pescoço. Meu pescoço todo marcado com os dedos podres dele, onde as partes que ele fincou as unhas perto da minha nuca ainda doem mesmo sem ser tocadas. Não estou com raiva do que aconteceu, pois isso não é novidade, mas ele poderia ter um pouco de noção. Como vou conseguir esconder essa merda agora?

A minha única salvação é uma blusa de gola alta e manga comprida que acho no armário, coloco uma camiseta amarela por cima e continuo com o mesmo short. Viro meu corpo para me observar de vários ângulos, tentando puxar o cabelo para cobrir o pescoço o máximo possível. Puxo a gola justa pela última vez e suspiro fundo, pegando somente a chave do apartamento e o celular na cozinha. A lanchonete da Kim não é tão longe então não irei precisar de carro.

Tranco a porta e mando uma mensagem para ele, avisando que já estou de saída.

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NOTA


oi amores! eu fiz uma conta no Instagram para divulgar o livro (e qualquer outro que eu vá postar futuramente) então se poderem por favor, sigam lá? o user é _babyirwin (o msm daqui) 💖

lá eu vou postar conteúdos como aesthetics, spoilers, trechos, edits e interagir com vocês com alguma brincadeirinha no storie! vão lá, bjs. agr bye.

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