CAPÍTULO DEZOITO.
❝E eu sei disso, eu sei que estou perdendo tempo em seus braços❞
Fever - Dua Lipa, Angèle
Sábado.
Montauk, 22:47
Com os pés descalços, vestindo um maiô preto aberto nas costas, um short jeans escuro e meus enormes brincos de conchas, eu atravesso a porta que dá para a área da piscina. A música desconhecida por mim, que dentro de casa estava abafada, agora estronda meus tímpanos.
Desço o batente de madeira, rodando meus olhos pelos jovens espalhados que não faço a mínima ideia de onde saíram, só tenho certeza de que nem todos são da nossa faculdade. Colocaram um bar improvisado no local, sem barman algum, apenas um balcão e prateleiras cobertas por bebidas logo atrás. Stacy, com um biquíni azul que a deixa como uma perfeita sereia, a cintura rodeada pelo colar dourado e o bracelete acima do cotovelo, está perto de uma das grandes “estantes” de bebidas.
— Ei! — Grito perto do ouvido dela, que dá um salto pelo susto e me empurra de leve.
— Palhaça! Vem cá, me ajuda a fazer um drink pra gente.
Ela pega uma bebida de pigmento forte que não sei o nome.
— Que merda é essa? — Pergunto vendo ela encher um copo vermelho com o líquido e misturar com vodka.
— Veneno, pode beber — rir irônica e estende o copo para mim.
Apoio meu cotovelo no balcão e deixo a bebida intacta. De canto de olho, consigo ver Stacy tirando algo do bolso. Olho para a mão dela e vejo a pílula rosada.
— Que isso? — Eu sei muito bem o que é, mas a frase escapa da minha boca.
— Ah, você quer? — Me oferece, como se desculpasse por não ter feito isso antes.
— Não, valeu — olho para a frente novamente, agora dando de cara com James me encarando na borda da piscina.
Ele apoia as mãos mais atrás do corpo, exibindo os músculos, as coxas destacadas pela bermuda de tecido fino... coxas que estive sentada ontem a noite. Levanto dois dedos na direção dele, o cumprimentando e recebo um aceno de cabeça em retribuição.
— Argh, tão lentos — olho imediatamente para a loira ao meu lado. — Estou falando em homens no geral, não de você, amor — toca em meu queixo com a unha quadrada.
Depois do passeio que dei com Stacy hoje à tarde, percebi porque ela está aqui como convidada. Não fiz perguntas invasivas demais, não a investiguei, para ser honesta. Além de ser uma companhia fantástica, ela não parece nada além de uma usuária de entorpecentes, mas pensando bem, quem daqui parece, não é mesmo? Durante as compras de hoje, a menina me respondeu tudo o que perguntei sem hesitar; sobre a faculdade que estuda, como conheceu Broke, e até me fiz de sonsa só para que ela me explicasse mais sobre a empresa do pai. Ela é ficha limpa, tenho toda certeza.
— Vocês já se pegaram ou não? Quando ele me disse que iria trazer uma garota, achei que já estava namorando.
Solto uma risada e olho para onde ela está ao meu lado.
— E vocês? Já se pegaram alguma vez?
Ela toma todo o líquido do copo em um gole só.
— Isso não importa — é claro que ficaram. — Vamos focar em vocês.
Para ela é fácil falar, aposto que Chris não ligou nem um pouco quando era com Stacy que James estava flertando. Olho para Hart, que está olhando para a lata de cerveja em suas mãos, prestando atenção em alguma coisa que Christopher diz, arrancando uma risada descontraída dele. Já não parecia aquele James que perdeu a paciência no dia da cozinha, talvez a relação deles seja assim, sem ressentimentos. Uma garota toca nos ombros dos dois, que abrem espaço para ela sentar entre eles.
Não é possível que todo mundo se dê bem com Chris menos eu.
— E o que você sugere que eu faça? — A pergunto, mesmo já sabendo o que fazer.
Primeiro, tirar James de perto do cachorro de guarda, depois o seduzir e tentar conquistar mais a confiança do garoto. Quero que ele se sinta à vontade para conversar comigo, como uma amiga próxima, bem próxima.
Stacy não me responde e eu viro meu rosto para ela, que está focada em uma garota de lindos lábios carnudos e cabelo cacheado.
— Ai, amiga — ela suspira sem tirar os olhos da mulher que sorri na roda de amigas. — Você já tem o parzinho certo pra hoje, tá aí toda gostosona, só de ficar parada já arruma quem quiser, mas eu… — ela puxa o franjão para trás. — tenho que caçar, tchau.
— Boa caça? — A incentivo com minhas sobrancelhas franzidas, ela chega na rodinha já abraçando uma menina que sorri para ela, então deduzo que são amigas.
Volto minha atenção à piscina, onde a mesma menina de unhas claras e cabelo escuro conversa com James, se aproximando mais e mais. Ela fala algo perto do rosto dele, com os olhos verdes cintilantes esperando por uma resposta, mas James apenas arqueia um pouco o lábio e quando sobe um pouco o olhar, me encara.
Respiro fundo e ergo meu queixo, como se pudesse lançar algum feitiço, algum desafio, qualquer coisa para que ele não fique com essa garota. Estava tudo planejado, ele vai ser o único a estragar. Ainda com o olhar fixo no meu, ele morde a bochecha.
— Ei, Sophie — presto atenção à pessoa que chegou ao meu lado e vejo as covinhas fundas na bochecha de Joshua.
— Oi — retribuo o sorriso mas volto para o verdadeiro foco.
— Vem ficar um pouco com a gente — ele me chama apontando para uma galera agrupada.
Que fofo, não quer que a garota do bar, como Broke me denominou, fique sozinha. A morena põe a mão no maxilar de James, o puxando para encará-la.
É minha vez de morder a bochecha, minhas unhas começam a bater no balcão. Levo o copo aos meus lábios e tomo todo o líquido doce que desce queimando de uma vez só e, quando percebo o refrão da música que está tocando, pergunto ao rosto angelical ao meu lado:
— Quer dançar?
Ele não responde de imediato por eu ter o pegado de surpresa, então encaixo a mão áspera na minha, o puxando e cantarolando, já mexendo meus ombros no ritmo.
— And when you touch me, baby, I turn red — canto junto a voz de Dua Lipa e o sorriso que o garoto me dá é quase tão encantador quanto o do amigo que irei provocar agora.
Deixo a mão dele em minha cintura, permitindo que faça isso enquanto eu mexo meus quadris em uma distância considerável dele. James ainda está com o rosto virado para a garota, mas ele não presta a mínima atenção nela pois os olhos escuros estão fixos em mim.
O refrão repete, e minhas mãos agarram o pescoço de Joshua, o aproximando mais de mim. O pobre garoto vê a oportunidade de colocar o rosto entre meu pescoço e assim o faz, segurando meu quadril mais próximo dessa vez. O que ele faria se estivesse no lugar do amigo de cabeleira loira? Ergo minha cabeça, relembrando no nariz pontudo de Hart raspando em minha pele das mãos firmes segurando minha coxa… mas é Joshua que está ali, as mãos, a respiração contra meu pescoço é dele. E por mais que seja lindo também, nenhuma dessas pegadas na minha cintura vai me dar a mesma sensação que senti na praia.
— Tell me what you wanna do right now — canto com um sorriso no rosto e mordo meu lábio e Joshua vira meu corpo para ficarmos frente a frente.
A parte francês continua novamente e ele estica o braço com os dedos entrelaçados no meu, como se quisesse apenas me admirar enquanto danço para ele. E eu danço, balanço meu quadril do jeito que o ritmo me conduz a fazer, passo a mão pelo meu pescoço chamando a atenção para aquele lugar exposto e sorrio, faço tudo isso, mas não para ele. Mesmo assim, quando resta apenas as últimas batidas para encerrar a canção, ele segura meu quadril e se aproxima de mim e percebo que é desejo o que a íris amarronzada transmite. Ele tenta se aproximar, mas eu o paro no caminho, seguro o rosto liso e deixo um beijo no canto do lábio carnudo. Tiro uma mecha loira da testa dele e sorrio antes de me afastar do garoto quase do meu tamanho.
Antes de entrar na casa novamente, passo minha mão entre o cabelo e puxo boa parte para o lado, aproveitando para dar uma checada em James que praticamente me seca durante todo o caminho para subir o degrau de madeira.
Você sabe o que fazer.
Com um sorriso satisfeito no lábio, agarro o corrimão da escada e subo para o andar de cima. Abro a única porta da parte direita do corredor, o quarto espaçoso e a varanda com a visão magnífica enchem meus olhos. Por um momento, todo meu ego se esvazia e eu me rendo apenas por essa vista.
Andando sobre o chão frio, vou até o pequeno terraço e apoio minha mão em um batente ali. Não demora muito para que o som do clique da porta se abrindo chegue aos meus ouvidos. Continuo olhando para os coqueiros altos quando ela é fechada.
— Isso já é golpe baixo, não acha? — Os passos pesados ecoam até chegar no mesmo local que eu.
Sinto a pressão do peitoral contra meu ombro quando ele segura no mesmo lugar onde estou apoiada, a mão ao lado de minha cintura.
Insisto em ficar encarando a paisagem da noite, mas confesso que minha perna esquerda não fica tão aprumada quando James roça os lábios na ponta da minha orelha. Isso. É isso o que quero sentir.
Mas não posso.
Foco.
Viro um pouco o rosto, fazendo ele se afastar, me dando espaço apenas para que eu consiga me virar. Faço isso e no mesmo instante a mão vazia apoia no outro lado da minha cintura, me deixando presa contra as grades formadas pelos pulsos com veias destacadas.
— Olá, Hart.
Enfim, sós.
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