✦ʾ⸝⸝⸼ ،، ( capítulo prólogo !! )
✦ʾ⸝⸝⸼ ،، ( OO: livro dos mitos !! )
—— 20/02/99; os mitos são a
coisa favorita dos semideuses.
(flashback, capítulo piloto.)
FEVEREIRO DE NOVENTA E SEIS: Fazia um ano desde que Coraline Lytvynenko soubera que era uma semideusa. O acampamento, com suas construções de madeira carcomidas pelo tempo e o solo de terra que jamais parecia firme sob os pés.
O céu, encoberto por nuvens densas de um cinza opressivo, parecia inclinar-se sobre a cabeça dos habitantes, enquanto uma brisa gélida serpenteava pelo campo desolado, mordendo a pele exposta. Os cabelos dourados acastanhados da jovem dançavam com desobediência no vento, como se cada fio resistisse à gravidade da atmosfera que os envolvia.
Os semideuses, encontravam-se em sua "reunião„ habitual junto à clareira central. No centro de sua atenção estava o Livro dos Mitos, um volume envolto em mistério, cujas páginas haviam sido descobertas há dezenove anos sob camadas de terra endurecida. Era um livro de aparência lúgubre, suas bordas amareladas pelo tempo, exalando o aroma doce e amargo do papel antigo. Avisos sinistros adornavam sua capa, rabiscados por uma mão que parecia ter pressa, ou medo, mas os adolescentes, ávidos por entretenimento, pouco se importavam.
Coraline, como a maioria esmagadora dos semideuses reunidos naquela noite, acomodara-se ao redor da clareira central, seus joelhos dobrados contra o peito. A relva escassa e áspera sob seus pés descalços não oferecia conforto, mas tampouco era notada, tão absorta estava nos murmúrios e sussurros ao redor do Livro dos Mitos.
Coraline Lytvynenko, desde os seus tenros anos, sempre fora uma criatura de hábitos solitários. Não que ela desprezasse a companhia alheia por completo, mas as grandes multidões, ah, essas sim, eram-lhe insuportáveis. O ar parecia rarear, as paredes se fechavam ao seu redor, e o peso de tantas almas agitadas a sufocava como um manto pesado e úmido. Criada nos confins de uma velha propriedade familiar, onde o musgo cobria as pedras do jardim e as árvores pareciam sussurrar segredos antigos, Coraline desenvolvera uma afinidade peculiar com a solidão. Contudo, sua educação não permitira que ela fosse grosseira ou indiferente. Mesmo quando o peito lhe ardia pela falta de ar e a mente lhe gritava para fugir, ela oferecia um sorriso tímido, quase melancólico, àqueles que cruzavam seu caminho.
Coraline reclinou a cabeça sobre os joelhos, cerrando os olhos num gesto de fadiga, enquanto um suspiro profundo escapava de seus lábios pálidos. Ao seu redor, o alvoroço dos outros semideuses ecoava como um trovão distante, perturbando a quietude que tanto almejava. Sempre fora avessa a ruídos demasiado estridentes, pois estes jamais permitiam que seus pensamentos fluíssem com clareza, como um rio sereno interrompido por pedras afiadas.
Mas, justamente quando começava a mergulhar naquele mar de silêncio interior, uma voz conhecida ressoou por trás de si, suave como o sussurro do vento entre os ramos de uma árvore antiga.
━━━ Oi. ━ era Luke, Luke Castellan. O jovem que, há cerca de seis meses, despertara em Coraline uma afeição peculiar, desde que ela descobrira sua própria natureza semidivina e fora conduzida àquele acampamento, um lugar tão estranho quanto fascinante.
━━━━ Oi. ━ murmurou ela, erguendo a cabeça dos joelhos com lentidão, enquanto um sorriso tímido, quase imperceptível, surgia em seus lábios. Observou-o sentar-se ao seu lado, seus movimentos graciosos e calculados, como se cada gesto fosse parte de uma coreografia invisível.
Entre eles, as palavras pareciam escassas, como folhas secas levadas pelo vento outonal. As conversas sempre se esvaíam após os primeiros cumprimentos, deixando um silêncio incômodo que pairaria no ar denso. Era como se ambos estivessem à espera de algo que nunca chegava, algo que talvez nem soubessem nomear.
Mas antes que algum dos dois pudesse sequer tentar tecer as frágeis linhas de um diálogo, um clamor irrompeu do outro lado do acampamento. Tiberius Agrippa, um semideus filho de Ares, ergueu-se como uma figura imponente, sua silhueta delineada pela luz bruxuleante das fogueiras. Ele havia vencido o jogo contra um dos filhos de Dionísio para ver quem leria o livro da página que pararam na última vez.
━━━━ Atenção! ━ Tiberius gritou, pegando o livro nas mãos.
Os semideuses que permaneciam de pé, logo se sentaram, comprimindo-se uns contra os outros em um círculo desconfortavelmente estreito. O ar denso parecia pesar sobre suas cabeças, oscilando entre o tédio e uma expectativa inquietante.
Se, por ventura, um dia vires a descobrir que és um semideus, há dois avisos que te conviria guardar com zelo. O primeiro: caso tenhas a infelicidade de ser acometido por ansiedade social, evita, a todo custo, estas reuniões de caráter duvidoso e, com mais afinco ainda, as festividades que filhos de Dioniso insistem em promover. O segundo, porém, é de maior importância — e diria até de natureza fatalista: é provável que não vejas o alvorecer de tua maioridade, pois a vida de um semideus não se estende para além dos dezoito.
✦ʾ⸝⸝⸼ ،، ( POV: livro dos mitos !! )
━━━━ página 557, por Π.Κ, 1458
Anámnesis Psychópoulos. Ela, que chegou ao acampamento no último inverno, sem proclamação, sem os arcanos que talham o destino daqueles a quem os deuses elegem.
Esses dias, eu estava a caminhar pelo bosque que tem aqui pelo acampamento, pelo bosque, aquele vasto labirinto de árvores altas e silentes que se estendiam além dos limites do acampamento. Mas foi então que senti, em minha cabeça, o toque inesperado de algo que parecia cair do ar.
Ao erguer os olhos, ela estava ali, sobre um galho alto, imóvel como um espectro que se ocultava à vista de todos, exceto à minha. O véu negro que lhe cobria a cabeça, grande e misterioso, era como o manto de uma sacerdotisa perdida no tempo. Suas feições, parcialmente veladas, tornavam-se ainda mais inquietantes. Em seus olhos – e não, não os olhos castanhos como tantos outros haviam dito – vi algo que não poderia ser descrito, uma chama de cor azul-acinzentada que se apagava nas profundezas de um céu tempestuoso. E foi ali, naquele instante, que ela me observou, e sem dizer palavra alguma, apontando para o objeto que havia jogado em minha cabeça.
Era de ouro, e seu brilho, embora antigo e manchado pelo tempo, parecia refletir um peso que ia além da matéria. Ao tocar o objeto, algo se quebrou dentro de mim. Um calafrio percorreu minha espinha, e uma sensação como se o universo inteiro tivesse se voltado para aquele único momento. Desde então, uma mudança ocorreu, uma semente de inquietação foi plantada.
Desde então, não sei bem o que me atraía. Seriam seus olhos, que pareciam ver através de minha alma, ou o véu, que a ocultava do mundo, como se ela fosse uma criatura de outra era, trazida à nossa época sem permissão? Ou seria, quem sabe, o objeto lançado sobre minha cabeça, que me tocou como um presságio? O fato é que algo nela ressoava profundamente dentro de mim, algo que fazia com que eu vislumbrasse nela um papel crucial em meu destino.
Decidi, então, procurá-la, mas ela era como uma ilusão, um vislumbre que se esvaía sempre que eu tentava tocá-la. Poucos a viam pelo acampamento. Ouvi dizer que mal aparecia em seu chalé. Muitos falavam que ela andava pelos campos de morangos, ou se escondia nas profundezas da floresta, escalando onde o vento sussurrava segredos que ninguém mais poderia ouvir.
Ela era uma presença solitária, uma alma solitária, e, ao mesmo tempo, parecia tão ligada ao plano que eu traçava. Eu a desejava, não só pela aparência de quem poderia me ajudar, mas por ser a chave de um destino maior, algo que escapava ao entendimento comum.
Ela seria a alma perfeita para o meu plano, mas eu precisaria a conhecer melhor.
Tiberius mantinha-se inclinado sobre o tomo aberto, os olhos semicerrados numa expressão de esforço contido. O grego era-lhe uma língua tão estrangeira quanto as estrelas no firmamento — e o grego antigo, então, parecia-lhe um enigma traçado por deuses cruéis, que se comprazem em ver mortais tropeçarem sobre sílabas mortas há milênios.
Coraline, a seu lado, observava-o em silêncio, sem qualquer sombra de julgamento. Se havia algo que jamais faria, seria repreender o esforço alheio em decifrar um idioma distante, pois ela própria sabia muito bem o que era sentir-se uma estrangeira em cada palavra proferida. Nunca se voluntariara para ler primeiro — não apenas por um pudor natural ao falar em meio a muitos, mas porque, em verdade, não falava grego. Nem o novo, nem o antigo.
O inglês, por sua vez, tampouco lhe era confortável. Crescera na Ucrânia, então apenas entendia russo, que era bem popular de comunicar-se em seu país natal e, obviamente Ucraniano.
Tiberius, por fim, fechou o tomo com um estalo surdo, e no mesmo instante, uma rajada de vento soprou entre as árvores, agitando as folhas ressequidas que se acumulavam ao redor.
"Que coisa de filme„ pensou Coraline ao ver o vento balançar os fios de cabelo de Agrippa.
━━━━ Bizarro. ━ uma semideusa de fios cacheados dourados que estava ao lado de Coraline murmurou. ━━━━ Tá escrito quem escreveu essa página?
━━━━ Só as siglas P.K, Palingenísios Klydonísios, provavelmente. ━ Agrippa deu de ombros, pondo o livro de baixo do braço.
OO1 — oi, meus amores! finalmente estou publicando o capítulo piloto, deixando claro que a fanfic se passa em 2004, quando a Coraline tem 19.
OO2 — espero que não tenham muitos erros de pontuação e ortográficos 💔, se tiverem, me avisem, por favor.
OO3 — marcação: Anneska_Riddle Regissp maaryyxl wndgrimes_ Nick_txe magonoel kbilym__
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