Capítulo 9
Otto acabara de me ligar para avisar que estava a caminho de casa do Durval para me buscar. O restaurante para onde estávamos indo, ficava um pouco distante, o que me deixava apreensiva sobre o que poderia acontecer durante o trajeto.
Hoje seria o momento de contar a Otto a verdade sobre o fim do nosso casamento e também precisava encontrar uma forma de terminar com Marcelo. Tudo estava tão confuso que eu sentia até uma leve dor de cabeça. No entanto, respirei fundo e tentei me acalmar. Não poderia permitir que isso me abatesse naquele dia.
Meus pensamentos foram interrompidos quando Durval falou comigo de uma maneira que nunca imaginei ouvir.
— Luísa! — ele gritou, e eu me virei assustada na direção dele.
— O que foi? — perguntei, desconfiada do motivo de sua explosão de raiva.
— Minha irmã, que marcas são essas nas suas costas? — ele questionou.
Fiquei rígida ao pensar no que poderia acontecer se eu contasse a verdade por trás das marcas. Respirei fundo antes de tentar responder.
— Essas marcas não são nada, Durval. Eu tropecei ontem em casa e acabei caindo no chão. — respondi, tentando disfarçar.
Durval se aproximou de mim e segurou minhas mãos.
— Luísa, me desculpe, mas dá para ver claramente marcas de dedos nesses hematomas. Quem fez isso com você? — ele perguntou novamente.
Comecei a sentir as lágrimas querendo escorrer pelo meu rosto, então me virei para a janela para que Durval não as visse e respondi:
— Durval, por favor, não quero falar sobre isso agora. Me deixe sozinha. Daqui a pouco tenho um jantar com Otto e quando ele chegar, você me chama, tudo bem?
— Tudo bem, Luísa. Mas, se precisar de algo, não hesite em me procurar, ok? Porque você é minha cerejinha, a única família que me resta. Não quero te perder também. — ele disse.
Durval sempre foi o mais dramático de todos, mas nesse caso, concordo com ele. Vendo que eu realmente não queria conversar com ninguém, Durval apenas se retirou do quarto, me deixando sozinha com meus questionamentos.
Para o jantar com Otto, escolhi um vestido longo de mangas compridas para evitar que as pessoas ficassem olhando para as marcas. No entanto, a região das costas estava exposta e Durval havia visto as marcas quando eu não estava usando meu casaco.
Eu estava fazendo os últimos retoques quando Durval apareceu novamente no meu quarto para avisar que Otto acabara de chegar. Ele desceu para avisar que logo se juntaria a nós, e por algum motivo comecei a suar frio, com medo do que poderia acontecer.
Assim que terminei de verificar minha aparência, saí do quarto e, ao descer a pequena escada da casa de Durval, avistei Otto à distância. Ele se aproximou de mim e logo iniciamos um breve dialogo.
Otto me cumprimentou com um beijo no rosto, deixando-me totalmente envergonhada pela forma como ele estava me tratando.
— Luísa, fico feliz que não tenha desistido do nosso jantar. — ele disse e acrescentou: — Você está incrível, realmente muito linda.
Engraçado como ele ainda conseguia me deixar desse jeito. Parecia que nada havia mudado, ele continuava o mesmo cavalheiro de sempre.
— Obrigada, Otto. Você também não está nada mal. — falei brincando com Otto, que riu. — Vamos?
Antes que Otto pudesse responder, Durval o interrompeu.
— Pendleton, peço que cuide da minha irmã, por favor. — ele disse.
— Tudo bem, Durval, pode deixar. Cuidarei da Luísa até com a minha vida. — ele respondeu.
Otto colocou a mão no bolso, como se pedisse para que eu segurasse em seu braço, e foi exatamente o que fiz. Logo após o nosso breve diálogo, chegamos rapidamente ao carro e Otto, como sempre, foi um cavalheiro e abriu a porta do carro para que eu entrasse.
Surpresa com a gentileza de Otto, agradeci ao entrar em seu carro. Durante o trajeto até o restaurante, não trocamos muitas palavras, mas assim que chegamos, Otto abriu a porta para que eu pudesse sair. Ao olhar para a fachada do restaurante, uma onda de nostalgia me invadiu, foi ali que Otto me pediu em casamento.
— Que paz imensa sinto agora. — disse Otto, com lágrimas nos olhos.
— Concordo, ótimas lembranças. — respondi brevemente.
Ao entrarmos no restaurante, um ar nostálgico me invadiu. Tudo estava exatamente como há anos atrás, o que me fez recordar os momentos felizes e tristes que vivi com Otto. Nosso relacionamento havia sido intenso, com altos e baixos, mas nada apagaria os momentos bons que compartilhamos. Ao nos aproximarmos da mesa, Otto puxou uma cadeira para mim e agradeci.
Enquanto examinávamos o menu, pedimos ao garçom um risoto de shiitake, um parmentier de canard e duas panna cottas de sobremesa. Para acompanhar, escolhemos um hâteau d'yquem, meu vinho preferido.
O garçom anotou os pedidos e se retirou. Olhando para Otto, emocionada, falei:
— Otto, mal posso acreditar que você ainda se lembra do meu vinho preferido.
— Luísa, eu nunca esqueci nada sobre você. Afinal, nós fomos casados por muito tempo. — ele respondeu gentilmente.
— Sim, eu sei. — eu disse em um tom monossilábico.
— Já que nosso pedido ainda não chegou, podemos colocar o nosso papo em dia. O que acha? — ele perguntou.
— Claro. — Eu respondi. — O que você quer saber?
— Podemos começar pelo principal. — Ele respondeu. — Por que você decidiu terminar nosso casamento daquela forma? Só para deixar claro, não estou te cobrando nada, tá bom?
Eu sabia que precisava contar a verdade para Otto, mas, ao mesmo tempo, tinha medo das consequências. Será que ele me perdoaria? Ou será que isso só aumentaria a raiva que ele sentia por mim? Eu não sabia dizer. Era o momento de esclarecer tudo o que havia acontecido, mesmo que isso fizesse com que Otto desistisse de mim de uma vez por todas.
— Tudo bem, irei começar falando sobre o jantar para comemorar o nosso aniversário de casamento. Você se lembra? — Pergunto a Otto.
— Claro que me lembro, foi quando você terminou comigo — Ele fala amargurado.
— Quando terminei com você, acabei descobrindo algo muito sério — Falo.
— O que foi? Pode me contar tudo, confia em mim — Otto diz.
Após Otto falar isso, decidi abrir-me com ele e contar tudo o que realmente aconteceu.
— Otto, só para deixar claro, não me separei de você porque não te amava mais — Digo a Otto.
— Terminou por qual motivo? — Ele pergunta.
— Fui obrigada a terminar com você por culpa da minha mãe — Revelo este segredo de uma vez.
— Como assim? Obrigada pela sua mãe! Não consigo entender isso — Otto estava visivelmente confuso com o que revelei.
— Otto, promete para mim que não vai ficar com raiva? — Peço.
— Raiva de quê? — Ele pergunta.
— Otto, por favor, me promete que não vai ficar com raiva — Peço novamente.
— Tudo bem, tentarei não ficar com raiva, mas fala logo o que aconteceu — Ele diz.
— Sobre isso que aconteceu, eu revelei para o Durval assim que cheguei na casa dele. Ou seja, nem mesmo ele sabia disso, ninguém da minha família no caso.
— Luisa, você está me deixando ainda mais nervoso do que já estou — Ele diz.
— Quando estávamos casados, eu descobri algo que poderia mudar a nossa vida para sempre — Falo para Otto, que pede para que eu prossiga, segurando as minhas mãos, o que me acalma. — Eu... Descobri que estava grávida de você.
Revelei tudo de uma vez e evitei olhar para o rosto de Otto, com vergonha de ver a possível decepção em seus olhos. Nesse momento, lembrei-me de quando minha mãe descobriu sobre minha gravidez e percebi que dona Isadora era minha pior inimiga.
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