40_ Que merda!
Dias foram se passando, a vida foi seguindo e a cada dia eu me sentia mais em casa em Manitou Springs. A faculdade estava ótima, Kate era minha amizade mais próxima e Drake parecia mais calmo. Acho que as coisas tinham se estabilizado e eu tinha medo de finalmente estar me acostumando a ficar por lá.
ㅡ Eu quero chegar em casa e dormir até amanhã. ㅡ Kate murmurou enquanto saíamos da faculdade. Ela estava abraçada ao meu braço bocejando.
ㅡ Que horas você foi dormir ontem? ㅡ Pisamos na calçada e eu olhei de um lado para o outro procurando por Drake. Ele sempre me levava e me buscava, mas não estava ali.
ㅡ Três. Ainda não consegui terminar de desempacotar tudo. Meu apartamento ta uma bagunça. ㅡ Ela desgrudou de mim e ajeitou a mochila nas costas.
ㅡ Pelo menos você ta morando sozinha, você não queria isso? ㅡ Continuei procurando por Drake, mas sem sinal do carro dele na rua.
ㅡ Demais. É ótimo ter os meus próprios horários, rotina e minha própria bagunça. Arrumar minha bagunça é uma coisa, agora arrumar a do meu irmão me quebrava. ㅡ Ela resmungou alongando a coluna. ㅡ O que foi?
ㅡ O Drake... ㅡ Olhei a hora no celular. ㅡ Ele não costuma se atrasar.
ㅡ Vai ver ele perdeu a hora. ㅡ Ela olhou a hora em seu celular também. ㅡ Você ta preocupada? Quer que eu vá com você pra casa?
ㅡ Não precisa, você já tem muita coisa pra fazer em casa. Eu fico bem. ㅡ Assenti tocando o ombro dela.
ㅡ Tem certeza?
ㅡ Tenho, sim.
Me despedi de Kate e caminhei apreensiva para casa. Não era longe, Drake só fazia questão de me levar e buscar por segurança e isso me deixou aflita. O que tinha acontecido?
Meu coração estava quase saindo pela boca quando cheguei na casa. Eu estava esperando uma tragédia, criei paranóias na cabeça de que Grove ou Freeman tinham aparecido e senti um imenso alívio quando cheguei na casa e Drake estava lá.
ㅡ Drake? ㅡ Me aproximei dele e pelo seu olhar, percebi que algo, sim, tinha dado errado. Drake estava parado no meio da sala olhando para a televisão. O noticiário de Nova York estava passando e a minha foto estava estampada na tela. ㅡ Ah, meu Deus...
ㅡ Chloe, me desculpa! Eu não vi a hora, eu... ㅡ Ele passou a mão na testa. ㅡ Que merda! ㅡ Ele empurrou o abajur da mesa ao lado do sofá. O abajur voou pela sala e se quebrou no chão. ㅡ Alguém acionou a polícia sobre o seu desaparecimento. Agora o seu rosto está em todos os jornais!
Ouvir aquilo foi como ver todo o meu mundo desabando ao meu redor. Toda a rotina que criei, todos os amigos, o apego à cidade... Tudo parecia estar indo por água abaixo e o medo que me rondava todos os dias quando cheguei ali voltou a acelerar o meu coração.
ㅡ Ninguém deveria sentir a minha falta. Quem reportou o meu desaparecimento? ㅡ Perguntei. Minha voz já demonstrava nitidamente o pânico que eu estava sentindo.
ㅡ Não sei, achamos que pode ter sido o seu ex namorado. Frank voltou para Nova York para procura-lo. ㅡ Drake não parava de andar de um lado para o outro. ㅡ Você não pode mais sair de casa, Chloe. Agora o seu rosto está nos noticiários e, por mais que a cidade seja segura, não é só a polícia daqui que pode te encontrar.
ㅡ A polícia daqui não vai me procurar? Eles já me viram. ㅡ Me sentei no sofá quando senti minhas pernas falharem.
ㅡ Não. ㅡ Drake balançou a cabeça. ㅡ Meu pai ferrou com essa cidade quando moramos aqui e hoje todos são unidos contra ele. Michael já fez o trabalho de alertar de que ninguém aqui toca em você. ㅡ Ele continuou andando para lá e para cá e isso só me deixava mais nervosa. ㅡ Mas, a polícia federal não dá a mínima para isso.
ㅡ O que vamos fazer, Drake? ㅡ Meu coração não parava de acelerar.
ㅡ Calma, Chloe. ㅡ Ele se aproximou de mim e pegou a minha mão. Drake a levou até sua boca onde ele a segurou enquanto parecia pensar. Ele estava tentando me acalmar, mas eu sabia que ele mesmo não estava calmo. ㅡ A cidade ainda é segura se você ficar aqui dentro.
ㅡ A gente sabia que isso podia acontecer.
ㅡ O que? ㅡ Ele me olhou.
ㅡ A gente sabia que tudo podia dar errado, Drake. ㅡ Minha voz já era de choro. ㅡ Pelo menos você me proporcionou uma vida boa. Eu realmente tive uma vida ótima nos últimos meses.
ㅡ Chloe, não! ㅡ Ele balançou a cabeça imediatamente. Drake segurou o meu rosto me fazendo encara-lo. Seus olhos começaram a ficar vermelhos. ㅡ Não fala isso. Não vai acontecer nada com você, ouviu? Nada! Eu não vou deixar!
ㅡ Drake...
ㅡ Não, Chloe! Pode vir o meu pai, o Freeman, o Voldemort, o satanás! Eu não vou deixar ninguém encostar um dedo em você. Eu juro. ㅡ Ele tinha tanta certeza no olhar, mas isso não me deixou tranquila. Não era só a minha vida que estava em jogo ali e, pelo jeito que ele falava, parecia ter certeza de que ele, sim, não sobreviveria.
Isso me doeu. Me doeu porque eu não aguentava mais perder. Eu nunca tive ninguém e agora poderia perder a única pessoa que eu tinha de verdade.
Mas, quem poderia ter reportado o meu desaparecimento? Alguém do meu trabalho no restaurante? Até parece. Ninguém nem me conhecia lá. Só falavam comigo para dar esporro. Alguém do teatro? Muito menos. Acho que se alguém do teatro pensasse que desapareci, faria uma festa, não ligaria pra polícia. Na real, acho que fizeram uma só de eu ter saído do teatro.
Talvez Mary. Será que foi ela? Não éramos amigas exatamente chegadas, mas ela deve ter sentido a minha falta.
ㅡ Você tem alguma suspeita de quem pode ter sido? ㅡ Drake quebrou o silêncio.
ㅡ Talvez a minha amiga, Mary. Tirando ela, não acho que mais ninguém tenha sentido a minha falta no teatro ou no restaurante. ㅡ Abracei meus braços.
ㅡ Frank deixou uma carta no teatro e no restaurante que você trabalha quando eu te trouxe pra cá, pedindo demissão e explicando que viajaria. ㅡ Drake explicou. ㅡ Eu não sabia quanto tempo você teria que ficar longe, então preferi me certificar de que ninguém te procuraria. Acho que nunca te contei isso.
ㅡ Não, não contou. ㅡ Franzi as sobrancelhas. ㅡ Então, eu não sei.
O celular de Drake começou a tocar e imediatamente ele atendeu.
ㅡ Fala, Frank. ㅡ Drake colocou o celular no viva voz e deixou na mesa para que eu escutasse.
ㅡ Eu falei com o ex da Chloe.
ㅡ E aí?
ㅡ Não foi ele. ㅡ Frank falou do outro lado da linha.
ㅡ Como sabe?
ㅡ Eu tenho certeza que não foi o cara. Primeiro que eu encontrei ele saindo do teatro com uma loira gatona com meia calça rosa igual a que a Chloe usa. ㅡ Puxei o ar com força quando escutei. ㅡ Todo despreocupado. Não parecia alguém que tinha acabado de sair de uma delegacia e que provavelmente sabia que eu viria atrás dele.
ㅡ Como era essa garota? ㅡ Interrompi a conversa.
ㅡ Tinha cabelo loiro até os ombros, magrinha, tava de tênis vermelho e ria muito alto. ㅡ Com a descrição de Frank, tive certeza. Era Mary. ㅡ Ela tava com o Jonny quando vi eles saindo do teatro. Estavam se beijando no ponto de ônibus quando fui falar com ele.
Recostei minhas costas no sofá e suspirei. Eu não sentia mais nada por Jonny, isso é óbvio. Na verdade, agora que sinto algo real por Drake, não acho que já cheguei a sentir algo realmente verdadeiro por Jonny. Mas, Mary era minha amiga.
Por anos ela foi minha única amiga. A única pessoa que falava comigo direito e me tratava bem. Era para ela que eu contava meus problemas e confiava plenamente.
Então, eu desapareço e ela fica com o meu ex? Não dou a mínima para Jonny, mas isso é algo que amigas fazem? Caramba, se ela desaparecesse, a última coisa que eu pensaria em fazer é ficar com o ex dela. Na verdade, nem me lembro de ter dito para ela que tínhamos terminado.
ㅡ Eu dei um susto no cara. Puxei pra um beco, ameacei e tudo mais. Drake, eu Olhei nos olhos daquele safado com uma arma apontada pra cabeça dele e ele jurou que não foi ele. ㅡ Frank continuou falando. ㅡ O cara só faltou se mijar na minha frente.
ㅡ Então, quem foi?? ㅡ Drake exclamou.
ㅡ Ele disse que pode ter sido o dono da casa da Chloe. Nós que fomos idiotas de não pensar nisso. É óbvio que o cara ia dar falta dela depois de meses sem pagar o aluguel. ㅡ Drake suspirou tão alto e pesadamente que sua raiva era sentida no ar. ㅡ Passei lá fingindo querer alugar uma casa. Óbvio que me certifiquei de que seu pai não estava em casa, né? Pra não me ver lá. E o cara disse que não tinha casas para alugar, que a única que poderia estar disponível estava guardando os móveis de um inquilino. Provavelmente é a casa dela. E ele parecia preocupado. Acho que foi ele mesmo. E já respondendo, não, não bati nele. O cara não sabia de nada e só ficou preocupado com a Chloe.
ㅡ Viu o meu pai?
ㅡ Não, mas ele me ligou. Disse que está fora do país, mas que viu as reportagens. Me mandou ficar de olho em qualquer pista que possa dizer onde a Chloe está. Se a polícia achar ela, ele acha também. ㅡ Frank finalizou com as palavras que destroçaram qualquer estabilidade que tivesse em mim naquele momento. ㅡ Vou te manter informado.
•••
Continua...
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