11_ Me leva com você
ㅡ Chega. ㅡ Me levantei da cama naquela manhã após ficar quase meia hora encarando a janela, sem coragem de me levantar. Eu precisava fazer alguma coisa, movimentar o meu corpo, sentir o cheiro ou gosto de algo, viver, nem que seja um pouquinho. Eu já vivi o meu " luto " pela minha pobre vida e por ter sido sequestrada dela nos últimos dois dias, agora era hora de parar de ficar choramingando e sentindo pena de mim. Pelo menos um pouco.
Me levantei da cama e fui direto pro banheiro. Tomei um banho longo, lavei e hidratei o coitado do meu cabelo que nem sabe o que é hidratação. Saí do banheiro já vestida e com o cabelo ainda molhado, porém solto. Minha cabeça estava tão leve... Era bom não estar com um coque cheio de gel na cabeça.
Passei o perfume que compramos ontem e saí do quarto. Desci até o andar de baixo e liguei a televisão, só para ter um som pela casa. Fui até a cozinha, mas não sou de sentir fome de manhã, então só peguei uma garrafa d'água e voltei para a sala. Me sentei no sofá e assisti por pouco tempo o jornal local.
A porta da sala foi aberta e Drake apareceu, segurando duas sacolas brancas e usando, pela primeira vez, uma blusa de mangas, ao invés de uma jaqueta.
ㅡ Bom dia. ㅡ Ele falou primeiro. Eu estava ocupada demais encarando a enorme cicatriz em seu braço. Ia quase até o ombro! Era bem maior do que eu imaginava.
ㅡ Bom dia. ㅡ Voltei meus olhos para o seu rosto enquanto ele colocava a sacola na mesa de centro. Drake se sentou no sofá a poucos centímetros de mim e tirou da sacola uma embalagem com um belo de um pedaço de torta. Também tinham donuts e suco, que parecia ser de laranja.
Ok, retiro o que eu disse sobre não sentir fome de manhã. O cheiro daquela torta deu um soco no meu estômago e o fez acordar na hora.
ㅡ Gosta de torta? ㅡ Ele olhou para mim e eu só soube assentir. Do jeito que as coisas andam, ele vai achar que sou um morta de fome que não pode ver comida. ㅡ Trouxe de maçã. ㅡ Ele me entregou a embalagem aberta junto a um pequeno garfo descartável.
Por um tempo ficamos em silêncio assistindo a televisão. Eu comendo aquela torta que o gosto estava ainda melhor que o cheiro, e ele comeu um donut sem cobertura, igual a um senhor de idade.
ㅡ Essa casa é sua? ㅡ Quebrei o silêncio quando fiz uma pausa para beber um pouco do suco. Não gostei muito da mistura dos gosto da torta de maçã com o suco de laranja, então fiz uma careta e passei para a garrafa de água.
ㅡ Não. ㅡ O encarei.
ㅡ Não? ㅡ Ele desviou o olhar da televisão e olhou pra mim. ㅡ Nós não estamos invadindo a casa dos outros não, né?
ㅡ Bom... Sim. ㅡ Deu com os ombros como se fosse algo que ele fizesse com frequência. Bem, até pode ser, mas eu não!
ㅡ Como assim estamos invadindo?? De quem é essa casa?? E se os donos chegarem?? ㅡ Drake olhou para mim com uma sobrancelha arqueada e os lábios tentando esconder um riso.
ㅡ A casa é do meu pai, Chloe. ㅡ Ele explicou e por um segundo quis lhe dar um soco por quase ter me feito infartar.
ㅡ Por que não falou logo? ㅡ Recostei minhas costas no sofá sentindo o alívio. Já sou procurada pela máfia, não preciso ser procurada pela polícia também.
ㅡ Você perguntou se a casa era minha, e não é. Perguntou se estávamos invadindo, e estamos. Meu pai não sabe que estamos aqui e queira Deus que ele continue não sabendo. ㅡ Ele deu mais uma mordida no donut. ㅡ Por que a pergunta?
ㅡ Sei lá, acho que assisto muitos filmes de terror. Quando uma pessoa é sequestrada, é levada para um cativeiro, não para uma casa bonitinha numa cidade amigável.
ㅡ E por que eu te colocaria num cativeiro?
ㅡ Não sei. Você é o criminoso, você tem que saber. ㅡ Drake olhou para mim como se eu fosse a coisa mais esquisita que ele já viu. Estranhamente, não de um jeito ruim.
ㅡ Você fala como se eu tivesse te sequestrado para pedir resgate ou coisa assim. ㅡ Foi a minha vez de rir e eu não contive a gargalhada.
ㅡ Se minha vida dependesse de alguém pagar pelo meu resgate, eu já estaria morta. ㅡ Falei em meio as risadas. Drake não riu, só balançou a cabeça enquanto olhava para mim. ㅡ Nem família eu tenho, muito menos uma família com dinheiro.
ㅡ Você faz o tipo que gosta de rir das próprias desgraças?
ㅡ Não, eu sou do tipo que chora das minhas desgraças. Mas, é bom rir as vezes. ㅡ Dei com os ombros e bebi mais um gole da água, que já não estava mais tão fria. ㅡ Você é de qual tipo? ㅡ Ele me olhou. ㅡ Do tipo que ri, do tipo que chora ou do indiferente?
ㅡ Indiferente? ㅡ Perguntou confuso.
ㅡ É, do tipo que sabe que as coisas estão indo de mal a pior, mas prefere agir como se não ligasse, ao invés de arrancar os cabelos. ㅡ O olhei com curiosidade enquanto ele parecia pensar no assunto.
ㅡ Não sou de rir muito das coisas e não lembro quando foi a última vez que chorei. ㅡ Revirei os olhos sentindo a inveja. Posso dizer que já chorei umas cinco vezes só essa semana. ㅡ Isso me faz indiferente?
ㅡ Acho que sim. Você parece indiferente. ㅡ Assenti. ㅡ Estamos no meio de uma loucura e você está agindo como se nada estivesse acontecendo. Passamos no meio de um tiroteio e você estava com a mesma expressão que está agora, comendo um donuts. ㅡ Suspirei e olhei para a televisão. ㅡ Queria poder ser assim. Não perder o controle, não deixar as emoções tomarem conta...
ㅡ Não é tão bom quanto você está fazendo parecer. ㅡ Ele se inclinou para pegar um guardanapo e limpar as mãos sujas de açúcar.
ㅡ Sei, tudo tem seu lado ruim. ㅡ Cruzei os braços. ㅡ O fato de eu ser expressiva era bom pra dança. Já fiz peças em que eu precisava chorar e atuar nunca foi tão fácil. ㅡ Pendi a cabeça pro lado. ㅡ As vezes eu me sinto como um jarro cheio de mais em que qualquer coisa me faz transbordar. Como agora, eu nem conheço você e estou aqui desabafando como se você fosse o meu terapeuta.
ㅡ Não sou bom terapeuta, mas sou bom ouvinte, eu acho. ㅡ Olhei para ele com a cabeça apoiada no sofá. ㅡ Pode desabafar sempre que quiser, só não vai ouvir uma resposta inteligente.
Deixei um sorriso escapar enquanto olhava para ele. Drake continuou olhando para mim sem expressão nenhuma, apenas me observando sorrir.
Na semana passada eu o chamei para ir ao teatro no dia de ação de graças sem nem saber quem ele era. Lembro de ter me sentido completamente tímida quando me abaixei para falar com a pessoa do carro pela janela e dei de cara com ele. Evitei pensar muito nisso na hora, porque era fiel ao idiota do meu namorado, agora ex, mas lembro perfeitamente de ter esquecido até de como se respirava quando olhei para ele.
Ele é muito bonito. Não sei se sabe disso. Muito mesmo. O negócio é que perdi parte do encanto quando Mary me chamou para ver o filho do Grove que estava no teatro e percebi que era ele.
Na minha cabeça, o filho do Grove era só mais um criminoso que mata a sangue frio, como o pai. Só que... Não consigo olhar para Drake agora e ver a mesma coisa. O que só prova o quão ingênua sou, pois não o conheço direito para já estar mudando de ideia assim.
Mas, poxa, o cara foi contra o pai para me ajudar. O cara acordou cedo para comprar donuts e torta pra mim, me levou no shopping pra comprar tudo o que eu precisava e me respeitou o suficiente para não entrar numa loja de roupas íntimas comigo. Como posso imaginar que um cara assim mata a sangue frio?
Drake se levantou após nosso silêncio e foi até o cabideiro pegar sua jaqueta. Ele também pegou as chaves do carro e se virou para mim.
ㅡ Aonde você vai? ㅡ Me levantei.
ㅡ Eu vou... ㅡ Ele indicou a porta, mas eu o interrompi antes que pudesse continuar.
ㅡ Me leva com você.
ㅡ O que?
ㅡ Eu sei que você tem saído para me deixar mais a vontade aqui na casa, mas eu fico completamente entediada aqui. ㅡ Desliguei a televisão e saí de trás do sofá, indo na direção da escada. ㅡ Não sai sem mim. ㅡ Corri até o andar de cima e peguei o meu casaco, o vesti e me olhei no espelho.
ㅡ O que?? ㅡ Fiquei espantada comigo mesma. ㅡ Quando raios eu prendi o meu cabelo? ㅡ Soltei o meu cabelo que estava praticamente seco agora, mas tinha umas ondulações, devido ao coque desajeitado que fiz sem nem perceber.
Saí do quarto e desci as escadas, encontrando Drake me esperando na porta. Seu olhar pousou em mim e por um momento pensei ter visto uma expressão em seu rosto. Só não sei descrever qual era, mas ele me olhou diferente. E continuou me olhando até eu parar em sua frente.
ㅡ Que foi?
ㅡ Acho que é a primeira vez que te vejo de cabelo solto. ㅡ Seus olhos continuaram focados em mim.
ㅡ Acho que muita gente nunca me viu de cabelo solto. ㅡ Ri abraçando meus braços. ㅡ Vamos?
ㅡ Hm? ㅡ Balançou a cabeça. ㅡ Ah, ta. Vamos.
ㅡ Que foi? Eu fico tão hipnotizante assim de cabelo solto? ㅡ Saí na varanda e senti o vento frio tocar meu rosto.
ㅡ Mais do que imagina. ㅡ Seu comentário me atingiu de um jeito estranhamente significativo. Tanto que não tive coragem de olhar para trás para vê-lo, pois de repente, meu rosto já não estava mais frio, e sim queimando.
•••
Continua...
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