Um desfecho inesperado
“Alguém... alguém me ajude... não posso morrer aqui...preciso salvar os meus amigos... não quero morrer...alguém...” --- Suplicava ele em pensamentos, enquanto seus olhos se fechavam trazendo a escuridão para si.
De repente, em sua cabeça, começa a escutar um chiado baixinho, como se alguém estivesse trocando de estações em um rádio velho. O chiado passou a ser mais perceptível à medida em que se aprofundava, percebendo se tratar de uma voz falha de uma menina.
“Quem está aí?” --- Perguntou para a escuridão que o rondava.
“Não tenha medo. Estou aqui para te ajudar, emprestando-lhe um pouco do meu poder. Vamos, diga o meu nome.” --- Uma voz doce e alegre lhe respondeu, fazendo o garoto se assustar e abrir os olhos de imediato.
O que ele não esperava, é que se depararia com uma criatura de tamanho minúsculo em sua frente, que o encarava com uma feição contente em seu pequeno rosto.
--- Vamos, você me conhece. Vamos, diga o meu nome! --- insistia a criaturinha. --- Vamos Max!
A criatura se assemelha com uma pequena fada. Possuía os cabelos dourados em tranças e orelhas pontudas como de um elfo. Seus olhos, sempre fechados, lhe davam uma aparência de ser bem extrovertida e carismática. Ela flutuava constantemente para cima e para baixo, com as suas asas azuis-esverdeadas semelhantes à de uma libélula. O que fazia uma combinação perfeita com o vestido de mesma cor em seu corpo que se assemelhava às ondas do mar.
--- O que é você? Como posso saber o seu nome, se eu nem a conheço? --- Questionou Max com o seu semblante confuso.
--- Vamos. Eu só posso emprestar o meu poder se você falar o meu nome. --- Insistia a criaturinha, que aparentava estar animada e empolgada. --- Vamos, vamos!!! Diga o meu nome! Lembre-se!
Max continuou a se questionar sobre a criatura em sua frente. E como que só o mesmo conseguia vê-la?
Seu olhar recai na multidão ao redor, mas todos estavam paralisados. Voltou a se questionar, o porquê disso, antes de voltar a sua atenção para a loira em sua frente.
Ele fecha os olhos buscando se lembrar, de onde é que a criatura o conhece. Sem sucesso! Abre os olhos novamente e se impressiona ao se deparar com os olhos da loirinha que, dessa vez, estavam abertos, descrevendo como sendo duas joias de ouro branco com topázio azul, e ficando hipnotizado com eles.
Um clarão o atinge ao se aprofundar nos olhos dela, e de repente, começa a sentir como se uma água salgada estivesse entrando em seus pulmões, dificultando a sua respiração. Ele percebeu que estava preso novamente em seu passado. Sentia o seu corpo pesar toneladas, como se ele fosse uma âncora jogada de um navio, e sendo acolhido pelo mar, que o recebia como um de seus filhos, em um abraço quente e aconchegante. Passa a escutar o mar sussurrar um nome para si, em meio às correntes marítimas...
--- Plaline! --- Ele repetiu o que escutou, quase em sussurros, e voltando para a realidade.
--- Eu estava esperando por isso! Vamos, vamos! --- Disse a criaturinha em empolgação e desaparecendo em seguida.
A joia no colar do Maximilian começa a flutuar em seu pescoço, emitindo um brilho suave de um azul celeste bastante claro, e fazendo com que o corpo do mesmo começasse a levitar, como se a gravidade não existisse. De repente, várias partículas de água surgem ao seu redor, unindo-se uma na outra e criando uma bolha gigante que o cobriu por inteiro. Dentro da bolha, uma a uma, as feridas e os machucados que havia sofrido durante o combate, foram se curando como em passe de mágica, não restando nenhum indício de ter sido ferido na batalha. Assim como surgiu, a bolha se desfaz. O loiro aterrissou com maestria após ter tido o seu corpo curado completamente, se sentindo mais forte do que jamais esteve em toda a sua vida.
Logicamente, Max não conseguia entender o que havia se passado com ele, e não saberia explicar o porquê de estar se sentindo mais confiante e mais preparado para lutar. Ele encara o seu corpo e sente que algo estava o protegendo, além da armadura que estava vestindo, como se existisse uma segunda armadura, só que invisível. Passa a encarar os olhares que recai sobre si, olhares de espanto como se não acreditassem em seus próprios olhos.
--- Como você fez isso? --- A Rainha foi a primeira a perguntar, fixando nas feridas que desapareceram no corpo do humano.
--- Eu... também não sei. --- Respondeu ele, ainda pasmo com que havia ocorrido. --- Vamos continuar o nosso combate!
--- Não sei o que fez, mas dessa vez, eu vou te destruir! --- A alienígena voou com ferocidade para cima do garoto, movimentando-se rapidamente em zigue-zague.
A Rainha estava se movimentando rápida demais para o Max conseguir acompanhá-la com o olhar, pois a mesma conseguia desaparecer facilmente de seu campo de visão. Em um desses súbitos sumiços, ela surgiu atrás do humano sem que o mesmo notasse, deixando-o perceber quando já era tarde demais.
O olhar negro da alienígena se intensificou com o aumento de sua sede em querer esmagar o humano em sua frente, não pensando duas vezes em querer acertá-lo com toda força que possuía. Utilizando os punhos de seus dois braços direitos, desferiu um poderoso ataque que já foi capaz de destruir incontáveis inimigos que se opuseram a ela. Quando estava prestes a acertar em cheio o rosto do garoto, para sua surpresa e espanto, foi impedida por alguma barreira invisível, que a impossibilitou e a arremessou com a mesma força para longe, a fazendo se afastar do humano.
--- O que está acontecendo aqui? --- Indagou a Rainha, logo se recompondo.
“Esse é o meu poder. Vamos, vamos, olhe atentamente ao seu redor. Vamos, o que você vê?” --- Max escuta a voz de Plaline falar em sua cabeça.
Passa então a se concentrar em seu redor, olhando mais atentamente cada detalhe que passou despercebido por ele. Com o seu olhar mais afiado, conseguiu ver o que a criaturinha queria mostrá-lo, partículas microscópicas de água cercavam o ambiente em completa harmonia.
--- Que lindo! --- Os olhos do loiro brilhavam em admiração das partículas. --- Eu consigo controlá-las? --- Perguntou, após perceber que elas se moviam conforme a sua vontade.
--- Sim! --- Respondeu a Plaline, aparecendo em sua frente. --- Vamos! Agora o meu poder é seu. Vamos, vamos!
--- O que é você? --- Max perguntou, a encarando com o seu cenho franzido.
--- Eu sou o espírito da água. Vamos! A minha essência encontra-se dentro da Joia da Clareza a qual possui. Vamos, vamos, acabe com ela! --- Seu tom de voz e sua movimentação rápida para cima e para baixo demonstrava a sua animação. --- Vamos, vamos!!! Realize o cântico! Depositei tudo em sua memória.
Maximilian fecha os olhos buscando, dentro de si, o poder que precisava para derrotar a inimiga à frente, mas a imagem de seu amigo machucado surgiu em sua mente. Passou a imaginar as torturas que ele poderia ter sofrido para estar naquele estado, os riscos que o mesmo deve estar passando por estar sem o seu elmo protetor e quanto tempo ele levaria para sucumbir ao ar tóxico daquele planeta. As lembranças do dia em que o Maurício o salvou, ecoaram em sua cabeça, o inesquecível dia de Halloween que passou a admirá-lo e vê-lo como seu amigo, transformando-o posteriormente em seu irmão para a vida toda.
--- Agora é a minha vez de salvá-lo! --- Disse ele com determinação em seu olhar.
De repente, palavras começa a surgir em sua cabeça, como um texto que precisava ser lido.
“Eu, Max, ordeno a ti, que decifrai as leis da natureza, subjugai meus inimigos e levai esse mal para longe; Hidro-bomba!!!”
Max sentiu o seu corpo todo formigar como se uma eletricidade estática estivesse passando pelo seu corpo. O seu coração começou a acelerar em uma velocidade fora do normal, e passou a sentir uma pressão enorme que se direcionou para as palmas de suas mãos, como se elas fossem um canhão carregado prestes a atirar. Ele se concentrou, as partículas de água ao seu redor passaram a se unificar em suas mãos, e quando uma pressão ainda maior surgiu pela quantidade imensurável de água que conseguiu juntar, formando uma bomba de água, se viu obrigado a lançá-la, expelindo tudo de uma só vez.
O projétil saiu em uma grande velocidade e força, em direção a alienígena que optou por recebê-lo de frente sem hesitar. A rainha ergueu os quatros braços, mantendo as palmas de suas mãos para frente, como forma de se proteger. Com sua enorme força e persistência, ela tentou se manter firme após ser atingida pelo golpe do humano, mas não conseguiu aguentar por muito mais tempo, acabando sendo lançada com força pela rajada de água que a acertou, fazendo ela atravessar uma parede e destruir uma parte das arquibancadas, levando os Uriartianos que assistiam a luta, gritarem eufóricos com o desfecho inesperado.
Alguns que estavam ali presentes observavam a Rainha desacordada, enquanto outros, encaravam o humano, que estava quase sem fôlego no centro da arena, sem saberem como prosseguir.
Laila se levanta de seu assento com o seu semblante sério, disfarçando a sua felicidade e orgulho que estava sentindo pelo seu aluno, voa em direção ao vitorioso, parando em sua frente e o encara por um breve momento sem dizer nenhuma palavra. Volta a sua atenção para a plateia.
--- TODOS CALADOS!!! --- Gritou ela, chamando atenção dos demais, que pararam para escutá-la. --- O Máxin ganhou a batalha de forma justa! Portanto, ele deve ter sido abençoado pela deusa Tuttela. Todos saúdam o novo rei de Uriart... Maximilian!!!
Com esse grito da Lailazianna, todos os Uriartianos começaram a se curvar para o humano de pé, deixando o mesmo surpreso com a situação.
--- Quais são as suas ordens, meu rei? --- Perguntou a Laila, abaixando a cabeça em referência.
--- Eu?... Rei?... Como assim, Laila? --- Indagou o loiro, após sair do choque inicial.
--- Você ganhou a batalha pela coroa. Agora, passou a ser o novo soberano de Uriart. Nenhum tolo vai se opor quanto a isso.
--- Isso m-mesmo meu rei. --- a antiga rainha, que passou a ser chamada pelo seu nome, Zandaya, surgiu cambaleando diante do Max, e se curvando após ficar em sua frente. --- A deusa escolheu você para nos guiar... --- Ela retirou a coroa em sua cabeça e a segurou em sua mão. --- Agora essa coroa lhe pertence.
Max não queria ser rei de planeta algum, ele apenas queria se aventurar sem restrições. Decidiu dar prioridade em salvar os seus amigos que estavam presos.
--- Quero... Ordeno que libertem os meus amigos! --- Falou com voz firme.
--- Como desejar! --- Disseram os antigos guardas da Zandaya, que estavam parados em frente ao portão que levava para prisão, em uníssono.
Com a ordem recebida, eles foram buscar os prisioneiros que o novo rei solicitou.
Enquanto Max aguardava pela soltura de seus amigos, algo começou a chamar a sua atenção. A joia que enfeitava a coroa lhe cativava, se sentia atraído por ela, como um ímã que se sente atraído por um metal. Era como se ela o chamasse, como se conectasse com a joia da Clareza que possui.
--- Aqui está a sua coroa, meu rei. --- Disse a Zandaya, entregando o objeto para o garoto e se afastando em seguida.
Mesmo a contragosto, o Maximilian pegou a coroa e a olhou por alguns instantes, antes de puxar a joia presa na parte superior direito dela, que mudou de forma logo após sair.
A joia aumentou de tamanho, ficando do mesmo tamanho da pedra que o Max carrega em seu pescoço. A sua forma arredondada passou a ser três pequenos triângulos, aparentando montanhas amarronzadas.
Max ficou admirando a joia que segurava em suas mãos. Ele pegou o colar e colocou as duas joias juntas para compará-las, o que acabou ocorrendo em um forte lampejo que o forçou a fechar os olhos instintivamente. Quando os abriu, percebeu que não estava mais na arena, pois tinha sido transportado para seu passado.
“O que está acontecendo? Por que sempre sou forçado a presenciar a morte dos meus pais?” --- Se questionou em pensamentos e ficando frustrado por não conseguir chegar em nenhuma conclusão.
Ele se encontrava nos braços de sua mãe, mas dessa vez, pôde reparar melhor na aparência dela, cuja pele era clara e macia, fazendo contraste com sua bochecha avermelhada. Seus lindos cabelos dourados estavam presos em um rabo de cavalo e seus olhos foram ocultados por um óculos retangular vermelho. Já o pai do garoto, se manteve no oculto, se escondendo por detrás da mulher loira.
Chega a hora fatídica. Várias nuvens cinzentas de tempestade se encontram para cobrir aquele céu azulado, fazendo o tempo mudar, de uma brisa de verão, para um vendaval em poucos segundos. Em meio às ondas que se formaram, Max escuta o homem que julga ser o seu pai dizer; “Ele nos achou!”. Mas antes que a mulher pudesse dizer alguma coisa, os raios começaram a cair sobre eles, no intuito de atingi-los. O garoto se deu conta de que nada daquilo que presenciava aparentava ser normal, mas antes de concluir o seu raciocínio, um raio finalmente acerta o frágil barco, fazendo ele se separar dos braços de sua mãe e ser arremessado para o mar. Contudo, antes de atingir a água, o tempo ao seu redor congela, lhe dando a oportunidade de observar melhor o ambiente a sua volta. Seus olhos se fixaram em uma nuvem diferente das outras, onde, após um clarão, avista uma silhueta misteriosa que o encarava com os seus assustadores pares de olhos vermelhos.
--- Eu fico com isso! --- Disse uma criatura gelatinosa, após roubar as joias que estavam com o Max, o fazendo despertar para o presente.
Maximilian acordou atordoado e se sentiu violado, por sentir falta de algo que ainda não sabia o que era. Olhou ao redor, avistando a Laila cuidando do Maurício, curando as suas feridas. Por um momento se sentiu aliviado por saber que eles estavam bem, mas quando percebeu o que estava faltando em si, um desespero tomou-lhe conta, pois se sentiu como se tivesse perdido um pedaço de sua alma. Voltando a observar, avistou um tumulto causado pelos guardas Uriartianos que perseguiam um fugitivo, que notou que era o ser que havia roubado as suas joias.
A criatura gelatinosa de cor púrpura era rápida e soltava fluídos por onde passava. Sua habilidade de se camuflar no ambiente como um camaleão era impressionante, enganava os guardas facilmente.
Max, observando tudo, se sentia ainda ligado com a joia da Clareza, então se arriscou em chamar por ela, mesmo ela estando dentro do corpo da criatura gelatinosa.
--- Volte para o meu lado... PLALINE!!! --- Ele gritou por ela, com os seus braços estendidos em esperança, já que o ladrão havia desaparecido.
Neste momento, uma poderosa luz azulada começa a brilhar na arquibancada, onde se revela o ladrão que tentava escapar. A joia da Clareza começa a vibrar, e em um piscar de olhos, ela acaba saindo de dentro do corpo da criatura que havia a devorado, e volta voando para as mãos do humano que sorriu em alívio, mas deixando o ladrão irritado e apavorado.
--- Me devolve isso! --- Ordenou a criatura com seus olhos esbugalhados e começando a entrar em desespero. --- Ele está vindo. Ele vai me matar se eu falhar em pegar essa joia. Anda logo, me...
Antes que o ser gelatinoso continuasse, uma esfera de energia negra que foi lançada em sua direção, o atingiu, dilacerando-o por inteiro, restando apenas a joia amarronzada que caiu em um dos assentos.
Os olhares de todos se direcionaram para a mesma direção. Na única entrada ou saída do coliseu por solo, uma escuridão tomou conta do lugar. Seus movimentos singulares aparentavam que tinham vidas próprias. Max vê algo se aproximando lentamente entre os ladrilhos do lugar, fazendo-o suar frio e sentir um fraquejo em suas pernas, não conseguindo sequer se mover para fugir. Aqueles olhos vermelhos ocultos em meio a escuridão... aqueles mesmos olhos que passou a assombrá-lo, os mesmos olhos que estavam presentes no dia das mortes de seus pais, escondidos por entre as nuvens, e que agora se encontravam ali, bem diante dele.
--- So...cor...ro... --- O medo que o garoto estava sentindo, impossibilitava que o mesmo conseguisse fazer qualquer coisa.
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