Supernova
Enquanto a localização da próxima Joia Elemental não era revelada, os passageiros aproveitaram a tranquilidade momentânea para descansar e aproveitar as maravilhas que o universo tinha para oferecer, pois temiam que não teriam uma outra oportunidade de parar para fazer isso, devido as correrias e confusões que sempre os acompanhavam.
A nave seguia seu rumo sem nenhuma dificuldade, mesmo tendo perdido alguns de seus principais motores e ter tido alguns de seus sistemas danificados, ela voava silenciosamente e estável com a ajuda de seus motores reserva.
Maximilian se encantava com a bela vista que tinha do espaço pela pequena janela ao seu lado, se admirando com a beleza das estrelas, planetas e galáxias que se estendem diante dele. As cores vibrantes e as formas fascinantes o deixam sem fôlego. Uma visão que o acalmava, e que ao mesmo tempo o emocionava, se sentindo grato por estar vivendo o sonho que sempre desejou em toda a sua vida. Desde que chegou no espaço, notou uma melhora significativa em sua condição física, como se o fato de ter respirado novos ares o fizesse se tornar uma nova pessoa.
Ele não era o único que se sentia assim, uma fascinadora de espécies também estava adorando cada momento daquela aventura, pois finalmente poderia ver, com os próprios olhos, as distintas espécies alienígenas espalhadas pelo mundo, com anseio por conhecer uma nova espécie que não tivesse catalogada em um de seus livros.
--- É realmente lindo, não acha? --- Max é surpreendido pela voz de Laila em sua retaguarda, que estava com um olhar distante avistando além da pequena janela.
--- Sim. --- Respondeu no automático, só então se virando para avistá-la e se surpreendendo com que se depara. --- La-Laila?
Max se impressiona com a nova aparência da Lailazianna, que assumiu uma aparência mais humana, possuindo apenas dois braços ao invés de quatro. Sua pele rosada tomou um tom mais claro, com as bochechas um pouco mais coradas, e seus cabelos que antes se assemelhavam com tentáculos de um polvo, se transformaram em vários fios ondulados de cor branca que desciam cobrindo as suas orelhas pontudas. A sua cabeça tomou um aspecto mais comum, mais arredondada e com queixos mais finos. Ela poderia se passar por uma humana de 15 anos de idade, se não fosse pelo fato de possuir um terceiro olho esverdeado no meio de sua testa e uma auréola esverdeada de anjo no topo de sua cabeça.
(Quando os Uriartianos deixam o seu planeta natal, a sua forma Uriartiana se torna mais exaustiva de se manter por conta de sua enorme pressão espiritual e sua densa massa muscular, por isso, eles usam uma habilidade chamada Destruição de sangue, que dão a eles a capacidade de assumir a aparência misturada de outros seres que se sentem conectados após uma batalha, porém, isso os deixam mais vulneráveis, não conseguindo usar as suas forças completamente, por não estarem em sua forma de combate natural).
--- Sim... sou eu mesma. --- Respondeu de forma natural, deixando escapar um leve sorriso em sua boca. --- Espero que não se incomode com essa minha aparência. Se quiser, eu posso voltar ao normal.
--- V-Você está incrível. --- Respondeu ele de forma natural, deixando-se encantar pela beleza da alienígena.
--- Olha o Max, garanhão. --- Disse o Maurício, deixando escapar um sorriso de canto de boca, e não perdendo a oportunidade de provocar o seu amigo, deixando-o constrangido com as bochechas coradas.
--- Obrigada, Máxin! --- Agradeceu ela, não percebendo a implicância do Maurício com o Maximilian.
--- A nave está estabilizada. --- Kokish se pronunciou, após verificar todos os sistemas da espaçonave. --- Todos os motores estão funcionando perfeitamente. Não deve mais ter contratempos.
--- Chega de contratempos e confusões... --- Maurício bufou se jogando em seu assento, deixando os músculos de seu corpo relaxar. --- Foi caótico chegar até aqui, e mesmo assim, muitas vezes quase não saímos vivos. Ainda bem que o Max conseguiu dar um jeito em tudo, embora eu ainda não saiba como ele conseguiu. --- Encarou o amigo, buscando explicações.
--- Eu ainda não sei te explicar, amigo, também busco entender tudo o que anda se passando comigo. --- O loiro passa a encarar a joia em cima do aparelho de rastreamento à frente. --- Eu comecei a ter flashbacks do meu passado, visões de quando me separei dos meus pais. Não faço ideia do porquê, mas aquele subordinado do ser das trevas tem algo a ver com isso.
--- Sério, Max? Que loucura ‘mano. O que você avistou nessas suas “visões”?
--- Eu só consigo me lembrar de pequenos fragmentos do que aconteceu, como o sorriso encantador da minha mãe, a voz grave do meu pai, o raio que atingiu o barco, e... --- Maximilian travou ao se recordar dos olhos assustadores que avistou por entre as nuvens, os mesmos olhos que estavam em sua frente a poucos minutos atrás.
--- Max... Max!? --- Chamou-o Maurício, tirando-o de seu transe. --- O que aconteceu? --- Preocupou-se.
--- Desculpe, acabei me distraindo com aquela rocha ali. --- Tentou disfarçar apontando para uma pequena rocha qualquer no lado de fora. --- Enfim, foi tudo o que eu consigo me lembrar. --- Mentiu, no intuito de não deixar os seus amigos mais preocupados. No entanto, o seu melhor amigo percebeu a sua mentira, desconfiando que o loiro escondia alguma coisa dele, mas preferiu não dizer nada por conhecer o seu amigo.
--- Que pena não se lembrar de mais nada... --- Disse ele ainda encarando o loiro.
Para o Maurício, Max lembrava muito o seu irmão Lucas, até no jeito de ser um péssimo mentiroso, o que o fez soltar uma contida risada.
Sem entender do que os humanos falavam, Laila e Kokish ficaram em silêncio, apenas observando as reações deles.
Bip...bip...bip...bip…
Um som alto e ensurdecedor começa a pitar, acompanhado com luzes vermelhas piscantes.
--- O que é isso, Kokish? O que está acontecendo? --- Perguntou o Maximilian, enquanto tentava abafar o barulho tampando as orelhas com as mãos.
--- Essa não. Temos um grande problema! --- Seu olhar demonstrava a sua preocupação. Ele desligou o alarme e analisou os monitores. --- Vejam! --- Apontou para a tela.
--- Aquilo ali é um sol? --- Maurício olhou preocupado.
--- Não pode ser. É o que eu acho que é? --- Foi a vez de Laila mudar a sua expressão.
--- Aquilo é uma estrela massiva morrendo. Ela está prestes a virar uma supernova! --- Explicou o Kokish, enquanto apertava alguns botões apressadamente, na velocidade que os seus bracinhos gelatinosos alcançavam.
--- Uma supernova? Fantástico! --- Maximilian se empolgou, para a surpresa e preocupação dos outros passageiros, menos para a alienígena de três olhos, que o olhava fascinada pela coragem do mesmo.
--- Você enlouqueceu, Max? Uma supernova é quando uma estrela morre. Seu núcleo acaba se contraindo e expelindo muito rápido, criando uma grande explosão. --- Maurício se lembrou de ter lido algo a respeito nos livros de seu pai. --- Vai ser muito perigoso ficar por perto, pois na pior das hipóteses, ela poderá se tornar uma estrela de nêutrons. Nós morreríamos em um instante!
--- Eu entendo, mas não deixa de ser fascinante. --- os olhos esverdeados do loiro brilhavam. --- É uma rara oportunidade de poder presenciar isso com os nossos próprios olhos. Pensa em quantas pessoas morreriam para estarem em nosso lugar.
--- É, mas isso não vale de nada se a gente morrer no processo, e... você não está ouvindo nada do que eu estou falando, não é mesmo? --- Ele percebeu a empolgação de seu amigo, que fingia não escutar o que ele dizia.
--- Talvez não tenhamos escolha. Olhem! --- Laila avistou que o localizador tinha captado o sinal de uma outra joia Elemental, mostrando que se localizava dentro da estrela que estava prestes a explodir.
--- A joia está dentro daquilo? --- Maurício não estava acreditando em seus olhos. --- O que faremos agora?
--- Simples, basta ir pegá-la! --- Maximilian disse com convicção.
--- Você enlouqueceu, Max? --- Interveio o mais velho, segurando e sacudindo o seu ombro. --- Se a gente chegar perto daquela coisa, morreremos em questão de segundos.
--- Eu sei, ‘mano, mas se nós não pegarmos a joia agora, ela poderá ser destruída junto com a estrela, e sem ela, seríamos presas fáceis contra o mal que nos persegue. --- O loiro tentou convencê-lo, mesmo sabendo que seu amigo não mudaria de ideia, mas torcendo para convencer os outros passageiros.
--- O Maximilian tem razão. Essa é a nossa única oportunidade, se a perdermos, estaremos acabados. --- Concordou Kokish, analisando a situação.
--- E como sugere que consigamos pegá-la? Essa é uma nave de fuga que foi danificada, não foi projetada para aguentar uma coisa dessas. --- Observou Laila, desanimando-os com a realidade.
Os tripulantes pararam para pensar em alguma solução que fosse plausível para o problema à frente, mesmo eles sabendo que o tempo era crucial, pois a cada minuto perdido, mais perigosa ficava a estrela.
Maurício temia pela sua vida e pela vida de seu amigo. Aquela aventura havia se tornado perigosa demais para ambos. Tudo o que conseguia pensar, é se ainda valia a pena aquela jornada e se já não fosse a hora deles retornarem. Contudo, bastou uma olhada em direção ao seu amigo para reparar que o mesmo estava se divertindo, avistou um brilho no olhar dele que jamais havia avistado antes por todos os anos que se conheceram, perdendo a coragem de tirar isso dele.
Maximilian, por outro lado, estava concentrado demais em achar uma solução para pegar a joia, sem pôr em risco todos naquela nave, não notando que seu amigo o fitava com um sorriso em seu rosto. Ele ficou tão inerte nesse objetivo, que, por um momento, sentiu o seu corpo formigar e seus amigos desaparecerem em uma escuridão. À frente, avista uma luz calorosa que lampejava com muita dificuldade, e no centro dessa luz, uma silhueta surge transparecendo estar em completo desespero.
"Me ajuda... estou aqui…"
Max escuta uma voz fraca pedir por ajuda dentro de sua cabeça, e sem explicação aparente, seu coração começa a disparar em uma velocidade que faz seu corpo todo tremer.
"Socorro... me ajude…"
Escutou novamente, percebendo que a voz se comunicava com ele por telepatia, e após olhar ao redor, reavendo seus amigos que estavam discutindo um plano, percebeu que ele era o único que podia escutar a misteriosa voz que passou a gritar em agonia.
--- Quem está aí? Como posso ajudá-lo? --- O loiro perguntava em pensamentos.
Uma sensação familiar o fez olhar ao redor, reparando que a sua joia no aparelho de rastreamento emitia uma forte luz azulada, que se propagava por toda a nave como ondas no mar. Só o mesmo era capaz de enxergar aquela beleza de luz que encantava o ambiente. Instintivamente, decidiu chamá-la pelo nome, o que a fez vir voando para as suas mãos.
Com a joia em sua posse, turbilhões de imagens lhe atingiu em um flash, o fazendo compreender a situação e a chegar em uma conclusão a respeito da joia presa na estrela.
--- Eu vou lá pegá-la! --- Decidiu-se, tomando a frente de seus colegas.
--- Como assim, você vai lá pegá-la? --- Questionou o Maurício, parando o seu amigo e reparando em seu semblante sério. --- O que você pretende fazer? Qual é o plano?
--- Laila, tente chegar o mais perto possível da estrela. --- Ignorou o amigo que o olhava fixamente. --- Eu me teletransportarei para fora da nave e pegarei a joia. --- Falou, já se preparando para sair.
--- O que pensa que está…
--- Como ordenar, meu rei! --- Disse Lailazianna, interrompendo o Alien e assumindo o leme.
--- O que você pensa que está fazendo? --- Maurício tentou interromper a alienígena de virar a nave para direção da estrela, mas ele não era forte o suficiente para se opor a ela, mesmo a mesma estando debilitada devido a transformação.
--- Pare, Maurício! Eu já me decidi. --- Max falou em tom firme e confiante. --- Não se preocupe amigo, eu ficarei bem. Apenas confie que eu voltarei são e salvo. Sinto que é algo que eu preciso fazer, não sei explicar.
Encarando o amigo seriamente, se deparou com o mesmo olhar teimoso que o mesmo fazia quando decidia algo, porém, o perigo dessa vez era grande demais, sua consciência não permitiria deixar que seu amigo se submetesse a arriscar a sua vida assim.
--- Max, me desculpe, mas eu não vou deixar que... --- Antes que o Maurício conseguisse dizer alguma coisa, ele foi atingido por um golpe rápido na lateral de seu pescoço, que o fez cair no chão inconscientemente.
Maximilian se aproxima do amigo caído no chão, enquanto fita a Lailazianna que sorria esperando um agrado de seu rei pelo que tinha acabado de fazer.
--- Obrigado, amigo, por se preocupar tanto assim comigo. --- Agradeceu após se agachar diante de seu amigo, e se levantando em seguida com o seu semblante sério. --- Não temos muito tempo sobrando. Precisamos ser rápidos!
Laila começou a direcionar a nave em direção à estrela, que estava cada vez mais perto de explodir. Kokish ficava cada vez mais apreensivo à medida em que se aproximavam da estrela, diferente dos outros passageiros que mantinham sua expressão de aventureiros. Não demorou muito para a gravidade da estrela puxar eles em direção a ela.
--- Não consigo chegar mais perto. Essa nave não vai conseguir suportar mais. Estamos no limite! --- Disse Lailazianna, se esforçando para que a nave não sucumbisse à gravidade, o que não era fácil devido a fraqueza dos motores reserva.
--- Aqui está bom. Obrigado, Laila. --- Disse o Max, agradecendo a alienígena e se preparando para sair da espaçonave.
--- Espere, Maximilian, o que você pretende fazer? Se sair assim, você não terá como sobreviver. --- Preocupou-se Kokish. --- Assim que sair, você será puxado com tanta força que virará pó cósmico em questão de segundos. Nenhum ser do universo conseguiria resistir a uma pressão dessas.
--- Não se preocupe. Eu ficarei bem. Afinal, eu não irei sozinho. --- Max olhou para o espírito Elemental após o invocar. --- A Plaline estará comigo. Ela me protegerá. Assim eu espero. --- Sussurrou a última parte.
Ele seguiu em frente se teletransportando para fora. Imediatamente seu corpo começou a ser puxado para o centro da estrela, fazendo-o perder totalmente o controle sobre si.
“Não se esqueça... eu estou aqui com você... Vamos!... Não deixarei que morra... Vamos!”
Depois de dizer tais palavras, Plaline criou um campo de água que o vestiu feito uma armadura, o contornando como uma aura transparente quase invisível.
O Corpo do Loiro começou a desacelerar-se, o fazendo recuperar os seus movimentos antes perdidos. No entanto, mesmo em ritmo mais lento, ele ainda continuava sendo puxado pela gravidade, o que o levará a um triste fim se nada for feito.
Passou a sentir uma forte ligação vinda do centro da estrela à medida em que se aproximava dela, como se ele fosse um metal sendo atraído por um ímã. O calor que estava sendo emitido pela estrela, já o teria feito virar cinzas, se não fosse pela proteção de água erguido pela Plaline. O mesmo percebendo isso, começou a agradecê-la diversas vezes mentalmente, deixando-a contente por estar sendo útil ao seu mestre.
“Eu... estou... aqui... Diga o meu nome...”
Um forte lampejo de luz surgiu em sua frente, o que começou a entrar em ressonância com a joia em sua posse. No centro desse clarão, um nome surge em chamas azuis.
--- Ifrit! --- Max leu em voz alta.
De repente, depois que leu o nome esculpido nas chamas, algo veio voando em disparada em sua direção, saindo do centro daquela estrela e parando em sua frente.
Maximilian notou se tratar de uma pequena joia com formato oval. Uma linda cor alaranjada misturada ao vermelho rubro, que assemelhavam a chamas vivas, era o que mais se sobressai na joia.
Ela ficou flutuando na frente do garoto até ele decidir pegá-la. Começou a sentir uma enorme energia elétrica percorrendo todo o seu corpo. Diferente da joia da clareza, essa fez com que o corpo dele entrasse em combustão e pegasse fogo, o assustando. Contudo, ao contrário do que parecia, o fogo não estava o queimando, sentia como se estivesse sendo banhado com água quente. Decidiu chamar novamente pelo Ifrit, fazendo a criaturinha sair da joia e aparecer em sua frente.
A criaturinha aparentava ser mais baixa que a Plaline, e diferente dela, ele não possuía asas. Um amarelo claro predominava em seu corpo peludo, diferenciando do contorno avermelhado em torno de seus olhos grandes e pretos, que o deixava com uma aparência de um ser raivoso. Uma tanga laranja cobria as suas partes íntimas, deixando seu peitoral peludo com três pequenas marcas vermelhas circulares à amostra. Seus cabelos arrepiados com as pontas vermelhas se assemelhavam a chamas em uma fogueira.
“Então era você quem estava preso na estrela? E é você que é o irmão de Plaline?” --- Questionou Max em seus pensamentos. Recordando-se das imagens que o espírito da água havia lhe mostrado.
--- Eu sou o espírito do fogo que reside na Joia da Luz. --- Apresentou-se ele após surgir. --- Prazer em conhecê-lo. --- Curvou o seu corpo para uma referência, demonstrando o seu respeito para o seu novo mestre. --- Temo que esteja na hora. Mas não se preocupe, eu vou lhe ajudar.
--- Já está na hora de q...? --- Antes que o garoto conseguisse terminar de falar, foi surpreendido por uma repentina explosão que ocorreu após a morte da estrela, que fez com que fosse jogado com força para longe ao ser atingido em cheio.
Sua visão começou a escurecer, seus ouvidos captavam apenas zumbidos estranhos, e mal sentia o resto de seu corpo. Era chegado a sua hora de morrer? O mesmo temia o inevitável. A cada segundo que passava, seus olhos ficavam mais difíceis de manter-se abertos, até que o alívio de finalmente poder fechá-los atingiu o seu corpo, deixando-o finalmente em paz enquanto flutuava à deriva pelo espaço.
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