Perdendo o controle
Um silêncio sufocante pairava no ar, os passageiros da pequena espaçonave de fuga se mantinham pensativos enquanto aguardavam a revelação da localização da quarta joia elemental. Maurício se encontrava em choque e bastante receoso com toda a informação que havia recebido de seu amigo, que ainda tentava processar todo o ocorrido.
Maximilian entrou em estado de negação a respeito de sua verdadeira origem, se questionando quem era e qual seria o seu objetivo nesse mundo. Ele se pegava refletindo tudo o que o seu pai havia lhe dito, ficando curioso para saber mais das espécies que viviam em Lummynus, incluindo os seus gostos e costumes, e quais características da espécie que havia herdado.
Uma figura rosada cruza o seu caminho, o tirando de seus devaneios e o iluminando com um possível esclarecimento de suas dúvidas e curiosidades.
--- Laila, eu posso falar com você por um momento? --- Ele perguntou segurando em seu braço e a puxando para um canto da nave, onde os outros não pudessem escutá-los, sem perceber o ato que acabou de fazer, mas deixando a alien corada.
--- S-sim, Máxin. O que deseja? --- Respondeu ela querendo desviar os olhos do loiro em sua frente.
Maurício estranhou essa atitude do amigo com a alienígena, e sem perder tempo, começou a provocá-lo com os seus olhares acusadores, insinuando que um romance acontecia entre os dois.
Max notou os olhares do amigo sobre si, no entanto, preferiu focar em tirar as suas dúvidas com a sua amiga alienígena, cujo sentimento amoroso preferiu ignorar.
--- Você, como uma fascinadora de espécies, já ouviu falar sobre os Lummynares? --- Perguntou, após respirar fundo e se enchendo de coragem. Esperava que ela não o questionasse sobre o porquê da pergunta.
--- Os Lummynares...? --- Ela levou a sua mão até o queixo, dando a impressão de que a mesma buscava algo em sua memória. --- Sim, me lembro vagamente dessa espécie que habitava o planeta Lummynus.
--- Como assim, “habitava o planeta”? O que aconteceu com eles? --- A questionou.
--- O planeta Lummynus não existe mais. --- Max arregalou os seus olhos em choque. --- Ele foi completamente destruído á alguns anos atrás pelo próprio ser das trevas, levando todos os lummynares a extinção. --- O garoto ficou sem reação, não querendo acreditar em tais palavras.
--- Todos eles foram mortos? Não existe nenhum lummynare vivo? --- O loiro temia ser o único sobrevivente da espécie, tinha que haver mais alguém.
--- É uma pena, mas essa é toda informação que eu possuo. Nas minhas pesquisas, eu não consegui encontrar nenhum vestígio que leve a crer que haja sobreviventes. É difícil imaginar que o Metäzor tenha deixado algum escapar de sua ira. --- Disse ela deixando transparecer a sua decepção com a sua própria resposta. Ela fitou o humano que estava mais cabisbaixo que ela. --- O que foi, Máxin?
--- N-Não é nada... Obrigado Laila. --- O garoto tentou disfarçar a sua ansiedade e saiu o mais rápido que pôde de perto da alienígena, antes que a mesma começasse a fazer perguntas que ele não poderia responder.
Horas haviam se passado e nada do localizador capitar algum sinal da joia. Max estava impaciente. Sua ansiedade e irritação o levou a andar de um canto a outro dentro da nave, preocupando todos os outros passageiros. O seu amigo até tentava acalmá-lo de vez enquanto, mas isso só o deixava ainda mais impaciente. Decidiu encostar em um assento mais afastado da nave, um lugar isolado que possuía apenas um assento ao fundo e baixa iluminação, onde poderia relaxar com mais conforto. Tentou dormir um pouco, no intuito de descansar o seu corpo e mente que estavam exaustos, porém, uma queimação em seu corpo o impedia de fechar os seus olhos.
A queimação em seu corpo aumentava conforme a sua inquietação crescia, deixando o seu rosto vermelho pela sensação de calor que passou a sentir, além de uma pontada de raiva que emergiu sem uma explicação aparente, junto com uma coceira aguda incessante em sua garganta que o fez ferir a sua pele de tanto coçá-la como consequência.
Ele tentou ignorar a irritação, mas era como se uma pequena chama estivesse queimando dentro dele. Seus músculos se contraíram, e ele apertou os punhos. Fechou os olhos e respirou fundo, buscando afastar esses sentimentos inquietantes que persistem dentro de si. O que estava acontecendo? Buscou compreender a situação, mas falhou.
Passou a escutar barulhos de risadas vindo dos outros passageiros, que riam de alguma coisa que ele não conseguia entender.
“Que irritantes!”
Ele não fazia ideia do que estava acontecendo com si mesmo, e a distração de seus amigos em não notar o seu sofrimento passou a incomodá-lo. Sua vontade de pedir por ajuda estava sendo restringida pelo seu corpo, que o limitava de se mover ou gritar por socorro, deixando escapar apenas baixos gemidos em agonia.
“Inúteis! Todos eles são inúteis!”
Sua visão escurecia conforme os seus pensamentos se limitavam. As cores de seus olhos esverdeados passaram a ser dominados por um vermelho intenso e sombrio, revelando uma súbita mudança em sua personalidade. De repente, uma dor imensurável se alastrou no resto de seu corpo, dando-lhe vontade de gritar até ficar sem voz, mas foi impedido por sua boca que não seguia o seu comando. A sensação era como se algo tivesse o dilacerando por dentro buscando saída, um veneno perigoso injetado em seu corpo que não pararia até atingir o objetivo de dominá-lo ou matá-lo.
“Eles estão atrapalhando! Só posso confiar em mim mesmo. Preciso me livrar deles!”
Uma raiva que passou a dominá-lo chegou ao seu ápice. Sua racionalidade e consciência se limitou ao seu instinto selvagem e de sobrevivência, enxergando tudo e todos como sendo inimigos a serem superados.
Maximilian se levantou de seu assento, seus olhos não eram mais os mesmos, chamou pela joia da Luz que estava no localizador, que atendeu ao seu chamado e veio voando em sua direção, chamando a atenção dos demais.
--- Max, o que você está fazendo? --- Maurício perguntou ao amigo, estranhando o jeito que o mesmo segurava a joia. Se arrepiou ao avistar as cores nos olhos do garoto loiro.
Com a joia em sua posse, Maximilian passou a admirar as cores dela, a levantando por cima de seu rosto, e com uma rápida encarada nos olhos curiosos dos seres que o fitava, deixou escapar um sorriso presunçoso antes de pôr o objeto em sua boca e a engolindo no mesmo instante e fazendo o mesmo com a outra joia em seu colar, deixando todos chocados sem entender o motivo.
Seu coração começou a palpitar em um ritmo frenético, deixando o garoto loiro em estado de êxtase. Ele ficou completamente hipnotizado com o tamanho do poder que passou a percorrer em seu corpo, não se contendo em gargalhar de satisfação.
“Eu sou indestrutível agora!!!! Ninguém poderá me deter! Preciso de mais poder. Vou me transformar no Deus de todo o universo!!!” --- Revelou em seus pensamentos.
--- O que é isso, Max? Você está bem? --- Preocupou-se Maurício, enquanto tentava se aproximar do amigo.
O som da voz de seu amigo, fez com que o garoto loiro recobrasse um pouco de sua sanidade, e passou a encará-lo com seus olhos esmeraldas.
--- Fique longe!!! Não sei o que está acontecendo comigo. Sinto que tem alguma coisa errada. --- Alertou Max, tentando se conter, pois por motivos que ele desconhecia, estava com muita vontade de machucar os seus amigos. --- Fiquem longe de mim!!!
--- O que está... --- Maurício encostou no ombro de seu amigo, mas foi surpreendido por um forte jato de água que saiu das mãos do loiro, o atingindo em cheio e o levando a bater a sua cabeça com força na queda ao ser arremessado no chão metálico.
--- Maximilian, o que foi isso? --- Kokish arregalou o olho assustado e se apressou para socorrer o humano que ficou inconsciente no chão.
“Mate-o agora!!! Não deixe que ninguém interfira em seu caminho.” --- Uma voz ecoava em sua cabeça.
--- Eu falei para vocês se afastarem! Tem alguma coisa errada acontecendo comigo, não estou conseguindo me controlar. --- A sede por destruição estava ficando ainda maior dentro do Max. Uma sede que só seria saciada com a morte de todos ali.
--- Máxin, seus olhos... Não me diz que...--- Laila se surpreendeu ao avistar os olhos escarlates do garoto, juntando as peças quando escamas azul-esverdeadas passou a surgir no rosto dele. --- Você é um Lummynare?
Maximilian simplesmente a ignorou, pois passou a sentir uma força maior o chamando. Uma joia elemental que ressoava com as outras dentro de seu corpo, como uma força invisível que clamava para ser obtida.
“Esse poder... Eu preciso dele!”
O garoto já não se encontrava mais com o controle de seu próprio corpo, sua ambição por possuir mais poder havia lhe dominado. Seus olhos, outrora gentis, agora brilhavam com uma cobiça insaciável. Ele liberou as suas asas grandes e azuis que estavam sendo sufocadas por tempo demais, se preparando para sair daquele lugar. No entanto, sua saída foi impedida pela Lailazianna, que o segurou com os seus quatro braços ao entrar na sua forma natural de combate, após ativar sua habilidade de destruição de sangue, mesmo correndo o risco de vida.
--- Não sei o que está acontecendo com você, mas não deixarei que faça o que bem entender! --- Disse ela com sua voz firme, enquanto segurava o garoto com toda a força que possuía. --- Volte a si, Máxin!
--- Quem você pensa que é? --- Seus olhos, frios como aço, fixaram-se na Laila, e sua voz ecoou pelo ambiente, profunda e ameaçadora, fazendo os joelhos dela tremerem. --- Você ousa cruzar o meu caminho? --- Sua voz se intensificou, rasgando o silêncio, e liberando um círculo mágico que cobria o chão por debaixo de seus pés. Ao ativá-lo, uma pressão de vapor emergiu dentro do círculo, que teve a sua temperatura elevada até virar uma muralha de fogo. O garoto riu em desdém com a queda da alienígena sob os seus pés, que não aguentou ter o seu corpo queimado pelas chamas.
“Criatura fraca! Não aguenta um simples foguinho? Que decepção. Não merece que eu suje as minhas mãos com você.”
--- Caso não queira compartilhar o mesmo destino deles, --- Seu olhar recai nos dois caídos inconscientes no chão metálico. --- sugiro que fique bem longe do meu caminho, e não ouse me seguir, se não... --- Seu olhar ameaçador foi o suficiente para o Kokish entender a mensagem.
Sem perder mais tempo, ele saiu voando pelo enorme buraco no casco da nave, que havia se formado anteriormente pela sua pequena demonstração de força, indo em direção ao objeto que o atraía.
Maximilian saiu da nave sem nenhum remorso com o que poderia acontecer com os que ficaram para trás, mesmo ciente dos riscos que seus amigos corriam com a perda nas forças dos motores, devido a pressão gigantesca que entrava dentro da espaçonave pelo grande rombo no casco dela. O garoto já não se importava mais com eles, sua mente agora estava focada somente em um objetivo, conquistar o poder que chamava por ele.
Ele seguiu voando sem olhar para trás, sem perceber, ou apenas ignorando, as chamas que saíam do objeto voador que carregava os seus amigos a bordo. Estar exposto ao espaço não o afetava mais, mesmo sem o seu traje espacial, ele conseguia manter a sua respiração e temperatura fluindo normalmente.
Em uma velocidade fora do normal, o garoto passou por várias estrelas, planetas e meteoritos sem desviar de seu caminho, conseguindo chegar rapidamente em um planeta desconhecido, onde mantinha-se escondido a quarta joia.
O planeta é pequeno, aproximadamente do tamanho do planeta Mercúrio. É azulado em seu todo, com faixas de gás esverdeado o rodeando.
Maximilian entrou sem nenhuma dificuldade, mesmo com o planeta obtendo mais pressão atmosférica que os outros visitados anteriormente. Ele avistou flocos de neve caindo sobre as montanhas de gelo que cercavam o ambiente. A temperatura chegava facilmente abaixo de zero, congelando qualquer um em instantes ao adentrar aquele planeta. No entanto, graças aos poderes que possuiu ao consumir o Ifrit, isso não o afetava em nada.
Max recolheu as suas grandes asas após pousar no chão congelado, para não ser pego pelas tempestades congelantes que aconteciam a cada momento.
À medida em que ele avançava, o chamado da joia se intensificava cada vez mais. Sentia-se atraído por ela como um inseto que se sente atraído para luz, uma força magnética que ele não conseguia resistir, ou simplesmente deixando-se levar por ela e a usando como uma bússola para se teleguiar naquela tempestade de gelo que bloqueava a sua visão. Sua vontade era de queimar tudo, liberar em total o poder do Ifrit, mas temia não conseguir se controlar e acabar destruindo o planeta junto com o seu objetivo. Com isso em mente, optou por tentar se controlar, o que aumentava a sua raiva a cada minuto que se segurava.
Um estrondo ensurdecedor foi audível no local, como um rugido de um Titã adormecido que acaba de despertar de seu sono milenar. Max sente o solo tremer sob seus pés e se prepara para enfrentar uma possível avalanche que viria em sua direção. No entanto, sua percepção nota que o barulho não poderia ser de uma avalanche comum, e seus instintos o alertavam das rochas incomuns que se moviam por vontade própria e que usavam a neve para ocultar a sua presença.
Ele segue em frente com passos pesados e cautelosos, devido a dificuldade por estar indo contra os ventos que chicoteiam seu rosto. O chão escorregadio não se tornou um problema para ele, que caminhava como se estivesse andando em um campo de grama.
Maximilian para de caminhar ao sentir que estava sendo cercado pelos inimigos. Eles são como fantasmas, habilidosos em se camuflar na tempestade. Ele soltou um sorriso presunçoso em alegria, após perceber que estava totalmente cercado por raivosos olhos amarelos.
“Finalmente...um pouco de ação!”
Um a um, os inimigos foram se revelando, rosnando alto para assustar a sua presa. Suas pelagens brancas da cor de neve, davam a eles a habilidade perfeita de camuflagem, apesar de possuírem três metros de altura, que eles usavam com maestria para atacar as suas presas com os seus poderosos e afiados dentes-de-sabre. Seus olhos amarelos em tons alaranjados, se destacavam em toda a manada.
--- O que são vocês? --- Max perguntou por curiosidade, mesmo não dando a mínima pela resposta.
Sons de rosnados foi o que ele obteve de resposta, deixando-o irritado por não ser respondido.
“Quanta petulância! Pagarão com as suas vidas por isso.”
As feras avançaram em sincronia querendo acertar o Max, que apenas se dispôs a estar desviando dos ataques sem nenhuma dificuldade. As garras afiadas das feras fariam um rasgo enorme no corpo do garoto se conseguissem acertá-lo, mas elas eram lentas demais para ele, que se divertia com as tentativas frustradas delas. O loiro queria fazê-las sofrerem por tê-lo insultado antes, queria presenciar os olhares de desespero delas por saberem que não poderiam derrotá-lo. As feras poderiam ser apenas animais selvagens que não sabiam se comunicar? Sim, poderiam. Contudo, o garoto não se importava com isso, queria apenas uma desculpa para poder se extravasar, considerando elas como sendo as cobaias perfeitas para ele poder liberar a sua raiva contida.
--- Me cansei de brincar com vocês. Agora é a minha vez de atacar! Plaline e Ifrit, apareçam! --- Max invocou os dois espíritos que surgiram em sua frente. --- Veremos do que sou capaz. --- Ele usou o poder do Espírito da clareza para criar um círculo de fogo ao seu redor, forte o suficiente para parar a nevasca de atingi-lo e afastar os inimigos que temiam as chamas. Passou a se concentrar, pensando em como iria contra-atacar as feras que entraram em seu caminho. Com sua mão esquerda agarrou o Ifrit e com a sua outra mão agarrou a Plaline, que se transformaram em seus respectivos elementos e uniram com as mãos do garoto. --- Agora sumam!!!
Lentamente, ele aproximou as mãos, criando uma bola de água em chamas condensadas por entre o vão delas. A bola se transformou em um vapor tóxico, que avançou em direção às suas vítimas como se tivesse consciência própria. As feras respiram a fumaça misteriosa sem se darem conta, apenas notando tarde demais. A fumaça tóxica corroeu as feras por dentro, atacando os seus órgãos internos até chegar em seus cérebros, os matando em segundos. Foi uma total chacina, mas o garoto encarou aquilo com desdém, não se incomodando pelas vidas tiradas, pelo contrário, adorou a sensação de se sentir superior.
Maximilian volta a seguir o seu caminho, sem olhar para trás, apenas visando o seu objetivo à frente.
Depois de horas caminhando, finalmente chega perto do lugar em que a joia se escondia. O sinal que ressoava com os objetos em sua posse, estava vindo do alto de uma montanha azulada. Max sorriu liberando as suas asas e voando para alcançar o seu objetivo, localizando a joia presa dentro de um bloco de gelo em um altar, e se banhando com um pouco do poder que estava sendo emanado dela.
Ele se aproximou para pegá-la, mas não procedeu. Uma gigantesca e ameaçadora energia, vinda no horizonte, chama a sua atenção, um ser poderoso se aproxima em alta velocidade em sua direção.
--- Esse poder é meu!!! --- Disse a estranha sombra que pousou por detrás do garoto, o fazendo se virar para encará-lo. Abriu um largo sorriso após reconhecer o alienígena em sua frente, o servo do ser das trevas. --- Finalmente eu te encontrei, sobrevivente dos Lummynares!
Enquanto isso, em um canto remoto do cosmos, uma ameaça se aproximava do planeta Uriart, uma escuridão densa e tenebrosa, que trazia consigo as trevas que habitam nas profundezas do universo, cheirando a morte, e almejando devorar tudo o que encontrasse em seu caminho.
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