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Introdução

   Um casal aproveitava uma tranquila viagem em família com  seu pequeno filho em um velho barco de madeira, quando são surpreendidos por uma mudança repentina no tempo. Sem perceberem, se viram presos no coração de uma tempestade feroz. Os ventos uivavam, criando ondas colossais que se erguiam como gigantes antes de se quebrarem violentamente contra o barco, balançando-o de um lado para o outro com muita força. Gotas pesadas de chuva caíam incessantemente, e os rugidos dos trovões ecoavam no céu cinza, seguido por relâmpagos que iluminavam a escuridão.

   O pequeno filho do casal começou a chorar, assustado pelos sons horripilantes  e pela instabilidade do barco. Ele sentia no ar que algo ainda pior estava prestes a acontecer,  especialmente ao perceber a súbita mudança na expressão de sua mãe. Ela, agora pálida de terror, olhava desesperadamente para seu marido em busca de segurança que parecia impossível naquela situação.
  
   No céu,  além das nuvens turbulentas, uma misteriosa sombra se formava no horizonte, trazendo consigo uma escuridão que parecia devorar a luz ao redor. Era como se a própria noite tivesse ganhado vida. Daquela sombra, surgiu um par de olhos escarlates, como larvas incandescentes de um vulcão.  Eles se fixaram na família com uma intensidade ameaçadora, lançando um calafrio profundo nos corações dos que os avistavam.

--- Eu não acredito que ele nos achou, aahhh... Alguém deve ter nos traído! --- Avisava em desespero o homem para a mulher, que mantinha sua atenção na escuridão acima deles. --- Não sei por quanto tempo eu vou conseguir afastá-lo.

--- Querido... o que vamos fazer? --- Perguntou ela, temendo pela vida de sua família. Ela se esforçava para manter o seu filho seguro da chuva que caía sobre eles.

   Aflito, o marido cogitou nos piores cenários que poderiam acontecer e nas consequências que isso traria para a sua família.  Felizmente, uma luz surgiu após sua visão recair nos olhos de choro de seu filho. Havia uma esperança.

--- Acho que devemos mandar o nosso filho...--- Antes que ele conseguisse dizer alguma coisa, um raio feroz rasgou o céu e atingiu o barco com um estrondo  ensurdecedor,  despedaçando-o em mil pedaços.  A explosão de energia arrancou a criança dos braços de sua mãe, lançando-a violentamente para o mar agitado. Seus gritos de pavor foram rapidamente abafados pelo barulho da tempestade, enquanto ela desaparecia nas águas turbulentas.

   O menino se afogava, sentia a água salgada adentrar cada vez mais em seus frágeis pulmões, enquanto perdia a sua consciência. Mas antes de sua visão escurecer completamente e já esperando pela morte, conseguiu ver uma luz que brilhava intensamente em meio ao mar escuro e tenebroso, que chamava pelo seu nome, porém, por alguma razão que o próprio desconhecia, ele não temia essa luz, pois parecia que algo entre ela lhe era familiar, o que o fazia se sentir acolhido e amado.

   Ao recobrar a consciência, percebeu que estava boiando em cima de um dos destroços do barco. Totalmente sem forças, com a barriga roncando mais alto que seus próprios pensamentos,  mal conseguia manter os seus olhos abertos devido ao peso que sentia em suas pálpebras. A tensa chuva que caía sobre si, limitava ainda mais a sua visão. Tudo o que sua vista alcançava era um vasto e imprevisível mar. Mas logo preferiu que as águas o tivessem  levado, pois o sentimento de solidão o invadiu após perceber a ausência de seus pais. Ele se sentiu abandonado, afundando não só naquelas águas frias, mas também em um profundo desespero.

Com o passar do tempo, sua memória começou a ser afetada, esquecendo de quem era e de onde viera. Sua única companhia era uma pedra transparente em formato de uma gota d'agua que se enrolava em seu pescoço.

O menino ficou boiando por horas, talvez dias, naquele pequeno pedaço de madeira, sem nada no estômago que preenchesse o vazio em sua barriga. Ele estava faminto. Perdia a sua consciência mais vezes do que podia contar. Sua força estava completamente esgotada, até que em um certo momento, sentiu uma mão delicada o envolver  e  resgatá-lo daquelas águas. Antes de desmaiar novamente devido à exaustão e a fragilidade de seu corpo, escutou uma voz doce dizendo que tudo iria ficar bem e que cuidaria dele.

Quando acordou, percebeu que estava deitado em um berço antigo de madeira, com alguns bichos de pelúcia espalhados pela cama. O quarto era humilde e simples, possuindo apenas uma cama de solteiro e um criado-mudo retrô que suportava um abajur branco ao seu lado. As paredes, de cores bege claro, deixava o ambiente mais harmonioso e aconchegante. Ele ainda estava com fome, e apesar do ambiente acolhedor, o medo tomou-lhe conta, o que o fez começar a chorar aos prantos.

Ouvindo o choro da criança, uma mulher jovem adentrou o quarto e se aproximou do menino no berço. Ela aparentava ter seus 20 anos de idade. Suas mechas ruivas deixavam o seu rosto mais fino. Ela vestia uma blusa azul com alguns detalhes floridos e uma calça jeans básica.

A mulher simplesmente parou na frente do menino e o encarou com os seus olhos castanhos esverdeados que transmitiam uma profunda calmaria. Quando menos esperava, um belo sorriso se formou no rosto da mulher, transmitindo calor e conforto. Esse sorriso o fez se acalmar de imediato e retribuir de volta com um pequeno sorriso tímido em seus lábios, como em resposta automática de seu corpo. Era como se, naquele momento, todo medo e desespero que ele sentia, tivesse sido dissipado pela presença tranquilizadora da mulher.

   Mariana, a mulher dos cabelos de fogo, reparou em um brilho incrível nos olhos da criança, e não demorou muito para querer adotá-lo como seu filho, batizando o menino como Maximilian Steven. A própria não soube explicar de onde tirou esse nome extravagante, mas acreditava que ele não poderia ser chamado de outro jeito.

   O tempo passou-se, rápido demais aos olhos de Mariana, pois o seu amado filho já iria completar os seus 16 anos, aniversário do dia em que ela o havia encontrado.

   Max, um garoto magro de corpo frágil, só desejava uma coisa como presente de aniversário: uma grande aventura. Devido às suas condições físicas, ele nunca foi capaz de se divertir com os seus colegas de escola, pois sempre desmaiava ou se machucava com facilidade, e isso fazia com que fosse frequentemente humilhado e rejeitado por eles. Seu único e melhor amigo, Maurício, era um ano mais velho que ele, mas sempre se divertiam juntos como duas crianças travessas, não se importando com as opiniões aleias. Os dois adoravam tudo do mundo Geek, mas as suas paixões em comum, era o universo e tudo o que nele continha. Max sempre imaginou como seria estar no espaço, viver por entre as estrelas, e agarraria a primeira oportunidade de viver esse sonho. Mal sabia ele, que esse sonho estava prestes a se realizar. Uma visita inesperada iria abalar o seu mundo e trazer respostas que sempre procurou saber. Só não esperava os perigos que teria que se submeter para obtê-las.

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