22-A primeira batalha
(1630 palavras)
Fim da tarde, princípio da noite, a lua destacava-se no céu. À beira-mar, na areia dourada, apareceu uma luz. Os sete magos surgiram e a luz desapareceu. Em frente, separado pelo mar, a quatrocentos metros, erguia-se o ilhéu rochoso. O Ilhéu da Cal, onde a Dama de Vermelho tinha o seu ninho.
Ouviu-se um barulho sinistro, como se fossem cães danados em atroz agonia. Sete monangis vinham em direção aos magos, lançando setas de fumaça. Triny, tentou desacelerar o movimento das setas, não tanto como pretendia, eram setas estranhas de pouca solidez. Da areia saíram cipós invocados por Niobe. Quando se agarraram aos pés metálicos dos monangis, não tiveram grande efeito. Estas criaturas são sobrenaturalmente fortes e rasgaram o cipó.
O Mestre tentava criar uma ilusão que aprisionasse os monangis na sua mente. Era um esforço em vão, pois não conseguia detetar memórias nas criaturas para as iludir, tinha que os enganar através do pensamento e dos sentidos.
Cyph, de braços levantados, tentava retirar a maldade, o veneno aos monangis, não conseguia, ou as criaturas não tinham veneno, ou a malvadez era de outro mundo. A mesma sensação tinha sentido em Edolon, quando o viu pela primeira vez, sem maldade alguma, isso não é possível. Um pensamento lhe trespassou a mente, e gritou para todos ouvirem:
— Não confiem em Edolon!
Dionísios, usava a sua esfera, o geoastrolábio, como um 'boomerang', tentando trespassar, os monangis. Acertou num, deixando um buraco, um cilindro vazio, no peito do monangi. Este deu 3 cambalhotas no ar e elevou-se uns 3 metros acima, enquanto o buraco se materializava novamente, reconstituindo-se como se de metal líquido e cromado se tratasse. O monangi disparou uma rajada de setas contra Dionísios, não tinha como se salvar. Felizmente apareceu Apolíneo que o teletransportou in extremis.
A mesma sorte não teve Cyph, quando dezenas de setas apareciam vindo de todos os lados na sua direção, Triny tentou travar o movimento das setas, eram demasiadas. Uma delas trespassou o coração de Cyph. Que levantou imediatamente o nariz, e se movimentou, seguindo o cheiro da Dama de Vermelho. Cyph, seguia a Dama de Vermelho, mas não era ela que via, neste estado de êxtase luxurioso, imaginava Triny de vermelho à sua espera.
Triny chamava, desesperada, por Cyph, mas este não ouvia, o seu caminho era só um, sem dúvidas sem remorsos o caminho da luxúria.
O Mestre descobriu uma ilusão, não é coisa fácil, pois em criaturas que não tem memória, é difícil iludir a mente. Talvez por este motivo ainda não tenha aparecido em sonhos a Edolon para o treinar. O Mestre conseguiu que os Monangis vislumbrassem nos outros Monangis uma criatura de maldade pura e, consequentemente, os Monangis começaram a se atacar. Estava perplexo, pois havia criado a ilusão de que seis monangis acreditassem que a outra criatura era de bem puro, e eles não se sentiam impelidos a atacá-lo. Edolon, ao longo da batalha, tentou usar magia, sem qualquer resultado.
. Sentia-se impotente. Mas quando o mestre criou a ilusão, que levou os monangis a atacarem-se entre si, sentiu um ímpeto incontrolável. Derrubou o mestre e interrompeu a ilusão. Os monangis, aproximaram-se impetuosamente contra o mestre. Niobe, em aflição, evocava lianas, Triny tentava atrasar o movimento ora das setas, ora dos monangis. Dionísios, dançava com a sua esfera, a fazia rodar sobre si e a arremessava sem parar contra os monangis, que só os atrasava. Enquanto Apolíneo tentava deslocar os companheiros de um lado para outro diante do perigo eminente.
A maior deceção foi ver Edolon destruir a ilusão do mestre. Ele era o escolhido, como poderia ter feito algo que os prejudicasse? Como podia estar ao lado das forças ocultas? "O escolhido será excluído!" e "Não confiem em Edolon!" ecoavam nas suas mentes como se estivessem num sino.
A Dama de Vermelho aproximava-se, Cyph tendia para ela. Quando se abeiraram um do outro, um manto vermelho os envolveu. O mar calmo, contrastando com a agitação da batalha, banhava os pés de ambos, sem arrefecer o ardor.
Edolon, estava atónito, embasbacado com o que havia feito, como podia ter traído os únicos amigos que tinha? Quando os monangis estavam prestes a tocar no mestre, Edolon meteu-se à frente, numa tentativa de dar a vida pelo mestre. À vista de todos ali, algo de estranho aconteceu. Quando os monangis encararam Edolon, travaram a sua marcha, não atacaram, inverteram a sua marcha e dirigiram-se para a mãe.
O manto vermelho ainda enrolava os dois. Os monangis pegaram no manto vermelho que continha Cyph e a Dama e voaram para o ilhéu rochoso esburacado por grutas.
O Mestre, ainda incrédulo. Estaria Edolon em conspiração com estas criaturas? Não, isso não, tinha que haver uma explicação, senão todo o mundo que conhecia ruiria naquele momento. Oraca dissera ser o escolhido. Oraca não se podia enganar era a sua deusa. Agora era hora de tomar decisões. Criou uma ilusão na mente de Edolon, correntes pesadas saídas da areia atiraram-no para o chão, prendendo-lhe os pulsos e os tornozelos.
Tinham que derrotar as criaturas e a Dama de Vermelho, mas principalmente salvar Cyph. Juntaram-se todos em volta de Apolíneo. Triny saiu da roda que formaram correndo para Edolon, ajoelhou-se a seu lado e abraçando-o, disse:
— Agora temos de ir, mas voltarei, nunca te abandonarei!
Já com Triny na roda, partiram rumo ao ilhéu, deixando um clarão atrás de si.
Edolon, estendido, aprisionado na areia, rendia-se à vergonha. Os amigos não mereciam o que ele fizera, e agora que destino lhes reserva naquele ilhéu. Seria ele, uma criatura semelhante aos monangis, fora mau em outra vida, da qual não tem memória? Estaria ao serviço do Corvos? Não do Corvos, não, pois este tinha-o atacado. Se tivesse estado ao serviço do mal, ainda bem que havia perdido a memória, mas como poderia viver agora com o peso da traição nas costas?
A noite já tinha invadido a praia. Edolon ouviu passos de veludo. Uma voz surgiu:
— O sentimento é mais forte que o pensamento. Sentir é viver, pensar é tornar o sentimento entendível, — falou o leopardo acabado de aparecer.
— Como posso pensar com o coração se ele está consternado, envergonhado? — inquiriu Edolon.
— O que pensaste, quando impediste a ilusão do mestre?
— Nada, foi um impulso, só posteriormente é que me dei conta, de ter a sensação que os monangis por qualquer razão não eram maldosos, apesar de praticarem atos hediondos.—disse Edolon.
— Deixa-te levar pelos sentimentos — disse o leopardo, que prosseguiu a falar — a alma humana tem um núcleo bom e um núcleo mau, os dois estão ligados por uma infinidade de raízes. Como uma corrente alternada. É preciso essa corrente para produzir emoções, sentimentos e pensamentos. Os monangis estão desequilibrados, alguém lhes arrancou o núcleo mau. Como ficaram só com o núcleo bom, eles não produzem emoções, querem apenas equilíbrio. Procuram a maldade nas pessoas para se equilibrar num desejo e ímpetos inconscientes, animalescos. Os monangis são a alma boa das pessoas, que foi roubada.
— O que acontece às pessoas? — perguntou Edolon.
— A dama de Vermelho suga-lhes a alma toda, ficando com a parte má, e deixando a parte boa nos ovos de onde nascem os monangis. — falou o leopardo.
— Ainda é possível salvar o Cyph?
— Se a Dama de Vermelho ainda não entregou a alma ao Corvos, talvez. A escolha será tua.
— Como posso soltar-me e como posso ajudar os meus amigos? — disse Edolon.
— Eu não vejo correntes nenhumas, elas estão na tua mente. Recorda o branco que vistes, na casa do mestre e posteriormente na floresta em que derrotaste os corvos.
O Leopardo desapareceu. A lua que iluminava a noite, foi interrompida por uma nuvem negra. Um bando de corvos, aos milhares, povoavam os céus.
Edolon, sentia na sua mente uma calma profunda, tudo branco, apenas raios luminosos, intermitentes, uma infinidade deles rasgavam o espaço. Era como se estivesse dentro do seu cérebro, observava os pensamentos a circular. Mas não podia de deixar de pensar que estava preso, mesmo que soubesse que era uma ilusão. Ali caído, na vergonha, teria coragem para quebrar as correntes? Carácter e determinação para superar a ilusão?
Ao longe, ouviu a voz do leopardo — de alguém pelo número de quedas, mas sim pelas vezes que se levanta, ao cair se aprende, ao levantar-se se supera.
No exterior, ali naquela praia, sentiu três vultos a aproximarem-se, um era o seu conhecido Edmundo, outro o Corvos, e um terceiro que não lhe reconhecia a voz. Por estranho que lhe parecesse não sentiu medo, viu pensamentos de medo a atravesar-lhe o cérebro, mas não os sentiu. Era como se ele próprio fosse um observador.
E o leopardo falou novamente — Eles não te vêm, se mantiveres a calma, Corvos alimenta-se de pensamentos cíclicos em corrente de um só sentido com alta frequência.
Ouviu a voz do Corvos:
— Mervogian, procura esse humano que derrotou os meus corvos.
— Grande Corvos, os seus pensamentos de medo e vergonha tiveram origem aqui, não compreendo. Ele devia estar aqui. — disse o terceiro homem de nome Mervogian.
— Precisamos de chips mais potentes, — disse Corvos, olhando para Edmundo.
— Sim, Grande Corvos — disse Edmundo.
Edolon pressentiu que Edmundo era o único, dos três que o via, estaria do seu lado, tudo indicava que sim, isso o tranquilizava ainda mais.
— Agora vamos para o ilhéu, preciso das almas que Marta coletou e de derrotar aqueles intrometidos.
Corvos, agarrou nos outros dois e voou para o ilhéu.
Edolon, olhava para dentro da sua mente, como se estivesse num salão sem fim, todo branco. Escolhia os pensamentos, com as mãos, descartava alguns, viu outros em forma de correntes e os apagou. As correntes partiram. Já tinha ouvido falar de teorias da psicologia e de objetivos de meditação que o ser humano podia escolher os seus pensamentos. Mas assim literalmente nunca havia imaginado.
Edolon estava livre, precisava salvar os seus amigos.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro