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Mathias e o Paradoxo

Mathias nunca havia acreditado em destino. Para ele, o mundo era feito de fórmulas previsíveis, cada uma girando com precisão matemática. Como mecânico, sua vida se baseava em precisão, engrenagens encaixando perfeitamente, óleo lubrificando o movimento certo no momento certo. Mas quando se mudou para aquela casa antiga, há mais de trinta anos fechada, começou a perceber que algumas peças não seguem lógica alguma.

Ele havia comprado aquele imóvel depois de anos de desejo, juntando dinheiro pacientemente para finalmente tê-lo. Desde pequeno, passava em frente àquela casa e imaginava quem vivera ali, quais histórias suas paredes escondiam. Quando soube que estava à venda, não hesitou. Fez sacrifícios, economizou cada centavo e, quando finalmente recebeu as chaves, sentiu um misto de realização e ansiedade. Aquela casa agora era sua, mas trazia consigo um passado que ele ainda não compreendia completamente. Sempre acreditou que aquele lugar tinha algo especial, e agora, ao pisar nela como proprietário, sentia um misto de realização e inquietação.

A casa, apesar de sua fachada gasta pelo tempo, tinha um charme peculiar. Um muro alto cercava a propriedade, dando-lhe um ar de mistério, e do outro lado da rua, um prédio imponente se erguia, dominando a paisagem. No quarto principal, um armário embutido chamava atenção. Era uma peça imponente, feita de madeira maciça, adornada com entalhes rebuscados e puxadores de bronze envelhecido. Ao arrumar suas roupas, Mathias percebeu que uma tábua no fundo do armário estava solta. Ao tentar consertá-la, sentiu um frio subir pela espinha: havia um espaço oculto atrás dela.

Com curiosidade e receio, Mathias tocou a tábua solta com as pontas dos dedos, sentindo a aspereza da madeira envelhecida. Ao pressioná-la, ouviu um estalo seco. O coração acelerou. Inspirou fundo e, com um impulso decidido, empurrou-a de lado. A escuridão que surgiu atrás dela parecia engolir a luz do quarto. O cheiro de poeira e mofo preencheu suas narinas, e um frio estranho percorreu sua espinha. Hesitou por um instante, mas a necessidade de saber o que havia ali foi mais forte. Engoliu em seco e atravessou, sentindo o ar denso e pesado ao seu redor enquanto pisava hesitante no desconhecido. Em um piscar de olhos, sentiu um arrepio na pele ao sair do outro lado... para o mesmo quarto. Mas algo estava errado.

O quarto estava vazio. Mathias percorreu a casa em busca de sinais de vida, mas tudo estava abandonado. Os móveis haviam desaparecido, o cheiro de mofo impregnava o ar, e o silêncio era quase ensurdecedor. Cada cômodo que verificava confirmava a mesma realidade: a casa estava completamente deserta.

Confuso, Mathias olhou pela janela e percebeu que o prédio enorme que sempre esteve ali... não existia. Em seu lugar, um terreno baldio cheio de mato alto, cercado por arames farpados, estendia-se como um vazio perturbador. A estranheza da cena fez seu estômago revirar, e então ele decidiu ir até a rua. Correu até a porta da frente e sentiu um choque. Os carros pareciam velhos demais para serem normais. Um Gol quadrado passou devagar, com um ronco característico.

Andou um pouco mais e encontrou uma banca de revistas. As capas dos jornais e revistas mostravam um Brasil em festa. "Tetra Brasil!" dizia uma faixa, e fotos de Bebeto e Romário estampavam todas as capas. Pegou um jornal e conferiu a data: 20 de abril de 1994.

O coração disparou. Ele não havia apenas encontrado um cômodo escondido. Havia descoberto uma fenda temporal.

Com a mente fervilhando, Mathias voltou correndo para casa e atravessou novamente a passagem no armário. Saiu no mesmo quarto, mas agora mobiliado. Espiou pela janela e o prédio do outro lado da rua estava de volta a 2025. Carros novos passavam normalmente.

Depois de vários testes, percebeu que sempre que atravessava, retornava ao exato momento em que havia deixado o presente. No entanto, ao viajar para o passado, sempre chegava no mesmo dia: 20 de abril de 1994, exatamente ao meio-dia.

Ele pensou em contar a alguém, compartilhar aquele segredo inacreditável. Mas quem acreditaria nele? E, mais do que isso, em quem realmente confiava para carregar um conhecimento tão poderoso? Não havia ninguém. Ele estava sozinho com essa revelação e com a responsabilidade que ela trazia.

E então, uma ideia começou a tomar forma em sua mente.

Se podia viajar para o passado, poderia mudar a história. Mathias sempre fora apaixonado por carros e fã de Fórmula 1, especialmente de Ayrton Senna. Seu amor pela mecânica nascera dessas manhãs de domingo, quando, ainda criança, assistia às corridas ao lado do pai. Sempre se emocionava ao ver seu ídolo subir ao lugar mais alto do pódio enquanto o hino nacional tocava. Foi essa paixão que o levou a se tornar mecânico.

Agora, diante da oportunidade única que tinha nas mãos, havia algo que ele precisava tentar: salvar Ayrton Senna. Mathias lembrava-se do sofrimento que ele e seu pai haviam sentido quando o ídolo morreu. O vazio que aquela notícia trouxe foi esmagador. As lágrimas deles faziam uníssono com a tristeza de toda a nação, um luto coletivo que parecia jamais ter fim. Ele não conseguia esquecer o silêncio na sala de casa, o olhar perdido do pai, a dor que parecia impossível de ser curada. Agora, talvez pudesse mudar tudo.

Sabia que Senna morreria no fatídico Grande Prêmio de San Marino, em 1º de maio de 1994. Como mecânico e profundo conhecedor de automobilismo, Mathias sabia exatamente o que havia ocorrido com o carro. O Williams FW16, de número 2, era equipado com um motor Renault V10, mas sofria com uma aerodinâmica instável e um problema recorrente na coluna de direção. O dano fatal ocorreu devido a uma falha estrutural no eixo dianteiro direito, fazendo com que o carro perdesse totalmente a capacidade de resposta na curva Tamburello. Mathias pensou: "a única maneira de evitar o acidente é se o carro estragasse antes de iniciar a corrida".

Tinha pouco tempo para agir. Planejou tudo com precisão: compraria passagens para a Itália, encontraria uma forma de sabotar o carro de Senna para que ele nem largasse na corrida. Como mecânico, sabia exatamente o que fazer. Precisava acessar o sistema de suspensão do Williams FW16 e quebrar a estrutura do eixo dianteiro sem que ninguém percebesse. Se conseguisse desestabilizar a conexão da barra de direção ou afetar a pressão dos amortecedores, o carro poderia ser declarado inapto para correr. Para isso, teria que se infiltrar na garagem da equipe, encontrar a ferramenta certa e trabalhar com precisão para que a sabotagem passasse despercebida até a inspeção final.

Mathias precisava conseguir dinheiro de 1994, Cruzeiros Reais, pois ninguém conheceria os Reais de 2025. Ele sabia que seu pai, à época, guardava dinheiro em uma bolsa no sótão da casa onde viviam, e lembrava também que esse dinheiro havia sumido misteriosamente, o que acabou fazendo com que seus pais se separassem, pois sua mãe havia desconfiado que seu pai havia gasto o dinheiro em jogo, um vício que o ele havia largado há mais de uma década.

Mathias então resolveu atravessar a fenda novamente e se dirigir à casa onde morava na infância com seus pais, antes que o dinheiro fosse roubado. Já que ele seria roubado de qualquer forma, pelo menos o dinheiro seria utilizado para uma causa muito nobre.

Mathias parou diante do portão e sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A pintura azul descascada, as ferrugens nos cantos e a maçaneta gasta pelo tempo o transportaram de volta à infância. Por um instante, hesitou, como se estivesse prestes a cruzar uma fronteira invisível entre presente e passado. Inspirou fundo e empurrou o portão, ouvindo o rangido metálico familiar. O cheiro do jardim malcuidado e a visão do caminho de pedras rachadas pelo tempo o fizeram engolir em seco. Ele finalmente estava ali, de volta ao lugar onde tudo começou.

Ele sabia que não haveria ninguém em casa naquele horário, pois seus pais estariam no trabalho e ele mesmo e seus irmãos estavam no colégio. Chegou a pensar como seria ver a si mesmo ao vivo no passado. Antes de entrar, levantou o capacho na porta da frente e encontrou a chave que seus pais sempre deixavam ali para que as crianças pudessem entrar sozinhas ao chegar da escola, já que eles chegariam do trabalho apenas uma hora depois.

Ele se lembrou de como essa chave representava uma pequena liberdade na infância, um símbolo de confiança dos pais que sabiam que só voltariam para casa depois que os filhos já estivessem lá. Ele e seus irmãos aproveitavam essa uma hora para assistir Cavaleiros do Zodíaco, mas, assim que seus pais chegavam em casa, tinham que trocar de canal rapidamente, pois seus pais queriam sempre assistir à novela quando chegavam.

Mathias sentiu um aperto no peito ao cruzar a porta. A sensação era surreal: o cheiro de madeira encerada misturado ao perfume de lavanda que sua mãe costumava usar para limpar a casa ainda estava ali. As paredes, cobertas por um papel de parede floral já um pouco desbotado, pareciam acolhê-lo de volta no tempo.

Sobre um balcão na sala, vários porta-retratos da família estavam cuidadosamente dispostos. Entre eles, uma foto de seu pai e sua mãe juntos, sorridentes, de um tempo em que tudo parecia harmonioso. Acima do balcão, pendurado na parede, havia um espelho com uma moldura trabalhada em madeira escura, cheia de entalhes detalhados e um leve desgaste pelo tempo. Mathias pegou a fotografia dos pais e, ao erguer o olhar, sentiu um calafrio ao se ver refletido no espelho. O choque foi imediato: ele estava assustadoramente parecido com seu pai. A semelhança era inegável, como se o tempo tivesse dobrado sobre si mesmo para lhe mostrar uma verdade oculta. Por um momento, ficou imóvel, tentando processar a estranha sensação de reencontrar seu próprio passado de uma maneira tão inesperada.

Colocou o porta-retrato de seus pais de volta no mesmo lugar e caminhou devagar até seu antigo quarto. O coração batia forte ao ver a cama de solteiro com lençóis do Super Nintendo e a estante repleta de carrinhos e miniaturas de Fórmula 1. No canto, sua velha escrivaninha ainda estava lá, com rabiscos de um tempo em que sonhava em ser piloto. Fotos de sua infância enfeitavam a parede, e, em destaque, um enorme pôster do seu ídolo Ayrton Senna, na sua inesquecível McLaren MP4/4, de número 12, equipada com um motor Honda V6 Turbo. Senna, com seu icônico capacete verde e amarelo, surgia na foto erguendo uma bandeira do Brasil em uma de suas vitórias mais memoráveis, como tantas que fizeram Mathias vibrar em frente à televisão.

Quando seus olhos encontraram Paçoca, o cachorro da família, seu coração apertou ainda mais. O cão, agora tão jovem como ele se lembrava, o olhou desconfiado, mas em segundos balançou o rabo e correu até ele, como se reconhecesse algo em sua essência. Mathias se ajoelhou, abraçando o animal, sentindo o calor familiar e o cheiro de pelo molhado que tantas vezes estivera ao seu lado. Ele sempre amou aquele cachorro, seu companheiro inseparável nas brincadeiras do quintal e nas tardes preguiçosas em frente à televisão. A perda de Paçoca havia sido devastadora. Lembrava-se do vazio que sentiu quando ele adoeceu e, pouco tempo depois, partiu. O choro silencioso à noite, a ausência do som das patas correndo pela casa, o canto da sala onde Paçoca costumava se deitar e que permaneceu vazio por semanas. Agora, tê-lo ali novamente, jovem e vibrante, parecia um milagre impossível.

Engolindo em seco, Mathias se ergueu e seguiu para o sótão. O coração acelerava a cada degrau. Quando finalmente encontrou a bolsa de dinheiro, abriu-a apressadamente e sentiu um calafrio ao ver que as notas dentro não eram de cruzeiros, como esperava, mas dólares. Ficou confuso. Não se lembrava de que seu pai guardava moeda estrangeira. Será que isso explicava o sumiço do dinheiro e a briga que separou sua família? A dúvida pairava em sua mente, mas ele não tinha tempo para se aprofundar nisso. Precisava do dinheiro para sua missão.

Mathias se lembrou de que precisava de documentos para ir para a Itália. Então, recordou o quanto ele era parecido com seu pai e teve uma ideia. Dirigiu-se ao quarto de seus pais, um ambiente que parecia parado no tempo, com sua cama de madeira maciça coberta por um lençol florido e um criado-mudo ao lado, onde sempre repousavam um rádio-relógio e um abajur de cúpula bege. As cortinas, de tecido grosso, deixavam apenas feixes tímidos de luz atravessar a penumbra do quarto.

Mathias foi até a cômoda e abriu a gaveta com cuidado, sentindo a madeira ranger sob seus dedos. Entre papéis e documentos antigos, encontrou o passaporte de seu pai. Pegou-o e folheou rapidamente. Ao observar as páginas em branco, Mathias percebeu algo que o fez hesitar: seus pais haviam emitido o passaporte para realizar o sonho de conhecer Paris. E o dinheiro que seu pai guardava era para isso. Com o roubo do dinheiro e a posterior separação, o sonho de conhecer a capital francesa nunca havia se concretizado. Mathias, sua mãe e os irmãos tiveram que se mudar para a casa da avó, em um bairro distante. Quase nunca via pai. Com isso, os tradicionais domingos assistindo Fórmula 1 nunca mais se repetiram. Mas não havia tempo para nostalgia. O documento lhe daria a chance de cumprir sua missão, e ele precisava partir.

Com os dólares em mãos, tomou um táxi para se dirigir à agência da Varig que ficava a poucos minutos de sua antiga casa. Enquanto olhava pela janela do carro, percebeu como as ruas estavam diferentes do que lembrava de sua época atual. Não havia outdoors digitais, os carros eram em sua maioria modelos populares dos anos 90, como Monzas, Unos e Santanas, e as lojas exibiam fachadas coloridas com letreiros em neon ou pintados à mão. Crianças brincavam soltas nas calçadas, e algumas bicicletas BMX passavam apressadas por entre os pedestres. Numa esquina, uma loja da Mesbla, com a fachada toda decorada de verde e amerelo, chamou a sua atenção. Tudo ali respirava um tempo que ele havia quase esquecido.

A viagem seria dali dois dias, e Mathias precisaria se preparar. Decidiu se hospedar em um hotel até o dia do embarque. Durante esse tempo, comprou roupas adequadas para a viagem, escolhendo peças que não destoassem muito das tendências da época para não chamar atenção. Enquanto aguardava, planejou meticulosamente como se infiltraria nos boxes da Fórmula 1. Ele estudou a disposição do autódromo, os horários das equipes e possíveis brechas na segurança. Sabia que, para ter sucesso, precisava agir com precisão e cautela.

No aeroporto, observou com curiosidade os balcões de check-in com atendentes registrando bilhetes em papel, passageiros fumando nos lounges e as aeronaves da Varig e Alitalia dominando os portões de embarque. No voo, a cabine do avião ostentava assentos largos revestidos de veludo, pequenas telas de tubo embutidas no teto transmitindo filmes sem opção de escolha, e aeromoças com uniformes de saia e blazer oferecendo cigarros aos passageiros. O ronco dos motores e a turbulência leve o mantiveram desperto durante quase toda a viagem.

Ao pousar em Roma, mais nostalgia: anúncios de marcas famosas da época, telefones públicos em fila e turistas segurando câmeras enormes penduradas no pescoço. Pegou um táxi para um hotel simples no centro da cidade, onde passou os dias seguintes planejando seu próximo passo. Precisava se infiltrar nos boxes da Williams.

Na manhã da corrida, pegou um trem para Bolonha e, de lá, um ônibus para Imola. O caminho era ladeado por colinas verdejantes e pequenas vilas, e cada quilômetro percorrido aumentava sua ansiedade. Chegando ao autódromo de Enzo e Dino Ferrari, misturou-se à multidão de torcedores vestindo camisas da Ferrari e segurando bandeiras do Brasil.

O clima nos bastidores era pesado. A tragédia da morte do piloto austríaco Roland Ratzenberger, da equipe Simtek, nos treinos do dia anterior pairava sobre todos como uma sombra. Membros das equipes falavam em sussurros, alguns engenheiros carregavam expressões sombrias, e a imprensa estava inquieta. Mathias percebeu que, diferente de outros GPs, a euforia habitual havia sido substituída por um clima de tensão e incerteza. Ele sentiu um arrepio ao notar a energia diferente no ar, como se o destino estivesse prestes a se desenrolar de forma irreversível.

Conforme se aproximava dos boxes, seu coração disparou ao ver os pilotos se movimentando nos bastidores, ajustando capacetes e conversando com engenheiros. Sentiu um arrepio ao notar um jovem Michael Schumacher caminhando em direção ao carro da Benetton. O piloto alemão, ainda no início de sua ascensão meteórica, parecia tranquilo e focado. Mathias sentiu um nó na garganta ao lembrar que, em 2025, Schumacher ainda sofria as sequelas do grave acidente de esqui que deixou o piloto alemão em estado quase vegetativo. Ver aquele jovem cheio de energia era ao mesmo tempo emocionante e perturbador. Naquele mesmo ano, Schumacher se consagraria campeão numa batalha acirrada com Damon Hill. Ele tentou avistar Senna, mas não conseguiu. A cada instante, a atmosfera de adrenalina e tensão aumentava, e Mathias sentiu o peso de sua missão mais do que nunca.

No caos da movimentação nos bastidores, encontrou sua oportunidade: aproveitou um momento de distração de um mecânico para entrar nos boxes da Williams. Não era difícil para alguém com habilidades mecânicas. Com ferramentas improvisadas, tentou danificar o eixo do carro de Senna, pensando que, se o carro não saísse do lugar, a tragédia não aconteceria. Quando viu seu ídolo se aproximando do box, com seu tradicional Macacão, Mathias se escondeu e observou, de longe, o piloto com a mão no carro, pensativo, antes de entrar.

Mathias dirigiu-se à arquibancada para assistir à corrida e ver seu plano dando certo. Seu coração martelava no peito enquanto os motores rugiam nos boxes. Se tudo corresse como planejado, o carro de Senna falharia na saída dos boxes, impedindo-o de correr e salvando sua vida. Ele se misturou à multidão, tentando parecer apenas mais um torcedor ansioso. O barulho dos motores sendo ligados e o cheiro de combustível queimado traziam uma mistura de nostalgia e adrenalina. A tensão crescia à medida que os pilotos entravam em seus carros e se preparavam para a largada.

Os motores roncavam no grid de largada, vibrando como feras prestes a serem libertadas. As luzes vermelhas começaram a se acender uma a uma, enquanto o locutor anunciava os últimos momentos antes da partida. A multidão, ansiosa, entoava cânticos e agitava bandeiras, mas foi quando Ayrton Senna trouxe seu Williams FW16 para a pole position que a arquibancada entrou em delírio. O nome dele ecoava entre os torcedores brasileiros, gritando com paixão. Mathias sentiu um nó na garganta ao testemunhar aquela cena histórica. Mas sua tensão aumentou quando percebeu que o carro de Senna havia conseguido sair dos boxes.

Seu plano não havia funcionado completamente. Agora, sua única esperança era que o carro quebrasse logo após a largada. Ele manteve os olhos fixos no Williams FW16, esperando ansiosamente por qualquer sinal de falha mecânica que pudesse impedir Senna de continuar na corrida. O tempo parecia desacelerar, e cada segundo se arrastava como uma eternidade. O cheiro de combustível queimado misturava-se ao calor do asfalto. A tensão aumentava à medida que os segundos finais se esgotavam.

As luzes vermelhas se apagaram, e os carros dispararam em uníssono, lançando-se ferozmente pela reta principal do circuito. Mathias prendeu a respiração, observando cada detalhe, esperando o momento em que seu plano se concretizaria. Mas ele não conseguiu sabotar o carro completamente. O eixo foi danificado, sim, mas o carro ainda era funcional. Senna, determinado como sempre, largou na corrida.

O piloto brasileiro largou com precisão, mantendo a liderança desde o início. Seu Williams FW16 disparou à frente, com Schumacher logo atrás, pressionando a cada curva. Mathias observava cada detalhe, sentindo o coração martelar em seu peito. Ele sabia que Senna havia batido na sétima volta, e sua última esperança era que o carro quebrasse antes disso. As voltas passavam, e a cada curva concluída sem falha, a tensão aumentava. O público vibrava a cada passagem de Senna pela reta principal, e os narradores anunciavam com entusiasmo a sua liderança, destacando o esforço do piloto brasileiro em segurar a pressão da Benetton de Schumacher.

Mas a esperança de Mathias se desvaneceu completamente quando assistiu em tempo real à fatalidade. Na curva de Tamburello, o carro de Senna estremeceu violentamente. Por um instante, pareceu que ele conseguiria manter o controle, mas o eixo já fragilizado cedeu de vez. O Williams se projetou contra o muro de concreto a 312 km/h. O impacto foi seco, brutal, um estrondo ensurdecedor que fez a arquibancada prender a respiração em um silêncio sepulcral. Por um instante, parecia que o tempo havia parado.

O cheiro de borracha queimada e metal retorcido pairava no ar, misturando-se ao calor sufocante do asfalto. Gritos e exclamações cortavam o silêncio inicial, enquanto alguns torcedores se levantavam das arquibancadas, atônitos, tentando entender o que acabara de acontecer. Outros cobriam o rosto com as mãos, recusando-se a acreditar no que viam. Alguns seguravam bandeiras do Brasil, antes agitadas com entusiasmo, agora encolhidas em um aperto trêmulo. O caos tomou conta do autódromo, enquanto os paramédicos corriam para o local do acidente e os locutores tentavam, sem sucesso, manter a calma.

O narrador da transmissão, que antes vibrava com a corrida, ficou sem palavras, deixando apenas o ruído angustiante dos motores ao fundo. Em meio à poeira e destroços, os paramédicos corriam desesperadamente para o local, mas Mathias já sabia: algo terrível havia acontecido. Detritos voaram pelo ar, e a carenagem do carro se desintegrou em pedaços. A bandeira vermelha tremulou, e os paramédicos correram para o local. Mathias, assistindo à cena, sentiu o estômago revirar. Ele tentara salvar seu ídolo, mas a história havia seguido um curso ainda mais cruel.

Ele ficou parado, horrorizado. Seu coração disparava enquanto tentava processar o que havia acontecido. Teria sido sua intervenção a responsável? Ou o destino encontrava sempre um jeito de corrigir suas próprias engrenagens?

Mathias embarcou de volta ao Brasil, mas a sensação de triunfo que esperava sentir ao impedir a tragédia havia se transformado em um vazio esmagador. O avião parecia avançar lentamente, como se o tempo estivesse brincando com ele, prolongando seu sofrimento. Durante o voo, ele mal conseguiu pregar os olhos. A cada momento de silêncio na cabine, o estrondo seco do impacto do Williams FW16 contra o muro de Tamburello ecoava em sua mente. O olhar fixo de Senna antes de entrar no carro, o barulho do motor se rendendo à inércia brutal da colisão, o desespero dos paramédicos – tudo se repetia em um ciclo interminável.

Quando o avião pousou, Mathias desceu com passos pesados. Pegou um táxi e observou a cidade passar pela janela sem realmente vê-la. Sua única esperança agora era voltar para 2025, atravessar a fenda e retornar a 1994 novamente. Ele faria diferente. Sabia onde errara. Sabia como causar um dano maior no carro, um dano que impediria Senna de largar. Dessa vez, ele não falharia.

Chegando ao Brasil, encontrou a nação em luto. Pessoas tristes, jornais anunciando o trágico falecimento do ídolo nacional e carros com um tecido preto amarrado nas antenas. O sentimento de culpa consumia Mathias, mas ele estava determinado a corrigir o erro. Logo tomou um taxi para casa. Chegando, atravessou o portão enferrujado sem hesitação e entrou no quarto principal. Abriu o armário, empurrou a tábua do fundo do armário e atravessou a fenda, voltando a 2025. Mathias nem quis descansar, quando se dirigiu novamente ao armário. Empurrou a tábua solta e mergulhou contra a passagem, mas seu corpo bateu forte contra a parece. O espaço oculto que antes o transportara para 1994 simplesmente havia desaparecido.

O pânico tomou conta dele. Socou o fundo do armário, batendo contra a parece em desespero. "Não! Isso não pode estar acontecendo!" Ofegante, passou as mãos pelo interior do móvel mais uma vez, buscando qualquer vestígio da fenda. Mas não havia nada. O tempo, cruel e implacável, parecia ter fechado a única porta que ele tinha para corrigir seu erro.

Mathias desabou no chão, encarando o vazio. Ele nunca mais poderia voltar. Nunca mais poderia tentar de novo. Ele se sentia responsável pela morte do seu ídolo, mas e se nada tivesse mudado? E se sua intervenção tivesse sido irrelevante e o destino simplesmente tivesse seguido seu curso? A dúvida corroía sua mente. Seu peito se apertava com a incerteza—não sabia se tinha falhado ou se apenas acreditara, por um instante, que poderia mudar a história.

Mas, enquanto o peso da culpa o esmagava, um pensamento ainda mais aterrorizante lhe atravessou a mente. O dinheiro. Ele havia pegado o dinheiro que seu pai guardava. O dinheiro que sumira misteriosamente e destruíra sua família. Seu coração acelerou. Ele tentou se lembrar de todos os detalhes daquele dia, das conversas que ouviu de seus pais, da forma como a briga se desenrolou. O dinheiro havia sumido logo depois que ele pegou? Ou alguém mais o encontrara antes que seu pai notasse sua ausência? Quanto mais tentava reconstruir a sequência de eventos, mais sua mente se confundia. E se a história sempre tivesse sido essa? E se sua tentativa de mudar o destino tivesse, na verdade, sido o gatilho que sempre provocou a ruína de sua família? Sentiu o estômago se revirar. O tempo não era apenas implacável; era cruel, e ele, sem querer, poderia ter sido a própria engrenagem que destruiu tudo. Teria sido também ele o responsável?

Mathias tentou novamente, nos dias, meses e anos seguintes, sem sucesso encontrar aquela fenda temporal. Passou noites em claro, investigando cada centímetro do armário, batendo nas tábuas, tentando recriar as mesmas condições que o levaram ao passado. Mas nada acontecia.

Com o tempo, ele tentou seguir com a vida. Mas como se vive sabendo que se tocou o tempo com as próprias mãos e falhou? Como se segue em frente quando se carrega a culpa de ter condenado um ídolo e destruído a própria família? Ele se pegava perdido em lembranças, assistindo às gravações antigas de Senna, revivendo o momento em que cruzou pela última vez a porta de sua infância. Às vezes, tentava se convencer de que tudo não passou de um delírio. Mas, então, sua mente voltava ao dinheiro desaparecido, às manchetes de jornal, ao olhar incrédulo dos torcedores em Imola e a destruição de sua família.

O tempo seguiu. A vida mudou. Mas Mathias permaneceu preso em 1994, em sua mente. O que era um homem sem passado e sem futuro, condenado a viver na incerteza de um presente que nunca foi seu?

Talvez o tempo nunca tenha sido uma linha reta, mas um círculo vicioso, um mecanismo que se dobra sobre si mesmo. Talvez ele nunca tivesse realmente escolhido aquele caminho—e sim, sempre tivesse sido parte dele. O paradoxo o engoliu como um abismo sem fundo, onde cada tentativa de mudar o destino apenas o fazia cumprir seu papel dentro da engrenagem inexorável do tempo. E assim, como uma peça defeituosa dentro de uma máquina perfeita, Mathias jamais conseguiu se recuperar. 

FIM

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