XXXIX
Crystal
Apesar de tudo o que sinto pelo Peter, não consigo me conformar que ele não tenha sequer, me visto em algum momento como mais que uma amiga. Isso chega a ser doloroso.
E mais doloroso ainda, é me manter afastada dele, é como se estivesse me corroendo por dentro. Sinto tanta falta de nossas tardes juntos, de nossos passeios, momentos de descontração e risos soltos. Ah, como dói lembrar disso.
- Muito difícil esse seu trabalho?
Sou torada de meus pensamentos letárgicos pela chegada da Izzy.
- Ah, não. Isso aqui é bem fácil, na verdade. Difícil é lidar com as questões pessoais. - solto a caneta sobre a mesa, e me viro em sua direção. - Vai sair?
Usando um vestido curto, e todo trabalhado em lantejoulas douradas, ela parece uma modelo. Principalmente usando saltos tão altos.
- Vou encontrar o Brendon.
- Uau! Pra quem não se falavam há algum tempo, vocês parecem bem próximos agora.
- Eu fico feliz de ter algum apoio com a minha volta.
- Vou tentar não levar isso pro pessoal. - digo sarcástica.
- Ah, Crystal. - ela se aproxima de mim, e pega na minha mão. - Você sabe bem que o seu apoio foi mais do que fundamental pra mim, e sabe também o que quero dizer com relação ao Brendon.
- Claro que sei Izzy. - passo a mão por seus cabelos bem arrumados. - Acho que só estou meio rabugenta hoje.
- Quer conversar? - ela se ajoelha para ficar cara a cara comigo e coloca sua pequena bolsa no chão ao lado.
- Ai Izzy, estou me sentindo tão pra baixo.
- Ainda aquela questão com seu coroa?
- Sim. Eu não o vi mais desde aquele dia, e estou me sentindo péssima.
- Certo, acho que você está precisando de uma noite de distração. - ela pega o celular da bolsa. - Vou cancelar a saída com Brendon, e nós teremos uma noite de garotas.
- Não! - digo rápido. - Não faz isso, izzy. Vocês estão se aproximando, e eu não quero estragar isso.
- Ele vai entender. E você precisa se animar um pouco. - insiste.
- Eu só vou me sentir pior se estragar isso que você está reconstruindo.
- Mas Crystal...
- Não, Izzy. Você precisa ir. Sem falar que eu posso até não pensar sobre isso hoje se você ficar, mas os próximos dias ainda serão como foram os últimos.
- Está mesmo bem ruim, não é? - questiona complacente.
- Bastante. Mas vai passar logo, tenho certeza. - forço um sorriso.
Sua expressão é de quem sabe bem do que estou falando, mas que tem certeza que isso vai além de um possível logo.
- Tudo bem então Crystal. Mas se mudar de ideia, me ligue, e eu volto o mais rápido possível.
- Não precisa de preocupar tanto, não estou passando mal. - sorrio amarga.
- Essas coisas sentimentais podem nos fazer tão mal quanto uma doença.
- Credo, Izzy...
- Estou falando sério Crystal.
- Tudo bem. Qualquer coisa eu te aviso.
- Ótimo!
Ela me dá um beijo, e logo sai. Eu sei que ela se preocupa comigo, mas eu sei que vou ficar bem, não é como se isso estivesse literalmente me corroendo por dentro. Mas não é um sentimento nada bom.
Antony
- Finalmente! - envio o último email que precisava.
Hoje eu precisei deixar todo o meu trabalho o mais adiantado possível, já que estou entrando de férias, e não quero ter dor de cabeça quando voltar.
Sexta-feira à noite, e eu preso em casa por causa de um tornozelo. Isso é mesmo uma lástima.
Apoio meu tornozelo sobre a mesa de centro, e recosto no sofá, passando os dedos pelas têmporas, hoje eu estou mesmo bem cansado. E eu que achava que trabalhar de casa seria menos exaustivo. Eu estava errado.
Ouço passos vindo do corredor, e pelo som, parecem saltos, e bem altos. Quando viro levemente a cabeça, vejo a Izzy vindo em minha direção.
Ela tem passos precisos e determinados, e a roupa que está usando, realmente tem a intenção de atrair olhares. Com os cabelos levemente enrolados em sua extensão, e uma maquiagem bem traçada, ela realmente se mostra uma mulher. E uma que eu nunca tinha reparado antes.
- Izzy...
- Oi, Antony!
Eu não sei porquê fiquei sem palavras, mas certamente fiquei com receio de acabar dizendo a coisa errada. Se eu a elogiar, isso pode ser interpretado como um possível interesse da minha parte, se não o fizer, estaria sendo mal educado. Ainda assim, opto por não dizer nada.
- Tudo bem, Antony?
- Sim...- eu pisco algumas vezes, e engulo seco. - Tudo ótimo. Você vai sair? - pergunto qualquer coisa aleatória.
- Não. Eu só pensei em colocar uma roupa menos casual, e desfilar pelo apartamento.
Eu a encaro confuso, e tento procurar um sentido naquilo. Sem sucesso.
- Claro que vou sair. - ela ri da minha cara.
- Isso não foi engraçado. - digo a contragosto.
- Então sua pergunta era retórica? - me observa divertida.
- Esqueça. - devolvo sem paciência.
- Bom, eu vou encontrar alguém...
- Divirta-se! - disparo.
- Ei... por que essa impaciência? Você precisa relaxar um pouco.
- Eu estou bem.
- Não parece.
Eu escolho ficar calado, e deixar que ela pense que está tudo bem, mas pra mim isso foi bem irritante. Não sei porquê, mas foi.
- Escuta Antony, a Crystal está um pouco melancólica hoje...
- O que houve? - interrompo.
- Coisas de menina. - me fuzila com os olhos. - Mas se achar que ela precisa da companhia de alguém que ela possa confiar, não hesite em me ligar.
- Mas eu sou alguém que ela possa confiar.
- Mas não é uma garota, e pensa como numa. Sabe bem o que quero dizer.
Nessa ela me pegou legal. Mas eu gostaria de poder ajudar minha filha em todos os sentidos.
- Entendi.
- Eu me propus a cancelar meu encontro de hoje, e ficar com ela, mas ela não aceitou, e mesmo que eu tenha dito para qualquer coisa ela me ligar que volto voando, sei que ela não faria.
É, ela também conhece muito bem a Crystal, e isso só deixa ainda mais evidente a amizade que elas têm.
- Então você poderia me ligar se achar que ela precisa de mim aqui?
O olhar da Izzy ao falar dessa forma, faz sua atual aparência se dissolver por completo. Apesar do mulherão que exibe agora, a ternura nesse pedido, transparece a Izzy meiga e carinhosa como uma menina. A mesma que tenho visto durante todo esse tempo.
- Claro que sim. Não se preocupe. - afirmo.
- Ah, obrigada, Antony. - ela se aproxima de mim, se curva, e me abraça.
Eu fico sem reação para esse comportamento dela, apenas estendo uma das mãos, e dou dois tapinhas leves em suas costas.
- Aproveite a sua noite. - ela se afasta.
- Obrigada. Até mais!
E sem dizer mais nada, ela sai pela porta, e eu fico ali, me sentindo estranho.
- É, acho que estou precisando de uma noitada também. - falo sozinho.
- Oi pai!
- Oi princesinha.
- Aproveitando a sua noite?
- Fazendo o que posso. - ergo minha mão em sua direção, convidando-a a se sentar comigo.
- Você gosta mesmo dessa varanda, não é?
Ela senta ao meu lado, eu a abraço com um dios braços, e ela apoia a cabeça dela em meu ombro, encolhendo suas pernas sobre o sofá.
- Gosto sim. Meu cômodo...
- Preferido! - ela completa.
- Sim. - rimos juntos.
Passamos algum tempo ali, apenas apreciando o movimento das nuvens no céu, enquanto eu fazia um leve carinho em seus cabelos.
- Você está bem, Crystal? - rompo o silêncio.
- Estou sim, pai.
- Tem certeza? A Izzy disse que você estava melancólica.
- Então é isso que vocês dois fazem quando estão juntos, falam de mim? - diz sarcástica.
- Claro que não. Mas ela estava preocupa.
- Acho que ela deve entender disso melhor do que eu. - suspira.
- Como assim? - fico confuso.
A princípio ela não responde, mas depois prossegue.
- Estou gostando de alguém pai.
- Hm... Isso não deveria ser algo bom?
- Seria se ele não me visse apenas como amiga.
- Nossa princesinha, sinto muito. - eu coloco meu outro braço em volta dela, e abraço mais forte.
- Obrigada pai!
- Logo você esquece ele, e encontra alguém que goste de você do mesmo jeito que você gostará dele. - tento dar apoio.
- Pai...não são essas as palavras que vão me ajudar agora.
- Desculpe princesinha, sou péssimo com essas coisas.
- Tudo bem pai.
Eu a aperto um pouco mais no abraço, e beijo carinhosamente sua testa, tentando reconforta-la.
- Eu resolvi me distanciar dele, e não nos falamos há alguns dias.
- Entendo.
- Mas a Izzy tem razão, tem coisas que são inevitáveis de sentir. Não tem como fugir.
- A Izzy? - sorrio. - Ela deve ser uma garota de muitos amores. E duvido muito que seja ela quem saia com o coração partido.
- Está errado pai. Desde que tínhamos 16 anos, a Izzy me contou que se apaixonou por um homem mais velho, ela nunca me disse quem era, mas até hoje, ela não o esqueceu.
- Hm. - fico sem saber o que dizer.
- Ela passou esse tempo todo fora, longe dele, mas nada mudou em relação ao que ela sentia por ele. Ainda está lá, vivo e batendo bem forte dentro do peito dela, todo o amor que sentia por ele.
Sou obrigado a engolir seco, e sinto como se meu rosto queimasse ao ouvir aquelas palavras da boca da minha filha.
- E é isso que me atormenta, pensar que pode passar o tempo que for, e eu não consegui esquece-lo. Eu não quero me pegar daqui cinco anos, ainda suspirando por alguém que não retribui o meu amor.
- E não vai princesinha. Não é igual pra todo mundo. Com você pode ser o contrário, e em menos de seis meses, nem lembrar mais o nome dele.
- Será pai?
- Eu tenho certeza que sim. Você é forte, e consegue superar tudo o que precisa, mais rápido do que os outros. Então ele vai ser mais um que você vai superar tão rápido quanto qualquer outra coisa.
- Espero que sim, pai. Espero que sim.
Ela me abraça, e apoia a cabeça em meu peito. E eu continuo a fazer carinho em seus cabelos, enquanto permanecemos ali, quietos e pensativos.
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