XXII
Crystal
Eu não sei exatamente onde minha mãe quer chegar com esse assunto sobre o meu pai. Todos nós sabemos bem como é a relação deles, e como ele se tornou o que é hoje.
Mas se o que ela tem pra me dizer, tem relação com isso, melhor deixar ela seguir pelo caminho que acha viável.
- ...Você sabe que a coisa mais improvável de acontecer, seria nos envolvermos outra vez...
- Antony... - ouvimos a Dadá chamar pelo meu pai no corredor.
- Seu pai está em casa? - minha mãe pergunta nervosa.
- Ele não estava, mas deve ter chegado.
- Bom, acho que é melhor incluí-lo no assunto então.
- Tem certeza disso, mãe? - questiono confusa.
- Tenho sim.
- Tudo bem. - respondo sem muita certeza se isso daria certo.
Antes que eu pudesse estar de pé, minha mãe já tinha chegado à porta, e a abriu com tanto vigor, que eu me senti perdida. Se eu não soubesse exatamente como é a relação deles, poderia jurar que minha mãe estava ansiosa para vê-lo.
- Antony!? - minha mãe disse assim que se colocou para fora do meu quarto.
Meu pai falava com Dadá, mas ao ouvir a voz dela, ele se virou repentinamente, e o que eu vi ali, me deixou surpresa.
Meu pai tinha uma expressão confusa no rosto, não dava pra saber se era tristeza, ou se era irritação. Mas de uma coisa eu sei, seus olhos pareciam querer queimar minha mãe viva.
- Tudo bem, pai? - interrompi seu olhar excruciante para minha mãe.
- O que está fazendo aqui, Megan? - seus olhos se voltam para ela, e seu tom de voz parecia indiferente.
Minha mãe sentiu o "ataque" dele, e pareceu receosa.
- Eu precisava conversar com...- ela não terminou a frase, parecia encabulada.
- Ela veio conversar comigo. - interrompi.
- Ela poderia ter te ligado, e marcado um encontro em algum lugar, ou simplesmente te chamado até a casa dela. Não precisava ter vindo até aqui. - disse rude.
Eu não sei o que estava acontecendo ali naquele corredor. Eu cresci convivendo com uma situação inversa, minha mãe como a fera, e meu pai como a presa. Não que ele se sentisse acuado, ou intimidado, apenas procurava ignorar a acidez dela para que não houvesse discussões nas poucas vezes que seus caminhos se cruzavam, mas agora, parecia que tudo tinha mudado de ponto de vista, e eu queria muito entender o que estava acontecendo.
- Pai...!?
- Você não é bem vinda aqui, Megan. - rosnou ríspido.
- Antony, eu só...- minha mãe parecia surpresa com aquela reação, tanto quanto eu.
- Eu quero que você vá embora. - concluiu ele.
Minha mãe abriu a boca para dizer algo, mas nenhuma palavra foi emitida.
- Pai, - entrei na frente dele, e seu olhar pousou em mim. - o que está acontecendo?
Antes dele me responder, percebi sua respiração alterada. Não sei se ele estava nervoso, mas ao tocar em seu braço, senti que ele tremia.
- Pai, você está bem?
- Não foi nada, - ele voltou a me encarar, e eu pude ver seus olhos marejados. - eu estou bem.
- Mas...
Sem esperar que eu terminasse a minha pergunta, ele saiu a passos largo pelo corredor, e entrou em seu quarto batendo com força a porta, a ponto de nós três, ainda confusas no corredor, nos sobressaltar.
Eu nunca presenciei meu pai falar daquele jeito com a minha mãe, mesmo depois de tudo o que aconteceu entre eles, e a forma como ela lhe tratava, ele jamais a tratou dessa forma.
Depois de alguns segundo ali, encarando a porta do meu pai, ouvi um fungado, e quando me virei, vi minha mãe chorando.
- Mãe, você está bem? - me aproximei dela, e passei uma das mãos por suas costas, tentando conforta-la.
- Eu estou, sim. Eu só ando um pouco sensível. Não ando muito bem também, os enjôos matinais dos últimos dias estão acabando comigo, e os hormônios estão acabando comigo...- ela praticamente cospe as palavras.
Eu, involuntáriamente, arregalei os olhos, e logo olhei para a Dadá, que tinha a mesma expressão no rosto.
- Mãe!? - chamei sua atenção. - Você está grávida?
Até eu fiquei surpresa com a minha pergunta. Eu nunca ousaria pensar em algo assim a essa altura da vida, porém...
- Eu...- ela mantém seu olhar no meu, e mais lágrimas tomam seu rosto. - Sim, Crystal. Eu estou grávida!
- Minha nossa, mãe!
Por mais que o momento não seja propício, meu sorriso é tão largo, minha alegria tão grande, que quase pulo de felicidade. Eu a abraço forte, e é aí que ela chora ainda mais.
- Não era assim que eu queria te contar, Crystal, mas...
- Não importa como a notícia chegou, eu estou muito feliz com isso. - ela chora, e ri ao mesmo tempo, mas me devolve um abraço cheio de carinho.
- Meus parabéns, Megan. Espero que venha com muita saúde! - Dadá a felicita.
- Obrigada, Dadá.
Eu saio do abraço da minha mãe, e logo minhas mãos vão ao seu rosto, secando todas aquelas lágrimas.
- Eu imagino como o Peter deve estar feliz!
Nesse momento, o sorriso da minha mãe se desfaz por completo.
- O que foi, mãe?
Antony
Eu não acredito que pude ser tão ingênuo. Como eu pude, por um momento que fosse, pensar que a Megan poderia ter sentido algo depois do aconteceu entre nós?
Certo que ela tomou a iniciativa, e eu até achei que fosse por causa da bebida. Mas não fazia sentindo termos transado uma segunda vez, e logo na noite seguinte. Cheguei mesmo a pensar que os sentimentos dela com relação a mim, pudesse ter mudado.
Eu estava errado, muito errado!
Apesar de eu estar puto agora, foi bom que eu tivesse ficado ciente logo, antes de fazer a pior merda da minha vida, e ir lhe falar da porra dos meus sentimentos. A humilhação é menor.
- PORRA! - berro ao socar a porta do closet. - Como eu sou burro!
Depois do meu acesso de raiva, tomei uma ducha, e permaneci na varanda secando as garrafas de bebida que estivesse disponível em casa.
A sensação no peito era horrível, e eu sentia como se meu coração estivesse sendo esmagado aos poucos. A cada vez que eu lembrava dos seus olhos, ou seu sorriso, eu tomava mais um gole para tentar diminuir os efeitos que essas lembranças me causavam.
- Caralho, Megan, o que você fez comigo? - dei um último gole na bebida, esvaziando o copo.
Levantei cambaleando, na intenção de procurar por outra garrafa de bebida.
- Dadá!? - chamo por ela, parado em frente ao pequeno bar que tinha na minha sala, procurando me manter firme sobre as pernas.
- Antony, me chamou?
- Eu estou procurando por uma garrafa daquele uisky que eu tinha aqui. - digo arrastado.
- Bom, deve ser uma daquelas que você já esvaziou. - ela aponta para a mesinha ao lado da poltrona na varanda, e eu vejo as garrafas vazias no chão.
- Droga. - digo baixo.
- Antony, você não deveria beber tanto. - ela aconselha.
- E as pessoas não deveriam ser tão cretinas umas com as outras, e nem brincar com os sentimentos delas. Porém...
- Do que você tá falando? - pergunta confusa.
- Nada, Dadá. Nada!
Me levanto, mas preciso me apoiar no móvel, para não cair.
- Meu Deus, Antony. Você está muito bêbado.
- Eu tô bem. Onde estão as chaves do meu carro?
- O quê? - diz incrédula. - Você não vai sair dirigindo por ai, bêbado desse jeito.
- Eu já disse que tô bem.
- Pare de bancar a criança revoltada, seja lá pelo que estiver passando. Você é um adulto, haja como um.
Eu a encaro surpreso. Ela nunca havia falado assim comigo antes, na verdade, eu nunca tinha visto ela falar assim com ninguém. O que me faz piscar várias vezes, para tentar distinguir a realidade da embriaguez.
- Você deveria tomar um banho frio, e tentar descansar para se livrar logo dessa bebedeira.
- Eu...- começo a contestar, mas ela apenas levanta uma sobrancelha, e eu entendo que isso não se trata de um conselho, sim uma ordem.
O que está acontecendo com as mulheres à minha volta?
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